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A ética da crença
Enviado: 24 Dez 2006, 19:56
por Res Cogitans
Em 1877 W. K. Clifford (1845-1879), publicou o ensaio "The Ethics of Belief", que mais tarde ganhou uma contra-argumentação de William James em "A vontade de acreditar".
Clifford defende que "É sempre incorrecto, em qualquer parte e para qualquer pessoa, acreditar seja no que for sem provas suficientes."
Clifford diz que a crença é um direito que só pode ser adquirido a partir da razão. Ele dá um exemplo de um armador de navios que apesar de saber que seu navio tem seríssimos problemas estruturais manda-o ao mar com passageiros, porque ele acredita que nada irá acontecer.
Clifford diz:
"A sinceridade de sua convicção de forma alguma consegue ajudá-lo, porque ele não tinha o direito de acreditar em tal evidência tendo o que tinha diante de si. Obtivera sua crença não graças a uma investigação honesta e paciente, mas sim abafando suas próprias dúvidas."
E acrescenta:
"Se um homem, que mantém uma crença que lhe foi ensinada na infância ou imposta mais tarde, rejeita e afasta quaisquer dúvidas que surjam em sua mente sobre ela, propositadamente evita a leitura de livros e companhia de homens que a questionam ou discutem e encara como ímpias as perguntas que irão perturbá-la - a vida desse homem é um longo pecado contra a humanidade"
A fonte utilizada é o livro Verdade: um guia para os perplexos de Simon Blackburn (uma leitura recomendável).
Temos o direito de acreditar em qualquer coisa?
Enviado: 24 Dez 2006, 20:19
por o pensador
Concordo plenamente;a razâo deve ser o alicerce de nossa cosmovisâo.O problema é que muitas pessoas ancoram sua estabilidade emocional numa espécie de arquétipo psico-emocional.
Para muitos a Liberdade,ou o que quer cada indivíduo compreenda por liberdade,é o arquétipo que orienta suas disposiçôes e crenças.Para outros,é a Transcedência,e para a maioria das pessoas a sua cosmovisâo é simplesmente uma questâo de conveniência e herança cultural.
A Raíz do problema está no fato de que a maioria das pessoas nâo integra a Razâo em seu arcabouço particular de valores psico emocionais.Isto porque se a realidade se mostra,ou aparente ser, cruel e predatória,o homem automaticamente procura negar esta realidade e a substituir por outra que nâo sacrifique seus valores individuais e suas disposiçôes psico emocionais no altar da razâo.
Enquanto o homem tiver este "pavor" da razâo ele permanecerá sendo um ser mais supersticioso e menos completo enquanto ser humano.Mas eu acho difícil que isso um dia aconteça DE FATO,para a maioria de nós..
Enviado: 24 Dez 2006, 23:20
por zencem
o pensador escreveu:Enquanto o homem tiver este "pavor" da razâo ele permanecerá sendo um ser mais supersticioso e menos completo enquanto ser humano.Mas eu acho difícil que isso um dia aconteça DE FATO,para a maioria de nós..
Ninguem nasce supersticioso, Pensador.
É claro que se a criança não é protegida dessa massificação; não é estimulada a desenvolver o pensamento crítico e a estar consciente da vulnerabilidade da mente desatenta, da importância do livre pensar, da importância da verdade; logo ela será mais uma mente limitada, fragilizada pelo mêdo e vítima das superstições.
As religiões estão sempre interessadas em produzir suas Kamalas e a deixá-las dependentes de seus estupros, pro resto da vida.
Enviado: 26 Dez 2006, 07:38
por miguell
vou repetir outra vez. É um erro achar que o religioso acredita em qualquer coisa... por isso concordo.
aliás este achismo está a receber um novo impulso com o Dawkins e a sua teoria dos virus da mente. A ideia (boa) de que a mente das crianças está preparada pela evoluçao para acreditar no que os pais dizem. Supostamente isto explica a crença religiosa (concretamente sim... mas em geral... duvido)...
mas que nao explica porque nenhum adulto continua a acreditar no papao ou no pai natal...
Re.: A ética da crença
Enviado: 26 Dez 2006, 12:39
por Led Zeppelin
Ou existe uma falácia no texto ou ele não pode ser adequado à maioria das religiões. Quem é esse cara pra querer tirar o direito de liberdade religosa dos outros?
Re.: A ética da crença
Enviado: 26 Dez 2006, 12:54
por Apocaliptica
Infelizmente a mente das crianças geralmente é moldada para o "pensamento mágico".
Isso é a gênese humana na busca pela não racionalização da realidade ao redor.
Para quem não sabe:
"A psicologia evolutiva aponta para a prevalência do Pensamento Mágico no homem primitivo, tal como uma espécie de pensamento pré-lógico, onde as fronteiras entre o real e o irreal são demasiadamente imprecisas. Tal PENSAMENTO MÁGICO está ainda bastante presente nas crianças e em adultos carentes de um socorro imediato às suas angústias e impotências."
Fonte:http://www.psiqweb.med.br/cursos/pensam.html
Re: Re.: A ética da crença
Enviado: 26 Dez 2006, 13:00
por Res Cogitans
Led Zeppelin escreveu:Ou existe uma falácia no texto ou ele não pode ser adequado à maioria das religiões. Quem é esse cara pra querer tirar o direito de liberdade religosa dos outros?
Depende da premissa. Ele quer dar valor ético/moral ao embasamento das crenças.
Re: Re.: A ética da crença
Enviado: 26 Dez 2006, 13:02
por Led Zeppelin
Res Cogitans escreveu:Led Zeppelin escreveu:Ou existe uma falácia no texto ou ele não pode ser adequado à maioria das religiões. Quem é esse cara pra querer tirar o direito de liberdade religosa dos outros?
Depende da premissa. Ele quer dar valor ético/moral ao embasamento das crenças.
Ética e moral são independentes de religiões, mas isso não quer dizer que não possam conviver juntas. Até aí tudo bem... mas qual a necessidade de tirar a liberdade religosa das pessoas? Pregar ateísmo e cometer o mesmo erro das religiões?
Re.: A ética da crença
Enviado: 26 Dez 2006, 13:04
por Apocaliptica
Res Cogitans,
Concordo que a crença devesse ser construída a partir de um mínimo de uitlização da razão.
Mas aí a noção de crença seria uma desmistificação do tal "pensamento mágico" primitivo na direção de uma racionalização até que se chegue à ciência.
Mas não é assim que enxergamos a crença.
Re: Re.: A ética da crença
Enviado: 26 Dez 2006, 13:19
por Res Cogitans
Led Zeppelin escreveu:Ética e moral são independentes de religiões, mas isso não quer dizer que não possam conviver juntas.
Isso não tem nada a ver com o que eu postei. O cara defende que se você acredita em algo, que pode ser de duendes e valorização das suas ações, SEM EMBASAMENTO você está sendo imoral. Entendeu agora?
Re: Re.: A ética da crença
Enviado: 26 Dez 2006, 13:24
por Res Cogitans
Apocaliptica escreveu:Res Cogitans,
Concordo que a crença devesse ser construída a partir de um mínimo de uitlização da razão.
Mas aí a noção de crença seria uma desmistificação do tal "pensamento mágico" primitivo na direção de uma racionalização até que se chegue à ciência.
Mas não é assim que enxergamos a crença.
Estamos usando vocabulários diferentes. Crença aqui é qualquer idéia que se considere com maior probabilidade de ser verdadeira que de ser falsa.
Re: Re.: A ética da crença
Enviado: 26 Dez 2006, 14:44
por Led Zeppelin
Res Cogitans escreveu:Led Zeppelin escreveu:Ética e moral são independentes de religiões, mas isso não quer dizer que não possam conviver juntas.
Isso não tem nada a ver com o que eu postei. O cara defende que se você acredita em algo, que pode ser de duendes e valorização das suas ações, SEM EMBASAMENTO você está sendo imoral. Entendeu agora?
Nesse caso o meu primeiro post foi perfeitamente cabível:
Ou existe uma falácia no texto ou ele não pode ser adequado à maioria das religiões. Quem é esse cara pra querer tirar o direito de liberdade religosa dos outros?
Re.: A ética da crença
Enviado: 26 Dez 2006, 14:51
por Res Cogitans
De todas as crenças possíveis inclusive a de que o Sol nascerá amanhã, você só faz comentários sobre crença religiosa.
Re: Re.: A ética da crença
Enviado: 26 Dez 2006, 14:59
por Led Zeppelin
Res Cogitans escreveu:De todas as crenças possíveis inclusive a de que o Sol nascerá amanhã, você só faz comentários sobre crença religiosa.
Um maluco é imoral por acreditar nas suas alucinções? Esse cara foi MUITO preciptado.
Re: Re.: A ética da crença
Enviado: 26 Dez 2006, 15:08
por Apocaliptica
Res Cogitans escreveu:De todas as crenças possíveis inclusive a de que o Sol nascerá amanhã, você só faz comentários sobre crença religiosa.
É uma evidência científica de que o sol nascerá amanhã...a menos que consideremos que isso é uma verdade baseada em fatos provenientes de nosso parco conhecimento científico, por observação errônea ou que algo muito fora do comum possa acontecer até amanhã.
Mas a crença poderia ser focada dentro de outros processos psíquicos do pensamento humano.
Um doente mental crê realmente em alucinações pois seu processo mental químico assim o faz parecer que são reais.
Aliás...enxergar e crer podem ser coisas discutíveis e aceitáceis filosoficamente, se nos abstivermos de provas concretas.
Re: Re.: A ética da crença
Enviado: 26 Dez 2006, 17:47
por Res Cogitans
Led Zeppelin escreveu:Res Cogitans escreveu:De todas as crenças possíveis inclusive a de que o Sol nascerá amanhã, você só faz comentários sobre crença religiosa.
Um maluco é imoral por acreditar nas suas alucinções? Esse cara foi MUITO preciptado.
Não estou concordando com ele, muito pelo contrário. Só estou falando que seus comentários não eram sobre o que ele estava falando.
Re: Re.: A ética da crença
Enviado: 26 Dez 2006, 17:50
por Res Cogitans
Apocaliptica escreveu:Res Cogitans escreveu:De todas as crenças possíveis inclusive a de que o Sol nascerá amanhã, você só faz comentários sobre crença religiosa.
É uma evidência científica de que o sol nascerá amanhã...a menos que consideremos que isso é uma verdade baseada em fatos provenientes de nosso parco conhecimento científico, por observação errônea ou que algo muito fora do comum possa acontecer até amanhã.
Mas a crença poderia ser focada dentro de outros processos psíquicos do pensamento humano.
Um doente mental crê realmente em alucinações pois seu processo mental químico assim o faz parecer que são reais.
Aliás...enxergar e crer podem ser coisas discutíveis e aceitáceis filosoficamente, se nos abstivermos de provas concretas.
Eu já disse que conceito de crença estou trabalhando.
Re: Re.: A ética da crença
Enviado: 26 Dez 2006, 19:17
por Ayyavazhi
Eu considero válido o questionamento, mesmo que ele seja tratado de forma linear, restringido-o, neste caso, a um questionamento religioso.
Podemos observar, hoje, as atrocidades perpetradas em nome da fé religiosa – como a execução de seres humanos por motivos fúteis –, tanto quanto ocorreram no passado. Em toda a história não há um único momento em que a fé não tenha desencadeado atos de intolerância e, consequentemente, de grande dor e perda para quem ousou ser diferente.
Não se trata de negar o direito à crença. Mas se a preocupação com a conduta politicamente correta nos impedir de questionar os limites da fé, não devemos nos surpreender ou nos indignar com tragédias como o 11 de setembro.
A humanidade e a crença sempre andarão de mãos dadas, mas a minha crença não pode ser a causa do infortúnio de quem quer que seja.
É claro que essa abordagem não precisa ser religiosa. O personagem central aqui é o ser humano, pois ética e crença não têm existências próprias. O engenheiro que economiza na segurança do edifício que constrói, o armador que acredita que seu navio não irá afundar, o religioso que incita seus seguidores a violarem o direito de terceiros (ou os seus próprios), o náufrago que deixa a mulher se afogar porque não tem o dever moral de salvá-la, estão todos agindo de acordo com suas crenças pessoais. E vidas são destruídas.
Temos esse direito?
Re: Re.: A ética da crença
Enviado: 26 Dez 2006, 19:52
por Led Zeppelin
Res Cogitans escreveu:Led Zeppelin escreveu:Res Cogitans escreveu:De todas as crenças possíveis inclusive a de que o Sol nascerá amanhã, você só faz comentários sobre crença religiosa.
Um maluco é imoral por acreditar nas suas alucinções? Esse cara foi MUITO preciptado.
Não estou concordando com ele, muito pelo contrário. Só estou falando que seus comentários não eram sobre o que ele estava falando.
Só comentei que ele é lesado, só isso.
Re: A ética da crença
Enviado: 27 Dez 2006, 12:44
por clara campos
Res Cogitans escreveu:Em 1877 W. K. Clifford (1845-1879), publicou o ensaio "The Ethics of Belief", que mais tarde ganhou uma contra-argumentação de William James em "A vontade de acreditar".
Clifford defende que "É sempre incorrecto, em qualquer parte e para qualquer pessoa, acreditar seja no que for sem provas suficientes."
Clifford diz que a crença é um direito que só pode ser adquirido a partir da razão. Ele dá um exemplo de um armador de navios que apesar de saber que seu navio tem seríssimos problemas estruturais manda-o ao mar com passageiros, porque ele acredita que nada irá acontecer.
Clifford diz:
"A sinceridade de sua convicção de forma alguma consegue ajudá-lo, porque ele não tinha o direito de acreditar em tal evidência tendo o que tinha diante de si. Obtivera sua crença não graças a uma investigação honesta e paciente, mas sim abafando suas próprias dúvidas."
E acrescenta:
"Se um homem, que mantém uma crença que lhe foi ensinada na infância ou imposta mais tarde, rejeita e afasta quaisquer dúvidas que surjam em sua mente sobre ela, propositadamente evita a leitura de livros e companhia de homens que a questionam ou discutem e encara como ímpias as perguntas que irão perturbá-la - a vida desse homem é um longo pecado contra a humanidade"
A fonte utilizada é o livro Verdade: um guia para os perplexos de Simon Blackburn (uma leitura recomendável).
Temos o direito de acreditar em qualquer coisa?
trocando imoralidade por estupidez, eu subscrevo o autor.
Enviado: 28 Dez 2006, 12:24
por Fernando Silva
miguell escreveu:aliás este achismo está a receber um novo impulso com o Dawkins e a sua teoria dos virus da mente. A ideia (boa) de que a mente das crianças está preparada pela evoluçao para acreditar no que os pais dizem. Supostamente isto explica a crença religiosa (concretamente sim... mas em geral... duvido)...
mas que nao explica porque nenhum adulto continua a acreditar no papao ou no pai natal...
A mente das crianças é escancarada para que elas absorvam conhecimento o mais rápido possível. O pensamento crítico nessa idade atrapalha porque reduz a velocidade de absorção.
Por outro lado, torna as crianças vulneráveis à lavagem cerebral das religiões e preconceitos.
Suponho que os adultos não acreditem em Papai Noel simplesmente porque, ao contrário das religiões:
-Ele não cria uma dependência psicológica
-Recebem ainda jovens a informação de que ele não existe.
Re: A ética da crença
Enviado: 28 Dez 2006, 14:30
por André
Res Cogitans escreveu:Em 1877 W. K. Clifford (1845-1879), publicou o ensaio "The Ethics of Belief", que mais tarde ganhou uma contra-argumentação de William James em "A vontade de acreditar".
Clifford defende que "É sempre incorrecto, em qualquer parte e para qualquer pessoa, acreditar seja no que for sem provas suficientes."
Clifford diz que a crença é um direito que só pode ser adquirido a partir da razão. Ele dá um exemplo de um armador de navios que apesar de saber que seu navio tem seríssimos problemas estruturais manda-o ao mar com passageiros, porque ele acredita que nada irá acontecer.
Clifford diz:
"A sinceridade de sua convicção de forma alguma consegue ajudá-lo, porque ele não tinha o direito de acreditar em tal evidência tendo o que tinha diante de si. Obtivera sua crença não graças a uma investigação honesta e paciente, mas sim abafando suas próprias dúvidas."
E acrescenta:
"Se um homem, que mantém uma crença que lhe foi ensinada na infância ou imposta mais tarde, rejeita e afasta quaisquer dúvidas que surjam em sua mente sobre ela, propositadamente evita a leitura de livros e companhia de homens que a questionam ou discutem e encara como ímpias as perguntas que irão perturbá-la - a vida desse homem é um longo pecado contra a humanidade"
A fonte utilizada é o livro Verdade: um guia para os perplexos de Simon Blackburn (uma leitura recomendável).
Temos o direito de acreditar em qualquer coisa?
O presuposto é complicado.Pessoas religiosas se baseam muito em emoçoes para definir o que acreditam costumam dizer "Me sinto na presença de Deus" "no amor de Deus" quem somos nos para negar esse direito baseados na nossa compreensão da razão.
Responderia que sim, temos o direito de acreditar em qualquer coisa.Porém dependendo de como isso orienta nossas açoes, poderemos ser punidos.Se acreditamos em violencia e passamos a defender violencia contra determinado grupo, isso é discurso de incitar odio, e não é protegido por liberdade de expressão.
Outra coisa assim como temos o direito de acreditar em qualquer coisas, temos o direito de questionar as crenças de outrem, suas bases teoricas, sua história, função, tudo, desde que admitamos o direito inalienavel que todos tem de no seu intimo acreditar no que desejarem. A critica, entendida ai como examime, e debate aberto, com respeito, pode ser direcionada a qualquer crença, e podemos demonstrar o como tal crença não se sustenta, evidencias de que é falsa, se houverem, ou argumentar para os seus males ou beneficios.
Enfim com respeito tudo pode ser questionado e debatido, assim como cada individuo pode acreditar no que ele quizer, mas isso não vai impedir de se ele acreditar em algo considerado absurdo ele cair no ridiculo, e ter o peso de sua opinião, entre seus pares, substancialmente diminuido.
Enviado: 28 Dez 2006, 14:35
por Apocaliptica
Fernando Silva escreveu:miguell escreveu:aliás este achismo está a receber um novo impulso com o Dawkins e a sua teoria dos virus da mente. A ideia (boa) de que a mente das crianças está preparada pela evoluçao para acreditar no que os pais dizem. Supostamente isto explica a crença religiosa (concretamente sim... mas em geral... duvido)...
mas que nao explica porque nenhum adulto continua a acreditar no papao ou no pai natal...
A mente das crianças é escancarada para que elas absorvam conhecimento o mais rápido possível. O pensamento crítico nessa idade atrapalha porque reduz a velocidade de absorção.
Por outro lado, torna as crianças vulneráveis à lavagem cerebral das religiões e preconceitos.
Suponho que os adultos não acreditem em Papai Noel simplesmente porque, ao contrário das religiões:
-Ele não cria uma dependência psicológica
-Recebem ainda jovens a informação de que ele não existe.
É possível que sim. Mas existe outra diferença entre Papai Noel, Coelhinho ou Fada dos Dentes e o monoteísmo.
Os primeiros são maleáveis e democráticos, aparecem apenas ligados a determinados eventos, têm formas e funções distintas, e concebem a possibilidade de serem negados ( pelo menos nas famílias de mente saudável).
Isso liberta...ao contrário de escravizar. A fantasia infantil também lida melhor com a possibilidade de revisitação, o que normalmente não é permitido no teísmo ( o que aprisiona ).
Re: A ética da crença
Enviado: 28 Dez 2006, 14:38
por André
Res Cogitans escreveu:Em 1877 W. K. Clifford (1845-1879), publicou o ensaio "The Ethics of Belief", que mais tarde ganhou uma contra-argumentação de William James em "A vontade de acreditar".
Clifford defende que "É sempre incorrecto, em qualquer parte e para qualquer pessoa, acreditar seja no que for sem provas suficientes."
Clifford diz que a crença é um direito que só pode ser adquirido a partir da razão. Ele dá um exemplo de um armador de navios que apesar de saber que seu navio tem seríssimos problemas estruturais manda-o ao mar com passageiros, porque ele acredita que nada irá acontecer.
Clifford diz:
"A sinceridade de sua convicção de forma alguma consegue ajudá-lo, porque ele não tinha o direito de acreditar em tal evidência tendo o que tinha diante de si. Obtivera sua crença não graças a uma investigação honesta e paciente, mas sim abafando suas próprias dúvidas."
E acrescenta:
"Se um homem, que mantém uma crença que lhe foi ensinada na infância ou imposta mais tarde, rejeita e afasta quaisquer dúvidas que surjam em sua mente sobre ela, propositadamente evita a leitura de livros e companhia de homens que a questionam ou discutem e encara como ímpias as perguntas que irão perturbá-la - a vida desse homem é um longo pecado contra a humanidade"
A fonte utilizada é o livro Verdade: um guia para os perplexos de Simon Blackburn (uma leitura recomendável).
Temos o direito de acreditar em qualquer coisa?
O presuposto é complicado.Pessoas religiosas se baseam muito em emoçoes para definir o que acreditam costumam dizer "Me sinto na presença de Deus" "no amor de Deus" quem somos nos para negar esse direito baseados na nossa compreensão da razão.
Responderia que sim, temos o direito de acreditar em qualquer coisa.Porém dependendo de como isso orienta nossas açoes, poderemos ser punidos.Se acreditamos em violencia e passamos a defender violencia contra determinado grupo, isso é discurso de incitar odio, e não é protegido por liberdade de expressão.
Outra coisa assim como temos o direito de acreditar em qualquer coisas, temos o direito de questionar as crenças de outrem, suas bases teoricas, sua história, função, tudo, desde que admitamos o direito inalienavel que todos tem de no seu intimo acreditar no que desejarem. A critica, entendida ai como examime, e debate aberto, com respeito, pode ser direcionada a qualquer crença, e podemos demonstrar o como tal crença não se sustenta, evidencias de que é falsa, se houverem, ou argumentar para os seus males ou beneficios.
Enfim com respeito tudo pode ser questionado e debatido(exceto claro questionar o direito de liberdade de pensamento), assim como cada individuo pode acreditar no que ele quizer, mas isso não vai impedir de se ele acreditar em algo considerado absurdo ele cair no ridiculo, e ter o peso de sua opinião, entre seus pares, substancialmente diminuido.
Ao mesmo tempo se não temos direito de questionar liberdade de pensamento(pois ai reside o respeito a diferença), e penso que muitos dos religiosos tem convicção de sua fé, a ausencia de convicção, a presença de duvidas, como é meu caso em relação a Origem do Universo, é resultado de uma postura ética, se não tenho convicção profesar qualquer que seja é anti-ético.Assim como acredito ser ético meus amigos religiosos que de fato tem a convicção da existencia de Deus.E o parametro de "Provas" ou "evidencias" capazes de convencer ou não variam.Se não pudemos questionar a honestidade dos outros sem evidencias é prudente a presunção de inocencia, estão sendo honestos até que se evidencie o contrario.Com isso fica claro que honestidade é um valor ético a ser defendido, porém não podemos julgar os outros com base nos nossos criterios e imputar a eles desonestidade com base apenas no que acreditam, a desonestidade deve ser demonstrada em açoes que mostrem a contradição entre o que acreditam e o que fazem(Como aquele pastor hipocrita e desonesto que saia contra homossexuais tendo ele próprio relaçoes com um prostituto).
PS:Desculpe pela resposta longa.