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A ópera do falso profeta

Enviado: 06 Jan 2007, 12:34
por Alter-ego
A ópera do falso profeta

The Who ataca a religião em seu
novo disco. Mas é difícil acreditar
na pregação de Pete Townshend


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Daltrey e Townshend: 24 anos sem lançar um disco de inéditas

Nascido em 1964, o grupo inglês The Who é o progenitor de todos os "desajustados" que empunharam um microfone ou uma guitarra nos últimos quarenta anos. Nem sorridentes como os beatles, nem manhosos como os rolling stones, seus integrantes eram agressivos e esquisitões. Faziam um som barulhento e inventaram rituais roqueiros como a quebra de instrumentos no fim do show. Quando berravam a plenos pulmões "espero morrer antes de ficar velho", sua rebeldia tinha um toque amargo. Esse toque se devia sobretudo ao compositor Pete Townshend, letrista acima da média e dono, desde cedo, de uma visão de mundo desencantada. Pois bem. Passados 24 anos desde o lançamento do seu último disco de estúdio, o Who está de volta com o CD Endless Wire. O grupo se resume agora ao cantor Roger Daltrey e ao próprio Townshend. A religião é o tema central do disco e o veredicto é negativo: igrejas e livros sagrados são mais fonte de discórdia do que de esperança. Uma idéia provocadora, como seria de esperar. O problema é que o tempo não foi gentil com o Who. A música envelheceu. E Townshend tornou-se muito menos capaz de despertar simpatia do que nos primórdios da banda.

A rachadura na imagem de Townshend decorre de sua prisão em 2004 por acessar sites de pedofilia na internet. O cantor afirmou que os acessava para "fazer uma pesquisa" sobre a exploração sexual de crianças e que o interesse nesse tema decorria do fato de ter sofrido abuso na infância. As desculpas nunca soaram totalmente satisfatórias. "Se queria pesquisar, por que não entrevistou crianças que foram vítimas dessa monstruosidade em vez de olhar essas fotos humilhantes às escondidas?", perguntou o indignado guitarrista mexicano Carlos Santana. É uma boa pergunta. De repente, o velho Townshend, que fustigava toda espécie de hipocrisia, pareceu ter uma face desagradavelmente cínica – ou, mais que isso, perversa. Mas nunca se comprovou que ele tivesse envolvimento direto com os sites (pagando a eles, por exemplo), e o caso foi arquivado pela Justiça.

Endless Wire tem dezenove faixas. Nove são "independentes" e as demais se combinam numa "miniópera". O tema religioso aparece ao longo de todo o disco. Man in a Purple Dress, por exemplo, põe em questão a autoridade dos líderes religiosos, enquanto Two Thousand Years é uma espécie de oração indignada dirigida a Jesus. A segunda parte do CD se intitula Wire & Glass e teve origem numa novela que Townshend mantém em seu blog. Ela narra a história de uma banda formada pelo cristão Gabriel, o judeu Josh e a muçulmana Leila. O final é trágico: Josh mata Gabriel. Não é, obviamente, a primeira ópera-rock criada pelo The Who. Sob a tutela de Townshend, que sempre quis fazer obras ambiciosas amarradas por um "conceito", eles inventaram o gênero pomposo com Tommy, de 1968, e depois se exercitaram nele mais algumas vezes. Como acontece com a maioria das óperas tradicionais, as óperas-rock também costumam ter um ou dois bons momentos cercados por muita chatice. Em Wire & Glass o bom momento é We Got a Hit. O resto é resto.

O Who foi uma banda formada por músicos talentosos. Townshend é um bom guitarrista e Daltrey é um vocalista versátil, capaz de incorporar personagens quando canta. Mas os mais habilidosos eram o baterista Keith Moon e o baixista John Entwistle. Moon era tão selvagem diante da bateria quanto na vida pessoal. Acompanhá-lo era um desafio e ele nunca deixou herdeiros musicais. Morreu em 1978, depois de misturar remédios para depressão com bebidas alcoólicas. Entwistle ganhou o apelido de "boi" porque parecia ruminar em meio à pancadaria sonora do Who. Foi um inovador no uso do baixo elétrico. Morreu em 2002, numa festa com uísque, Viagra e garotas de programa. Entwistle compunha e nunca se submeteu totalmente à liderança de Townshend. Nas entrevistas de divulgação de Endless Wire, este último disse que a morte do baixista foi um "presente" – que o ajudou a centrar o foco nas composições para o novo disco do Who.


"George Bush é um bom presidente"

Pete Townshend, guitarrista e líder da banda The Who, falou a VEJA sobre música – e suas muitas polêmicas.

O senhor nega qualquer acusação de pedofilia. Como se explica, então, que a polícia inglesa tenha encontrado material pornográfico com crianças em seu computador?
Entrei em sites de pedofilia na internet apenas para fazer pesquisas. Fui inocentado pela Justiça inglesa. Sou contra qualquer tipo de abuso e me considero solidário a toda pessoa que tenha passado por essa experiência.

O senhor já declarou que era bissexual, mas voltou atrás. Por quê?
Tive experiências homossexuais na década de 70, mas não acho que isso faça de mim um típico homossexual. Sou casado, tenho filhos, gosto muito de mulheres. E detesto rótulos.

O Who é famoso pela relação belicosa entre seus integrantes. Como anda sua convivência com o vocalista Roger Daltrey?
Somos mais do que amigos. Somos irmãos. Mas prefiro que a gente mantenha uma certa distância. Aliás, nem faço questão de que ele apareça na minha casa.

O baixista John Entwistle morreu há quatro anos, depois de misturar cocaína, uísque e Viagra. Morrer de overdose faz parte do livro de regras do rock?
É uma estupidez morrer dessa maneira. Todo mundo tem o direito de morrer de modo digno, inclusive os roqueiros.

Muitas letras do Who são inspiradas em suas experiências pessoais. Alguma delas foi dolorosa no momento da composição?
Nunca usei minhas músicas para confessar pecados ou expressar minha dor. Minhas letras são pessoais, mas eu não quero que elas digam respeito só a mim. Considero um trabalho perfeito quando alguém se identifica com o que falo numa canção.

O senhor não cedeu a canção We Won’t Get Fooled Again (Não Seremos Enganados de Novo) para um documentário de Michael Moore, mas liberou três músicas para as séries de televisão CSI. Qual o critério que o senhor utiliza nesses casos?
Michael Moore queria usar minha música para ilustrar uma cena com o presidente americano George W. Bush. Bush se esforça para dar uma vida digna ao povo dos Estados Unidos, e não tenho o direito de dizer como ele deve dirigir o país. Quanto a CSI, eu gosto das séries e principalmente do dinheiro que recebi para liberar as músicas.

Re.: A ópera do falso profeta

Enviado: 06 Jan 2007, 14:37
por Apocaliptica
Eu curti muito The Who ná década de 70.
Townshend e Daltrey eram uma dupla muito boa. Mas o tempo amarelou o som deles.
A Ópera Rock Tommy tinha cunho religioso também...foi seguindo a onda psicodélica e lisérgica da época do paz e amor, vide outras chatices da época como "Godspell", Jesus Cristo Superstar.



Afinal, eles não vem no Brasil em 2007?

Re.: A ópera do falso profeta

Enviado: 06 Jan 2007, 14:41
por Alter-ego
Dizem que é bem provável.
Espero que sim.

Re.: A ópera do falso profeta

Enviado: 06 Jan 2007, 14:43
por Alter-ego
Ah, e a propósito, Apocaliptica, o novo CD está muito bom. Pensei que eles estivessem definitivamente superados, mas me surpreenderam.

Enviado: 06 Jan 2007, 15:07
por rui mig
vou simular o raciocinio do Flush:

Critica as religioes... ve sites de Pedofilia... logo é pedófilo. LOGO, todos os criticos das religioes sao pedófilos...

Enviado: 07 Jan 2007, 09:26
por emmmcri
Eu não sabia desta da pedofilia, muito ruim.O The WHO foi uma das melhores bandas de rock nos tempos em minha opinião.

Re: Re.: A ópera do falso profeta

Enviado: 07 Jan 2007, 12:13
por Apocaliptica
Alter-ego escreveu:Ah, e a propósito, Apocaliptica, o novo CD está muito bom. Pensei que eles estivessem definitivamente superados, mas me surpreenderam.


Sinceramente, faz anos que me desliguei da carreira deles . Vou pesquisar. E se vierem, espero que seja algo para valer e não como foi o Shpw do Deep Purple, uma enganação feita para faturar uma grana e deixar os adolescentes pensando que aquilo é um grande show de rock.

Aliás, parece que o Rush vem também ( minha banda- viva de verdade - preferida ).

Enviado: 07 Jan 2007, 12:16
por Apocaliptica
emmmcri escreveu:Eu não sabia desta da pedofilia, muito ruim.O The WHO foi uma das melhores bandas de rock nos tempos em minha opinião.


Com certeza. Tempos bons aqueles, principalmente pela subversão ao panorama mundial da época.
O rock foi nossa grande arma e válvula de escape.