Tutsis e hutus: Guerra sem fronteiras.
Enviado: 05 Fev 2007, 23:11
Há alguns anos, quando se falava em Congo, o que vinha à mente era a República do Congo, nação africana de colonização francesa que tinha Brazzaville como capital. Isso mudou em 1997, e o nome Congo, que batiza um dos principais rios da África, passou a denominar também o país vizinho, a República Democrática do Congo(RDC). Confuso? Pois saiba que esse mesmo país, cuja capital é Kinshasa, já se chamou Congo Belga(foi colônia da Bélgica), República do Congo e Zaire.
A troca de nome é apenas uma das muitas mudanças que marcam a história recente da RDC. A nação tem sido palco da guerra mais sangrenta em solo africano. Isso acontece por uma combinação de vários fatores: as riquezas minerais existentes em seu território, as fronteiras arbritárias traçadas pelos colonialistas europeus e a grande heterogeneidade étnica(cerca de 200 etnias habitam o país). Alguns desses grupos se espalham por países vizinhos, como os tutsis(Ruanda, Burundi e Uganda) e os bacongos(Angola).
O conflito já somou 2,5 milhões de mortes. De acordo com o Comitê de Resgate Internacional, um número expressivo de mortes deve-se às doenças causadas pelas péssimas condições sanitárias.
Origens do conflito:
O destino da RDC começou a ser selado fora de suas fronteiras, com a eclosão, em 1994, da guerra civil entre tutsis e hutus, as duas etnias existêntes em Ruanda. Estima-se que mais de 1 milhão de hutus tenham deixado Ruanda em busca de refúgio em campos do leste da República Democrática do Congo, fugindo da repressão tutsi. Esse fluxo de refugiados sobrecarregou a infra-estrutura e abalou a estabilidade política da região, habitada por tutsis da tribo baniamulenge. Em 1996, esses se revoltaram contra o governo central, presidido pelo ditador Mobutu Sese Seko. A principal acusação era a de tolerar ações de milicianos hutus que treinavam para atacar o governo tutsi da Ruanda, além de incitar o ódio contra os tutsis baniamulenges. Mobutu havia assumido o poder em 1965 e promovido uma política de "africanização" do país, ao proibir o registro de nomes ocidentais ou cristãos. Assim, o país ganhou o nome de Zaire. A capital, antes chamada de Leopoldville - em homenagem ao rei belga Leopoldo II -, passou a chamar-se Kinshasa.
A rebelião tutsi ensejou a criação de um grande movimento anti-Mobutu, liderado por Larent Desiré Kabila. Sua guerrilha, organizada na Aliança das Forças Democráticas pela Libertação do Congo-Zaire (AFDL), ganhou simpatia em vários pontos do país. Com o apoio de Uganda e do regime tutsi de Ruanda, a AFDL entrou em Kinshasa em maio de 1997, sob os aplausos da população e sem resistência do Exército. O término da ditadura de Mobutu, no entando, não pacificou o país - rebatizado de República Democrática do Congo desde que Kabila assumiu a presidência.
Conflito internacional:
Divergências sobre a divisão do poder levaram Kabila a romper com os tutsis baniamulenges e, por extensão, com os antigos aliados - Ruanda e Uganda.
A nova fase da guerra começou em 1998, com um motim de oficiais baniamulenges no leste, que avançou para o oeste do território. Enfraquecido, Kabila recebeu socorro militar de Angola, do Zimbábue e da Namíbia. A guerrilha tutsi, por seu lado, contava com o reforço de Ruanda, Uganda e Burundi. Em poucos meses, o território da RDC estava dividido em duas zonas: uma, a oeste, controlada pelo governo, e outra, a leste, dominada pelos rebeldes tutsis.
O cenário tornou-se ainda mais caótico em 1999, quando Uganda e Ruanda passaram de aliados a oponentes. A ruptura dividiu o movimento rebelde tutsi na RDC em grupos fiéis a Ruanda ou Uganda.
O grande motivo da dicórdia foi a disputa pelas áreas produtoras de ouro, diamante e de outros minerais do Congo. Numa investigação das Nações Unidas(ONU), concluída em 2001; Ruanda e Uganda oram acusados de saquear as riquezas do país. O relatório cita ainda Burundi e Zimbábue - aliado de Kabila - como beneficiários das pilhagens.
Negociações de paz:
Embora o processo de paz entre os governos e as facções rebeldes congolesas tivesse sido iniciado em 1999, as conversações só progrediram em 2001. Em janeiro desse ano, com o assassinato de Laurent Kabila, seu filho, Joseph Kabila, assumiu a presidência, determinado a acabar com a guerra.
A intensidade dos combates diminuiu com novas rodadas de negociação. Uma missão de paz da ONU foi enviada ao país e relatou que praticamente não existiam mais soldados da Namíbia no Congo. Os confrontos, porém, não cessaram.
Em meio a avanços e recuos, o governo da RDC e o de Ruanda assinaram, em julho de 2002, um acordo decisivo para a pacificação do Congo. De um lado, Ruanda comprometeu-se a retirar em três meses todas as tropas da RDC. Em troca o governo da RDC deve desarmar e entregá-los a Ruanda os milicianos hutus instalados no leste do território congolês.
Responsável pelo genocídio de tutsis em Ruanda, em 1994, os milicianos hutus fugiram do país temendo represálias do governo tutsi instalado em Ruanda. Autoridades ruandesas acusam essas milícias de continuar atacando o território e justificam a intervenção militar na RDC como crucial para a segurança do país.
A troca de nome é apenas uma das muitas mudanças que marcam a história recente da RDC. A nação tem sido palco da guerra mais sangrenta em solo africano. Isso acontece por uma combinação de vários fatores: as riquezas minerais existentes em seu território, as fronteiras arbritárias traçadas pelos colonialistas europeus e a grande heterogeneidade étnica(cerca de 200 etnias habitam o país). Alguns desses grupos se espalham por países vizinhos, como os tutsis(Ruanda, Burundi e Uganda) e os bacongos(Angola).
O conflito já somou 2,5 milhões de mortes. De acordo com o Comitê de Resgate Internacional, um número expressivo de mortes deve-se às doenças causadas pelas péssimas condições sanitárias.
Origens do conflito:
O destino da RDC começou a ser selado fora de suas fronteiras, com a eclosão, em 1994, da guerra civil entre tutsis e hutus, as duas etnias existêntes em Ruanda. Estima-se que mais de 1 milhão de hutus tenham deixado Ruanda em busca de refúgio em campos do leste da República Democrática do Congo, fugindo da repressão tutsi. Esse fluxo de refugiados sobrecarregou a infra-estrutura e abalou a estabilidade política da região, habitada por tutsis da tribo baniamulenge. Em 1996, esses se revoltaram contra o governo central, presidido pelo ditador Mobutu Sese Seko. A principal acusação era a de tolerar ações de milicianos hutus que treinavam para atacar o governo tutsi da Ruanda, além de incitar o ódio contra os tutsis baniamulenges. Mobutu havia assumido o poder em 1965 e promovido uma política de "africanização" do país, ao proibir o registro de nomes ocidentais ou cristãos. Assim, o país ganhou o nome de Zaire. A capital, antes chamada de Leopoldville - em homenagem ao rei belga Leopoldo II -, passou a chamar-se Kinshasa.
A rebelião tutsi ensejou a criação de um grande movimento anti-Mobutu, liderado por Larent Desiré Kabila. Sua guerrilha, organizada na Aliança das Forças Democráticas pela Libertação do Congo-Zaire (AFDL), ganhou simpatia em vários pontos do país. Com o apoio de Uganda e do regime tutsi de Ruanda, a AFDL entrou em Kinshasa em maio de 1997, sob os aplausos da população e sem resistência do Exército. O término da ditadura de Mobutu, no entando, não pacificou o país - rebatizado de República Democrática do Congo desde que Kabila assumiu a presidência.
Conflito internacional:
Divergências sobre a divisão do poder levaram Kabila a romper com os tutsis baniamulenges e, por extensão, com os antigos aliados - Ruanda e Uganda.
A nova fase da guerra começou em 1998, com um motim de oficiais baniamulenges no leste, que avançou para o oeste do território. Enfraquecido, Kabila recebeu socorro militar de Angola, do Zimbábue e da Namíbia. A guerrilha tutsi, por seu lado, contava com o reforço de Ruanda, Uganda e Burundi. Em poucos meses, o território da RDC estava dividido em duas zonas: uma, a oeste, controlada pelo governo, e outra, a leste, dominada pelos rebeldes tutsis.
O cenário tornou-se ainda mais caótico em 1999, quando Uganda e Ruanda passaram de aliados a oponentes. A ruptura dividiu o movimento rebelde tutsi na RDC em grupos fiéis a Ruanda ou Uganda.
O grande motivo da dicórdia foi a disputa pelas áreas produtoras de ouro, diamante e de outros minerais do Congo. Numa investigação das Nações Unidas(ONU), concluída em 2001; Ruanda e Uganda oram acusados de saquear as riquezas do país. O relatório cita ainda Burundi e Zimbábue - aliado de Kabila - como beneficiários das pilhagens.
Negociações de paz:
Embora o processo de paz entre os governos e as facções rebeldes congolesas tivesse sido iniciado em 1999, as conversações só progrediram em 2001. Em janeiro desse ano, com o assassinato de Laurent Kabila, seu filho, Joseph Kabila, assumiu a presidência, determinado a acabar com a guerra.
A intensidade dos combates diminuiu com novas rodadas de negociação. Uma missão de paz da ONU foi enviada ao país e relatou que praticamente não existiam mais soldados da Namíbia no Congo. Os confrontos, porém, não cessaram.
Em meio a avanços e recuos, o governo da RDC e o de Ruanda assinaram, em julho de 2002, um acordo decisivo para a pacificação do Congo. De um lado, Ruanda comprometeu-se a retirar em três meses todas as tropas da RDC. Em troca o governo da RDC deve desarmar e entregá-los a Ruanda os milicianos hutus instalados no leste do território congolês.
Responsável pelo genocídio de tutsis em Ruanda, em 1994, os milicianos hutus fugiram do país temendo represálias do governo tutsi instalado em Ruanda. Autoridades ruandesas acusam essas milícias de continuar atacando o território e justificam a intervenção militar na RDC como crucial para a segurança do país.