Um episódio de infância transformou Pinochet num fanático católico, quando foi atropelado por um automóvel, situação que quase lhe custou a amputação da perna esquerda. Um médico alemão conseguiu evitar a invalidez, embora essa cura tivesse sido atribuída a um milagre, fruto das rezas da mãe. Devido a esse “milagre” Pinochet tornou-se fanático católico. Seguir carreira militar e casou em 1943 com Lucía Hiriart e constituiu família, tendo cinco filhos. Pinochet usou a ditadura de forma a retirar da sociedade chilena qualquer pensamento de esquerda. O golpe deu-se no palácio presidencial de La Moneda, com a morte de Salvador Allende, que se suicidou para não morrer à mão dos golpistas, e com a detenções de milhares de pessoas. Pinochet, que era grande admirador do ditador espanhol Francisco Franco, tornou-se líder da Junta Militar de Governo e Presidente do Chile a partir de 17 de Dezembro de 1974. Segundo a Comissão de Verdade e Reconciliação, conhecida por Comissão Rettig, a ditadura de Pinochet matou cerca de 2.095 pessoas, enquanto cerca de 1.102 foram consideradas “detidas desaparecidas”, que se calculam que tenham sido mortas pela polícia ou militares, mas cujos restos mortais continuam desaparecidos. Até hoje ainda se desconhecem com clareza o número de vítimas de Pinochet, mas muitos apontam para números cima dos 3000 mortes nos 17 anos de poder e de dezenas de milhares de pessoas presas e torturadas. Uma das formas mais vulgares e preferidas de eliminação de milhares de pessoas, homens, mulheres e até crianças adolescentes, que se tinham revelado incómodas para o regime de Pinochet: era simplesmente levá-las de helicóptero e largá-las vivas no alto mar, onde acabavam por morrer e, como convinha, por desaparecer sem deixar rasto. A ditadura estendeu-se mesmo para fora das fronteiras chilenas. A Operação Condor envolveu os serviços de segurança de países da América do Sul, Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Bolívia, numa cooperação para perseguir e prender opositores políticos. A ideia partiu de Manuel Contreras, o chefe da polícia política chilena. Conseguiu assassinar o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de Allende, Orlando Letelier, juntamente com a secretária, num atentado em Washington, e o antecessor de Pinochet como chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Carlos Prats, em Buenos Aires. Ilegalizou os partidos políticos, dissolveu o Congresso e impôs o recolher obrigatório por mais de uma década. O facto de se vangloriar do poder absoluto de que gozava, acabaria mais tarde por se voltar contra ele, ao permitir que fosse acusado da autoria moral de crimes como os da Caravana da Morte, que ocorreu em Outubro de 1973, quando um grupo de oficiais percorreu os vários campos de detenção executando opositores com o saldo de 75 mortos. Em 1986, escapou ileso a um atentado onde morreram cinco dos seus guarda-costas. O lança-granadas do guerrilheiro da Frente Patriótica Manuel Rodríguez encravou impedindo-o de fazer explodir o carro blindado onde seguia o ditador. Pinochet privilegiou o relacionamento diplomático com o Vaticano, de quem ao longo dos anos sempre recebeu um inestimável apoio institucional e político, quer interno quer a nível internacional. Em 1988 Pinochet encontrou-se num beco sem saída e teve de aceitar o regresso da democracia, embora negociando a transição nos seus próprios moldes. Este ditador fanático católico morreu a 10 de Dezembro de 2006 com 91 anos. Antes de morrer foi-lhe administrada a extrema unção, que segundo Catecismo da Igreja Católica visa perdoar todos os pecados. Assim sendo, Pinochet transformou-se numa boa alma que passará a eternidade livre e amnistiado dos seus pecados no Paraíso junto a Deus, Espírito Santo, Virgem Maria e outros bons católicos como ele próprio. De frisar ainda que Francisco Prats (neto do ex-chefe do exército, durante o Governo de Salvador Allende, Carlos Prats, assassinado com a mulher em Buenos Aires), cuspiu no caixão que levava o corpo de Pinochet no Salão de Honra da Escola Militar durante o velório do ex-ditador.
In: Ateismos.net
