O Camboja se prepara para o julgamento

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spink
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O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por spink »

Der Spiegel escreveu:Jürgen Krem

Pol Pot e os seus asseclas cometeram assassinato em massa contra o seu próprio povo. Agora, um tribunal internacional deverá julgar o regime - naquilo que certas pessoas dizem ser o primeiro ajuste de contas legal com o comunismo. Será que a justiça poderá ser feita, 30 anos depois?

As memórias assombram Nhem Sal, 50, mesmo durante o sono. Ele sente dores nos tornozelos e pulsos, como se o seu carcereiro adolescente do Khmer Vermelho ainda o estivesse acorrentando à cama de metal no terceiro andar do Bloco A, na infame prisão Tuol Sleng, onde eram praticadas torturas.

O campo era denominado "S-21" - e ele era o centro do terror no regime de Pol Pot. Mais de 30 anos se passaram desde então.

Nhem Sal alimenta a família com o arroz que ele próprio cultiva. Ele tem cerca de 1,70 metro de altura, traz uma mecha rala de cabelo sobre a testa, e as suas mãos são cobertas de calos. A sua palhoça fica na província de Takeo, cerca de 60 quilômetros ao sul da capital cambojana, Phnom Penh. Durante um quarto de século, promotores analisaram os documentos utilizados nas acusações, e agora eles querem tomar os depoimentos das primeiras testemunhas.

Os crimes cometidos foram monstruosos. Quase a metade da população cambojana de sete milhões de habitantes morreu durante a bárbara tentativa de Pol Pot de transformar o seu país na suprema sociedade comunista, afirma o primeiro-ministro Hun Sen.

Especialistas estrangeiros acreditam que um número mais provável de pessoas mortas seja 1,7 milhão. Os indivíduos que visitaram Nhem Sal dizem que apenas sete entre os cerca de 20 mil prisioneiros da S-21 sobreviveram ao campo de torturas. Cinco ainda estão vivos, e Nehm Sal é um deles.

Fervor nacionalista

Na primavera de 1970, todos os agricultores da vila de Nhem Sal se aproximaram do único rádio disponível e ouviram a voz do príncipe Sihanouk falando a eles da distante Pequim. Sihanouk disse que "o vassalo dos Estados Unidosk, o general Lon Nol", tramara um golpe contra ele, e suplicou aos jovens que libertassem a pátria.

O Camboja se emaranhou na Guerra do Vietnã. Bombardeiros B-52 norte-americanos despejaram 500 mil toneladas de explosivos no país no final da década de 1960, a fim de destruir as linhas de comunicação com os comunistas vietnamitas que passavam por território cambojano. O número de bombas foi maior do que o lançado contra o Japão durante a Segunda Guerra Mundial.

Após ouvirem o príncipe falar no rádio, Nhem Sal e os seus amigos seguiram para a selva e se juntaram ao Khmer Vermelho. Cinco anos mais tarde, eles haviam vencido, tendo conquistado a capital e deslocado a população para o interior, onde ela deveria vivenciar o "verdadeiro comunismo". Aquele foi o início de uma campanha brutal de genocídio contra o próprio povo cambojano.

Cinco meses depois, soldados crianças - que não diferiam de Nhem Sal e dos seus colegas - chegaram ao campo deles e os acusaram de serem "espiões a serviço dos imperialistas norte-americanos". Após um breve interrogatório, eles fuzilaram o supervisor de Nhem Sal. O corpo do supervisor foi usado como "fertilizante para os campos de arroz", conforme explicaram cinicamente os executores.

Nhem Sal foi jogado na carroceria de um caminhão e levado para a prisão Tuol Sleng. Durante o dia ele era torturado. Ele passava as noites acorrentado à sua cama. Ao contrário da maioria dos outros prisioneiros do campo, ele foi libertado subitamente após um ano de prisão, para combater novamente junto às fileiras do Khmer Vermelho em escaramuças de fronteira com o Vietnã. A matança finalmente terminou em dezembro de 1978. Soldados vietnamitas - liderados pelo cambojano Hun Sen, um renegado do Khmer Vermelho - libertaram o país da orgia de sangue instituída por Pol Pot.

Agora, 28 anos depois, Nhem Sal retorna pela primeira vez a Tuol Sleng, no momento em que se prepara para ser testemunha perante o tribunal.

Letras brancas anunciam à entrada do pavilhão: "Museu do Genocídio". No assoalho há longas fileiras de murais com fotos. Todos os prisioneiros foram fotografados pelos guardas de Pol Pot quando chegaram a esse gulag tropical, e os seus dados pessoais foram anotados.

Nhem Sal passou algum tempo examinando as paredes repletas de fotos, procurando em vão pela sua própria imagem. De repente as suas memórias ficaram insuportáveis e ele correu para fora.

Por que o Khmer Vermelho agiu com tamanha barbaridade? Quem deu a ordem para que se cometessem assassinatos em massa contra o povo? O pesquisador francês tentou responder a essas perguntas. "Indiretamente, a catástrofe teve início conosco, os franceses", afirma o diretor do Centro de Estudos do Khmer Vermelho em Seim Reap, que fica ao lado do famoso templo Angkor Wat, que também abrigou o Khmer Vermelho.

"Sem Pol Pot, nós nos teríamos transformado em uma província norte-americana"

Quando o exército colonial francês cruzou a fronteira e ingressou na Indochina em meados do século 19, o Camboja era dominado pela Tailândia e pelo Vietnã. Em 1863, os governantes coloniais transformaram a região em um protetorado. Os franceses permitiram pela primeira vez a independência do Camboja em 1953, sob o governo do rei Sihanouk. Mas ao final da década de 1960 o país se envolveu com a Guerra do Vietnã. Sob a liderança de Pol Pot, houve a emergência de guerrilheiros de esquerda - o Khmer Vermelho - que lutou contra o governo e finalmente chegou ao poder em 1975.

De acordo com Peycam, os comunistas combinaram a sua ideologia com uma xenofobia extremada. Quando mais gente eles matavam, mais sentiam que se livrariam de toda influência estrangeira. Um nacionalismo assassino tomou conta do país.

Nhem En, 46, membro da equipe da S-21, mora próximo a Siem Reap, na região fronteiriça de Anlong Veng. Ele tirou a maioria das fotos que atualmente são exibidas no Museu do Genocídio. Ele também entrou para o Khmer Vermelho quando criança. Foi uma decisão da qual ele nunca se arrependeu. "Os B-52 destroçaram o nosso país", conta Nhem En.

Ele foi treinado como fotógrafo em 1976 na China, e depois enviado para trabalhar na prisão Tuol Seng. "Eu ouvia as pessoas gritando, mas fiz o que tinha que fazer". Em outras palavras: para sobreviver, preocupe-se primeiramente consigo próprio. "Todos os dias eles traziam novos prisioneiros", conta ele. "Tínhamos que tomar medidas drásticas". Quando Pol Pot fugiu em 1979, perseguido pelas tropas vietnamitas, Nhem En o acompanhou e se tornou o seu fotógrafo particular. "Ele não era um homem ruim", diz Nhem En referindo-se ao ditador. "Ele sempre tomou conta dos seus camaradas. Sem ele, teríamos nos transformado em uma província norte-americana".

Quando é confrontado com perguntas sobre as várias sepulturas coletivas e os milhões de mortos, ele oferece uma versão alternativa para o que se passou. Nhem En alega que dois terços das vítimas morreram de desnutrição ou doenças: "Uma conseqüência da guerra que foi imposta sobre nós".

Nhem En quer criar um museu de Pol Pot. Ele vasculha uma caixa de metal cheia de fotos antigas e encontra o que procura: O "Irmão Número Um" em marcha pela selva; Pol Pot rodeado pelos seus comandantes, como se fosse um avô bonzinho. Às vezes Nhem leva um visitante até a sepultura do assassino de massas, localizada a cinco minutos de carro da sua casa. Ele cobra US$ 100 por esse serviço. E ele também vende fotos do corpo de Pol Pot, que morreu em 1998, perto de Anlong Veng.

Quando lhe perguntam como se sente a respeito do tribunal, ele responde: "Se o governo desejar me colocar perante o tribunal, irei com satisfação. Não tenho medo". Mas ele não acredita que a coisa chegue a esse ponto. Atualmente ele trabalha para o governo de Hu Sen como vice-chefe regional. E, em Phnom Penh, a calma é mais importante do que o ajuste de contas com o passado.

O primeiro ajuste de contas legal com o comunismo?

O tribunal dará início ao seu trabalho neste início de ano. O julgamento provavelmente demorará anos, e ele deverá se limitar a abordar as violações dos direitos humanos cometidas durante o período da ditadura de Pol Pot, entre 17 de abril de 1975 e 6 de janeiro de 1979.

A maior parte dos líderes do Khmer Vermelho foi perdoada. Outros obtiveram altos cargos no atual governo do Camboja. O contrato entre a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Partido do Povo Cambojano, de Hu Sen, determina quem pode ser acusado: "Lideranças de alto escalão e aqueles que têm a maior responsabilidade pelos crimes cometidos". Pol Pot, o "Irmão Número Um", foi o maior responsável por tudo.

Em julho passado, Ta Mok, líder militar do Khmer Vermelho, morreu aos 80 anos no hospital militar de Phnom Penh. Nuon Chea, 79, o "Irmão Número Dois", mora no último refúgio dos ex-comunistas. Tanto o ex-ministro das Relações Exteriores, Ieng Sary, quanto o chefe de Estado, Khieu Samphan, também moram lá em mansões luxuosas.

Somente Duch, o temido chefe do centro de torturas S-21, está na cadeia.

Claudia Fenz, 48, integra o corpo de 13 juízes e advogados internacionais que se sentarão no tribunal de 30 membros. A advogada vienense não sabe ao certo se o caso diz mais respeito a justiça ou a política. Os juízes cambojanos podem anular as determinações dos seus colegas da ONU em todos os níveis jurídicos. Além disso, há, é claro, o nome estranhamente incomum do tribunal: "Câmaras Extraordinárias nos Tribunais do Camboja para o Julgamento de Crimes Cometidos durante o Período da Campuchea Democrática".

Mesmo assim, as expectativas são grandes. Na recepção de abertura para os corpos diplomáticos, o embaixador sul-coreano chamou os juízes estrangeiros e pediu a eles que levassem a sério a responsabilidade histórica: "Isso porque o julgamento é o primeiro ajuste de contas legal com o comunismo".

Gregory Stanton, professor de direito da Universidade Mary Washington, em Virgínia, está cético. Ele estuda há anos o genocídio cometido no Camboja. Stanton visitou o país pela primeira vez em 1980, como membro de uma organização humanitária, logo após a chegada das tropas de Hanói. À época, apenas 30 mil pessoas ainda moravam em Phnom Penh: a capital parecia uma cidade fantasma.

Stanton viu campos de arroz repletos de corpos. Ele ouviu histórias sobre como bebês foram esmagados contra árvores. E também ouviu falar das mães que foram asfixiadas com sacolas plásticas.

Porém, quando Stanton retornou aos Estados Unidos, ninguém estava interessado no Camboja. "Foi simplesmente o Vietnã, que infligiu uma derrota vergonhosa aos Estados Unidos, que libertou o Camboja dosassassino de massas Pol Pot, com a ajuda do seu vassalo, Hun Sen".

Em vez disso os norte-americanos apoiaram um triunvirato incomum. O príncipe Sihanouk, o anti-comunista Son Sann e os sucessores de Pol Pot combateram o governo Hun sem a partir dos seus refúgios na selva. Pequim forneceu minas terrestres e armamentos. E o governo tailandês permitiu o transporte de armas pelo seu território. O chefe do escritório da Agência Central de Inteligência (CIA) em Bancoc se gabou dessa cooperação internacional ainda no início da década de 1990, afirmando: "Eu mantive a coalizão unida".

Ao tentar salvar o país do Vietnã, a comunidade internacional prolongou a fome e a guerra no Camboja. "Centenas de milhares de pessoas devem ter morrido depois que o Vietnã invadiu o país", diz Stanton. No Camboja eles chamam esse período de "Os Campos da Morte Dois".

Só em 1997 a secretária de Estado norte-americana, Madeleine Albright, aderiu à opinião de que a ONU deveria juntar forças a Hun com o propósito de criar um tribunal de direitos humanos. Stanton, que nesse ínterim trabalhou como diplomata norte-americano, redigiu o memorando que persuadiu Albright.

"Esse tribunal jamais fará a justiça", afirma Youk Chhang, 46. Ele uma espécie de Simon Wiesenthal cambojano. Se ele e o seu centro de documentação não tivessem procurado os documentos sobre os assassinatos em massa, e se eles não tivessem preservado as testemunhas oculares dos horrores, o tribunal não teria sido criado.

Os asseclas de Pol Pot assassinaram vários parentes de Chhang. Eles abriram a barriga da sua irmã com uma faca - em frente aos filhos dela - depois que a mulher foi acusada, no campo de trabalhos forçados, de roubar arroz. Quando uma das filhas não parou de chorar, um dos executores deu a ela a tigela de arroz da mãe e lhe disse: "Se você guardar isso, a sua mãe um dia retornará do céu".

A criança hoje é uma adulta e tem os seus próprios filhos nos Estados Unidos. Quando os filhos lhe perguntam qual é o significado da tigela, que ela guardou, a mulher geralmente diz: "Perguntem ao seu tio no Camboja".

Até hoje, Youk Chhang não conseguiu lhes contar a história. Mas ele não a ocultará dos juízes.
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

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Pug
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Mensagem por Pug »

Nunca é tarde.
"Nunca te justifiques. Os amigos não precisam e os inimigos não acreditam" - Desconhecido

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Steve
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....

Mensagem por Steve »

RETIRADO escreveu:Nunca é tarde.

faltou julgamento dos chefoes dos esquadrões da morte dos paises
da Am.Latina
faltou o julgamento dos africanos titeres do 1° q trucidam seu povo...

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Pug
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Re: ....

Mensagem por Pug »

Steve escreveu:
RETIRADO escreveu:Nunca é tarde.

faltou julgamento dos chefoes dos esquadrões da morte dos paises
da Am.Latina
faltou o julgamento dos africanos titeres do 1° q trucidam seu povo...



Um crime não justifica outro e muito menos o minimiza.
"Nunca te justifiques. Os amigos não precisam e os inimigos não acreditam" - Desconhecido

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Fernando Silva
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Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por Fernando Silva »

O objetivo do Khmer Vermelho era criar um regime socialista "puro", onde não haveria classes sociais e as pessoas se dividiriam em apenas 2 tipos:

-camponeses analfabetos, cultivando a terra com os meios mais primitivos possíveis.
-operários apenas com o mínimo de conhecimento necessário para desempenhar suas funções.

Devido a isto, exterminaram sumariamente médicos, engenheiros, técnicos, professores e quem quer que tivesse algum grau de instrução. No final, havia uma minoria de médicos para cuidar do país.

Eles também achavam que 7,5 milhões de habitantes era demais e sua intenção era reduzir a população a um milhão apenas.

Assim como no livro "1984", as pessoas não eram torturadas para se obterem informações, mas sim para que confessassem, para que admitissem o "erro" antes de serem executadas.

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Fernando Silva
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Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por Fernando Silva »

Rio, 17 de julho de 2005 "O Globo"

Utopia assassina

Dorrit Harazim

PHNOM PENH - 2005 está sendo rico em expiações coletivas. Esta semana a Europa
pranteou o 10 aniversário do massacre de Srebrenica, na Bósnia. Dias atrás o Live 8
remasterizou o lamento pela fome na África. Em maio foi o mundo que se engalanou
para os 60 anos do fim da Segunda Guerra. E em abril os 30 anos de fim da Guerra
do Vietnã puderam ser comemorados por toda uma geração.

Por que então ninguém chora ou canta pelo Camboja, que este ano também teria
efeméride redonda para se fazer lembrar? Faz 30 anos que a história milenar do
povo khmer foi interrompida por uma utopia de laboratório. Idealizada por um
núcleo de visionários totalitários, durou três longos anos, oito meses e 20
dias. Encabeçado por Pol Pot, o tirano que comandava das sombras, o experimento
foi executado por hordas de jovens militantes impregnados de uma força
invencível: a da insanidade.

Trinta anos atrás, a comunidade internacional assistiu em silêncio à metódica
eliminação do modo de vida dessa nação de 7 milhões de habitantes. Estados
Unidos, Canadá e Inglaterra, entre outros expoentes da civilização ocidental,
compactuaram com os interesses da China emergente dos anos 70 e permitiram que a
máquina de desumanização do Camboja vingasse. A exumação dessa página da
História não edifica ninguém. Mas é impossível percorrer o Camboja de hoje sem
registrar a melancólica incompreensão de um povo com o seu próprio destino. Ela
está encapsulada numa indagação sem resposta: "Por que nós não contamos? Por que
ninguém fez nada?"

"Não posso falar sobre o período porque não o entendo. Simplesmente não entendo"
diz o septuagenário Son, sobrevivente dos tempos do horror.

A constatação do plantador de arroz cuja vida sempre escoou mansa às margens do
Rio Mekong até ser varrida pelo ideário do Khmer Vermelho é mais profunda do que
parece. O escritor britânico Philip Short, que acaba de publicar a primeira
biografia de fôlego sobre o líder da revolução cambojana, chega a conclusão
semelhante, só que em 672 páginas. "Pol Pot, anatomia de um pesadelo" também não
consegue explicar o inexplicável.

Evacuação de todas as cidades e vilas

Entre o "Ano Zero"(1975) do que seria a construção de um novo povo até a
derrocada do Khmer Vermelho (1979) por tropas invasoras do vizinho Vietnã, Pol
Pot tinha abolido dinheiro, religião, propriedade, escolas, individualidade e
família da vida cambojana. A partir dos 7 anos de idade, toda criança passou a
pertencer à Angkar, a Organização. E todas as cidades e vilas do país deveriam
ser imediatamente evacuadas para que o contaminado modo de vida urbano pudesse
ser erradicado para sempre.

Foi na manhã da tomada de Phnom Penh pelos guerrilheiros do Khmer Vermelho,
enxotando uma ditadura militar corrupta e impopular, que a máquina do
experimento humano começou a funcionar. Em pouco tempo, uma população de sete
milhões de pessoas teve suas raízes arrancadas e foi posta em marcha. Sem saber
para onde, nem por quê, ou até quando. No terceiro dia de existência do novo
regime, a população de Phnom Penh já tinha encolhido de dois milhões para 20 mil
pessoas. E quando a outrora frondosa capital foi finalmente libertada, restavam
apenas 70 almas. Pelas contas do atual premier, Hun Sen, e do secretário de
Turismo, Thong Khon - ambos integrantes da Frente de Salvação que herdou as
ruínas do Khmer Vermelho - somente 43 médicos qualificados, sete advogados e
1.005 estudantes e intelectuais cambojanos sobreviveram à era Pol Pot.

Pin Yathay tinha 17 anos quando recebeu o Prêmio Nacional de Matemática das mãos
da rainha-mãe Kossamak, em 1960. No dia da chegada do Khmer Vermelho à capital,
em 1975, estava casado, tinha três filhos pequenos e carreira promissora de
engenheiro. Estranhou, mas se dobrou à ordem de reunir a família e abandonar a
cidade. Vale uma pausa para imaginar o tumulto emocional de uma decisão dessa
magnitude. Como assim, largar tudo? O que fazer para ganhar tempo? O que os
vizinhos estão levando de essencial? O que deixar para trás? Como não alarmar as
crianças? Tenta-se buscar os pais ou avós e partir juntos? O que esconder até a
volta? Os dilemas que brotavam eram todos de utilidade prática e imediata, sem
espaço para decifrar a real dimensão desse êxodo por decreto.

Yathay sobreviveu e produziu um dos testemunhos mais aterradores sobre o
processo de aniquilamento da vontade humana promovido pelo regime de Pol Pot.
Foi um método eficaz, por etapas. As ordens eram repetidas em tom mecânico, não
ameaçador, desprovidas de eco emocional. Conseguiram que a massa se pusesse em
marcha de forma absurdamente silenciosa, quase ordeira, agarrada a uma
informação que não tinha nexo: "Será uma evacuação de apenas três dias.
Precisamos purificar a cidade".

Nos primeiros dias de estrada, o comboio de retirantes ainda se diferenciava
pelo que cada um trazia como pertences essenciais - uns tinham vindo em Citröens
abarrotados de cortinas, sofás ou geladeiras, enquanto outros carregavam o pai
doente nas costas, a pé. Mas em pouco tempo a procissão assumiria contornos de
terrível uniformidade, fluindo como sangue de ferida aberta.

Os exaustos, desesperados e doentes iam ficando para trás, deixando passar a
maré silenciosa. Vez por outra via-se um suicida pendurado numa árvore. No nono
dia do Ano Zero, virtualmente toda a população urbana do país estava
transplantada para zonas rurais. Catalogados como "homens novos" em
contraposição ao "povo antigo", o idealizado camponês sem instrução, os
deportados iniciariam ali seu brutal processo de purificação ideológica. Começou
assim uma revolução de profundidade jamais alcançada, que misturou uma bizarra
noção de justiça social com o desejo de reviver a glória nacionalista do antigo
império de Angkor.

Regime só queria 1 milhão vivos

O engenheiro Yathay conta que trabalhava a terra ou abria clareiras absurdas na
floresta 20 horas por dia para se tornar logo um "cidadão antigo" e voltar com a
família para casa.

- Nós nos iludíamos pensando que decorrido o tempo de penitência necessário,
seríamos mandados de volta para reconstruir o país. Afinal, após tantos anos de
guerra e desestabilização social, o Camboja certamente precisaria de todos os
seus engenheiros e professores. Queríamos acreditar. Era o escapismo da
esperança.


Ela foi sendo enterrada junto com os primeiros mortos. Metodicamente, para
aprofundar a perda de parâmetros, os sobreviventes recebiam ordens de novo
deslocamento, enveredando para regiões do país cada vez mais inóspitas. No caso
de Yathay, a sentença final lhe foi comunicada ao chegar numa mata virgem que
deveria ser derrubada para a construção de cabanas: ficariam ali para sempre.
Seria a floresta dos mortos, um dos tantos "Killing fields" retratados no filme
seminal de Rolland Jaffé. Começava a derradeira etapa da purificação através da
sobrevivência dos mais fortes.

Na prática, o extermínio através da diminuição progressiva de ração diária e
aumento do trabalho forçado. "No novo Kampuchea (nome antigo do reino cambojano)
só precisamos de um milhão de pessoas para continuar a revolução. Não precisamos
do resto", dizia um dos editais, o que explica o desprezo do Khmer Vermelho por
prisões, consideradas uma forma decadente e capitalista de desperdiçar recursos.

Execuções atendiam melhor ao plano. Até mesmo o notório S-21 de Phnom Penh, a
central de torturas do novo regime, operou essencialmente como máquina de
arrancar confissões.

Apenas dois presos pelo genocídio


Yathay lembra quando o último semblante de humanidade foi enterrado e os seres
ainda vivos passaram a viver sua própria destruição. Tinha sido chamado por um
guarda para enterrar um cadáver. Conhecia as moradoras: uma professora com filha
de 4 anos, e a irmã. Mãe e filha estavam sentadas em silêncio, diante de um
corpo embrulhado com farrapos, como múmia, exceto pela cabeça exposta. Achou
estranho, mas há tempos se habituara a não fazer perguntas. No dia seguinte, a
história correra pelo campo: a professora comera a carne da irmã morta e fora
flagrada com um pedaço cozinhando no fogo. A irmã-múmia estava descarnada.
"Morremos. O desejo de viver morreu antes dos nossos corpos", escreveu Yathay,
que tem dois filhos, a mulher, os pais, cunhados e sobrinhos enterrados nos
campos da morte. Ele sobreviveu, a utopia de Pol Pot não.

Como todo poder absoluto, o Khmer Vermelho foi corrompido de forma também
absoluta. Tendo a repressão como única política possível e o colapso econômico
como conseqüência lógica, foi contaminado por suspeitas intestinas. Vítima de
sua própria armadilha, restou-lhe apenas matar e continuar matando. Primeiro os
"novos". Depois os "antigos". Por fim, as próprias fileiras. Com o colapso da
organização, começaram os expurgos internos e Pol Pot foi substituído pelo
Camarada Número Dois. Morreu de forma obscura na mesma selva de onde emergira.
Mas escapou de responder por seus crimes e só tardiamente a esquerda mundial se
flagelou por tê-lo poupado de uma condenação em vida. Passados 30 anos, apenas
dois expoentes da fracassada utopia estão presos: Ta Mok, mais conhecido como
"açougueiro", e o camarada Deuch, cérebro da central de tortura, interrogatório
e execuções conhecida pela sigla S-21. Aguardam julgamento.

Foi somente no final dos anos 90 que esse genocídio do silêncio conseguiu
merecer a atenção da ONU e ser qualificado como crimes contra a Humanidade. Um
tribunal misto de juristas internacionais e juízes do Camboja será instalado em
Phnom Penh para a condução dos trabalhos. Se é que algum dia haverá julgamento -
não são poucos os ex-líderes mundiais e governos que prefeririam protelar para
sempre a exumação de sua conivência com os campos da morte cambojanos.

Testemunha antecipada da insanidade

Foi numa manhã de 1971 que o etnógrafo francês François Bizot teve
sua Land Rover interceptada na rota de Oudong, a antiga capital dos reis do
Camboja. Foi cercado por um bando de jovens vestidos de preto, algemado e levado
de olhos vendados para um campo da morte na floresta, onde permaneceu
acorrentado a um tronco de árvore durante três meses.

Casado com uma cambojana e falando fluentemente o idioma do país, Bizot foi o
primeiro ocidental a ver de perto a insânia que se abateria sobre o Camboja
quatro anos mais tarde. Acusado de ser espião da CIA, foi, também, a única
pessoa interrogada por Kank Kek Ieu, mais conhecido como Camarada Deuch, e ter
sobrevivido. Deuch se tornaria famoso como diretor do principal centro de
interrogatório e extermínio do Khmer Vermelho, em Phnom Penh.

Caso de menina de 9 anos ilustra demência do regime

?Durante três meses vi o abominável espraiar-se a minha volta...?, escreveu o
etnógrafo no perturbador relato de seu cativeiro.

Por ironia do destino, quando o Khmer Vermelho assumiu o poder, Bizot
desempenhou papel crucial junto a Deuch para que mais de mil ocidentais
refugiados na Embaixada da França escapassem da morte e saíssem do país.

Intitulado "O portal", com prefácio de John Le Carré, o livro publicado em 2000
detalha o caso de uma menina de 9 anos trazida para o cativeiro na floresta após
a execução do pai. Ela não falava, não comia sua ração de arroz, não saía do seu
terror exceto para assistir às sessões diárias de doutrinamento obrigatório.

Bizot afeiçoou-se à pequena órfã que tinha a idade de sua filha e, apesar de
acorrentado, conseguiu estabelecer uma comunicação gestual afetiva com a menina.

Para o francês, era uma forma de se sentir humano enquanto sobrevivia como
animal. Certa noite foi acordado por um toque macio em sua canela latejante e já
putrificada pelas correntes. Era a esquálida mão da menina. Imaginou que ela
tivesse vindo aliviar sua dor. Percebeu, com horror, que ela viera testar a
eficácia do aprisionamento. Olhando-o fixamente nos olhos, chamou um dos guardas
do campo e mostrou que ainda havia uma pequena folga. A corrente foi apertada.
Nascia, ali, mais uma criatura da utopia de Pol Pot.

E Bizot passou a achar verossímil o relato que ouvira do camponês Thep, seu
companheiro de cativeiro. Thep contara ter presenciado a execução pública, a
golpes de enxada na nuca, de três famílias do vilarejo em que morava por terem
se recusado a ceder os filhos homens à causa de Angkor. Ao todo, 19 pessoas.
Cinco eram bebês. Estes ficaram por último, a cargo de um menino de 14 anos com
poucos meses de doutrinamento. Ao ver sua hesitação, um instrutor lhe passou as
mãos pelos ombros e assoprou-lhe algo no ouvido. Um a um os bebês foram
agarrados pelos pés e arremessados contra o tronco de uma árvore - uma, duas,
três vezes.

País luta para se reerguer

Projetado no mapa-múndi pelos horrores do Khmer Vermelho nos anos 70, o Camboja
ainda não se recuperou dos quatro anos de terror em que perdeu entre 1,3 milhão
e 2,5 milhões de habitantes - de uma população de 7 milhões - sob o regime
comunista de Pol Pot, derrubado por uma invasão vietnamita em 1979.

Desde então, o país reinstaurou seu rei, Norodom Sihanouk, primeiro como
presidente e depois novamente como soberano, e implantou uma claudicante
democracia, com as primeiras eleições em 1993. A experiência democrática
derrapou em 1997 com um golpe de Estado, e no ano seguinte houve novas eleições.

Longe de poder sequer aspirar a ser um Tigre Asiático, nos anos 90 o Camboja
manteve uma taxa média de crescimento econômico de 4,8%, graças à instalação de
confecções chinesas e taiwanesas que produzem artigos para marcas internacionais
como a Nike e a Gap. O setor, que em sete anos viu o número de operários
aumentar de 2.300 para 200 mil, alcançou enorme importância, respondendo em 2001
por 60% das exportações, que chegaram a US$ 1 bilhão naquele ano. A renda per
capita de aproximadamente US$ 300, no entanto, ainda é uma das mais baixas do
mundo.

Um dos problemas mais prementes no país é a prostituição infantil, pois não
existe legislação criminal sobre o tema, o incentiva a sua prática. Entretanto,
certos atos são proibidos e sofrem sanções administrativas. Segundo o grupo
Global-Protect All Children, o Camboja é "uma porta aberta para a prostituição
infantil".

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Fernando Silva
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Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por Fernando Silva »

PHNOM PENH. Keo Lundi costuma ser acionado quando algum visitante do Museu do Genocídio de Phnom Penh começa a fazer perguntas demais. Prefere falar em francês, denotando nostalgia pelos tempos em que a capital misturava singeleza e refinamento, numa fusão ideal de cultura asiática com plumagem de antiga colônia.

- Nasci numa segunda-feira, daí o meu nome - vai logo explicando para justificar o "lundi"(segunda-feira, em francês). Olha com pesar para um grupo de colegiais que percorre as galerias da morte tagarelando como se estivesse num shopping.

- Hoje não temos mais moral nem disciplina nas escolas. Toda uma geração de professores foi massacrada na guerra e os de hoje mal saíram do analfabetismo. Não cresceram dentro dos parâmetros de respeito budista.

Coube, justamente, a uma antiga escola de segundo grau do bairro de Tuol Svay Prey abrigar a mais insana e eficaz máquina de arrancar confissões montada pelo Khmer Vermelho - a S-21. São quatro pavilhões esparramados entre bananeiras e mangueiras, únicas testemunhas que saíram ilesas dos anos de chumbo. O complexo agora transformado em museu começou a operar em maio de 1976, ou seja, no "Ano Dois" do regime, protegido por um muro eletrificado de ferro duplo. Precaução desnecessária, pois não se tem notícias de nenhuma tentativa de fuga, apenas de suicídios.

Ex-professor de matemática era autoridade na prisão

A sigla S-21 nasceu da soma de Segurança, 2º Distrito e Irmão Número 1, como Pol Pot gostava de ser chamado. Havia outras unidades de segurança no 2º distrito da capital mas quis a História que a central de repressão de um regime que aboliu o ensino fosse montada, justamente, numa escola. E que a autoridade suprema do S-21 fosse o ex-professor de matemática Kang Kek Ieu, ou "camarada Deuch". Segundo relatórios encontrados nos arquivos de Tuol Sleng, Deuch exerceu sua soberania de vida e morte sobre pelo menos 10.499 prisioneiros já catalogados pelo Centro de Documentação - sem contar as cerca de duas mil crianças executadas sem interrogatório. Ao que se sabe, apenas 12 adultos sobreviveram. E destes, só sete conseguiram sair de sua morte interior, revisitando o antigo cárcere transformado em Museu do Genocídio em 1980.

Mesmo para quem já leu inúmeros relatos sobre o período e assistiu ao extraordinário documentário "S-21, a máquina de matar do Khmer Vermelho", do diretor cambojano Rithy Panh - que captou de forma definitiva a lógica do horror ali institucionalizado - nada prepara para o impacto de percorrer ao vivo os quatro prédios de dois andares da rua 143. As celas individuais do pavilhão A, alocadas para "traidores" da alta hierarquia do Khmer Vermelho, talvez sejam as mais aterradoras. Contêm uma única cama de ferro nua fincada bem no centro do que foi outrora uma sala de aula com carteiras escolares. E uma cadeira para o interrogador/guarda. Elas retratam o apogeu da insânia.

Líderes foram degolados acorrentados à cama

Um regime que tomou o poder para erradicar qualquer vestígio de classe social acabou montando celas espaçosas e claras para torturar a sua elite. Para os suspeitos do segundo escalão foram improvisados cubículos claustrofóbicos, sem janela nem cama de ferro, mas ainda assim individuais. Na espiral de suspeição e autofagia ideológica que terminou por implodir o regime, faltou tempo para a eliminação total de hierarquias.

Os únicos 14 cadáveres encontrados pelas tropas vietnamitas que derrubaram as grades da S-21 eram, por ironia, desses líderes caídos em desgraça. Os guardas em fuga não tiveram tempo de levá-los para fora do pavilhão para execução no campo da morte mais próximo. Tinham sido degolados com as pernas acorrentadas à cama, depois de ter rosto e corpo desfigurados a golpes de ferro para evitar sua identificação. Alguns desses procedimentos podem ter sido executados por guardas-mirins com idades de 10 a 15 anos, doutrinados para servir Angkar para além da morte.

Toda a engrenagem da S-21 foi obsessiva e sistematicamente documentada, e entre os 40 mil primeiros registros catalogados até 1997 há desde descrições minuciosas de torturas até transcrições de diálogos tão banais quanto terríveis:

- Camarada Huey, você está com medo de matar?

- Não estou com medo de matar, irmão.

No Pavilhão B são os mortos-vivos que estão por toda parte - cinco salas de paredes e mais paredes com fotos 3 x 4 ampliadas de gente que sabe que vai morrer. Obrigados a se manter eretos por um equipamento biométrico acoplado a uma cadeira de ferro, todos olham diretamente para a câmera. O efeito de justaposição é desconcertante. São centenas, milhares de pares de olhos voltados para o visitante. Há quem apresse o passo, disfarçadamente, por não suportar o contato. Outros não sabem mais como sair dali, procurando intuir o que existiu por trás.

Até agora, o banco de imagens do Centro de Documentação do Camboja e o Programa de Estudo do Genocídio Cambojano da Universidade de Yale, com verba de U$1,5 milhão, catalogaram e armazenaram eletronicamente mais de cinco mil fotos. Mas isso representa apenas um quarto das mais de 20 mil fichas biográficas dos órgãos de segurança de Pol Pot analisadas até o ano 2002.

No setor reservado às fotos da "purificação"de Phnom Penh, Keo Lundi pára diante da imagem de uma família iniciando a longa marcha de um povo rumo ao nada. Aponta para um menino de uniforme escolar, espremido entre adultos amedrontados.

- Eu estava de uniforme azul e branco quando saímos de casa para sempre, às nove e meia da manhã - observa, deixando entreaberto o baú de lembranças do tempo vivido nos campos montados por Angkar nas florestas e interior do país.

Lundi tinha 15 anos. Quatro anos depois, com a queda do regime, retornava com vida a uma Phnom Penh fantasmagórica . Estava com menos de 18 anos de idade e descera aos porões da alma humana. Melhor não perguntar como e por que sobreviveu. Melhor parar nas primeiras lembranças do abismo físico, emocional, psicológico e moral da travessia coletiva.

- Enterrávamos todas as roupas trazidas da cidade para tentar passar por cambojanos do campo, já "reeducados", que só usavam matizes de cinza ou preto desbotado. E esfregávamos a roupa do corpo com lama e frutos do mato para escurecer e manchá-la, tornando-a indistinta.

Eram os primeiros passos da transformação exterior, juntamente com o corte de cabelo apressado das mulheres, a golpes de faca ou facão, para se assemelharem às camaradas do Khmer Vermelho.

Numa das salas do Pavilhão B, ao lado das fotos, uma urna de vidro contém um amontoado de andrajos de cor indistinta e desbotada, vestígios dos que passaram pela S-21. Antes de serem executados a golpes de pá ou enxada os presos eram obrigados a ficar nus para que os golpes pudessem ser mais certeiros. Até hoje, passados 30 anos desde o massacre de um entre cada quatro cambojanos, pedaços de pano ainda brotam da terra nos caminhos das valas comuns do genocídio.

No campo de Cheunk Ek, periferia de Phnom Penh, transformado em sítio histórico e símbolo dos mais de 550 sítios da morte mapeados até maio de 2003, ainda se pisa nestes vestígios de vida entre uma vala e outra.

- Os interrogatórios ocorriam três vezes ao dia - segue Lundi, enquanto aponta para a foto de um jovem australiano em meio ao mar de rostos asiáticos. Ao todo, foram sete as vítimas ocidentais até agora identificadas nos arquivos da S-21.

Confissão, e não informação, era objetivo da tortura

A engrenagem toda se destinava a obter uma confissão, fosse qual fosse e de quem fosse. Dado que Angkar não cometia erros, não estava contemplada a hipótese de algum dos presos nada ter para confessar. Em Tuol Sleng a tortura não visava obter informações. Destinava-se a obter uma confissão. Esta, por sua vez, exigia a execução do culpado para implementar a "purificação" do novo país.

"Ó sublime sangue vermelho/ vem mudar o homem... ", proclamava o novo hino nacional de Kampuchea, nome histórico do Camboja resgatado pelo Khmer Vermelho, para saudar o advento de uma nação em que haveria apenas duas classes de cidadãos - o camponês e o operário.

Guia luta para não sucumbir à memória do horror

É com voz monocórdia que Lundi aponta para a trave de madeira no que outrora foi o campo de esportes da escola:

- Ali funcionava a forca. Mas a maioria era levada para ser executada em Cheunk Ek, o campo da morte mais próximo da capital. Para não gastar munição, eram abatidos a golpes de pá, enxada ou foice. Bebês e crianças pequenas eram arremessados contra troncos de árvores ou degolados com a face cortante de folhas de palmeira doce - lembra.

Nos minuciosos registros mantidos pelo regime de Pol Pot, cada execução resultava num documento atestando que aquele indivíduo havia sido "oficialmente destruído".

Por último chega-se à ala que manteve encarcerados para interrogatório, tortura, confissão e execução a massa de suspeitos comuns. Estes permaneciam deitados no chão e acorrentados por grilhões em grupos de 20 a 30, numa barra de ferro de 6 metros. Assim ficavam em média de dois a quatro meses, cabeça contra cabeça, pés contra pés, como os escravos africanos nos navios negreiros. Até serem executados. Ao final da visita o guia Lundi reflete sobre a sua própria sanidade:

- Estou com 45 anos e para me manter sereno alterno este meu trabalho com o de guia no Museu Nacional de Phnom Penh, que está repleto de preciosidades da cultura khmer. É uma forma de tentar me convencer que a milenar civilização do meu país é maior do que a sua história recente. Trabalho aqui há 22 anos mas não esqueço que um dia eu quis ser médico. Ainda não tive coragem de trazer meus dois filhos pré-adolescentes para ver isso aqui. Vou ter de fazê-lo um dia. Por enquanto são muito jovens para entender. Mas como entender, em qualquer idade?

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Fernando Silva
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Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por Fernando Silva »

Hoje o Camboja é um remendo. Remendo físico do seu solo ainda infestado de minas terrestres. Remendo político com anistia e partilha do poder político entre adversários históricos e dissidentes do regime maldito. Remendo social de uma geração que sobreviveu ao horror e de outra que prefere não saber.

Quanto às minas terrestres que povoam as florestas, estradas do interior e os campos de cultivo do país, elas ainda farão sangrar a população cambojana por longo tempo. Estima-se em seis ou sete milhões o número de explosivos plantados em seu solo durante os anos de chumbo, tornando o Camboja, proporcionalmente, o país com a maior população de amputados do mundo - um em cada 300 habitantes.

Artefato militar de baixo custo, fácil manejo e eficácia garantida na contenção do avanço inimigo, a mina terrestre foi a arma mais utilizada pelas forças de Pol Pot. Comprada por menos de US$10 a unidade, custa perto de U$1 mil para ser desativada. Trata-se de um trabalho tão arriscado quanto lento, iniciado mais de dez anos atrás sob os auspícios da ONU. Em apenas uma das áreas de 15 quilômetros quadrados, por exemplo, foram encontrados quase 40 mil artefatos. Segundo um dado de 2003, ocorrem perto de 300 acidentes com minas a cada mês no país.

- No momento estamos atendendo a 8.219 amputados de todas as idades - diz Chin Da, chefe do Departamento de Fisioterapia do Hospital do Cambodia Trust, em Phnom Penh.

Chin trocou de profissão em 1995 para atender pacientes até então resignados a cadeiras de madeira acopladas a rodas de bicicleta. Hoje, por força da necessidade e apoiado por um cipoal de ONGs excepcionalmente dedicado e eficaz, o Camboja tem produção própria de próteses e membros mecânicos.

Henri Mouhot, o grande explorador francês que desbravou a Indochina no século XIX e morreu nas suas selvas, sustentava que "ao longo dos tempos os cambojanos parecem ter aprendido apenas a destruir, jamais a reconstruir". De fato, na história khmer, a imagem de um povo singelo e dócil convive com capítulos de despotismo, crueldade e destruição.

Pela lógica do Khmer Vermelho, cujo núcleo ideológico formou-se em Paris, a História da Humanidade é uma só. Antes de chegar ao poder o camarada Deuch manteve longos diálogos filosóficos com o etnógrafo francês François Bizot, seu prisioneiro na selva durante três meses. Um trecho definitivo:

- Vocês mesmos não fizeram uma revolução que executou centenas e centenas de pessoas? Desde quando a memória dessas vítimas impediu a França de glorificar os homens que fundaram uma nova nação naquele dia? O mesmo ocorre com os monumentos de Angkor, cuja arquitetura e grandiosidade o mundo inteiro admira... Mas quem se lembra do preço pago para conquistar aquelas glórias? A extensão do sacrifício importa pouco, o que conta é a dimensão do objetivo que você se propôs. (Dorrit Harazim)

Steve
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Re: ....

Mensagem por Steve »

RETIRADO escreveu:
Steve escreveu:
RETIRADO escreveu:Nunca é tarde.

faltou julgamento dos chefoes dos esquadrões da morte dos paises
da Am.Latina
faltou o julgamento dos africanos titeres do 1° q trucidam seu povo...

Um crime não justifica outro e muito menos o minimiza.


não to justificando... apenas lamento a impunidade dos carniceiros
da África e Am.Latina amigos da CIA e bancos suiços

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Poindexter
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Re: ....

Mensagem por Poindexter »

Steve escreveu:não to justificando... apenas lamento a impunidade dos carniceiros
da África e Am.Latina amigos da CIA e bancos suiços


Ao mesmo tempo em que não lamenta o massacre de 25% da população cambojana por comunistas como você. Que bela ética!
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rui mig
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Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por rui mig »

E o Mao?

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Pug
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Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por Pug »

Engraçado como fascistas exigem dos outros o que não fazem.
Reconheço que têm o direito de o fazer, mas fica tão hilariante...
"Nunca te justifiques. Os amigos não precisam e os inimigos não acreditam" - Desconhecido

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Poindexter
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Re: Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por Poindexter »

RETIRADO escreveu:Engraçado como fascistas exigem dos outros o que não fazem.
Reconheço que têm o direito de o fazer, mas fica tão hilariante...


Muito obrigado pela referência à variante socialista do fascismo, Pug! É uma grande honra ser associado à ela por comunistas! O único detalhe é que precisas comunizar um pouco mais o teu vocabulário, escrevendo "fachismo" ao invés de "fascismo".

Concordo com o efeito hilário, Pug: é realmente hilário ver pessoas como você tentando jogar nos braços dos outros o filho fascista.
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Poindexter
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Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por Poindexter »

A tua religião comun*sta é tão hipócrita quanto o Cristianismo!

O Cristianismo diz: "seja pobre"

A tua religião diz: "vai entregando teus bens aos mais pobres que você"

Nem os cristãos cumprem com a deles e nem vocês comun*stas, incluindo você, que fica aí na frente de um computador buerguesinho ao qual poucos têm acesso, produzido pelos teus odiados E.U.A., cumprem com as suas.



Nota: mensagem editada para ficar biblicamente mais correta.
Editado pela última vez por Poindexter em 06 Jan 2007, 14:28, em um total de 3 vezes.
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Alter-ego
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Re: Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por Alter-ego »

Poindexter escreveu:O Cristianismo diz: "dá todos teus bens aos pobres"

Na verdade, o Cristianismo não ensina isso.
"Noite escura agora é manhã..."

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Pug
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Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por Pug »

Parece-me que o cristianismo incentiva aprender a pescar...
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Pug
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Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por Pug »

Reli o tópico.

Afinal quem é o cristão :emoticon5:
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Poindexter
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Re: Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por Poindexter »

Alter-ego escreveu:
Poindexter escreveu:O Cristianismo diz: "dá todos teus bens aos pobres"

Na verdade, o Cristianismo não ensina isso.


A passagem bíblica é clara e conhecidíssima, Alter-Ego. Se achas que é apenas metafórico, então te digo que todas as passagens que dizem que há divindades podem ser consideradas metafóricas, também. Aliás, a verdade é que, como livro repleto de contradições que é, a cada hora diz uma coisa diferente. Nem mesmo manter coerência em uma lista de mandamentos consegue, conforme já demonstrados pelos especialistas em contradições bíblicas do fórum.
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Hugo
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Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por Hugo »

Hahaha, mudança brusca de assunto.

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Poindexter
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Re: Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por Poindexter »

RETIRADO escreveu:Parece-me que o cristianismo incentiva aprender a pescar...


Só que, se você for um "pescador" muito bom, será mais fácil um camelo passar pela ponta de uma agulha que você ser "salvo".
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Pug
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Re: Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por Pug »

Poindexter escreveu:
RETIRADO escreveu:Parece-me que o cristianismo incentiva aprender a pescar...


Só que, se você for um "pescador" muito bom, será mais fácil um camelo passar pela ponta de uma agulha que você ser "salvo".



Até pensei...Depois pensei de novo.

Tenha a continuação de um excelente fim de semana.
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Alter-ego
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Re: Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por Alter-ego »

Poindexter escreveu:
Alter-ego escreveu:
Poindexter escreveu:O Cristianismo diz: "dá todos teus bens aos pobres"

Na verdade, o Cristianismo não ensina isso.


A passagem bíblica é clara e conhecidíssima, Alter-Ego. Se achas que é apenas metafórico, então te digo que todas as passagens que dizem que há divindades podem ser consideradas metafóricas, também. Aliás, a verdade é que, como livro repleto de contradições que é, a cada hora diz uma coisa diferente. Nem mesmo manter coerência em uma lista de mandamentos consegue, conforme já demonstrados pelos especialistas em contradições bíblicas do fórum.

Não, não é metafórico, é literal. Mas veja o trecho na íntegra:

O Reino é dom e partilha -* 16 Um jovem se aproximou, e disse a Jesus: «Mestre, que devo fazer de bom para possuir a vida eterna?» 17 Jesus respondeu: «Por que você me pergunta sobre o que é bom? Um só é o bom. Se você quer entrar para a vida, guarde os mandamentos.» 18 O homem perguntou: «Quais mandamentos?» Jesus respondeu: «Não mate; não cometa adultério; não roube; não levante falso testemunho; 19 honre seu pai e sua mãe; e ame seu próximo como a si mesmo.» 20 O jovem disse a Jesus: «Tenho observado todas essas coisas. O que é que ainda me falta fazer?» 21 Jesus respondeu: «Se você quer ser perfeito, vá, venda tudo o que tem, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois venha, e siga-me.» 22 Quando ouviu isso, o jovem foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico.

Pois.
O jovem pergunta o que deve fazer para ser salvo, e Jesus lhe manda cumprir os mandamentos. Ou seja, basta a todo cristão cumprir os mandamentos.
Mas como isso não satisfez ao jovem, pois já cumpria os mandamentos, Jesus continuou: se queres ser perfeito, vende tudo e dá aos pobres.
Ou seja, se o jovem quisesse seguir jesus mais de perto, como os 12, teria que ter abdicado dos seus bens em favor dos pobres.
É isso o que fazem os sacerdotes, nos votos de "perfeição": votos de pobreza, castidade e humildades. Bem... Nem todos cumprem. :emoticon13:
Mas é o que o versículo diz.
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Poindexter
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Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por Poindexter »

É verdade, Alter-Ego. O cristianismo exige somente pobreza. Garantidos no inferno pela condição econômica, só mesmo os ricos. Faltou explicar como fica a situação da classe média e de quem investe em Fundos de Pensão e na Bolsa de Valores. Falta inclusive a publiucação, por parte do Vaticano, do limite anual de rendimentos líquidos para continuar com chances de salvação, dada em dólares ou euros e corrigidas pela Paridade do Poder de Compra.

Vou alterar minha mensagem lá do começo, então.
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Alter-ego
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Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por Alter-ego »

Esse trecho vem logo a seguir:

23 Então Jesus disse aos discípulos: «Eu garanto a vocês: um rico dificilmente entrará no Reino do Céu. 24 E digo ainda: é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus.» 25 Ouvindo isso, os discípulos ficaram muito espantados, e perguntaram: «Então, quem pode ser salvo?» 26 Jesus olhou para os discípulos, e disse: «Para os homens isso é impossível, mas para Deus tudo é possível

Repito que sempre é bom ler o´versículo bíblico dentro do seu contexto...
Mas, para clarear mais, vai um trecho da homilia de São Clemente de Alexandria sobre a salvação dos ricos:

"[...]O Senhor não nos manda lançarmos fora os bens e nos afastarmos de toda riqueza. O que ele deseja é desterrarmos da alma os vãos juízos sobre as riquezas, a cobiça desenfreada, a avareza, as solicitudes, os espinhos do século, que sufocam a semente da verdadeira vida.

Não é grande façanha, digna de emulação, carecer dos bens mas não ter a tendência para a vida eterna. Se o caso fosse este, os que nada possuem, os destituídos de todo auxílio, que diariamente passam mendigando pelos caminhos, sem conhecimento de Deus e de sua justiça, seriam, pelo simples fato da extrema indigência, os mais felizes e amados por Deus, os únicos que alcançariam a vida eterna. Aliás, nem é novidade o renunciar às riquezas em prol dos necessitados e pobres, pois também isto foi feito por muitos antes da vinda do Salvador: por uns, com o fim de se dedicarem às letras e por amor da sabedoria morta; por outros, com o fim de obtenção da fama e da vã glória: Anaxágoras, Demócrito, Crates...

[...]

Ademais, o próprio Senhor, hospedando-se na casa de Zaqueu e Mateus, que eram ricos e publicanos, não lhes ordena desfazerem-se das riquezas, mas - impondo um justo juízo e rechaçando a injustiça - termina por dizer: "hoje veio a salvação a esta casa, porque também este homem é filho de Abraão”. (Lc 19, 9)"
:emoticon1:
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Re.: O Camboja se prepara para o julgamento

Mensagem por Alter-ego »

Alterou o post...
Mas a minha última resposta continua bastante elucidativa. Dê uma lida.
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Trancado