Fernando escreveu:Dante, the Wicked escreveu:Fala sério, Fernando, eu só falei isto porque você insistiu em ficar explicando o gênio maligno como se eu não o entendesse.
O que eu estou falando é que esta hipótese do gênio malígno é tão incognoscível ao intelecto humano quanto "círculos quadrados", pois:
a) Os elementos matemáticos são entidades puramente intelectuais. Ou seja, não existem fora do intelecto.
b) Assim sendo, a certeza que temos das propriedades destes elementos não provém de outra fonte que não a necessidade de inteligirmos estes elementos com estas propriedades e a impossibilidade de inteligirmos estes com outras.
c) Supor o gênio maligno seria supor que poderíamos inteligir de outra forma, o que é ininteligivel. Além do mais, seria supor infinitas ininteligibilidades.
Não é lícito para a investigação filosófica ficar supondo incognocibilidades. Qual o limite disto? A conveniência? É isto que eu vejo em Descartes. Se é lícito supor que 2+2=4 talvez seja falso, então é lícito supor "penso, mas não existo".
Dante,
Agora sim vc argumentou. É isso que eu espero de vc.
A analogia que vc fez não é boa. Pois a matemática não é uma ciência intelectual pois trabalha com objetos abstratos. Portanto ela é uma ciência abstrata.Se as definições dos objetos matemáticos forem outras, os axiomas serão outros, e as proposições e as demonstrações serão totalmente outras. A prova mais concreta disso é a geometria não-euclidiana.
No entanto o gênio malígno não questiona nossos conhecimentos abstratos, ele questiona a nossa capacidade de conhecer a realidade.
Vejamos um exemplo. Se procurássemos descrever a realidade com a geometria euclidiana, mas a única forma correta de descrevê-la fosse com a geometria não-euclidiana, e se houvesse um Gênio Maligno que bloqueasse algo na nossa razão para que não conhecêssemos a geometria não-euclidiana. Não descreveríamos a realidade errando, achando que estríamos acertando?
Este é o ponto. Se nos mantermos no nível de abstrações nunca chegaremos ao verdadeiro problema, que é saber se o nosso conhecimento da realidade é possível ou não.
Não é tão simples assim. As geometrias não-euclidianas sugiram do exercício intelectual de supor um quinto postulado (o das paralelas) distinto daquele presente no
Elementos de Euclides.
Posteriormente perceberam que estes postulados levam a teoremas que descrevem uma geometria feita sobre a superfície (interna ou externa) de uma esfera ou esferóide.
Ainda assim, dados certos princípios, a cognição está obrigada a aceitar necessáriamente certos teoremas e negar outros.
Quanto a você chamar matemática de "ciência abstrata", gostaria que você esclarecesse isto. Ao meu ver existe dois tipos de ciência: empírica e formal. A matemática é o segundo caso.
Quanto ao que você disse sobre o G.M.:
"No entanto o gênio malígno não questiona nossos conhecimentos abstratos"
ao meu ver não está de acordo com o seguinte trecho do Discurso do Método:
"E, por existirem homens que se enganam ao raciocinar, mesmo no que se refere às mais simples noções de geometria, e cometem paralogismos, rejeitei como falsas, achando que
estava sujeito a me enganar como qualquer outro, todas as razões que eu tomara até então por demonstrações."