Mini resenha “Guerras Camponesas” de Friedrich Engels.
Enviado: 23 Jan 2007, 18:50
ENGELS, F. A Guerra dos camponeses In: MARX, K. e ENGELS, F. Sobre a Religião, Lisboa, Editora Setenta, 1972, p. 115– 141
"O texto de Engels sobre a guerra dos camponeses analisa o processo político ocorrido na Alemanha durante o período de transição do feudalismo ao capitalismo, marcado pela Reforma protestante. O autor inicia descrevendo os três grandes campos político-ideológicos existentes na Alemanha na época, quais sejam : o campo católico ou reacionário, o campo luterano burguês reformador e o campo revolucionário. O campo conservador católico agrupava todos os elementos interessados na manutenção da ordem existente: poder de Império, clero e uma parte dos príncipes seculares, nobreza rica, prelados e patriarcado das cidades; o partido da Reforma Luterano burguesa moderada agrupava os elementos proprietários da oposição, o conjunto da pequena burguesia, a burguesia, e mesmo a parte dos príncipes seculares que esperavam enriquecer pela confiscação dos bens da Igreja e queriam aproveitar a ocasião para conquistar maior independência em relação ao império; enfim, os camponeses e os plebeus constituíam o partido revolucionário, cujas reivindicações e doutrinas foram expressas mais nitidamente por Thomas Munzer (p. 123 – 124) .
A análise dos acontecimentos feita pelo autor vai evidenciando o papel que as idéias religiosas tiveram no contexto político. Em primeiro lugar, a importância da doutrina luterana, que, no início, foi ampla o bastante para agregar todas as forças de oposição. Entretanto, à proporção que o processo político se desenvolver, Lutero foi sendo cooptado pelos príncipes, afastando-se dos ideais da plebe. Quando a Guerra dos camponeses eclodiu, Lutero se esforçou para desempenhar o papel de mediador, mas acabou sucumbindo aos burgueses e príncipes, unidos contra o que consideravam “hordas camponesas de ladrões e assassinos”. (p. 128-129).
Munzer, cujas idéias se tornavam cada vez mais ousadas, separou-se da reforma burguesas e desempenhou, a partir daí, o papel de agitador político. É importante analisar o conteúdo da doutrina teológica e filosófica de Munzer, que se afastava da religião católica e até mesmo do cristianismo, aproximando-se, segundo Engels, em alguns momentos, das concepções especulativas modernas e até do ateísmo.
Munzer ensinava, sob formas cristãs, um panteísmo, rejeitando a Bíblia como revelação única e infalível. A verdadeira revelação viva é, dizia Munzer, a razão-revelação, que existe desde sempre, em todos os povos, e existe ainda. ( ….) “A fé não é mais do que a encarnação da razão no homem e é por isso que os pagãos podem também ter fé. Graças a essa fé a razão que se torna viva, o homem diviniza-se e santifica-se. É por isso que o céu não é algo que existe no além, é na nossa própria vida que é preciso procurá-lo; e a tarefa dos crentes é, precisamente, a de estabelecer esse céu, o reino de Deus na Terra”. ( p.133-134) . Para Munzer, “o reino de Deus era justamente uma sociedade em que não houvesse diferenças de classe, nem propriedade privada, nem poder de Estado estranho, autônomo, opondo-se aos membros da sociedade” (p. 135)
Esta concepção, bastante interessante, nos mostra como a religião pode não ser apenas uma forma de legitimação de uma ordem social injusta, mas também servir como elemento de protesto e tomada de consciência acerca das injustiças sociais, contribuindo para a mobilização e luta."
Tb pode ser encontrado no site
http://webtekk.org/ateismos/
"O texto de Engels sobre a guerra dos camponeses analisa o processo político ocorrido na Alemanha durante o período de transição do feudalismo ao capitalismo, marcado pela Reforma protestante. O autor inicia descrevendo os três grandes campos político-ideológicos existentes na Alemanha na época, quais sejam : o campo católico ou reacionário, o campo luterano burguês reformador e o campo revolucionário. O campo conservador católico agrupava todos os elementos interessados na manutenção da ordem existente: poder de Império, clero e uma parte dos príncipes seculares, nobreza rica, prelados e patriarcado das cidades; o partido da Reforma Luterano burguesa moderada agrupava os elementos proprietários da oposição, o conjunto da pequena burguesia, a burguesia, e mesmo a parte dos príncipes seculares que esperavam enriquecer pela confiscação dos bens da Igreja e queriam aproveitar a ocasião para conquistar maior independência em relação ao império; enfim, os camponeses e os plebeus constituíam o partido revolucionário, cujas reivindicações e doutrinas foram expressas mais nitidamente por Thomas Munzer (p. 123 – 124) .
A análise dos acontecimentos feita pelo autor vai evidenciando o papel que as idéias religiosas tiveram no contexto político. Em primeiro lugar, a importância da doutrina luterana, que, no início, foi ampla o bastante para agregar todas as forças de oposição. Entretanto, à proporção que o processo político se desenvolver, Lutero foi sendo cooptado pelos príncipes, afastando-se dos ideais da plebe. Quando a Guerra dos camponeses eclodiu, Lutero se esforçou para desempenhar o papel de mediador, mas acabou sucumbindo aos burgueses e príncipes, unidos contra o que consideravam “hordas camponesas de ladrões e assassinos”. (p. 128-129).
Munzer, cujas idéias se tornavam cada vez mais ousadas, separou-se da reforma burguesas e desempenhou, a partir daí, o papel de agitador político. É importante analisar o conteúdo da doutrina teológica e filosófica de Munzer, que se afastava da religião católica e até mesmo do cristianismo, aproximando-se, segundo Engels, em alguns momentos, das concepções especulativas modernas e até do ateísmo.
Munzer ensinava, sob formas cristãs, um panteísmo, rejeitando a Bíblia como revelação única e infalível. A verdadeira revelação viva é, dizia Munzer, a razão-revelação, que existe desde sempre, em todos os povos, e existe ainda. ( ….) “A fé não é mais do que a encarnação da razão no homem e é por isso que os pagãos podem também ter fé. Graças a essa fé a razão que se torna viva, o homem diviniza-se e santifica-se. É por isso que o céu não é algo que existe no além, é na nossa própria vida que é preciso procurá-lo; e a tarefa dos crentes é, precisamente, a de estabelecer esse céu, o reino de Deus na Terra”. ( p.133-134) . Para Munzer, “o reino de Deus era justamente uma sociedade em que não houvesse diferenças de classe, nem propriedade privada, nem poder de Estado estranho, autônomo, opondo-se aos membros da sociedade” (p. 135)
Esta concepção, bastante interessante, nos mostra como a religião pode não ser apenas uma forma de legitimação de uma ordem social injusta, mas também servir como elemento de protesto e tomada de consciência acerca das injustiças sociais, contribuindo para a mobilização e luta."
Tb pode ser encontrado no site
http://webtekk.org/ateismos/