Campanha antimanicomial?
Enviado: 27 Jan 2007, 10:57
Quando cheguei à Universidade e estive pela primeira vez na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, deparei-me, no mural, com um cartaz do Movimento Antimanicomial.
Apesar de, na época, eu ainda estar vivendo minha fase esquerdinha, levei um susto com a idéia da extinção dos manicômios - E fazer o que com os "maluquinhos" internados lá?
Campanhas assim eram comuns de se encontrar por toda a Universidade. Tempos depois, se espalhariam por lá caratazes com a foto de Bush e o bigodinho à la Adolfinho, e os dizeres "Campanha contra o totalitarismo na América", ou algo assim.
Era comum, mesmo, encontrar cartazes anti-alguma coisa.
Mas essa idéia, em especial, me era preocupante.
Algum tempo depois, assisti o filme Bicho de sete-cabeças, baseado na obra "Canto dos malditos", uma autobiografia de um indivíduo internado numa clínica psiquiátrica pelo pai, por conta do envolvimento com drogas. A sequencia mostra todas as crueldades a que é submetido no ambiente manicomial e como elas fizeram com que ele, que passava por um transtorno comportamental, quase se tornasse um louco de verdade.
Apesar de não curtir muito produções nacionais (pouquíssimas conseguiram prender a minha atenção), esta obra, especialmente, deixou-me impressionado...
[...]
Acabei tendo contato com duas realidades diversas que me deixaram ainda mais confuso com relação à questão:
Uma certa pessoa, de meu contato, passou por um quadro depressivo que se estendia por anos. Em dado momento, por conta do péssimo andamento que foi dado ao caso pelos profissionais responsáveis, a pessoa passou por um surto paranóico, quando chegou a tornar-se violenta com as pessoas ao seu redor.
Para encurtar a conversa, o quadro veio a ser solucionado, sobretudo, graças à disposição da família em enfrentar a situação, de forma que a pessoa hoje leva uma vida razoavelmente tranquila.
Fico imaginando se tivesse sido internada num manicômio... Decerto estaria lá até hoje.
O segundo caso, referia-se a uma senhora, que após a morte do marido e a saída da filha de casa, desenvolveu alguns trantornos.
Esta morava no mesmo bairro onde moro hoje.
Vivendo sozinha, passou a sair à rua vestida de trapos, a catar um monte de bagulhos na rua e levar para casa, a criar vários cachorros, fumar e beber excessivamente e até praticar pequenos furtos.
Os vizinhos, sentiram-se incomodados pelo acumulo de lixo na casa dela e com os cachorros (todos perebentos) que tentavam morder as pessoas. Deram uma queixa na saúde pública, que em nada resultou.
Por fim, conseguiram manter contato com a filha que veio e deu entrada para interná-la no sanatório. Porém, uma vez lá, a assistente social deu a maior bronca na filha, dizendo que o caso da senhora não era para internamento e que ela voltaria para casa.
Nessa situação eu já achava que uma intervenção pontual viria a calhar.
Voltando para casa, e mantendo os mesmos hábitos, a mulher adoeceu e veio a falecer em alguns meses.
Poderia-se atribuir a culpa à instituição que se recusou a dar o internamento?
[...]
A tal camapanha anti-manicomial parece ter eco, de forma que é hoje é extramamente difícil a realização de antendimentos emergenciais e internamento para pessoas que passam por distúrbios mentais.
Já eu acho, hoje, que para casos leves ou moderados o ideal é, sim, manter a pessoa com a família e prover os meios terapêuticos e medicamentosos para o tratamento.
Mas em casos graves, em que a pessoa apresenta risco à própria vida e saúde, ou a de outros, deve sim haver uso dos hospitais psiquiátricos, mas sua forma de atuação deve ser revista.
Não dá para colocar loucos (que maltratam, humilham e abusam sexualmente) para tomar conta de louco...
E vocês, o que pensam do assunto?
Apesar de, na época, eu ainda estar vivendo minha fase esquerdinha, levei um susto com a idéia da extinção dos manicômios - E fazer o que com os "maluquinhos" internados lá?
Campanhas assim eram comuns de se encontrar por toda a Universidade. Tempos depois, se espalhariam por lá caratazes com a foto de Bush e o bigodinho à la Adolfinho, e os dizeres "Campanha contra o totalitarismo na América", ou algo assim.
Era comum, mesmo, encontrar cartazes anti-alguma coisa.
Mas essa idéia, em especial, me era preocupante.
Algum tempo depois, assisti o filme Bicho de sete-cabeças, baseado na obra "Canto dos malditos", uma autobiografia de um indivíduo internado numa clínica psiquiátrica pelo pai, por conta do envolvimento com drogas. A sequencia mostra todas as crueldades a que é submetido no ambiente manicomial e como elas fizeram com que ele, que passava por um transtorno comportamental, quase se tornasse um louco de verdade.
Apesar de não curtir muito produções nacionais (pouquíssimas conseguiram prender a minha atenção), esta obra, especialmente, deixou-me impressionado...
[...]
Acabei tendo contato com duas realidades diversas que me deixaram ainda mais confuso com relação à questão:
Uma certa pessoa, de meu contato, passou por um quadro depressivo que se estendia por anos. Em dado momento, por conta do péssimo andamento que foi dado ao caso pelos profissionais responsáveis, a pessoa passou por um surto paranóico, quando chegou a tornar-se violenta com as pessoas ao seu redor.
Para encurtar a conversa, o quadro veio a ser solucionado, sobretudo, graças à disposição da família em enfrentar a situação, de forma que a pessoa hoje leva uma vida razoavelmente tranquila.
Fico imaginando se tivesse sido internada num manicômio... Decerto estaria lá até hoje.
O segundo caso, referia-se a uma senhora, que após a morte do marido e a saída da filha de casa, desenvolveu alguns trantornos.
Esta morava no mesmo bairro onde moro hoje.
Vivendo sozinha, passou a sair à rua vestida de trapos, a catar um monte de bagulhos na rua e levar para casa, a criar vários cachorros, fumar e beber excessivamente e até praticar pequenos furtos.
Os vizinhos, sentiram-se incomodados pelo acumulo de lixo na casa dela e com os cachorros (todos perebentos) que tentavam morder as pessoas. Deram uma queixa na saúde pública, que em nada resultou.
Por fim, conseguiram manter contato com a filha que veio e deu entrada para interná-la no sanatório. Porém, uma vez lá, a assistente social deu a maior bronca na filha, dizendo que o caso da senhora não era para internamento e que ela voltaria para casa.
Nessa situação eu já achava que uma intervenção pontual viria a calhar.
Voltando para casa, e mantendo os mesmos hábitos, a mulher adoeceu e veio a falecer em alguns meses.
Poderia-se atribuir a culpa à instituição que se recusou a dar o internamento?
[...]
A tal camapanha anti-manicomial parece ter eco, de forma que é hoje é extramamente difícil a realização de antendimentos emergenciais e internamento para pessoas que passam por distúrbios mentais.
Já eu acho, hoje, que para casos leves ou moderados o ideal é, sim, manter a pessoa com a família e prover os meios terapêuticos e medicamentosos para o tratamento.
Mas em casos graves, em que a pessoa apresenta risco à própria vida e saúde, ou a de outros, deve sim haver uso dos hospitais psiquiátricos, mas sua forma de atuação deve ser revista.
Não dá para colocar loucos (que maltratam, humilham e abusam sexualmente) para tomar conta de louco...
E vocês, o que pensam do assunto?