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Cientistas treinam computador para ler pensamentos

Enviado: 11 Fev 2007, 17:02
por Johnny
SÃO PAULO - Um computador, treinado por cientistas para interpretar imagens de ressonância magnética do cérebro, é capaz de adivinhar o que você está pensando em fazer - mas, por enquanto, só se suas intenções se limitarem a fazer uma conta de somar ou subtrair.

No entanto, o cientista responsável pelo estudo, John-Dylan Haynes, do Instituto Max Planck da Alemanha, acredita que essa não é uma limitação essencial, e que no futuro será possível - se a sociedade quiser - ter máquinas capazes de ler vários tipos de pensamentos e intenções secretos, apenas acessando imagens o cérebro.

Haynes explica que o computador usado em sua pesquisa, descrita na edição de 20 de fevereiro do periódico Current Biology, foi preparado de forma semelhante aos sistemas usados para identificar impressões digitais. "Cada pensamento é associado com um padrão único de atividade cerebral, mais ou menos como cada indivíduo tem sua própria digital. Nós treinamos o computador para reconhecer as ´digitais cerebrais´ de pensamentos", diz ele.

Para executar a "leitura da mente", os cientistas pediram que voluntários optassem por uma de duas tarefas - somar ou subtrair números - se concentrassem na decisão e, depois, a executassem, ao ver os algarismos surgindo numa tela. Haynes e seus colegas afirmam que foram capazes de adivinhar a intenção dos voluntários com 70% de precisão, apenas analisando a atividade cerebral - antes mesmo que os números aparecessem.

Os voluntários escolheram a operação matemática em segredo, sem saber quais os números que seriam apresentados. Esse protocolo foi adotado para separar a atividade mental da tomada de decisão da de, efetivamente, fazer a conta, evitando erros de interpretação nos sinais captados pela ressonância magnética.


Entrevista de emprego
Embora prever que conta uma pessoa pretende fazer não seja exatamente como prever se alguém vai cometer um crime ou casar-se, Haynes diz que, "em princípio", o único limite para a capacidade do computador é "a necessidade de aprender os padrões associados a cada pensamento que se quer ler".

O cientista acredita que a tecnologia poderá se aplicar, até mesmo, a situações mais abertas, onde as pessoas se vêem confrontadas com mais de duas opções: "Já foi demonstrado que é possível ler mais de duas escolhas, pelo menos para sensações visuais simples. No caso (de nossa pesquisa) estávamos interessados em ter pensamentos extremamente simétricos, e somar e subtrair pareceram a escolha natural".

Uma primeira possibilidade de aplicação prática para o trabalho seria no desenvolvimento de sistemas de controle de próteses - por exemplo, um braço biônico capaz de ler o desejo de tomar um café diretamente na mente de seu usuário, e reagir de acordo.

Mas Haynes não descarta a viabilidade técnica de usos mais polêmicos, como identificar intenções criminosas, mais ou menos como se vê no filme Minority Report, de Steven Spielberg: "Em princípio, isso poderia ser possível, mas acho que dependeria de ter scanners mais sensíveis e móveis. Digamos, que caibam num boné". Aparelhos de ressonância magnética atuais pesam várias toneladas. O pesquisador, no entanto, leva a idéia um passo além: "Nos casos em que pudéssemos trazer os indivíduos até o scanner isso não seria relevante. Poderíamos trazer um criminoso até o scanner", pondera.

"A questão é se realmente queremos essas aplicações. Há aplicações boas, como interfaces para pacientes paralíticos. Mas há más aplicações concebíveis", reconhece o cientista, como usar a técnica em entrevistas de emprego para saber o que o candidato realmente pensa do novo patrão. "Tenho certeza de que todos concordam que não queremos isso. Precisamos de um debate público para decidir o que, como sociedade, queremos e não queremos fazer".

Enviado: 11 Fev 2007, 22:20
por Stéfano
Interessante o experimento. Em macacos, o brasileiro Miguel Nicolelis tem avançado bastante em algumas experiências nesse sentido, sendo capaz de prever (e até sugerir) pra qual lado o braço do macaco mexerá, com base em eletroencefalogramas.

Agora, totalmente absurda a declaração do cientista de que "em princípio" um sistema como o do Minority Report poderia se basear nisso. Uma coisa é você identificar que área do cérebro está ativada enquanto você pensa algo tão específico, outra (muito diferente) é prever atividades complexas com mais do que alguns segundos de diferença. Se houvesse alguma forma, não seria por esse método.

Re.: Cientistas treinam computador para ler pensamentos

Enviado: 12 Fev 2007, 06:19
por Johnny
Sei lá. Para que haja o pensamento, é necessário a predisposição de se pensar antes...

...ou não?

Enviado: 12 Fev 2007, 11:37
por Stéfano
Sim, mas veja o seguinte. Poderíamos, hipoteticamente, registrar em um eletroencefalograma a decisão de uma pessoa cometer ou não um crime muito específico (roubar uma bolsa, digamos). Isso nos permitiria predizer, com no máximo segundos de antecedência, se tal crime irá ou não ocorrer. Mas é só porque a "decisão", de fato, já foi tomada; nada foi "predito", foi apenas registrado antes de acontecer. Talvez antes de chegar à consciência, o que seria interessante. Mas certamente não mais que alguns instantes antes do ato, o que não serve pra nada.

Ah, e isso sem mencionar duas coisas: a viabilidade de acessar decisões mais complexas do que uma decisão simples como essa do estudo e a altíssima taxa de erro. 70% é significativo, mas está longe de ser verdadeiramente preditivo.

Re.: Cientistas treinam computador para ler pensamentos

Enviado: 13 Fev 2007, 12:05
por Fernando Silva
Provavelmente não servirá para fazer previsões, mas seria interessante se verificar se uma decisão é tomada pelo cérebro antes que a pessoa se dê conta de que a tomou (o que acabaria, em parte ou totalmente, com a idéia de livre arbítrio).

Certamente terá aplicações úteis:
-Permitir a deficientes físicos acionar coisas pelo pensamento.
-Permitir que se use um computador sem teclado e mouse (mesmo sem ser deficiente). Aliás, isto já é possível, embora de forma ainda tosca.
-Acabar com a crença de que a consciência é independente do corpo.