Religião é Veneno

Eritréia prende e tortura milhares de religiosos


Nairóbi - Pelo menos 1.750 membros de igrejas evangélicas, 26 padres e dezenas de muçulmanos foram detidos nos últimos três anos na Eritréia, denunciou nesta quarta-feira a Anistia Internacional (AI). As detenções são o resultado da sistemática perseguição religiosa no país, desencadeada pelo governo.

Só 4 religiões são reconhecidas - Em um relatório divulgado hoje, a organização de direitos humanos assinalou que diversas igrejas foram fechadas e muitos religiosos presos sofreram torturas, para serem obrigados a abandonar sua fé.

Entre as técnicas de tortura mais utilizadas está a denominada de "helicóptero", na qual pés e mãos do religioso preso são atados às suas costas e ele é obrigado a permanecer assim durante horas.

Tortura é rotineira - "A tortura foi utilizada de forma rotineira como castigo para os críticos do governo", assinalou o relatório da AI, acrescentando que os detidos são mantidos incomunicáveis por longos tempo.

"Os prisioneiros religiosos não têm nenhuma conexão com grupos de oposição política, mas são submetidos ao mesmo tratamento cruel e degradante e aos mesmos castigos e detenção arbitrária que os prisioneiros políticos detidos por suas opiniões políticas", indica o relatório.

O documento cita 44 casos de perseguição religiosa ocorridos desde 2003, um ano depois de o governo ordenar a todas as entidades religiosas, não registradas oficialmente, que fechassem seus templos ou locais de oração e deixassem de praticar sua religião, até obter autorização do registro.

Apenas quatro religiões foram reconhecidas como oficiais: a católica, a ortodoxa, a luterana e o Islã. Desde então, nenhum outro grupo conseguiu reconhecimento oficial.

Segundo a AI, aqueles que não professam uma destas quatro religiões têm sua liberdade de expressão e consciência violados. Alguns receberam ordens de prisão emitidas por um comitê de segurança, sem que tenham podido recorrer a advogados.

Testemunhas de Jeová, por exemplo, foram perseguidos com severidade na última década. Hoje em dia, 22 de seus membros permanecem detidos. Membros de novas divisões das oficialmente permitidas religiões ortodoxa e islâmica foram detidos.

No total, a AI documenta a detenção de 26 pastores e padres, dezenas de muçulmanos, e mais de 1.750 membros de outras igrejas, incluindo menores de idade e 175 mulheres, todos considerados prisioneiros políticos pela organização.

"Estas violações do direito à liberdade de pensamento, consciência e religião são contrárias à lei internacional assim como à Constituição da Eritréia de 1997", afirma a AI.

Ex-colônia italiana - A Eritréia, antiga colônia italiana, após a segunda guerra mundial foi federada à Etiópia, que acabou anexando-a em 1960. Trinta e um anos depois, a resistência armada derrotou o Exército etíope e, em 1993, o país decidiu em plebiscito sua independência.

Segundo a AI, a detenção de indivíduos por causa somente de suas crenças religiosas é parte da política de negação dos direitos humanos adotada pelo governo do presidente Isaias Afewerki, que governo a Eritréia desde a independência.