Segundo a psicologia evolucionista, temos uma espécie de altruísmo inato pelos familiares, pois com estes partilhamos nosses genes. E até por esses o altruísmo varia conforme o grau de parentesco
O ponto que o autor aborda é sobre a evolução do altruísmo fora do âmbito familiar, o que se chamaria de altruísmo recíproco. o único que poderia evoluir com não-parentes, pois um altruísmo puro seria vulnerável a invasão de egoístas que prosperariam desfrutando as boas ações dos outros sem dar nada em troca até dominarem a população. No altruísmo recíproco, os retribuidores que ajudam a quem os ajudou e que evitam ou punem quem deixou de ajudá-los usufruirão os benefícios de ganhos e trocas, predominando sobre os individualistas e os altruístas puros.
Raiva, vergonha, gratidão, culpa, solidariedade, seriam emoções que teriam se desenvolvido através desse altruísmo recíproco.
A nossa própria capacidade para memorizar rostos também seria uma maneira de detectar quem nos fizeram favores e quem deixou de fazer. (arrisco dizer que não temos nem 1% da mesma capacidade para reconhecer corpos. Da cabeça pra baixo todos parecem tão iguais. Ou são bonitos, ou feios. Ninguém vê o corpo de uma modelo famosa na revista e a reconhece na hora[às vezes nem o da esposa], mas a infinidade de rostos que temos gravados é absurda. Só o que temos guardado na cabeça tirado do cinema já dá pra notar que algo em nosso cérebro trata os rostos de maneira diferente do restante. E por mais parecidos que sejam alguns rostos, também as pequenas diferenças são auto-evidentes)
Esse altruísmo recíproco teria se tornado então bem mais complexo do que apenas fazer um toma-lá-da-cá com as pessoas com quem nos relacionamos. seria ele então a origem do nosso sendo moral e de justiça, entre outros
Então, de acordo com a teoria do altruísmo recíproco, não seríamos então nem completamente egoístas a ponto de sempre estar se danando com o que fazemos aos outros desde que beneficie a nós mesmos, e nem completamente coletivistas do tipo compartilhar e ser feliz(isso é óbvio, mas necessário reiterar para aqueles que gostam de se apegar a um dos dois extremos)
A questão é que a seleção natural tende a tornar os membros de uma espécie parecidos em suas características adaptativas, pois qualquer versão de uma característica que seja melhor do que as demais será selecionada. Por isso, pela abordagem da psicologia evolucionista, as semelhanças entre as pessoas são atribuídas a evolução, as diferenças sistemáticas, a uma soma de outros fatores como a cultura e o ambiente(ah sim, os genes não são tão deterministas), e diferenças aleatórias aos genes. Seguindo essa linha de raciocínio todas as pessoas tenderiam a ter o mesmo grau de altruísmo/egoísmo.
Mas a teoria do altruísmo recíproco trouxe uma nova possibilidade. A exceção à regra de que a seleção reduz a variabilidade viria à tona quando a melhor estratégia depende do que os outros organismos estão fazendo. Esse caso ímpar de seleção receberia o nome de seleção dependente de freqüência. Através dela seria possível ocorrer variações da estratégia, com pessoas tendendo a ser mais egoístas, sobrevivendo às custas de um altruísmo recíproco dominante nas pessoas.
Vou transcrever aqui um trecho:
temos um paralelo intrigante. No mundo real, as pessoas diferem geneticamente em suas tendências egoístas. E em modelos da evolução do altruísmo podem evoluir diferenças nas tendências egoístas dos agentes. Isso poderia ser concidência, mas provavelmente não é. Vários biólogos citaram indícios de que a psicopatia é uma estratégia de trapaça que evoluiu pela seleção dependente de freqüência. Análises estatísticas mostram que um psicopata, em vez de meramente encontrar-se no extremo de um continuum para uma ou duas características, apresenta um agrupamento distinto de características(ele é exteriormente sedutor, impulsivo, irresponsável, insensível, embusteiro, explorador, e não sente culpa) que o diferencia do resto da população. E muitos psicopatas não apresentam nenhuma das sutis anormalidades físicas produzidas por perturbação biológica, o que indica que a psicopatia nem sempre é um erro biológico. A psicóloga Linda Mealey afirmou que a seleção dependente de freqüência produziu pelo menos dois tipos de psicopata. Um deles consiste em pessoas que são geneticamente predispostas à psicopatia independente do modo como crescem. O outro tipo consiste em pessoas que são predispostas à psicopatia apenas em certas circunstâncias, ou seja, quando se julgam em desvantagem competitiva na sociedade e se encontram à vontade em um grupo de iguais anti-sociais[...]. Os psicopatas, pelo que sabemos, não podem ser curados. De fato, a psicóloga Marnie Rice mostrou que certas idéias temerárias para terapia, como aumentar a auto-estima deles e ensinar-lhes habilidades sociais, podem torná-los ainda mais perigosos. Mas isso não significa que não haja nada que possamos fazer com relação a eles. Por exemplo, Mealey demonstra que, dos dois tipos de psicopatas que ela distinguiu, os psicopatas inveterados não se comovem com programas que tentam levá-los a avaliar o mal que fizeram, mas podem ser responsivos a punições mais firmes que os induzam a comportar-se com mais responsabilidade por puro auto-interesse. Os psicopatas condicionais, por outro lado, podem responder melhor a mudanças sociais que os impeçam de escorregar pelas rachaduras da sociedade. Sejam ou não essas as melhores prescrições, são exemplos de como a ciência e as políticas podem lidar com um problema que muitos intelectuais tentaram fingir que não existia no século XX mas que há muito tempo é uma preocupação de toda religião, filosofia, e ficção. A existência do mal.
Achei interessante como essa abordagem vai de encontro às teses da direita e esquerda radicais. Ou, na verdade, concilia as duas. E talvez aí esteja a resposta praquela velha indagação da direita: porque nem todos os pobres tornam-se criminosos?