O Não Juramento de um Jovem Evangélico
Enviado: 22 Fev 2007, 23:49
O Não Juramento de um Jovem Evangélico
Por Acauan
Quando jurei, perante minha bandeira, defender a honra, a integridade e as instituições de meu país com o sacrifício da própria vida, apesar de muito jovem tinha plena consciência de que aquele ato implicava, para mim, em um compromisso solene, ao qual estaria vinculado por toda vida.
O significado daquele juramento junto aos meus companheiros variava conforme os valores pessoais de cada um, sendo que os que eu acalentava pessoalmente eram os mesmos que me foram ensinados por meu pai, que os aprendera dos pais dele e estes dos seus, numa seqüência mantida por tantas gerações quantas sabíamos quem éramos.
Muitos anos depois observei o testemunho de um jovem evangélico que declarava, com indisfarçável orgulho, ter ludibriado a exigência legal de prestar o juramento à bandeira para obter o certificado de reservista, simplesmente trocando as palavras "eu juro", que iniciariam o rito, por "eu não juro".
Como esperado nos testemunhos evangélicos, a narrativa é inconsistente, dado que o juramento à bandeira prestado pelos incorporados ou dispensados pelo exército brasileiro não contém a palavra "juro" e sim "prometo".
Deixado de lado este detalhe, fica a questão do porque um jovem religioso cristão sentir tanto orgulho em ludibriar a lei brasileira para obter um documento que lhe garantia as benesses da cidadania, a ponto de vangloriar-se do ato perante seus correligionários de crença.
Não que haja alguma dúvida sobre os motivos doutrinários que indispõem várias facções evangélicas contra qualquer tipo de juramento, dado que se sentem obrigados a obedecer às passagens bíblicas que podem ser interpretadas como restrições ao ato de jurar, como a de Mateus 5:
Não contesto o desinteresse com que muitos jovens, chamados compulsoriamente a prestar um juramento no qual não acreditavam, cumpriam aquela obrigação de modo tão burocrático quanto requisitado por aqueles que carimbariam os papéis que buscavam após satisfazer aos requisitos.
O curioso é ver alguém ostentar uma ludibriada nas regras cívicas como um ato de superioridade moral. Pior, superioridade moral de inspiração divina.
Até entenderia que tal postura tivesse algum significado maior se aquele jovem se dispusesse a abrir mão dos documentos disponibilizados por conta de sua recusa em fazer o juramento para cumprir com suas convicções religiosas.
O problema é que a disposição manifesta dele era de cumprir seus requisitos religiosos, descumprir os requisitos cívicos e usufruir das benesses de cidadania atreladas a estes requisitos.
Assim é fácil ostentar convicções religiosas e superioridade moral.
Talvez no meio que doutrina aquele jovem tal postura seja regra, talvez exceção.
Em minha opinião, como dizia alguém, se queres um monumento, olha em torno.
Por Acauan
Quando jurei, perante minha bandeira, defender a honra, a integridade e as instituições de meu país com o sacrifício da própria vida, apesar de muito jovem tinha plena consciência de que aquele ato implicava, para mim, em um compromisso solene, ao qual estaria vinculado por toda vida.
O significado daquele juramento junto aos meus companheiros variava conforme os valores pessoais de cada um, sendo que os que eu acalentava pessoalmente eram os mesmos que me foram ensinados por meu pai, que os aprendera dos pais dele e estes dos seus, numa seqüência mantida por tantas gerações quantas sabíamos quem éramos.
Muitos anos depois observei o testemunho de um jovem evangélico que declarava, com indisfarçável orgulho, ter ludibriado a exigência legal de prestar o juramento à bandeira para obter o certificado de reservista, simplesmente trocando as palavras "eu juro", que iniciariam o rito, por "eu não juro".
Como esperado nos testemunhos evangélicos, a narrativa é inconsistente, dado que o juramento à bandeira prestado pelos incorporados ou dispensados pelo exército brasileiro não contém a palavra "juro" e sim "prometo".
Deixado de lado este detalhe, fica a questão do porque um jovem religioso cristão sentir tanto orgulho em ludibriar a lei brasileira para obter um documento que lhe garantia as benesses da cidadania, a ponto de vangloriar-se do ato perante seus correligionários de crença.
Não que haja alguma dúvida sobre os motivos doutrinários que indispõem várias facções evangélicas contra qualquer tipo de juramento, dado que se sentem obrigados a obedecer às passagens bíblicas que podem ser interpretadas como restrições ao ato de jurar, como a de Mateus 5:
Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis; nem pelo céu, por ser o trono de Deus; nem pela terra, por ser estrado de seus pés; nem por Jerusalém, por ser cidade do grande Rei; nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno.
Mateus 5:34-37
Não contesto o desinteresse com que muitos jovens, chamados compulsoriamente a prestar um juramento no qual não acreditavam, cumpriam aquela obrigação de modo tão burocrático quanto requisitado por aqueles que carimbariam os papéis que buscavam após satisfazer aos requisitos.
O curioso é ver alguém ostentar uma ludibriada nas regras cívicas como um ato de superioridade moral. Pior, superioridade moral de inspiração divina.
Até entenderia que tal postura tivesse algum significado maior se aquele jovem se dispusesse a abrir mão dos documentos disponibilizados por conta de sua recusa em fazer o juramento para cumprir com suas convicções religiosas.
O problema é que a disposição manifesta dele era de cumprir seus requisitos religiosos, descumprir os requisitos cívicos e usufruir das benesses de cidadania atreladas a estes requisitos.
Assim é fácil ostentar convicções religiosas e superioridade moral.
Talvez no meio que doutrina aquele jovem tal postura seja regra, talvez exceção.
Em minha opinião, como dizia alguém, se queres um monumento, olha em torno.