Menina perdida na selva reaparece
Enviado: 20 Jan 2007, 08:04
por spink
Fonte
Menina perdida na selva reaparece após viver em isolamento por 19 anos
KATHY MARKS
DO "INDEPENDENT"
Até onde se sabe, já que ela não fala nenhuma língua inteligível, Rochom P'ngieng sobreviveu por conta própria por 19 anos, depois de ter desaparecido na selva do Camboja quando era criança. A mulher de 27 anos parece ter vivido sozinha na selva, isolada de qualquer contato humano. Um policial do distrito de Oyado, no nordeste do Camboja, a saudou como sua filha perdida.
Rochom P'ngieng desapareceu aos 8 anos de idade, quando pastoreava búfalos. Seu pai pensou que ela tivesse sido morta por animais selvagens. É provável que sua história verdadeira nunca chegue a ser conhecida. Mas ela parece ter sido uma "criança selvagem", que cresceu sem ser exposta à linguagem e ao comportamento humanos.
Os estudiosos do tema afirmam que já foram registrados cerca de cem casos de crianças selvagens desde o século 14. Em alguns dos casos, animais selvagens as teriam ajudado a sobreviver -lobos, cães selvagens e até mesmo avestruzes. Mas os especialistas também aconselham cautela. Acredita-se que muitos casos tenham sido inventados ou "enfeitados". Essas crianças, quando encontradas, geralmente não conseguem se comunicar. Rochom P'nieng estava nua e imunda, com cabelos longos e desgrenhados, quando foi encontrada pelo morador de um vilarejo no povoado de Rattanakiri, roubando arroz.
Ela se expressa apenas com grunhidos e, quando sente fome, dá tapinhas na barriga. Sal Lou, o homem que diz ser seu pai, disse que "ela apenas fica sentada e olha de soslaio para a esquerda e a direita". Ele a reconheceu por uma cicatriz em seu braço esquerdo e concordou em fornecer amostras de DNA dele e de sua mulher, para ver se correspondem ao DNA da mulher selvagem. O caso mais conhecido de uma criança selvagem é provavelmente o de Victor de Aveyron, encontrado numa floresta próxima a Toulouse, no sul da França, em 1797, com a idade aproximada de 12 anos. Sua história inspirou o filme "O Garoto Selvagem" (1970), de François Truffaut.
Enviado: 20 Jan 2007, 10:57
por RicardoVitor
Crianças Selvagens
"Será preciso admitir que os homens não são homens fora do ambiente social, visto que aquilo que consideramos ser próprio deles, como o riso ou o sorriso, jamais ilumina o rosto das crianças isoladas."
Lucien Malson, "Les Enfants Sauvages"
As crianças selvagens são crianças que cresceram com contato humano mínimo, ou mesmo nenhum. Podem ter sido criadas por animais (frequentemente lobos) ou, de alguma maneira, terem sobrevivido sozinhas. Normalmente, são perdidas, roubadas ou abandonadas na infância e, depois, anos mais tarde, descobertas, capturadas e recolhidas entre os humanos.
Afastados do contato com a cultura, os seres humanos podem não desenvolver os requisitos mínimos de manifestação do que entendemos como Humanidade. E religião nada mais é que um elemento cultural. Religiosidade é aprendida a partir do meio, tanto quanto a linguagem ou os costumes.
O MENINO SELVAGEM DE AVEYRON
Em setembro de 1799 um menino, de cerca de 12 anos de idade, foi encontrado perto da floresta de Aveyron, sul da frança. Estava sozinho, sem roupa, andava de quatro e não falava uma palavra. Aparentemente fora abandonado pelos pais e cresceu sozinho na floresta. O menino, a quem lhe deram o nome de Victor, foi levado para Paris, onde ficou aos cuidados do médico Jean-Marc-Gaspar Itard. Durante 5 anos o Dr.Itard dedicou-se a ensinar Victor a falar, a ler, a se comportar como um ser humano, mas seus esforços foram em vão. Pouco progresso foi conseguido durante esse tempo. Victor nunca falou e aprendeu a ler somente uma palavra (leite). Não era mais o menino selvagem de quando fora encontrado mas, também, não se tornou humano.
O ENIGMA DE KASPAR HAUSER
Kaspar Hauser apareceu para a sociedade em 1828, numa praça do centro de Nuremberg. Tinha cerca de 16 anos de idade e falava de modo confuso; suas palavras eram pouco inteligíveis. Sua vida passada era um mistério, porém tudo indica que ele vivera preso em um celeiro desde havia nascido. Teve pouco contato (ou talvez nenhum) com outros homens. Da mesma forma que Victor, Kaspar foi educado por seu tutor e, ao contrário de Victor, aprendeu a ler e escrever, pelo menos num certo nível em que era possível a comunicação com outras pessoas. Seu raciocínio, contudo, não foi muito adiante. Continuava a ser a mesma criança do dia em que fora encontrado. Sua visão não enxergava em perspectiva e também não conseguia apreender conceitos abstratos, como Deus e religião, apesar dos esforços de padres e educadores. Morreu 5 anos depois, assassinado, e seu passado misterioso nunca foi desvelado.
AS MENINAS-LOBO DA ÍNDIA
Em 1920, o reverendo Singh encontrou, em uma caverna, duas crianças que viviam entre lobos. Suas idades presumíveis eram de 2 e 8 anos. Deram-lhes os nomes de Amala e Kamala, respectivamente. Após encontrá-las, o rev. Singh levou-as para o orfanato que mantinha na cidade de Midnapore. Foi lá que ele iniciou o penoso processo de socialização das duas meninas-lobo. Elas não falavam, não sorriam, andavam de quatro, uivavam para a lua e sua visão era melhor à noite do que de dia. Amala, a mais jovem, morreu um ano após ser encontrada. Kamala viveu por mais oito anos sem, contudo, aprender a falar, ler, usar o banheiro ou a ter qualquer comportamento que pudesse ser considerado próprio de seres humanos. A única emoção que demonstrou em todos esses anos foi algumas lágrimas que caíram de seus olhos, no dia em que Amala morreu.
O que esses exemplos, e muitos outros que poderiam ser citados, têm em comum é que eles retratam pessoas que foram privadas de contato humano durante sua infância. Sem contato humano não conseguimos nos tornar seres humanos de fato: a aparência pode ser humana, mas o comportamento é de outra espécie. O homem, portanto, só pode ser homem se viver em sociedade. Por outro lado, o tipo de sociedade em que vivemos vai determinar, de modo geral, o tipo de pessoas que seremos. Uma sociedade de ladrões vai gerar mais ladrões; uma sociedade voltada para o lucro e competição gera indivíduos ambiciosos e egoístas; uma sociedade injusta gera indivíduos sem caráter; uma sociedade baseada na justiça e cooperação gera indivíduos bons e felizes.
Não temos a possibilidade de optar entre viver ou não em sociedade, mas, pelo menos, podemos escolher qual o tipo de sociedade em que desejamos viver.
Visite também:
http://www.feralchildren.com
Enviado: 20 Jan 2007, 13:30
por Christiano
Um enigma chamado Kaspar Hauser
Quem era ele? Herdeiro do trono real, extraterrestre ou habitante de um mundo paralelo?
CLÁUDIO TSUYOSHI SUENAGA
Num certo dia de maio de 1828, em Nuremberg, cidade do sudeste da Alemanha, um agente de Polícia notou uma aglomeração e aproximou-se para ver do que se tratava. No centro, um jovem aparentando 15 anos de idade, mal vestido, tentava em vão falar. O jovem imitou desajeitadamente suas palavras, como teria feito um papagaio, sem nada compreender.
O estranho jovem foi conduzido ao distrito policial e revistado. Em suas roupas, foram encontrados dois bilhetes contraditórios. Um deles dizia que queria ser um cavaleiro como seu pai: “Cuide de meu filho. Ele é batizado. Seu pai é um soldado do 6º Regimento de Cavalaria”. Isso em sei mesmo não se constituía um problema. Afinal de contas, estáva-mos na Europa pós-napoleônica e, lembra-nos o escritor Henri Marie Beyle, que usava o pseudônimo de Stendhal (1783-1842), todos os jovens estavam ansiosos em busca de aventura. O outro bilhete arrematava: “Se não quiser ficar com ele, mate-o ou enforque-o em uma árvore”. Um exame revelou que a tinta do primeiro bilhete não era tão velha como deveria ser se datasse de há 15 anos. Além disso, o 6º Regimento acabara de chegar de Nuremberg, onde não estivera na época provável do nascimento do jovem. O bilhete, obviamente, era falso. O segundo também o era. Escrita com mão pouco hábil, dizia que sendo operário se ocupara de Kasper Hauser desde 7 de outubro de 1812.
A Polícia decidiu acusar o jovem de vadiagem para examina-lo à vontade. Ele parecia um menino dentro de um corpo adolescente. Calçava sapatos de mulher, de saltos altos, que na lhe serviam bem. A planta de seus pés tinha a pele fina como a de um bebê. Conseguia escrever apenas o nome “Kaspar Hauser”. Apresentava uma personalidade simples e gentil e demonstrava habilidades peculiares. Podia enxergar muito longe, no escuro, e sabia lidar com os animais. Por outro lado, não percebia a terceira dimensão e foi preciso inculcá-la nele. Mal sabia andar. Se colocassem um obstáculo, como uma cadeira, ele se chocava contra a mesma e caía. Desconhecia o leite. Não obstante, graças à sua curiosidade infantil e memória notável, incutiu várias noções muito depressa. Aprendeu a falar e contou que ficara preso sob a terra, trancado numa cela, sem contato humano, que o alimentavam, lhe davam brinquedos de criança e que, finalmente, fora retirado do local em que encontrava e posto dentro de uma carruagem que o levara ao centro de Nuremberg.
Sob custódia, Kaspar Hauser tornou-se o “filho querido da Europa”, ocupando a vaga deixada pelo Menin Selvagem de Aveyron, falecido naquele ano.
Um nobre inglês, o conde de Stanhope, solicitou a ajuda do professor Daumer. Jamais conseguiram encontrar o cativeiro de Hauser. Jamais identificaram a matéria sobre a qual haviam escrito as duas falsas mensagens. Não se tratava de papel ou pergaminho, mas, segundo as descrições, de uma espécie de couro ultrafino. Retratos de Hauser pintados por diversos artistas foram espalhados pela Europa, sem que ninguém o identificasse.
Versões românticas diziam que Hauser era o príncipe herdeiro de Baden, raptado por um “fantasma” do palácio de Karlsruhe em 1812. O vento soprava por entre as chaminés e janelas do velho castelo. Os criados juraram que o fantasma atravessara a parede carregando a criança. Avisada por Daumer, a grã-duquesa Stéphanie, mãe do príncipe desaparecido, tentou reconhecer Hauser. Este, no entanto, acabaria assassinado antes que o encontro se concretizasse.
Um ano depois de ter chegado em Nuremberg, Hauser sofreu o primeiro atentado. Um desconhecido entrou em seu quarto e apunhalou-o no lado esquerdo do peito. Em 14 de dezembro de 1833, Hauser foi atraído para uma emboscada no parque de Anspach com a promessa de que receberia informações cruciais sobre sua origem. Levou uma facada e morreu três dias depois.
Todas as hipóteses românticas, que se ajustavam à atmosfera da época, desmoronaram uma após outra. Restaram duas: uma era a de que Hauser não passava de um mendigo que fingia ser nobre para atrair a simpatia alheia. Ele próprio, portanto, teria se ferido ao perceber que o interesse por sua figura estava diminuindo. A outra era a de que seria fruto da união entre a filha adotiva de Napoleão, Stéphanie de Beauharnais, e Karl, duque de Baden. Em 1812, Stéphanie deu à luz a um menino que tencionou batizar de Gaspard. No entanto, Luise, a madrasta de Karl, segunda mulher de seu pai, pretendendo assegurar a seu próprio filho a herança do trono de Baden – o que de fato acabou acontecendo –, trocou o filho de Stéphanie por um bebê doente, que morreria pouco depois. O herdeiro saudável foi trancafiado em um calabouço e alimentado a pão e água por um homem de cabelos cujo rosto ele nunca via. O menino passava a maior parte do tempo dormindo ou brincando com um cavalinho de pau. Perto da adolescência, o carcereiro o abandonou em Nuremberg junto com a carta de apresentação ao capitão da cavalaria.
Destarte, para azar dos conspiradores, o rapaz começou a desconfiar de sua origem. Temendo que o reconhecessem, aliciaram o conde de Stanhope, que se aproximou do jovem fingindo ser seu protetor. Ele teria sido o responsável pelas duas tentativas de assassiná-lo. O juiz Anselm Ritter von Feuerbach, encarregado do processo e julgamento do caso, morreu antes que completasse suas investigações. Suspeita-se que tenha sido envenenado por Stanhope.
Um exame de DNA, realizado na Alemanha e divulgado em 24 de novembro de 1996, eliminou a hipótese de que Hauser fosse o herdeiro do trono de Baden. Dois institutos forenses compararam restos de sangue encontrados em sua cueca com o sangue de duas descendentes vivas da dinastia de Baden. Hauser efetivamente não pertencia a essa linhagem.
Por que a chegada desse jovem a Nuremberg gerou dois mil livros, quinze mil ensaios, entre eles os de Rainer Marie Rilke, Klaus Mann e Peter Handke, uma peça de teatro, o filme “Jeder für sich und gott gegen alle” (O enigma de Kaspar Hauser”, conforme o título brasileiro), dirigido em 1975 pelo cineasta alemão Werner Herzog, e até mesmo conferiu nome a uma síndrome psiquiátrica?
A questão foi parcialmente respondida por Jeffrey Moussaieff Masson em “The Lost Prince: the unsolved mistery of Kaspar Hauser” (“O Príncipe Perdido: o mistério não resolvido de Kaspar Hauser”). O livro fornece a tradução completa do texto escrito por Feuerbach, em 1832, precedida de uma longa introdução em que defende a tese do príncipe perdido. A explicação para o motivo dessa história nos desconcertar e nos preocupar até hoje, Masson foi buscar em Freud: Temos razão em recriminar a natureza e nosso destino pelas nossas desvantagens infantis e congênitas e pedimos reparação pelas feridas que, des-de cedo, foram abertas em nosso narcisismo e auto-estima. Por que a natureza não nos deu os cachos louros de Balder ou a força de Siegfried, a capacidade intelectual do gênio ou o nobre perfil do aristocrata? Por que nascemos num lar de classe média e não num palácio real?” Hauser desperta em nós o ressentimento infantil e a fantasia de que, talvez, também sejamos príncipes perdidos.
O lingüista Isidoro Blikstein, em seu livro “Kaspar Hauser ou a fabricação da realidade”, analisa: “O segredo de Kaspar Hauser resistirá à dissecação de seu cadáver e até mesmo à retalhação de seu cérebro; depois do exame inútil, aos pontificais cientistas – parece que saídos do quadro de Rembrandt – só resta ir embora e dar de ombros ceticamente. (...) De fato, pior do que os enigmas atirados ao espectador, é o estranho mundo em que se vê, de repente, plantado, atônito, perplexo, o próprio Hauser”.
“Fabricado pelos estereótipos”, enuncia Blikstein, “o referente se interpõe entre nós e a ‘realidade’, fingindo ser o ‘real’. A idéia de não percebermos o ‘real’, mas o referente, ou o ‘real fabricado’, foi visualizada com exatidão por R. Magritte, num quadro denominado justamente ‘A condição humana’. Explorando semiologicamente a composição de ‘A condição humana’, diríamos que o estereótipo é o quadro em si, com o seu layout ou diagrama, o referente é o conteúdo pictorial do quadro (a ‘paisagem’ pintada) e o real é o universo desordenado e contínuo que se encontra atrás do quadro. O que vemos, na verdade, é um referente ‘paisagem’ balizado pelos estereótipos da percepção. É o que se pode verificar no esquema básico do quadro de Magritte”.
A linguagem criativa e poética, no conflito dialético com a práxis, desmonta os estereótipos denunciando a fabricação da realidade. Por isso é que Hauser representa um incômodo: ao sar a linguagem para desafiar a percepção/cognição que lhe inculcam, ele mostra que a realidade tão bem ordenada e natural é apenas um produto da práxis da comunidade de Nuremberg. Hauser torna-se subversivo e abala os fundamentos da ilusão referencial. E é, sobretudo, por essa práxis libertadora (e não por um mero lance da novela policial) que ele deve morrer”, conclui Blikstein.
O juiz Feuerbach fez assunções fantásticas para a época: “Kaspar Hauser demonstrava deficiência tão grande de palavras e idéias, uma ignorância tão acentuada das coisas mais comuns e um horror tão grande de todos os costumes, todas as conveniências e necessidades da vida civilizada, e, além disso, havia peculiaridades tão extraordinárias em sua disposição social, mental e física, que qualquer pessoa poderia ser levada a acreditar que ele pudesse ser um cidadão de out planeta, transferido, através de um milagre, para o nosso”.
Em seu livro “Les extra-terrestres dans l’histoire” (“Os Extraterrestres da História”), Jacques Bergier, um dos pais da corrente do Realismo Fantástico, emite proposições que apóiam Feuerbach, a quem confunde com o filósofo alemão Ludwig Andreas Feuerbach. “Talvez seja possível propor uma explicação extraterrestre. Em minha opinião, depois do período do simples controle e registro, veio o período de experiências, as quais consistiram em introduzir, em nosso meio, seres que instassem as mais diversas reações de modo a permitir um estudo completo do comportamento humano, da mesma forma que nós estudamos o comportamento de ratos em labirintos artificiais”.
O caso de Hauser não é o único no gênero. Pessoas cujas origens não podem ser perscrutadas emergem periodicamente do nada.
Nos arredores da aldeia de Banjos, Espanha, em uma tarde ensolarada de agosto de 1887, camponeses viram um casal de crianças sair de uma caverna. De traços negróides e olhos amendoados, envergavam roupas confeccionadas com materiais desconhecidos e exprimiam-se em uma linguagem incompreensível.
Porém, o que chamava mesmo a atenção, era a cor da pele das crianças, tão verde quanto as folhas das árvores. Especialistas vindos de Barcelona tentaram em vão identifica-las. Um sacerdote poliglota nada depreendeu daquela linguagem. O juiz de paz local, Ricardo de Calno, tentou inutilmente remover a cor verde da pele das crianças, constatando que não se tratava de pintura e sim da pigmentação natural. Durante cinco dias seguidos ofereceram-lhes uma grande variedade de alimentos, todos prontamente recusados, com exceção de feijões recém-colhidos, que comeram um tanto desgostosamente. O menino, muito debilitado, morreu em poucas semanas. Já a menina conseguiu sobreviver por cinco anos, período em que a cor verde foi desaparecendo gradativamente.
Trabalhando como empregada doméstica na casa do juiz de paz, aprendeu os rudimentos do espanhol e descreveu a região de onde viera: um país sem Sol, iluminado por um crepúsculo permanente. O seu país estava separado de outro país, esse ensolarado, por um imenso rio. O que os arrebatara de lá e os depositara na caverna fora um turbilhão estrondoso que de repente os envolvera.
No final do século XIX, propuseram-se teorias concordes com as crenças científicas da época. Uma delas dizia que as crianças eram originárias do planeta Marte, cuja atmosfera fria e rarefeita teria emprestado-lhes a pigmentação verde. É conhecida a existência de crianças azuis ou verdes devido a uma doença rara, de origem endócrina. O mistério estaria equacionado se fosse comprovado que alguém houvesse simplesmente abandonado duas crianças doentes na caverna. Entretanto, nenhum desaparecimento foi notificado na ocasião.
O jornalista e escritor Pablo Villarrubia Mauso, quando de seu périplo pelo Brasil, ouviu da arqueóloga Maly Trevas uma narrativa dando conta de um “Kaspar Hauser de saias”, em versão paraibana. Conforme ele fez constar em seu livro “Mistérios do Brasil: 20.000 quilômetros através de uma geografia oculta”, na década de 1970, nos arredores da Caverna do Índio, em pleno Cariri paraibano, o ex-prefeito do município de Pedra Lavada capturou uma mulher assustada e arredia. Estava ela em companhia de outra mulher, a qual por sua vez conseguiu escapar.
“Aparecida”, como foi apelidada, não falava nosso idioma, usava somente uma saia trançada de “aril” (uma espécie de cipó) e uma faixa de aparência primitiva para segurar os cabelos lisos e pretos. Desconhecia o sal e só comia carne defumada, que ela mesma preparava. Ninguém soube identificar a que raça ou etnia ela pertencia. As poucas fotos que dela foram tiradas mostram uma mulher aparentando uns 30 anos de idade, com traços semelhantes aos de uma mulata ou negra, mas que também podiam ser de alguma raça indígena de tez mais bronzeada.
O então prefeito de Pedra Pintada, Manoel Júlio, levou “Aparecida” para sua casa, onde procurou educá-la. Os parentes e amigos não demoraram a se afeiçoarem a ela, pois externava carinho e afabilidade. Com o tempo, aprendeu palavras do português, mas nunca falou nada de seu passado ou sua origem.
Viveu durante um ano entre os “civilizados”. Um dia, ela fugiu em direção a Parelhas, no Rio Grande do Norte. Doente, fraca e desorientada, errou o caminho da serra da Flecha e foi encontrada em Parelhas, onde um médico a socorreu. Muito abalada, provavelmente pela tristeza de não poder voltar ao seu lar, acabou morrendo.
Quem era “Aparecida”? Uma sobrevivente de um antigo e desconhecido quilombo perdido no meio daquelas serras? Pertencia ela a alguma tribo indígena escondida nas montanhas da Paraíba? O certo é que ninguém mais ouviu falar da outra mulher que conseguiu fugir, tampouco de quilombos ou tribos indígenas perdidas no Cariri.
Há um nítido paralelo e vários pontos em comum entre as histórias de “Aparecida”, de Hauser, das crianças verdes e de outros personagens que, de tão arbitrários, muitos Chegam a associar a viajantes do tempo, de outras dimensões, de mundos subterrâneos ou de outros planetas.
Mas o que devemos considerar, sobretudo, é que nenhum deles conseguiu uma adaptação completa, nem ao menos sobreviver durante muito tempo no interior das sociedades com os quais se defrontaram. A inculcação de símbolos, códigos e signos lingüísticos não bastou para dissipar a angústia e a perplexidade que sentiam em relação ao mundo que os rodeavam. Apesar de decodificados pela linguagem, a paisagem e o ambiente em que fo-ram atirados permaneceram turvos e indecifráveis. Aquilo que sob certo modo ou aspecto representava algo para alguém, na mente deles, oriundos de culturas inteiramente distintas, não havia equivalentes em termos de significação. Assim, podemos dizer que, devido a falta de referenciais, os que tentaram educa-los não fizeram mais do que lhes dar a ilusão de realidade.
Cláudio Tsuyoshi Suenaga é mestre em História pela Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Assis (SP), consultor da revista UFO e colaborador da revista Sexto Sentido.
Enviado: 20 Jan 2007, 13:49
por videomaker
Sou mais essa Estorinha:
Mogli - O Menino Lobo 2 (The Jungle Book 2) começa no ponto em que terminou o original... pouco depois de Mogli ter deixado a selva, estando agora dividido entre dois mundos. O menino- lobo agora vive na aldeia, entre os homens, aprendendo sobre o amor à família pela primeira vez em sua vida. Uma nova vida que inclui seu meio-irmãozinho, Ranjan, e sua melhor amiga, Shanti, a menina que havia atraído Mogli para fora da selva. Viver na cidade, contudo, implica em seguir as regras da civilização, uma nova filosofia de vida que cerceia a liberdade que ele conheceu crescendo na selva.
Além disso, Mogli ainda sente o ritmo da selva em seu coração. Ele sente saudades do seu velho amigo, Balu, que, por sua vez, também sente falta do seu amiguinho humano. Enquanto a sábia pantera Baguera e a tropa de elefantes do coronel Hathi tentam impedir que Balu perturbe a nova vida civilizada de Mogli, ele enche os ouvidos das crianças da aldeia com histórias da selva - em seu emocionante número musical, "Jungle Rhythm" ("o ritmo da selva"). Desde que nasceram, as crianças foram alertadas quanto aos perigos da selva e estão proibidas de entrar na mata misteriosa. A canção contagiante de Mogli, no entanto, ingenuamente leva as crianças da aldeia na direção da selva - mas seu caminho é interceptado pelo padrasto de Mogli, que se apressa em castigá-lo por sua desobediência.
Enquanto isso, Balu não é o único que deseja rever Mogli - o tigre voraz, Shere Khan, espera, impaciente, a chance de vingar-se de sua humilhação. Shere Khan esgueira-se até a aldeia na esperança de encontrar o menino-lobo, justo no momento em que Mogli dirige-se para a mata, às escondidas, com a ajuda de Balu. Shanti fica tão preocupada com Mogli que supera o próprio medo da selva para ir atrás dele - sendo seguida, sem saber, pelo incorrigível Ranjan.
Balu está decidido a convencer Mogli de que seu lugar é na selva, levando seu plano a extremos musicais, com o arrebatador e irresistível número, "W-I-L-D". Mas a diversão não dura para sempre. Com a hipnótica cobra Kaa atrás de um lanchinho, Shere Khan atrás de sangue e vingança e os cidadãos da aldeia vasculhando a selva atrás de Mogli, segue-se uma busca desenfreada à procura do menino para levá-lo de volta para casa em segurança. Ao final, Shanti e Balu precisam unir forças para ajudar seu amiguinho em comum a derrotar o tigre feroz e Mogli precisa escolher entre seus velhos amigos e sua nova família.