Entropia Imperial

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Rush
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Entropia Imperial

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ENTROPIA IMPERIAL - O COLAPSO DO IMPÉRIO AMERICANO





por Kirkpatrick Sale

(Kirkpatrick Sale é norte-americano, autor de 12 livros, onde se incluem "Escala Humana", "A Conquista do Paraíso", "Rebeldes Contra o Futuro" e "O Fogo do Seu Génio: Robert Fulton e o Sonho Americano", alguns traduzidos para português no Brasil)



É um tanto irónico: após mais ou menos uma década passada sobre a ideia dos Estados Unidos como potência imperial ter sido aceite à direita e à esquerda, e de ter sido possível falar abertamente sobre um império americano, este mostra agora múltiplos sinais da sua incapacidade de prosseguir. De facto, é agora possível contemplar o seu colapso, e especular abertamente sobre ele.

Os "neocons" que presentemente ocupam o poder em Washington, que adoram falar sobre a America como o único império do mundo que sucedeu à desagregação soviética, recusarão obviamente acreditar neste colapso, tal como ignoram a realidade da guerra imperial no Iraque. Mas creio que nos cabe a tarefa de examinar seriamente as causas que fazem perigar tão drasticamente o sistema norte-americano, cuja queda provocará não só o colapso do império global mas alterará drasticamente a própria nação na sua frente interna.

Todos os impérios acabaram por desabar: Acádia, Suméria, Babilónia, Nínive, Assíria, Pérsia, Macedónia, Grécia, Cartago, Roma, Mali, Songai, Mongol, Tokugawa, Gupta, Khmer, Habsburgo, Inca, Asteca, Espanhol, Holandês, Otomano, Austríaco, Francês, Britânico, Soviético, qualquer que seja, todos caíram, e a maior parte durou poucas centenas de anos. As razões não são sequer muito complexas. Um império é um tipo de sistema estatal que, inevitavelmente, comete os mesmos erros simplesmente pela natureza da sua estrutura imperial, e falha inevitavelmente devido ao seu tamanho, complexidade, extensão territorial, estratificação, heterogeneidade, domínio, hierarquia e desigualdades.

Nas minhas leituras sobre a história dos impérios, deparei com quatro motivos que quase sempre explicam o seu colapso. (O novo livro de Jared Diamond, «Colapse», também tem uma lista de razões para o colapso das sociedades e é parcialmente coincidente, mas ele fala sobre sistemas e não sobre impérios.) Deixem-me então enumerá-los, referindo o seu contexto no actual império americano.

Primeiro, a degradação ambiental. Os impérios acabam sempre por destruír as terras e as águas de que dependem para sobreviver, sobretudo porque a agricultura e a construção crescem sem limites, e o nosso caso não é excepção, apesar de ainda não termos chegado ao nível máximo de agressão à natureza. A ciência é unânime na afirmação de que todos os mais importantes indicadores ecológicos estão em declínio desde há várias décadas: a erosão dos solos e das linhas costeiras, pesca acima do limite, deflorestação, esgotamento dos recursos hídricos e da água potável, poluição da água, do solo, do ar e dos alimentos, salinização dos solos, sobrepopulação, sobreconsumo, esgotamento do petróleo e minerais, aparecimento de novas doenças e recrudescimento das existentes, o extremar das condições meteorológicas, a fusão das neves e gelos e consequente elevação do nível médio dos mares, extinção de espécies, e a sobreutilização da capacidade fotossintética da Terra. Tal como disse E.O. Wilson, biólogo de Harvard, após uma pormenorizada observação do impacto humano sobre a Terra, "a nossa pegada ecológica é já demasiado grande para o que o planeta consegue suportar, e torna-se cada vez maior". Um estudo do Departamento da Defesa, datado do ano passado, previa "mudanças climáticas abruptas", com possibilidade de ocorrência dentro de uma década, que levarão a uma escassez "catastrófica" de água e energia, "roturas e conflitos" endémicos, um estado permanente de guerra que "definiria a vida humana", e uma "queda significativa" na capacidade do planeta para sustentar a sua população actual. Será certamente o fim do império, e poderá ser o fim da civilização.

Em segundo lugar, a dissolução económica. Os impérios dependem sempre de uma excessiva exploração dos recursos, devido frequentemente a colónias cada vez mais longe do centro, e eventualmente acabam por cair quando os recursos se esgotaram, ou se tornaram demasiado caros para toda a gente à excepção de uma elite. Esse é precisamente o percurso em que nos encontramos; o peak oil (pico de extracção do petróleo), por exemplo, foi largamente previsto ocorrer no próximo ano, ou daqui a dois anos, e a nossa economia está inteiramente construída num sistema frágil em que o mundo produz, e nós consumimos (os produtos fabricados nos EUA são apenas 13 por cento do nosso PIB). Neste momento temos um déficit na balança de pagamentos com o resto do mundo na ordem dos 630.000 milhões de dólares; cresceu uns incríveis 500.000 milhões desde 1993, e cresceu 180.000 milhões desde que Bush chegou a presidente em 2001. Para conseguir pagar isto, devíamos ter uma entrada de dinheiro vinda do resto do mundo na ordem dos 1.000 milhões de dólares por dia, e durante os últimos meses esse valor tem andado em cerca de metade. Este tipo de excesso é simplesmente insustentável, sobretudo se pensarmos que o outro império do mundo, a China, que é crucial para o suportar, contraíu empréstimos ao tesouro dos EUA no valor de 83.000 milhões de dólares.

Acrescente-se a isto uma economia assente num déficit do orçamento Federal de quase 500.000 milhões de dólares, que faz parte de um débito nacional total que, no final do último ano, tinha o valor de 7,4 biliões, e a contínua sangria da economia pelos militares de, pelo menos, 530.000 milhões por ano (sem contar com a espionagem militar, cujos números nunca saberemos). Ninguém acredita que isto seja igualmente sustentável, por isso é que o dólar perdeu o seu valor por todo o lado - 30 por cento contra o euro desde 2000 - e o mundo perdeu a confiança no investimento feito aqui. Eu prevejo que, dentro de poucos anos, o dólar se deprecie tanto que os países produtores de petróleo deixarão de querer transaccionar nesta moeda e se voltarão para o euro, e a China deixará o yuan flutuar contra o dólar, o que tornará esta nação falida e sem poder, incapaz de controlar a vida económica dentro das suas fronteiras, e muito menos fora delas.

Em terceiro lugar, o sobre-esforço militar. Os impérios, porque são por definição colonizadores, são sempre forçados a estender o seu alcance militar cada vez mais longe, e a aumentá-lo contra um número crescente de colonos descontentes, até os cofres ficarem vazios e as linhas de comunicação demasiado extensas; as tropas tornam-se ineficazes, a periferia resiste e acaba por se revoltar. O império americano, que se tornou global bem antes de Bush II, tem hoje 446.000 soldados activos em mais de 725 bases conhecidas (mais um número desconhecido de bases secretas), em pelo menos 38 países à volta do mundo, a que se acrescenta uma "presença militar" formal em nada menos do que 153 países em todos os continentes à excepção da Antártida, e a quase uma dúzia de frotas completamente artilhadas em todos os oceanos. E por falar em demasiada extensão: os norte-americanos são menos de 5 por cento da população mundial. E agora que Bush declarou uma "guerra ao terror", em vez de uma mais exequível guerra à Al-Qaeda, os nossos exércitos e agentes estarão num campo de batalha universal e permanente que não se consegue controlar ou conter.

Até agora essa rede militar não tombou mas, como se vê no Iraque, está posta à prova e mostra-se incapaz de levar a parcerias que façam o que lhes é pedido, ou que protejam os recursos de que necessitamos. E à medida que um sentimento anti-americano continua a espalhar-se e a escurecer nos países muçulmanos e numa grande parte da Europa e da Asia, à medida que cada vez mais países recusam os "ajustamentos estruturais" que a nossa globalização via-FMI necessita, torna-se provável que a periferia do nosso império comece a resistir ao nosso domínio, militarmente se necessário. E, longe de termos capacidade para combater duas guerras simultaneamente, como o Pentágono esperava em tempos, tem-se provado que não conseguimos vencer sequer uma.

Em último lugar, as divergências e convulsões internas. Os impérios tradicionais acabaram por ruír por dentro ao mesmo tempo que eram atacados pelo exterior; mas até agora o nível de discordância dentro dos EUA não atingiu o ponto de rebelião ou secessão, graças não só a uma crescente repressão das divergências, a uma escalada do medo em nome da "segurança da pátria", como ao sucesso da nossa moderna versão do "pão e circo", uma combinação única de entretenimento, desporto, televisão, jogos e sexo por internet, consumismo, drogas, álcool e religião, que amortece eficazmente o público num estado de estupor. Mas a táctica da administração Bush II mostra que receia tanto a expressão de divergência popular, que está disposta a desafiar e ignorar direitos ambientais e civis, grupos progressistas, a subornar comentadores para espalhar a sua propaganda, a incrementar a vigilância e invasões de privacidade, a usar guerrilha partidária e golpes de bastidores para espezinhar a oposição do Congresso, a usar mentiras e ilusões como uma forma normal de governação, a quebrar leis e tratados internacionais para a obtenção de resultados de curto-prazo, e a usar a religião como uma capa para todas as políticas.

É difícil crer que a grande massa do público americano alguma vez se agite para desafiar o império internamente, antes das coisas ficarem muito, muito piores. Este é afinal o público em que, conforme uma sondagem Gallup revelou em 2004, 61 por cento acredita que "a religião pode responder a todos ou quase todos os problemas de hoje", e segundo uma sondagem Time/CNN de 2002, 59 por cento acredita no apocalipse iminente anunciado no Livro da Revelação e toma cada ameaça ou desastre como uma evidência da vontade de Deus. E no entanto, é também difícil de acreditar que uma nação tão profundamente corrompida como esta (em todas as suas instituições fundamentais, nos seus partidos comprados, academias, corporações, corretagens, contabilidades, governos) e assente numa base social e económica de intoleráveis desigualdades de rendimento e propriedade, tornando-se progressivamente mais desigual, consiga sustentar-se por muito mais tempo. As ondas do debate sobre secessão, depois das últimas eleições, alguns dos quais eram efectivamente sérios e levaram à organização de grupos na maioria dos estados "azuis" (democratas), indicam que pelo menos uma minoria está disposta a pensar em medidas drásticas para "alterar ou abolir" um regime com o qual não concordam.

Estes quatro processos pelos quais os impérios acabam sempre por cair, parecem-me em curso, em fases variáveis, neste último império. E penso que a combinação de vários, ou todos eles, provocarão o seu colapso em cerca de 15 anos.

O recente livro de Jared Diamond, que se debruça sobre as formas de colapso das sociedades, sugere que a sociedade americana, ou a civilização industrial como um todo, uma vez consciente dos perigos do sua direcção actual, pode aprender com os erros do passado e evitar o seu destino. Mas isso nunca acontecerá, e por uma razão que o próprio Diamond entende.

Como ele diz, na sua análise da sociedade nórdica da Gronelândia que se extinguiu no início do séc. XV: "Os valores a que as pessoas se apegam mais obstinadamente nas condições mais desadequadas, são aqueles valores que eram anteriormente a fonte dos seus maiores triunfos sobre a adversidade". Sendo assim, e os seus exemplos parecem prová-lo, então podemos isolar os valores da sociedade americana que foram responsáveis pelos seus maiores triunfos e sabemos que nos agarraremos a eles aconteça o que acontecer. Eles são uma mistura de capitalismo, individualismo, nacionalismo, tecnofilia e humanismo (significando o domínio do humano sobre a natureza). Não há nenhuma hipótese em que, por mais grave e óbvia que seja a ameaça, como sociedade, abandonemos esses valores.

Por isso não há qualquer hipótese de fugir à queda do império.



http://www.counterpunch.org, 22/fev/2005

http://trintadefevereiro.planetaclix.pt ... erial.html

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Aurelio Moraes
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Re.: Entropia Imperial

Mensagem por Aurelio Moraes »

Esperem só até o Poindexter e o Liquid Snake verem este tópico!! :emoticon12: :emoticon12:
Este tópico vai ser longo e divertido! :emoticon12: :emoticon12: :emoticon12:
E bem-vindo cara, maneiro o apelido!
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:emoticon16:

Rush
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Re.: Entropia Imperial

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:emoticon1:

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Aurelio Moraes
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Re.: Entropia Imperial

Mensagem por Aurelio Moraes »

Cara, já que tu curte Rush, dá uma olhada na minha última postagem neste tópico aqui.

Rush
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Não curto Rush. Nem sei quem é. :emoticon12:
Tinha de escolher um apelido e estava com pressa... :emoticon16:

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Aurelio Moraes
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Re.: Entropia Imperial

Mensagem por Aurelio Moraes »

Tá falando sério? :emoticon12: :emoticon12:

Rush
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Re.: Entropia Imperial

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Estou... :emoticon12:
"...As nossas dúvidas são traidoras e fazem-nos perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar. "

william shakespeare

Rush
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Re.: Entropia Imperial

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Os Neoconservadores
Publicado na Visão em 24 de Julho de 2003


O ideário político neoconservador está bem implantado entre nós.
Parafraseando o Manifesto Comunista, pode dizer-se que um novo espectro avassala o mundo. É o neoconservadorismo. Distingue-se do conservadorismo do séc. XIX porque a radicalidade das suas propostas é incompatível com o status quo. Tem a sua origem nos EUA e vai colhendo adeptos em círculos cada vez mais amplos da opinião pública de vários países da Europa e de outros continentes onde quer que os laços políticos e culturais com os EUA sejam mais intensos. Se não domina já o comentário político nos media portugueses, está bem próximo disso. Como qualquer outra ideologia política radical, o seu ideário prima pela simplicidade e, de facto, pela recusa hostil da complexidade, da ponderação equilibrada entre interesses contrapostos ou da possibilidade de diálogo entre perspectivas diferentes. Sendo uma ideologia transnacional, os seus princípios, além de simples, são vagos, de modo a poderem adaptar-se às necessidades e às agenda de cada país. Assim, dadas as diferenças entre Portugal e os EUA, os neoconservadores portugueses distinguem-se dos norte-americanos apenas na exacta medida do que é necessário para, nas nossas condições, serem tão genuinamente neoconservadores quanto eles.
Os inspiradores do movimento neoconservador norte-americano vieram da extrema esquerda, do movimento trotskista dos anos trinta e quarenta, tornaram-se ferozmente anticomunistas nas três décadas seguintes, construíram o seu ideário político nos anos oitenta e noventa e chegaram ao poder com George W. Bush. Herdaram das suas origens o gosto pela radicalidade e pelo politicamente incorrecto, e, na designação usada por um dos neoconservadores, Dinesh D'Souza, pela "guerrilha social". Eis, em linhas gerais, o ideário. A "América" é um país excepcional pela sua origem e pelo seu destino. Porque é moralmente superior aos outros países, o patriotismo e o nacionalismo são valores não só intrinsecamente bons na "América" como necessários ao resto do mundo. O que é bom para a "América" é bom para o mundo. A proposição inversa é absurda. Essa superioridade moral está constantemente ameaçada por inimigos internos e externos e, como bem supremo que é, deve ser defendida por todos os meios, pois que, por definição, neste caso, os fins justificam os meios. Compete ao intelectual neoconservador justificar a posteriori a clareza moral dos resultados, quaisquer que tenham sido os caminhos para chegar a eles. A coerência é sempre o começo da rendição.
Os inimigos externos ou querem destruir a "América", e devem ser esmagados pelas armas, ou querem rivalizar com a sua superioridade moral e devem ser divididos. É o caso da Europa. É imperiosa a divisão da Europa e, de preferência, feita pelos próprios europeus. A soberania nacional dos EUA é de natureza global e por isso não reconhece outras senão na medida em que a servem. Quanto aos inimigos internos, eles residem acima de tudo na própria natureza humana, que é fraca, sujeita à tentação do mal. O mal colectivo é sempre pior que o mal individual. O mal colectivo teve a sua incarnação moderna no Estado e, por isso, a luta contra ele é luta democrática por excelência, uma luta de múltiplas frentes: guerra ao contrato social, às políticas sociais e às concepções de democracia que os defendem; privatizações; o mercado como critério de eficácia e de sociabilidade; descentralização; estigmatização dos pobres como moralmente indignos. Por sua vez, o mal individual combate-se mantendo as populações em constante estado de alerta ante as ameaças que lhes são feitas e os riscos que correm. A união constroi-se, antes de tudo, sobre a ansiedade colectiva. Por isso, a visão apocalíptica do mundo é, no fundo, a única realista e eficaz.


http://www.ces.fe.uc.pt/opiniao/bss/084.php
"...As nossas dúvidas são traidoras e fazem-nos perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar. "

william shakespeare

Rush
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Re.: Entropia Imperial

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O Império é complexo, mas é mantido por ideias simplórias que o primeiro texto demonstra que se tornam inadequadas quando a necessidade é manter o Império... daí a inevitabilidade da ruína.

Quando reina a lógica do amigo-inimigo reina também um moralismo bastante torpe, que é frácil de lembrar e seguir, mas que se desgasta com o tempo e com o crescimento dos Bárbaros na periferia do Império...

Rush
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Re.: Entropia Imperial

Mensagem por Rush »

Quem quiser conhecer a mente simplória do Americano Típico, e a razão porque os seus valores dificilmente mudarão, leiam "O mundo infestado de Demónios" onde Sagan fala da Estupidificação da América". Aliás os neoconservadores são excelentes estupidificadores. Me mato de rir com o seu moralismo apocalíptico... :emoticon12: Mas bastante sedutor.

Rush
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Re.: Entropia Imperial

Mensagem por Rush »

E quem quiser aprender sobre sentimentos apocalípticos, que são o sumo da adolescência leiam a saga Akira de Otomo. Os neoconservadores não passam de marmajos presos no apocalipse das emoções adolescentes. Mas é tão bom quando o mundo é só eu e a minha namorada. "Mesmo no meio do Mundo, só tu e eu contra todos". É esta a essência e a sedução do sentimento apocalíptico.

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salgueiro
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Mighell

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Rush
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Re.: Entropia Imperial

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O Bush (nao confundir com Rush) é um bosta ignorante que nao distingue a esquerda da direita.

Vamos ver se este comentário já está ao nível do forum e merece comentário...

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Liquid Snake
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Mensagem por Liquid Snake »

Rush escreveu:ENTROPIA IMPERIAL - O COLAPSO DO IMPÉRIO AMERICANO





por Kirkpatrick Sale

(Kirkpatrick Sale é norte-americano, autor de 12 livros, onde se incluem "Escala Humana", "A Conquista do Paraíso", "Rebeldes Contra o Futuro" e "O Fogo do Seu Génio: Robert Fulton e o Sonho Americano", alguns traduzidos para português no Brasil)


Vamos desarmar esse patife.

Rush escreveu:É um tanto irónico: após mais ou menos uma década passada sobre a ideia dos Estados Unidos como potência imperial ter sido aceite à direita e à esquerda, e de ter sido possível falar abertamente sobre um império americano, este mostra agora múltiplos sinais da sua incapacidade de prosseguir. De facto, é agora possível contemplar o seu colapso, e especular abertamente sobre ele.


Quais sinais?

Rush escreveu:Os "neocons" que presentemente ocupam o poder em Washington, que adoram falar sobre a America como o único império do mundo que sucedeu à desagregação soviética, recusarão obviamente acreditar neste colapso, tal como ignoram a realidade da guerra imperial no Iraque. Mas creio que nos cabe a tarefa de examinar seriamente as causas que fazem perigar tão drasticamente o sistema norte-americano, cuja queda provocará não só o colapso do império global mas alterará drasticamente a própria nação na sua frente interna.


Quais causas?

Rush escreveu:Todos os impérios acabaram por desabar: Acádia, Suméria, Babilónia, Nínive, Assíria, Pérsia, Macedónia, Grécia, Cartago, Roma, Mali, Songai, Mongol, Tokugawa, Gupta, Khmer, Habsburgo, Inca, Asteca, Espanhol, Holandês, Otomano, Austríaco, Francês, Britânico, Soviético, qualquer que seja, todos caíram, e a maior parte durou poucas centenas de anos. As razões não são sequer muito complexas. Um império é um tipo de sistema estatal que, inevitavelmente, comete os mesmos erros simplesmente pela natureza da sua estrutura imperial, e falha inevitavelmente devido ao seu tamanho, complexidade, extensão territorial, estratificação, heterogeneidade, domínio, hierarquia e desigualdades.

Nas minhas leituras sobre a história dos impérios, deparei com quatro motivos que quase sempre explicam o seu colapso. (O novo livro de Jared Diamond, «Colapse», também tem uma lista de razões para o colapso das sociedades e é parcialmente coincidente, mas ele fala sobre sistemas e não sobre impérios.) Deixem-me então enumerá-los, referindo o seu contexto no actual império americano.


Falácia, generalização apressada.

Rush escreveu:Primeiro, a degradação ambiental. Os impérios acabam sempre por destruír as terras e as águas de que dependem para sobreviver, sobretudo porque a agricultura e a construção crescem sem limites, e o nosso caso não é excepção, apesar de ainda não termos chegado ao nível máximo de agressão à natureza. A ciência é unânime na afirmação de que todos os mais importantes indicadores ecológicos estão em declínio desde há várias décadas: a erosão dos solos e das linhas costeiras, pesca acima do limite, deflorestação, esgotamento dos recursos hídricos e da água potável, poluição da água, do solo, do ar e dos alimentos, salinização dos solos, sobrepopulação, sobreconsumo, esgotamento do petróleo e minerais, aparecimento de novas doenças e recrudescimento das existentes, o extremar das condições meteorológicas, a fusão das neves e gelos e consequente elevação do nível médio dos mares, extinção de espécies, e a sobreutilização da capacidade fotossintética da Terra. Tal como disse E.O. Wilson, biólogo de Harvard, após uma pormenorizada observação do impacto humano sobre a Terra, "a nossa pegada ecológica é já demasiado grande para o que o planeta consegue suportar, e torna-se cada vez maior". Um estudo do Departamento da Defesa, datado do ano passado, previa "mudanças climáticas abruptas", com possibilidade de ocorrência dentro de uma década, que levarão a uma escassez "catastrófica" de água e energia, "roturas e conflitos" endémicos, um estado permanente de guerra que "definiria a vida humana", e uma "queda significativa" na capacidade do planeta para sustentar a sua população actual. Será certamente o fim do império, e poderá ser o fim da civilização.


Primeiro: As sociedades contemporâneas estão tendo mais cuidado com o meio-ambiente do que sociedades de um século atrás. Hoje há saneamento, reciclagem, filtros de poluição nas indústrias, reservas florestais, reflorestamento de reservas exploradas economicamente, etc. Tudo isso protegido por leis que são fiscalizadas rigorosamente, ao menos nos países desenvolvidos. Se há algum lugar onde não há respeito ao meio-ambiente, esse lugar é o Brasil.

Segundo: A explicação científica mais aceita e atual para o problema do aquecimento global é a de que se trata de um fenômeno natural, que ocorre em ciclos. Portanto, essa propaganda alarmista de ambientalistas et caterva não passa de um embuste, assim como o Tratado de Kyoto. Parabéns ao presidente Bush por não ter ratificado tamanho absurdo.

Ademais, o EUA é a nação que mais investe em desenvolvimento de filtros anti-poluição para as indústrias, e os que mais utilizam dessa tecnologia. Ao contrário da China socialista, onde a poluição chegou a níveis alarmantes, quase insuportáveis para a vida humana.

Rush escreveu:Em segundo lugar, a dissolução económica. Os impérios dependem sempre de uma excessiva exploração dos recursos, devido frequentemente a colónias cada vez mais longe do centro, e eventualmente acabam por cair quando os recursos se esgotaram, ou se tornaram demasiado caros para toda a gente à excepção de uma elite. Esse é precisamente o percurso em que nos encontramos; o peak oil (pico de extracção do petróleo), por exemplo, foi largamente previsto ocorrer no próximo ano, ou daqui a dois anos, e a nossa economia está inteiramente construída num sistema frágil em que o mundo produz, e nós consumimos (os produtos fabricados nos EUA são apenas 13 por cento do nosso PIB).


Largamente previsto por quem? Por que ele não cita fontes? Alguém seria capaz de demonstrar tal previsão?
Não aceito coisas de Mãe Dinah, etc.

Ademais, o petróleo não é a única fonte de energia. Energias alternativas são possíveis. A japonesa Toyota vem trabalhando em carros elétricos de alto desempenho. É tudo questão de pesquisa, o que os EUA são líderes, junto com o Japão.

Rush escreveu:Neste momento temos um déficit na balança de pagamentos com o resto do mundo na ordem dos 630.000 milhões de dólares; cresceu uns incríveis 500.000 milhões desde 1993, e cresceu 180.000 milhões desde que Bush chegou a presidente em 2001. Para conseguir pagar isto, devíamos ter uma entrada de dinheiro vinda do resto do mundo na ordem dos 1.000 milhões de dólares por dia, e durante os últimos meses esse valor tem andado em cerca de metade. Este tipo de excesso é simplesmente insustentável, sobretudo se pensarmos que o outro império do mundo, a China, que é crucial para o suportar, contraíu empréstimos ao tesouro dos EUA no valor de 83.000 milhões de dólares.


Desenvolvimento leva ao crescimento da dívida, isso é normal. O que o autor ignora (ou desconhece) é o aumento fantástico da produção interna dos EUA, em 40 anos:

http://www.eh.net/hmit/gdp/gdp_answer.php?CHKrealGDP=on&year1=1960&year2=2004

Rush escreveu:Acrescente-se a isto uma economia assente num déficit do orçamento Federal de quase 500.000 milhões de dólares, que faz parte de um débito nacional total que, no final do último ano, tinha o valor de 7,4 biliões, e a contínua sangria da economia pelos militares de, pelo menos, 530.000 milhões por ano (sem contar com a espionagem militar, cujos números nunca saberemos). Ninguém acredita que isto seja igualmente sustentável, por isso é que o dólar perdeu o seu valor por todo o lado - 30 por cento contra o euro desde 2000 - e o mundo perdeu a confiança no investimento feito aqui. Eu prevejo que, dentro de poucos anos, o dólar se deprecie tanto que os países produtores de petróleo deixarão de querer transaccionar nesta moeda e se voltarão para o euro, e a China deixará o yuan flutuar contra o dólar, o que tornará esta nação falida e sem poder, incapaz de controlar a vida económica dentro das suas fronteiras, e muito menos fora delas.


A afirmação "Ninguém acredita" deve se limitar apenas ao autor e outros esquerdinhas burros. Não há nenhum sinal de fraqueza da economia americana, pelo contrário, dá sinais de crescimento a passos cada vez mais largos.

Rush escreveu:Em terceiro lugar, o sobre-esforço militar. Os impérios, porque são por definição colonizadores, são sempre forçados a estender o seu alcance militar cada vez mais longe, e a aumentá-lo contra um número crescente de colonos descontentes, até os cofres ficarem vazios e as linhas de comunicação demasiado extensas; as tropas tornam-se ineficazes, a periferia resiste e acaba por se revoltar. O império americano, que se tornou global bem antes de Bush II, tem hoje 446.000 soldados activos em mais de 725 bases conhecidas (mais um número desconhecido de bases secretas), em pelo menos 38 países à volta do mundo, a que se acrescenta uma "presença militar" formal em nada menos do que 153 países em todos os continentes à excepção da Antártida, e a quase uma dúzia de frotas completamente artilhadas em todos os oceanos. E por falar em demasiada extensão: os norte-americanos são menos de 5 por cento da população mundial. E agora que Bush declarou uma "guerra ao terror", em vez de uma mais exequível guerra à Al-Qaeda, os nossos exércitos e agentes estarão num campo de batalha universal e permanente que não se consegue controlar ou conter.


Quando Clinton estava no poder, haviam mais bases ainda. E novamente ele comete a falácia da generalização apressada.

Rush escreveu:Até agora essa rede militar não tombou mas, como se vê no Iraque, está posta à prova e mostra-se incapaz de levar a parcerias que façam o que lhes é pedido, ou que protejam os recursos de que necessitamos. E à medida que um sentimento anti-americano continua a espalhar-se e a escurecer nos países muçulmanos e numa grande parte da Europa e da Asia, à medida que cada vez mais países recusam os "ajustamentos estruturais" que a nossa globalização via-FMI necessita, torna-se provável que a periferia do nosso império comece a resistir ao nosso domínio, militarmente se necessário.


O ódio anti-americano não veio com a ocupação, ele sempre existiu entre os islâmicos. É o ódio à liberdade, que é promovido no Alcorão. Todo aquele que odeia a liberdade e a tolerância irá odiar uma nação que defende tais princípios, como o EUA, isso é normal. Por exemplo, querer que mulheres tenham direito de fazer o que bem quiserem de suas vidas é uma blasfêmia para os islâmicos, vai contra os mandamentos de Mohammed. Para os islâmicos, os EUA representam a vinda do Grande Satã, aquele que irá tentar enfrentar Allah, ou seja, tentar derrubar os "nobres" valores da religião islâmica. Por isso o ódio e a guerra contra esses valores, a Jihad.

Rush escreveu:E, longe de termos capacidade para combater duas guerras simultaneamente, como o Pentágono esperava em tempos, tem-se provado que não conseguimos vencer sequer uma.


Venceram todas que disputaram nos últimos 30 anos... O autor adora usar de imperativos como "sabe-se", "tem-se provado", "é de conhecimento geral", "todos os cientistas aprovam", etc... E sempre erra. Claramente desonesto.

Rush escreveu:Em último lugar, as divergências e convulsões internas. Os impérios tradicionais acabaram por ruír por dentro ao mesmo tempo que eram atacados pelo exterior; mas até agora o nível de discordância dentro dos EUA não atingiu o ponto de rebelião ou secessão, graças não só a uma crescente repressão das divergências, a uma escalada do medo em nome da "segurança da pátria", como ao sucesso da nossa moderna versão do "pão e circo", uma combinação única de entretenimento, desporto, televisão, jogos e sexo por internet, consumismo, drogas, álcool e religião, que amortece eficazmente o público num estado de estupor. Mas a táctica da administração Bush II mostra que receia tanto a expressão de divergência popular, que está disposta a desafiar e ignorar direitos ambientais e civis, grupos progressistas, a subornar comentadores para espalhar a sua propaganda, a incrementar a vigilância e invasões de privacidade, a usar guerrilha partidária e golpes de bastidores para espezinhar a oposição do Congresso, a usar mentiras e ilusões como uma forma normal de governação, a quebrar leis e tratados internacionais para a obtenção de resultados de curto-prazo, e a usar a religião como uma capa para todas as políticas.


O autor não cita exemplos, nem fontes! Fala, fala, fala, mas não coloca nada para se discutir. Considero inválido o texto acima, sem exemplos práticos de tais afirmações caluniosas.

Rush escreveu:É difícil crer que a grande massa do público americano alguma vez se agite para desafiar o império internamente, antes das coisas ficarem muito, muito piores.


Por que deveria? Piores??? Os americanos são o povo mais bem sucedido do mundo, com melhores índices de qualidade de vida, de liberdade política e emancipação social. Reúne povos de todos os continentes, de todos os lugares do mundo. Piores?? O autor deve desconhecer completamente o restante do mundo em que vive.

Rush escreveu:Este é afinal o público em que, conforme uma sondagem Gallup revelou em 2004, 61 por cento acredita que "a religião pode responder a todos ou quase todos os problemas de hoje",


Qual o problema? Eu, apesar de ateu, acredito que a religião seja necessária para uma sociedade saudável. Quem quiser/necessitar, que acredite, que tenha fé, qual o problema? O autor sugere que devemos proibir a liberdade de credo e comecemos a caçar religiosos e destruir Igrejas, como se fez na Alemanha nacional-socialista?

Rush escreveu:e segundo uma sondagem Time/CNN de 2002, 59 por cento acredita no apocalipse iminente anunciado no Livro da Revelação e toma cada ameaça ou desastre como uma evidência da vontade de Deus.


Qual o problema? Sugere que queimemos todos os livros religiosos, arbitrariamente? Qual a sugestão do autor?

Rush escreveu:E no entanto, é também difícil de acreditar que uma nação tão profundamente corrompida como esta (em todas as suas instituições fundamentais, nos seus partidos comprados, academias, corporações, corretagens, contabilidades, governos) e assente numa base social e económica de intoleráveis desigualdades de rendimento e propriedade, tornando-se progressivamente mais desigual, consiga sustentar-se por muito mais tempo. As ondas do debate sobre secessão, depois das últimas eleições, alguns dos quais eram efectivamente sérios e levaram à organização de grupos na maioria dos estados "azuis" (democratas), indicam que pelo menos uma minoria está disposta a pensar em medidas drásticas para "alterar ou abolir" um regime com o qual não concordam.


Retórica, bla bla bla, mude-se para Cuba. Cuba lhe espera, esquerdinha! Deixe o EUA para quem ama a liberdade. Vá torcer para a queda do EUA lá em uma favelinha em Cuba.

Rush escreveu:Estes quatro processos pelos quais os impérios acabam sempre por cair, parecem-me em curso, em fases variáveis, neste último império. E penso que a combinação de vários, ou todos eles, provocarão o seu colapso em cerca de 15 anos.


Falou, Mãe Dinah! :emoticon12: :emoticon12:

Rush escreveu:O recente livro de Jared Diamond, que se debruça sobre as formas de colapso das sociedades, sugere que a sociedade americana, ou a civilização industrial como um todo, uma vez consciente dos perigos do sua direcção actual, pode aprender com os erros do passado e evitar o seu destino. Mas isso nunca acontecerá, e por uma razão que o próprio Diamond entende.

Como ele diz, na sua análise da sociedade nórdica da Gronelândia que se extinguiu no início do séc. XV: "Os valores a que as pessoas se apegam mais obstinadamente nas condições mais desadequadas, são aqueles valores que eram anteriormente a fonte dos seus maiores triunfos sobre a adversidade". Sendo assim, e os seus exemplos parecem prová-lo, então podemos isolar os valores da sociedade americana que foram responsáveis pelos seus maiores triunfos e sabemos que nos agarraremos a eles aconteça o que acontecer. Eles são uma mistura de capitalismo, individualismo, nacionalismo, tecnofilia e humanismo (significando o domínio do humano sobre a natureza). Não há nenhuma hipótese em que, por mais grave e óbvia que seja a ameaça, como sociedade, abandonemos esses valores.

Por isso não há qualquer hipótese de fugir à queda do império.


:emoticon149:

E por que deveríamos abandonar esses valores? E no que a defesa desses valores resultariam na "queda do império"?

:emoticon149:
Editado pela última vez por Liquid Snake em 10 Dez 2005, 20:05, em um total de 1 vez.
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"O Brasil me parece ser o único País do mundo onde ser de esquerda ainda dá uma conotação de prestígio." (Roberto Campos, 1993)

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Liquid Snake
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Mensagem por Liquid Snake »

A economia dos EUA na era Bush
por João Luiz Mauad em 14 de janeiro de 2005

Resumo: A economia dos EUA atravessa um período favorável e seu déficit público é perfeitamente administrável, quadro bem diferente do apocalipse econômico que muitos "opinólogos" da mídia vaticinam para o país.

© 2005 MidiaSemMascara.org

Uma das teorias mais em voga na mídia tupiniquim, defendida com desenvoltura por jornalistas "especializados", pseudo-economistas, cientistas políticos "engajados", sociólogos "parnasianos" e demais "experts" de plantão é a que preconiza a derrocada iminente do império americano em razão da sua desmesurada e insustentável dívida pública, produzida, em grande medida, por esse monstro apocalíptico que responde pelo nome de George W. Bush.

Como não costumo dar ouvidos a sofistas nem a palpiteiros, fui pesquisar o assunto numa instituição acima de qualquer suspeita, mais precisamente em Harvard. O dados abaixo foram retirados de um trabalho do professor Arman Verjee, catedrático em Economia daquela universidade e as conclusões não poderiam ser mais elucidativas.

Antes de mais nada, é preciso enfatizar o fato de que, desde a posse do presidente Bush, a economia americana já passou por, no mínimo, três grandes choques, cuja responsabilidade não pode, de nenhuma maneira, ser atribuída a ele: (1) a depressão causada pelo "estouro" da amosa "bolha da internet"; (2) um ataque terrorista de proporções inauditas, cuja conseqüência mais terrível em termos econômicos foi ter afetado sobremaneira a confiança dos consumidores; e (3) uma série de escândalos contábeis que abalaram algumas das maiores corporações americanas.

No entanto, desde 2001 a taxa de crescimento dos EUA foi superior a de todos os outros países ditos desenvolvidos (G7). Atualmente, o índice de desemprego está em 5.4 por cento, onde estava, por sinal, em 1996, ano da re-eleição de Bill Clinton. Estes notáveis resultados foram alcançados, é sempre bom repetir, malgrado a infinidade de efeitos nocivos produzidos
pelas crises acima mencionadas.

Feito este pequeno e necessário intróito, passemos à análise do déficit público e o conseqüente débito federal, sobre os quais os críticos da administração republicana fincam os seus prognósticos de um cataclismo econômico iminente.

Comecemos pela dívida pública. Seu valor líquido (descontada a parcela pertencente ao próprio governo federal) era de 33% do PIB no final do exercício de 2001 (o mais baixo em 18 anos). Ao fim de 2003, este percentual cresceu para de 36% do PIB. A comissão de orçamento do congresso estima que ele chegue aos 40% em 2005, antes que comece a baixar novamente.

Pelos padrões internacionais esses níveis são bastante modestos. As dívidas de duas das maiores economias da Europa - França e Alemanha - por exemplo, alcançam mais de 60% do PIB, na Itália chega próximo de 110%, enquanto no Japão este número é quase 150%. Só para se ter uma idéia de quão falaciosas são as análises alarmistas dos "especialistas" a respeito desse assunto, desde 1939 houve um total de 24 exercícios financeiros em que a dívida líquida federal fechou abaixo dos 36% do PIB verificados atualmente, enquanto nos demais 41 períodos orçamentários ela esteve acima deste patamar.

É importante frisar que a nação norte-americana encontra-se presentemente em tempo de guerra, ocasião em que o déficit e, conseqüentemente, a dívida, costumam atingir níveis muito além do normal. Só para que se tenha uma pequena idéia do peso que as guerras representam na economia do Tio Sam, o débito total do setor público durante a II Guerra Mundial, guardadas as devidas proporções, alcançou valores quase três vezes superiores aos atuais.

Deixando de lado o aspecto político desta guerra contra o terrorismo, creio não haver dúvida, até mesmo para o mais radical dos democratas, que os gastos no Iraque e no Afeganistão, malgrado a sua natureza sazonal, são extremamente elevados. Apesar disso, o incremento do déficit em relação ao PIB não tem sido exagerado, como vimos anteriormente, o que se deve ao esforço diuturno do governo Bush na redução dos gastos governamentais domésticos, caminho escolhido pelos republicanos para gerenciar a dívida pública (ao contrário de Clinton, que optou pelo aumento de impostos).

Em termos de crescimento econômico, que no fim das contas é o que importa, as séries históricas mostram que o incremento médio do PIB foi de 4,4% nos períodos de dívida elevada, contra 3,14% nos de baixa. Em alguma medida, estas taxas médias poderiam estar vinculadas aos anos em que o país esteve em guerra, durante os quais o estoque de dívida subia rapidamente e o crescimento econômico era razoavelmente robusto. Entretanto, ainda que adotemos um horizonte temporal mais restrito, a história segue sendo a mesma.

De fato, se observarmos somente os anos a partir de 1963, quando o endividamento baixou aos níveis atuais pela primeira vez desde a II Guerra Mundial, veremos que ele se reduziu abaixo dos 24% do PIB em 1974, subiu a 50% em 1993 e voltou a baixar a 33% em 2001. O crescimento econômico durante este período também foi mais forte nos anos de dívida relativamente alta, alcançando uma média de 3,47%, do que nos anos de dívida relativamente baixa, quando ficou na média histórica de 2,59%.

Portanto, olhando sem paixões para a história econômica dos EUA, fica claro que a prosperidade pode sustentar-se ainda que o governo federal mantenha um endividamento muito acima dos níveis atuais, nada justificando a fúria daqueles que pregam o fim do mundo ou utilizam-se de "magia contábil" para engambelar os incautos. Felizmente (para eles), a opinião pública de lá encontra-se bastante madura para deixar-se enganar com facilidade pelos oportunistas, como ficou demonstrado na última eleição.

Outra lição bastante interessante vem da demonstração inequívoca de que os grandes déficits orçamentários nunca foram causa, nem tampouco estiveram correlacionados com baixo crescimento econômico, como costumam propagar os paranóicos de plantão. Senão vejamos: nos finais das décadas de 40 e 50, por exemplo, os governos Truman e Eisenhower, respectivamente, praticaram a chamada "restrição fiscal", mantendo em patamares altíssimos os impostos a fim de resgatar a dívida pública. Os resultados foram nada menos que quatro recessões entre 1948 e 1961.

Por outro lado, durante os anos 60, o governo federal trabalhou com déficits modestos, enquanto cortava os impostos. Já nos anos 80 o déficit foi bem maior, por conta de reduções fortes de impostos na era Reagan. Em ambos os casos ocorreu um intenso crescimento econômico da nação. O aspecto mais ilustrativo e interessante dessas duas fases, entretanto, foi que as taxas de juros baixaram ligeiramente nos anos sessenta, enquanto que na década de oitenta elas baixaram drasticamente, o que vem a ser exatamente o contrário do que prognosticam os sofistas do déficit.

Resumo da ópera: a prosperidade econômica dos ianques tende a perdurar ainda que o governo não equilibre o orçamento a curto prazo, pois as maiores ameaças a ela, que são os altos impostos, as barreiras regulatórias e o intervencionismo estatal nos mercados, estão sendo forte e eficientemente combatidas pela administração Bush. A má notícia para os antiamericanistas é que o "império", pelo menos por enquanto, não dá mostras de fraqueza.

Para finalizar e antes que me acusem de estar defendendo, indiscriminadamente, políticas fiscais fincadas em déficits orçamentários, a exemplo de alguns próceres do "desenvolvimentismo" tupiniquim, é preciso chamar a atenção para o fato de que os dados acima mencionados e analisados referem-se a uma economia madura, calcada em instituições fortes, geradora de um PIB aproximado de 11.5 trilhões de dólares, sem qualquer experiência de hiper-inflação e, acima de tudo, portadora de credibilidade inconteste, haja vista que seus governantes, atuais e passados, jamais sequer aventaram a hipótese de calotes, re-negociações, auditorias da dívida ou outras aventuras "heterodoxas" tão populares por aqui.

http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=3213
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Rush
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Re.: Entropia Imperial

Mensagem por Rush »

E essa Economia é imperial ou nao? Está a crescer como? De qualquer forma o tema é Império, e vc está na estranha posiçao de parecer defender que de alguma forma a entropia exclui os impérios... :emoticon12:
"...As nossas dúvidas são traidoras e fazem-nos perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar. "

william shakespeare

Rush
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Mensagem por Rush »

Quais sinais?

O Iraque continua a ferro e fogo... e a contestaçao interna aumenta (Vietname 2)


Quais causas?

A Politica externa agressiva e sem consideraçao pela ONU. A ideia de que a democracia é só para consumo interno. Os valores típicos do Imperialismo... que levam a coisas o Eschelon, e a açoes ilegais da CIA (na Europa, por exemplo).


Falácia, generalização apressada.

O homem escreveu 12 livros. Nao se precipite...


Segundo: A explicação científica mais aceita e atual para o problema do aquecimento global é a de que se trata de um fenômeno natural, que ocorre em ciclos. Portanto, essa propaganda alarmista de ambientalistas et caterva não passa de um embuste, assim como o Tratado de Kyoto. Parabéns ao presidente Bush por não ter ratificado tamanho absurdo.

Leia a diversidade da Vida de E. O. Wilson. Ele é um Ecologista (isto significa que é um Biologo que estuda a Biodiversidade e nao que é um ativista), além de ser o Pai da sociobiologia (que os conservadores tanto gostam).

E nao foi a América que nao assinou o protocolo de Quioto para reduzir as emissoes atmosféricas?


Largamente previsto por quem? Por que ele não cita fontes? Alguém seria capaz de demonstrar tal previsão?
Não aceito coisas de Mãe Dinah, etc.


Ah... nao sita fontes' Talvez devam estar nos 12 livros que ele escreveu. :emoticon12:
E se nao aceita coisas da mae dinah... vá ler os livros dele e veja se lá tem fontes ou nao...
(Eu nao sei se tem, mas presume que sim...)


Desenvolvimento leva ao crescimento da dívida, isso é normal. O que o autor ignora (ou desconhece) é o aumento fantástico da produção interna dos EUA, em 40 anos:

É, esse escritor Born and Raise in America deve estar menos informado que vc.


A afirmação "Ninguém acredita" deve se limitar apenas ao autor e outros esquerdinhas burros. Não há nenhum sinal de fraqueza da economia americana, pelo contrário, dá sinais de crescimento a passos cada vez mais largos.

Nesse caso, o contrário deve se aplicar aos direitinhos burros. E crescimento para onde? Á custa de que?


Quando Clinton estava no poder, haviam mais bases ainda. E novamente ele comete a falácia da generalização apressada.

Nao se apresse...



O ódio anti-americano não veio com a ocupação, ele sempre existiu entre os islâmicos. É o ódio à liberdade, que é promovido no Alcorão. Todo aquele que odeia a liberdade e a tolerância irá odiar uma nação que defende tais princípios, como o EUA, isso é normal. Por exemplo, querer que mulheres tenham direito de fazer o que bem quiserem de suas vidas é uma blasfêmia para os islâmicos, vai contra os mandamentos de Mohammed. Para os islâmicos, os EUA representam a vinda do Grande Satã, aquele que irá tentar enfrentar Allah, ou seja, tentar derrubar os "nobres" valores da religião islâmica. Por isso o ódio e a guerra contra esses valores, a Jihad.

generalizaçao descabida. E os Arabes nao tem bases na América...



Por que deveria? Piores??? Os americanos são o povo mais bem sucedido do mundo, com melhores índices de qualidade de vida, de liberdade política e emancipação social. Reúne povos de todos os continentes, de todos os lugares do mundo. Piores?? O autor deve desconhecer completamente o restante do mundo em que vive.

Falso, o Canada, o Japao, qualquer país da Europa do Norte, Singapura (que é uma ditadura), tem melhor qualidade de vida e uma taxa de criminalidade e assassinatos por armas de fogo infinitamente inferior. Vc é que só tem olhos para os EUA e nao ve o resto do mundo. E leia "Um mundo infestado de demónios" do Sagan e veja a qualidade da Educaçao do Americano típico. 95% dos Americanos sao analfabetos científicos. É uma Lástima. E como diz o Sagan, ignorar a ciencia numa era dominada por ela e meio caminho para o desastre. Ou para o fim do Império.


Retórica, bla bla bla, mude-se para Cuba. Cuba lhe espera, esquerdinha! Deixe o EUA para quem ama a liberdade. Vá torcer para a queda do EUA lá em uma favelinha em Cuba.

:emoticon12: Nao fui eu que escreveu o texto. E eu nao sou de esquerda.

Rush
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Re.: Entropia Imperial

Mensagem por Rush »

O declínio do império americano

por Immanuel Wallerstein (Universidade de Yale) [*]

A ascensão dos Estados Unidos à hegemonia global foi um processo longo que começou de facto com a recessão mundial de 1873. A partir daquela época, os Estados Unidos e a Alemanha começaram a controlar uma fatia cada vez maior dos mercados globais, graças sobretudo ao declínio contínuo da economia britânica. Ambos os países haviam recentemente conquistado bases políticas estáveis: os Estados Unidos com o fim da Guerra Civil e a Alemanha com a unificação após a derrota da França na Guerra Franco-Prussiana.

De 1873 a 1914, os Estados Unidos e a Alemanha tornaram-se os principais produtores em sectores chaves: aço e depois automóveis nos Estados Unidos; química industrial na Alemanha.

Os manuais de história registam que a Primeira Guerra Mundial eclodiu em 1914 e terminou em 1918, e que a Segunda Guerra Mundial durou de 1939 a 1945. No entanto, seria mais razoável considerar as duas como uma única e contínua "guerra de 30 anos" entre os Estados Unidos e a Alemanha, com tréguas e conflitos locais espalhados entre elas.

A competição pela da sucessão hegemonia assumiu um teor ideológico a partir de 1933, quando os nazis chegaram ao poder na Alemanha e iniciaram sua tentativa de transcender o sistema global, não procurando competir pela hegemonia dentro do sistema vigente e sim pela construção de um império global. Lembre-se do slogan nazi "ein tausendjähriges Reich" (um império de mil anos). Por sua vez, os Estados Unidos assumiram o papel de defensores do liberalismo centrista mundial -- recordem-se as "quatro liberdades" do ex-presidente americano Franklin D. Roosevelt (liberdade de expressão, de religião, de necessidades materiais e do medo) -- e entraram numa aliança estratégica com a União Soviética, possibilitando a derrota da Alemanha e seus aliados.

A Segunda Guerra Mundial resultou numa enorme destruição de infra-estruturas e de populações por toda a Eurásia, do Oceano Atlântico ao Pacífico, e poucos países escaparam às mesmas. A única grande potência industrial do mundo a sair intacta e até reforçada, numa perspectiva económica, foram os Estados Unidos -- eles actuaram rapidamente para consolidar esta posição.

Mas a aspiração à hegemonia teve de enfrentar alguns obstáculos políticos práticos. Durante a guerra, as potências aliadas concordaram em fundar as Nações Unidas e esta foi formada basicamente pelos países que participaram da coalizão contra as potências do Eixo. A característica crucial da organização era o Conselho de Segurança, a única estrutura que poderia autorizar o uso da força. Como a Carta da ONU deu o direito de veto a cinco potências, incluindo os Estados Unidos e a União Soviética, o Conselho de Segurança tornou-se inoperacional. Assim, não foi a fundação das Nações Unidas em Abril de 1945 que determinou as limitações geopolíticas da segunda metade do século 20 e sim a Conferência de Ialta, dois meses antes, entre Roosevelt, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill e o líder soviético José Stalin.

Os acordos formais de Ialta foram menos importantes do que os acordos informais tácitos, que só são perceptíveis se se observar o comportamento dos Estados Unidos e da União Soviética ao longo dos anos seguintes. Quando a guerra terminou na Europa, em 8 de maio de 1945, tropas soviéticas e ocidentais (isto é, americanas, britânicas e francesas) situavam-se em determinados locais sobre o terreno, basicamente acompanhando uma linha no centro da Europa, que passou a ser chamada de Linha Oder-Neisse. Excepto por alguns pequenos acertos, elas ali permaneceram. Em retrospectiva, Ialta significou um acordo entre ambos os lados de que elas poderiam ali ficar e de que nenhum lado usaria a força para expulsar o outro. Esse acordo tácito também se aplicava à Ásia, como provam a ocupação do Japão pelos Estados Unidos e a divisão da Coreia. Politicamente, portanto, Ialta foi um acordo sobre o status quo em que a União Soviética passou a controlar cerca de um terço do mundo e os Estados Unidos o restante.

Washington também enfrentou desafios militares mais sérios. A União Soviética tinha as maiores forças terrestres do mundo, ao passo que o governo americano enfrentava pressão interna para reduzir seu Exército, inclusive com a extinção do serviço militar obrigatório.

Os Estados Unidos, portanto, decidiram afirmar seu poderio militar não por meio de forças terrestres, mas por meio do monopólio das armas nucleares (e uma força aérea capaz de transportá-las). Esse monopólio teve curta dura: desapareceu em 1949, pois a União Soviética também desenvolveu armas nucleares.

Desde então, os Estados Unidos ficaram reduzidos a tentar evitar a proliferação mundial de armas nucleares (e armas químicas e biológicas), uma iniciativa que não parece bem fadada no século XXI.

Até 1991, os Estados Unidos e a União Soviética coexistiram no "equilíbrio do terror" da Guerra Fria. Essa situação foi testada cegamente apenas três vezes: no bloqueio de Berlim, em 1948-49, na Guerra da Coreia, em 1950-53, e na crise dos mísseis cubanos, em 1962. O resultado em cada caso foi a restauração do status quo. Além disso, sempre que a União Soviética enfrentou uma crise política em seus regimes satélites -- Alemanha Oriental em 1953, Hungria em 1956, Checoslováquia em 1968 e Polónia em 1981 --, os Estados Unidos efectuaram pouco mais que exercícios de propaganda, permitindo que a União Soviética agisse à sua vontade.

É claro que essa passividade não se estendia à área económica. Os Estados Unidos aproveitaram o ambiente da Guerra Fria para lançar iniciativas maciças de reconstrução económica, primeiro na Europa Ocidental e depois no Japão (assim como na Coreia do Sul e em Taiwan). O raciocínio era óbvio: de que servia ter uma superioridade produtiva tão esmagadora se no resto do mundo não houvesse procura efectiva?

Além disso, a reconstrução económica ajudava a criar obrigações clientelistas por parte dos países que recebiam a ajuda americana; esse sentido de obrigação promovia a disposição para entrar em alianças militares e, mais ainda, à subserviência política.

Finalmente, não se deve subestimar o componente ideológico e cultural da hegemonia americana. O período imediatamente posterior a 1945 pode ter sido o auge histórico da popularidade da ideologia comunista. É fácil esquecer hoje as enormes votações obtidas por Partidos Comunistas em eleições livres em países como Bélgica, França, Itália, Checoslováquia e Finlândia, sem falar no apoio que os Partidos Comunistas obtiveram na Ásia -- Vietname, Índia, Japão -- e por toda a América Latina. E isso ainda sem considerar áreas como China, Grécia e Irão, onde não houve eleições livres ou estas foram restritas, mas onde os Partidos Comunistas locais desfrutavam de um apoio generalizado. Em reacção, os Estados Unidos mantiveram uma maciça ofensiva ideológica anticomunista.

Em retrospectiva, essa iniciativa parece amplamente bem sucedida: Washington desempenhou seu papel como líder do "mundo livre" de modo pelo menos tão eficaz quanto a União Soviética desempenhava o seu como líder do campo "progressista" e "anti-imperialista".

O êxito dos Estados Unidos como potência hegemónica no período do pós-guerra criou as condições para o colapso hegemónico do país. Esse processo é bem descrito por quatro eventos simbólicos: a Guerra do Vietname, as revoluções de 1968, a queda do Muro de Berlim em 1989 e os atentados terroristas de setembro de 2001. Cada evento ergueu-se sobre o anterior, culminando na situação em que os Estados Unidos hoje se encontram: uma superpotência solitária, que carece de verdadeiro poder, um líder mundial que ninguém segue e poucos respeitam e um país que flutua perigosamente em meio ao caos global que não pode controlar.

O que foi a Guerra do Vietname? Foi sobretudo o esforço do povo vietnamita para acabar com o domínio colonial e estabelecer o seu próprio Estado. Os vietnamitas combateram os franceses, os japoneses e os americanos e no final os vietnamitas venceram -- um grande feito, na verdade. Do ponto de vista geopolítico, contudo, a guerra representou a rejeição ao status quo de Ialta por populações então rotuladas como Terceiro Mundo. O Vietname tornou-se um símbolo muito poderoso, porque Washington foi suficientemente estúpida para investir todo o seu poderio militar naquela luta e, mesmo assim, os Estados Unidos perderam. É verdade que os Estados Unidos não utilizaram armas nucleares (decisão que certos grupos míopes de direita muito criticaram), mas a sua utilização teria destruído os acordos de Ialta e poderia ter produzido um holocausto nuclear, resultado que os Estados Unidos simplesmente não poderiam arriscar.

Mas o Vietname não foi simplesmente uma derrota militar ou uma maldição para o prestígio americano. A guerra desferiu um grande golpe contra a capacidade de os Estados Unidos continuarem a ser a potência económica dominante no mundo. O conflito saiu extremamente caro e praticamente esgotou as reservas de ouro dos Estados Unidos, que eram abundantes desde 1945.

Além disso, os Estados Unidos enfrentaram essas despesas exactamente quando a Europa Ocidental e o Japão experimentavam grande crescimento económico. Esse condicionamento pôs fim ao predomínio americano na economia global.

Desde os fins da década de 60 os membros dessa tríade têm sido praticamente equivalentes em termos económicos, cada um a desempenhar-se melhor durante certos períodos, mas sem que nenhum se distancie demasiado dos outros.

Quando as revoluções de 1968 irromperam por todo o mundo, o apoio aos vietnamitas tornou-se um importante componente retórico. "Um, dois, muitos Vietnames" e "Ho, Ho, Ho Chi Minh" foram entoados em muitas ruas do mundo todo, inclusive nos Estados Unidos. Mas a geração de 68 não condenava apenas a hegemonia americana. Condenava a conivência soviética com os Estados Unidos, condenava Ialta e usou ou adaptou a linguagem da Revolução Cultural chinesa, que dividia o mundo em dois campos: as duas superpotências e o resto do mundo.

A denúncia da conivência soviética levou logicamente à denúncia das forças nacionais intimamente aliadas à União Soviética, o que na maioria dos casos significava os partidos comunistas tradicionais. Mas os revolucionários de 1968 também atacaram outros componentes da Velha Esquerda -- os movimentos de libertação nacional no Terceiro Mundo, os movimentos social-democratas na Europa e os democratas do New Deal nos Estados Unidos, acusando-os também de conivência com aquilo que os revolucionários chamavam genericamente de "imperialismo americano".

O ataque à conivência soviética com Washington, mais o ataque contra a Velha Esquerda, enfraqueceu ainda mais a legitimidade dos acordos de Ialta sobre os quais os Estados Unidos haviam moldado a ordem mundial. Ele também minava a posição do liberalismo centrista como a única e legítima ideologia global. As consequências políticas directas das revoluções mundiais de 68 foram mínimas, mas as repercussões geopolíticas e intelectuais foram enormes e irrevogáveis. O liberalismo de centro caiu do trono que ocupara desde as revoluções europeias de 1848 e que lhe permitira incluir tanto conservadores quanto radicais. Tais ideologias retornaram e mais uma vez representaram um verdadeiro leque de opções. Os conservadores tornar-se-iam novamente conservadores, e os radicais, radicais. Os liberais de centro não desapareceram, mas foram reduzidos. Nesse processo, a posição ideológica oficial dos Estados Unidos --antifascista, anticomunista, anticolonialista -- parecia frágil e inconveniente para uma proporção cada vez maior das populações mundiais.

O início da estagnação económica internacional na década de 70 teve duas consequências importantes para o poderio americano. Primeiro, a estagnação resultou no colapso do "desenvolvimentismo", a ideia de que cada país poderia avançar economicamente se o Estado tomasse medidas adequadas, que constituía a principal reivindicação ideológica dos movimentos da Velha Esquerda então no poder.

Esses regimes enfrentaram distúrbios internos sucessivos, com o declínio doa padrões de vida, dívidas crescentes, a dependência em relação às instituições financeiras internacionais e a erosão de sua credibilidade. O que nos anos 60 parecia ser uma bem sucedida descolonização do Terceiro Mundo com o apoio dos Estados Unidos, minimizando rupturas e maximizando a suave transferência de poder para regimes desenvolvimentistas, mas muito pouco revolucionários, deu lugar à desintegração da ordem, ao descontentamento turbulento e a temperamentos radicais não canalizados.

Nos lugares em que os Estados Unidos tentaram intervir, fracassaram. Em 1983, o presidente Ronald Reagan mandou tropas para o Líbano a fim de restaurar a ordem. Na realidade as tropas foram praticamente expulsas dali. Ele compensou invadindo Granada, um país sem tropas.

O presidente George Bush invadiu o Panamá, outro país sem tropas. Mas, depois, interveio na Somália para restaurar a ordem, e os Estados Unidos foram na verdade expulsos de um modo ignominioso. Como havia pouco que o governo americano realmente pudesse fazer para inverter essa tendência de declínio da hegemonia, ele preferiu simplesmente ignorá-la tendência, uma política que prevaleceu desde a retirada do Vietname até 11 de Setembro de 2001.

Uma hipótese para a impotência dos EUA

Enquanto isso, os verdadeiros conservadores começaram a assumir o controle de países-chave e instituições internacionais. A ofensiva neoliberal dos anos 80 foi marcada pelos regimes Thatcher e Reagan e pelo surgimento do FMI como um actor-chave no cenário mundial. Antes (ao longo de mais de um século), as forças conservadoras tentavam auto-apresentar-se como liberais e sensatas. Agora, os liberais de centro eram obrigados a argumentar que eram conservadores mais eficazes.

Os programas conservadores eram claros. No plano interno, os conservadores tentavam implementar políticas que reduzissem o custo do trabalho, minimizando as restrições ambientais aos produtores e cortando os benefícios do bem-estar estatal (welfare state) . Os êxitos verdadeiros foram modestos, por isso os conservadores passaram a actuar vigorosamente na arena internacional.

As reuniões do Fórum Económico Mundial em Davos constituíram um campo de encontro para as elites e os media. O FMI representava um clube para ministros das Finanças e banqueiros centrais. E os Estados Unidos pressionaram pela criação da Organização Mundial do Comércio, destinada a promover fluxos comerciais livres através das fronteiras mundiais.

Quando os Estados Unidos não estavam a olhar, a União Soviética desmoronou. Sim, Ronald Reagan chamara a União Soviética de "império do mal" e usara a retórica bombástica de pedir a destruição do Muro de Berlim, mas os Estados Unidos realmente não pretendiam e certamente não foram responsáveis pela queda da União Soviética. Na verdade, a União Soviética e sua zona imperial no Leste Europeu desabou devido à desilusão popular com a velha esquerda, em conjunto com iniciativas do líder soviético Mikhail Gorbatchov para salvar seu regime, liquidando Ialta e instituindo a liberalização interna (perestroika mais glasnost). Gorbatchov conseguiu liquidar Ialta, mas não salvar a União Soviética (embora quase o tenha conseguido, deve-se dizer).

Os Estados Unidos ficaram surpresos e atónitos com o colapso súbito, sem saber como enfrentar as consequências. O colapso do comunismo significou na verdade o colapso do liberalismo, removendo a única justificação ideológica que respaldava a hegemonia americana, uma justificativa tacitamente apoiada pelo adversário ideológico ostensivo do liberalismo. Essa perda de legitimidade conduziu directamente à invasão do Kuwait pelo Iraque, que o líder iraquiano Saddam Hussein jamais teria ousado se os acordos de Ialta continuassem em vigor.

Em retrospectiva, as iniciativas americanas na Guerra do Golfo obtiveram basicamente uma trégua na linha de partida. Mas uma potência hegemónica pode-se satisfazer com um empate numa guerra com um poder regional mediano? Saddam demonstrou que era possível entrar numa briga com os Estados Unidos e sair inteiro. Ainda mais que a derrota no Vietname, o desafio ousado de Saddam revolveu as entranhas da direita americana, particularmente as dos chamados falcões, o que explica o fervor de seu actual desejo de invadir o Iraque e destruir seu regime.

Entre a Guerra do Golfo e o 11 de setembro de 2001, as duas principais arenas de conflito mundial foram os Balcãs e o Oriente Médio. Os Estados Unidos desempenharam importante papel diplomático em ambas as regiões. Olhando em retrospectiva, quão diferentes seriam os resultados se os Estados Unidos tivessem assumido uma posição totalmente isolacionista? Nos Balcãs, um Estado multinacional economicamente bem sucedido (Jugoslávia) desmoronou, basicamente em suas partes componentes. Durante dez anos, a maioria dos Estados resultantes iniciou um processo de etnificação, experimentando uma violência brutal, amplas violações de direitos humanos e guerras. A intervenção externa, em que os Estados Unidos actuaram de modo destacado, levou a uma trégua e pôs fim à violência mais evidente, mas essa intervenção de modo nenhum reverteu a etnificação, que hoje está consolidada e de certa forma legitimada.

Esses conflitos teriam terminado de modo diferente sem o envolvimento americano? A violência poderia ter continuado por mais tempo, mas os resultados básicos provavelmente não teriam sido muito diferentes. O quadro é ainda mais grave no Oriente Médio, onde o envolvimento dos Estados Unidos foi mais profundo, e seus fracassos, mais espectaculares. Nos Balcãs e no Oriente Médio igualmente, os Estados Unidos deixaram de exercer seu poder hegemónico com eficácia não por falta de vontade ou de esforço, mas por falta de verdadeiro poder.

Então veio o 11 de Setembro, o choque e a reacção. Sob o fogo dos legisladores americanos, a CIA hoje afirma que havia advertido o governo Bush sobre possíveis ameaças. Mas, apesar do enfoque da CIA sobre a Al Qaeda e a perícia da inteligência do órgão, ela não pôde prever (e portanto evitar) a execução dos ataques terroristas. Foi o que afirmou o director da CIA, Robert Tenet. Esse depoimento dificilmente pode tranquilizar o governo ou o povo americanos.

Seja o que for que os historiadores decidam, os atentados de 11 de Setembro de 2001 representaram um grande desafio ao poderio americano. Os indivíduos responsáveis não representavam uma grande potência militar. Eram membros de uma força não estatal, com alto grau de determinação, algum dinheiro, um grupo de seguidores dedicados e uma forte base em um Estado fraco. Em suma, não eram nada militarmente. No entanto, tiveram êxito num ataque ousado ao solo americano.

George W. Bush chegou ao poder criticando muito o trabalho do governo Clinton nos assuntos externos. Bush e seus assessores não o admitiram, mas sem dúvida estavam conscientes de que o caminho de Clinton fora o de todo presidente americano desde Gerald Ford, incluindo os de Ronald Reagan e George Bush pai. E tinha sido até o caminho do actual governo Bush antes do 11 de Setembro. Basta ver como Bush tratou o caso do avião americano derrubado na China em Abril de 2001 para verificar que prudência era o nome do jogo.

Depois dos atentados terroristas, Bush mudou de rumo, declarando guerra ao terrorismo, garantindo ao povo americano que "o resultado é certo" e informando ao mundo que "ou estão do nosso lado ou estão contra nós".

Frustrados há muito, até mesmo pelos mais conservadores governos americanos, os falcões finalmente passaram a dominar a cena política americana. Sua posição é clara: os Estados Unidos detêm um poderio militar esmagador e, embora inúmeros líderes estrangeiros considerem insensato Washington aplicar sua força militar, esses mesmos líderes não podem fazer e não farão qualquer coisa se os Estados Unidos simplesmente impuserem sua vontade ao resto do mundo. Os falcões acreditam que os Estados Unidos devem agir como uma potência imperial por dois motivos: primeiro, os Estados Unidos podem fazer isso; e, segundo, se Washington não exercer sua força, os Estados Unidos ficarão cada vez mais marginalizados.

Hoje essa posição dos falcões tem três expressões: o ataque militar ao Afeganistão, o apoio de facto à tentativa israelense de liquidar a Autoridade Palestina e a invasão do Iraque, que estaria em fase de preparativos militares. Menos de um ano depois dos atentados terroristas de Setembro de 2001, talvez seja cedo demais para avaliar o resultado futuro dessas estratégias.

Até agora, esses esquemas levaram à derrubada dos taliban no Afeganistão (sem o desmantelamento completo da Al Qaeda ou a captura de sua liderança); enorme destruição na Palestina (sem tornar "irrelevante" o líder palestino Iasser Arafat, como pretendia o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon); e a forte oposição dos aliados dos Estados Unidos na Europa e no Oriente Médio aos planos de invasão do Iraque.

A leitura dos factos recentes pelos falcões enfatiza que a oposição às acções americanas, embora séria, continua principalmente verbal. Nem a Europa Ocidental nem a Rússia, a China ou a Arábia Saudita parecem dispostas a romper seriamente os laços com os Estados Unidos. Por outras palavras, os falcões acreditam que Washington realmente conseguiu desenvencilhar-se. Os falcões supõem que um resultado semelhante virá a ocorrer quando os militares americanos realmente invadirem o Iraque e, depois, quando os Estados Unidos exercerem sua autoridade em outras partes do mundo, seja no Irão, na Coreia do Norte, na Colômbia ou talvez na Indonésia.

Ironicamente, a leitura dos falcões tornou-se de modo geral a leitura da esquerda internacional, que vem gritando contra as políticas americanas principalmente por temer que as probabilidades de êxito dos EUA sejam elevadas. Mas as interpretações dos falcões estão erradas e apenas contribuirão para o declínio dos EUA, transformando uma descida gradual numa queda muito mais rápida e turbulenta. Especificamente, as abordagens dos falcões irão fracassar por motivos militares, económicos e ideológicos.

Os militares continuam a ser, sem dúvida, a carta mais forte dos EUA; na verdade, a única carta. Hoje os Estados Unidos possuem a mais formidável máquina militar do mundo. E, a acreditar-se nos anúncios de novas e incomparáveis tecnologias militares, a vantagem americana sobre o resto do mundo é consideravelmente maior hoje do que uma década atrás. Mas significará isso que os EUA podem invadir o Iraque, conquistá-lo rapidamente e instalar um regime amigo e estável? É improvável. Tenha-se em mente que, das três guerras sérias que os EUA travaram desde 1945 (Coreia, Vietname e Golfo), uma terminou em derrota e duas em retirada após aquilo que poderia ser chamado de "empate" -- não é exactamente um registro glorioso.

O Exército de Saddam não é o dos taliban e o controle interno dos seus militares é muito mais firme. Uma invasão americana envolveria necessariamente uma importante força terrestre, que teria de abrir caminho até Bagdad e provavelmente sofreria baixas significativas. Essa força também precisaria de bases como pontos de partida para os combates e a Arábia Saudita deixou claro que não ajudará nesse sentido. O Kuwait ou a Turquia ajudarão? Talvez, se Washington utilizar todas as suas fichas.

Enquanto isso, pode-se esperar que Saddam utilize todas as armas à sua disposição e é exactamente o que inquieta o governo americano: que essas armas possam ser muito malignas. Os EUA podem torcer os braços dos regimes da região, mas o sentimento popular vê todo o assunto como o reflexo de um profundo viés anti-árabe nos EUA. Esse conflito pode ser vencido? O estado-maior britânico já informou ao primeiro-ministro Tony Blair que não acredita nisso.

E sempre há a questão das "segundas frentes". Depois da Guerra do Golfo, as Forças Armadas americanas tentaram preparar-se para a possibilidade de duas guerras regionais simultâneas. Depois de algum tempo, o Pentágono abandonou silenciosamente a ideia, por ser impraticável e dispendiosa. Mas quem pode ter certeza de que nenhum potencial inimigo atacará quando os EUA estiverem atolados no Iraque?

Considere-se também a questão da tolerância popular americana às não-vitórias. Os americanos oscilam entre um fervor patriótico que apoia todos os presidentes em tempo de guerra e um profundo sentimento isolacionista. Desde 1945, o patriotismo chocou-se com um muro sempre que as baixas aumentaram. Por que a reacção seria diferente hoje? E, mesmo que os falcões (quase todos civis) se sintam impermeáveis à opinião pública, os generais americanos, queimados pelo Vietname, não se sentem.

E a frente económica? Nos anos 80, inúmeros analistas americanos ficaram histéricos quanto ao milagre económico japonês. Eles acalmaram-se nos anos 90, diante das conhecidas dificuldades financeiras do Japão. Mas, depois de exageradas declarações sobre o avanço rápido do Japão, as autoridades americanas hoje parecem tranquilas, confiantes em que o Japão está muito atrás. Hoje em dia, Washington parece mais inclinada a mostrar aos decisores das políticas japonesas o que eles estão a fazer errado.

Esse triunfalismo dificilmente parece garantido. Considere a seguinte reportagem do New York Times de 20/Abril/2002: "Um laboratório japonês construiu o computador mais rápido do mundo, uma máquina tão poderosa que se equipara ao poder de processamento dos 20 mais rápidos computadores americanos juntos e supera de longe o líder anterior, uma máquina construída pela IBM. A conquista [...] "é a evidência de que a corrida tecnológica, que a maioria dos engenheiros americanos pensava vencer facilmente, está longe de terminar".

A análise continua, comentando que há "prioridades científicas e tecnológicas contrastantes" nos dois países. A máquina japonesa foi construída para analisar mudanças climáticas, mas as máquinas americanas são desenhadas para simular armas.

Esse contraste representa a história mais antiga na história das potências hegemónicas. O poder dominante concentra-se nos militares (em seu detrimento); o candidato a sucessor concentra-se na economia. A última opção sempre foi a mais vantajosa. Foi o que aconteceu com os Estados Unidos. Por que não deveria acontecer também com o Japão, talvez em aliança com a China?

Finalmente, há a esfera ideológica. Hoje, a economia americana parece relativamente fraca, ainda mais considerando-se as exorbitantes despesas militares associadas às estratégias dos falcões. Além disso, Washington continua politicamente isolada; virtualmente ninguém (excepto Israel) acha que a posição do falcão faz sentido ou é digna de incentivo. Outros países temem ou não estão dispostos a enfrentar Washington directamente, mas até sua indecisão está a prejudicar os Estados Unidos.

Mas a reacção americana representa pouco mais que um arrogante braço de força. A arrogância tem suas próprias negativas. Usar as fichas significa deixar menos fichas para a próxima vez, e a aquiescência a contragosto provoca um ressentimento crescente. Durante os últimos 200 anos, os EUA conquistaram uma quantidade considerável de crédito ideológico. Mas, hoje em dia, os EUA estão a gastar esse crédito ainda mais depressa do que gastaram seus excedentes em ouro nos anos 60. Os EUA enfrentam duas possibilidades nos próximos dez anos: podem seguir o caminho dos falcões, com consequências negativas para todos, mas especialmente para o país. Ou, em alternativa, podem perceber que as consequências negativas seriam demasiado grandes.

Simon Tisdall, do "Guardian", argumentou recentemente que, mesmo sem considerar a opinião pública internacional, "os Estados Unidos não são capazes de ter êxito numa guerra no Iraque sozinhos sem incorrer em enormes danos, principalmente em termos de seus interesses económicos e seu abastecimento energético. Bush está reduzido a falar com dureza e a parecer ineficaz". E, se os EUA invadirem o Iraque e forem obrigados a recuar, ele parecerá ainda mais ineficaz.

As opções do presidente Bush parecem extremamente limitadas e não há dúvida de que os EUA continuarão a declinar como força decisiva nos assuntos mundiais na próxima década. A verdadeira questão não é se a hegemonia americana está a decair, mas se os EUA podem encontrar uma maneira de declinar graciosamente, com danos mínimos para o mundo e para si próprios.

__________________
[*] Investigador na Universidade Yale. Publicou recentemente The End of the World As We Know It: Social Science for the Twenty-First Century , Mineápolis, University of Minnesota Press, 1999. Mais textos do autor no Fernand Braudel Center , dirigido por Wallerstein.


http://resistir.info/eua/declinio_imper ... icano.html (é um site esquerdista, é certo, mas as palavras sao de um académico de Yale... por isso nao há problema)

Rush
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Mensagem por Rush »

Liquid Snake escreveu: Segundo: A explicação científica mais aceita e atual para o problema do aquecimento global é a de que se trata de um fenômeno natural, que ocorre em ciclos. Portanto, essa propaganda alarmista de ambientalistas et caterva não passa de um embuste, assim como o Tratado de Kyoto. Parabéns ao presidente Bush por não ter ratificado tamanho absurdo.



Efeito de estufa. Explicaçao para crianças... :emoticon12:

http://nonio.fc.ul.pt/oceano/estufa.htm

É verdade que nao há certezas quanto ao impacte da influencia humana no aquecimento global... mas alguns dirao que sim e outros que nao. Na dúvida, que devemos fazer? Deixar para lá?

Mas há outras formas de análise independentes da teoria da química atmosférica que podem confirmar que o aquecimento global é mesmo provocado pelos seres humanos.

A 6º grande extinçao está em pleno andamento. EO Wilson e muitos outros biólogos acham que sim. Qual o fenómeno que estrá a provocar a extinçao em massa? Nao é um cometa, nem sequer actividade vulcanica excessiva. Também nao é a pretenso fenomeno ciclico porque nao houve tantas extinçoes em massa assim na história da terra. Entao é o que?

"Muitos biólogos acreditam que nós estejamos atualmente nos estágios iniciais de uma extinção em massa causada pelo homem, o evento da extinção Holocênica. E.O. Wilson, da universidade Harvard, em seu O futuro da vida ( ISBN 0679768114), estima que se continua a atual taxa de destruição humana da biosfera, metade de todas as espécies de seres vivos estará extinta em 100 anos.

Não há dúvida de que a atividade humana tem aumentado o número de espécies extintas no mundo todo, entretanto, a extensão exata da extinção antrópica permanece controversa.

Veja-se também A sexta extinção: padrões de vida e o futuro da humanidade, de Richard Leakey ( ISBN 0385468091 ).
"

http://pt.wikipedia.org/wiki/Extin%C3%A7%C3%A3o

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Azathoth
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Mensagem por Azathoth »

Liquid Snake escreveu:Segundo: A explicação científica mais aceita e atual para o problema do aquecimento global é a de que se trata de um fenômeno natural, que ocorre em ciclos. Portanto, essa propaganda alarmista de ambientalistas et caterva não passa de um embuste, assim como o Tratado de Kyoto. Parabéns ao presidente Bush por não ter ratificado tamanho absurdo.


Falso. Apenas uma minoria de cientistas nega a correlação estatística direta entre a emissão de gases causadores do efeito estufa devido à queima de combustível fóssil massiva desde a Revolução Industrial e o aumento da temperatura média global.

Alguns pronunciamentos da comunidade científica:

http://www.agu.org/sci_soc/policy/clima ... ition.html
http://www.ametsoc.org/policy/climatech ... _2003.html
http://www.agu.org/sci_soc/policy/clima ... ition.html
http://www.nap.edu/catalog/10139.html?onpi_webextra6
http://lwf.ncdc.noaa.gov/oa/aasc/AASC-P ... limate.htm
http://www.geolsoc.org.uk/template.cfm? ... ming_Essay

Rush
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Re.: Entropia Imperial

Mensagem por Rush »

Boa.
E o meu comentário sobre extinçao em massa correlacionada co foi um pouco errado, porque o Homem tem outros meios de causar extinçoes como a desflorestaçao e a pressao populacional. Certas espécies precisam de muito espaço.
"...As nossas dúvidas são traidoras e fazem-nos perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar. "

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Claudio Loredo
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Mensagem por Claudio Loredo »


Concordo que a hegemonia norte-americana é cada vez mais fraca. Hoje já não podemos mais dizer que são os EUA quem manda no mundo.

É importante que a hegemonia americana acabe, pois isto irá garantir a paz. Vários países fortes cooperando uns com os outros é melhor do que um no topo.

Com a formação dos blocos econômicos, os países vizinhos começaram a se unir para se fortalecerem economicamente.

Na última rodada de negociações da OMC, pesou bastante a união dos países em desenvolvimento. Reunidos no chamado G-20 que reúne, dentre outros países, Brasil, China e India, conseguiram impor suas condições em conjunto para a abertura do seu comércio.

Em breve a China e o bloco econômico da União Européia devem ultrapassar economicamente os EUA.

Na América Latina o fortalecimento do Mercosul é cada vez maior, principalmente com a recente adesão da Venezuela ao bloco. Hoje a AL é muito menos dependente do que há alguns anos atrás.

Além dos blocos econômicos, temos os organismos internacionais que desempenha importante papel na cooperação entre os países.

É importante para o mundo o fim do imperio americano que tem provocado distorções, guerras e danos ambientais. No lugar desse império o mundo deve optar pelo equilíbrio entre as nações.




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Azathoth
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Re.: Entropia Imperial

Mensagem por Azathoth »

A União Européia já ultrapassa os EUA.
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Megas
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Mensagem por Megas »

Nada é eterno, nenhum reino é eterno.

A Grã Bretanha e o Japão só são monarquias de fachada, hoje a Grã Bretanha é uma pequena união dentro da união européia.

Há muito poucos paises com monarquia absolutista e esses como Butão são pequenos demais e de facil cotrole.

O império romano, bizantino, arabe, russo, romano-germanico, espanhol e tantos outros desapareceram.

O bizantino tinha tudo pra dar certo mas os arabes se metaram na frente.
Roma nunca foi flor que se cheirase, tinha tanta burocracia e corrupção que faz o governo lula parecer o paraiso.

A Grã Bretanha e a França eram opresoras, o Japão radical como exemplo o imperador Hirohito que era o imperador durante a 2° guerra, o arabe prosperou mas se dividiu pela nacionalidade e outros fatores de outras regiões, o russo ja foi tarde e vai.
Morando aqui nessa cidade enfrentamos muitos delinquentes
Em alta velocidade no carro robo gigante.
Eu, me amaro, robos gigantes
Nós, lutamos, robos gigantes
E as gatas, tambem, robos gigantes
...
Demais
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Trancado