Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

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Pug
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Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

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Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

Cultura > Literatura - 25/05/2006 | José Steinsleger
http://www.jornada.unam.mx/2006/05/24/028a2pol.php
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Na quantidade de textos e documentos que circulam no ciber espaço, chegou às minhas mãos um documento da Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP), que começa assim:

“A mossad (agência de espionagem de Israel) com a participação dos ocupantes americanos no Iraque, conseguiu até ao momento assassinar 350 cientistas nucleares iraquianos e mais de 200 professores universitários dos diferentes campos científicos, segundo informação do Departamento de Estado dos Estados Unidos.”

A atroz densidade da denúncia e a impossibilidade de confirmar a fonte levou-me a guardar o documento, tomando com aspas as afirmações de um grupo politico com interesse directo nos assuntos que comenta. Mas em Fevereiro passado, uma informação semelhante, de fonte mais credível, assegura:

“O Pentágono gastou 3 milhões de dólares para criar os “esquadrões da morte” que poderiam estar por trás dos assassinatos de docentes…”
Numa lista actualizada até 14 de Março passado, o Comité de Solidariedade com o Iraque, do Tribunal de Bruxelas, precisa as circunstâncias em que foram torturados e assassinados 141 professores de várias instituições e centros de ensino superior: Universidade de Bagdad, al-Mustansiriya, Tecnológica e al Bahrein, todas da capital iraquiana: Hilla (Babilónia), Mosul (Ninive), Diwaniya (Quadisiya), Instituto Técnico, e de Basora (Basora), Saladino (Tikrit), Baquba (Diyala), Ramada (Al-Anbar), Kufa (Nayaf), Mosul (Mosul), entre outras instituições académicas.

Quanto à situação em que, intelectualmente, seja o país mais avançado do Islão, o redactor desta informação, Dick Adriansens, diz:

“O pessoal universitário está desesperado”. A lista inclui nomes, apelidos, e direcções de reitores, decanos, biólogos, sociólogos, médicos, historiadores, filólogos, físicos, engenheiros, pediatras, linguistas, geógrafos, economistas, educadores e cientistas nucleares que, lamentavelmente, já não poderão colaborar com o novo “governo democrático do Iraque”.

Por seu lado, o Sindicato dos Jornalistas do Iraque, ofereceu uma relação actualizada no passado dia 4 de Maio, de 109 filiados assassinados em diferentes situações.

Ambas estas informações empatam com o apresentado pelo columbiano Fernando Baez, o qual em Maio de 2003 visitou o Iraque com uma comissão da UNESCO.

Baez é biblioclastiólogo (de biblioclastia), nome que os gregos davam à destruição de livros. Só a Biblioteca Nacional de Bagdad (três pisos uniformes de 10 mil 240 m2 construidos em 1977) perdeu com os bombardeamentos mais de um milhão de volumes, dezenas de milhões de documentos impressos, a quase totalidade dos arquivos micro filmados e do Arquivo Nacional do Iraque.

O perito interroga-se:

Por que é que as tropas de ocupação fizeram vista grossa com os saqueadores das grandes bibliotecas do país?

Quem organizou os grupos de civis com apoio externo, que no meio do caos, do fumo e das chamas entraram nos recintos climatizados que guardavam os manuscritos mais importantes, pergaminhos, peças e tábuas de argila 2 mil anos mais antigas que o reino de David?

O director anterior da Biblioteca de Bagdad lamentou-se com nostalgia: “Não me lembro de semelhante barbaridade desde os tempos dos mongóis” (1258, invasão de Bagdad, quando as tropas de Hulagu, descendente de Gengis Kan, destruíram todos os seus livros, deitando-os ao rio Tigre).

O líder xiita Al Sajid Abdul-Muncin al-Mussawi ordenou aos seus fiéis resgatar dos bárbaros quase 300 mil livros que se transportaram em camiões até à mesquita de Haq, “…onde se amontoaram em fileiras intermináveis que chegam nalguns casos ao tecto”.

«Concluída a pilhagem selvagem - acrescenta Baéz – não havia literalmente nada para fazer. O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Donal Rumsfeld, à maneira de desculpa perante estes feitos comentou: “as pessoas livres são livres de cometerem actos e isso não se pode impedir”».

Entre aqueles que cometem “actos” livremente há não só militares e saqueadores. Os criminosos de guerra também contam com o apoio implícito de intelectuais “livres” como Salman Rushdie, Oriana Fallaci, Martin Amis, Bernard-Henry Levy, Michel Houellebecq, Giobanni Sartori e outros que, com o único fim de vender mais livros, ignoram a consciência que a primeira destruição de livros do século XXI ocorreu na nação onde teve lugar a invenção do livro, em 3.200 antes de Cristo.
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Samael
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Re.: Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

Mensagem por Samael »

Bom, já conversamos informalmente o que eu acho sobre essa questão. Vale a pena deixar outrém se manifestar. :emoticon1:

Leo
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Re.: Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

Mensagem por Leo »

Merda! Estão matando geógrafos!!!

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Azathoth
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Re.: Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

Mensagem por Azathoth »

Ah! É o Leo Vieira. Agora descobri.
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user f.k.a. Cabeção
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Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP)


A fonte desse documento já é sua refutação. Qual a credibilidade de uma organização terrorista fundada por um escroque como Yasser Arafat?

Ou daqui a pouco usaram pareceres da AlQaeda, do Hamas e do Hezbollah para sustentar suas pífias argumentações...
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Samael
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Mensagem por Samael »

É uma parte envolvida. Ou alguém confiaria, da mesma forma, nas fontes americanas? Não sei se é verdade. Caso seja, e muito tem se falado nesse assunto, sejam fontes totalmente parciais ou não, vale a pena se averigüar.

E, escroque por escroque, o de Israel ao menos não tinha aquele gorro tão chique! :emoticon12:

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O ENCOSTO
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Re.: Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

Mensagem por O ENCOSTO »

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Esse cara deve ter tirado isso da mesma fonte imparcial que diz que Jacques Cousteau virou maometano.

Estranho é não aparecer noticias de fontes imparciais. Tem um monte de paises com muito mais credibilidade e que apoiam os arabes por motivos economicos: Russia, China, etc.

A CIA, NASA ou Coca Cola comprou os jornalistas desses paises?
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user f.k.a. Cabeção
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Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Samael escreveu:É uma parte envolvida. Ou alguém confiaria, da mesma forma, nas fontes americanas? Não sei se é verdade. Caso seja, e muito tem se falado nesse assunto, sejam fontes totalmente parciais ou não, vale a pena se averigüar.

E, escroque por escroque, o de Israel ao menos não tinha aquele gorro tão chique! :emoticon12:



Então você assume que dá mais credibilidade a fontes como à AlQaeda e congêneres do que à Casa Branca?

E ainda se considera ideologicamente neutro?
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Aranha
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Mensagem por Aranha »

user f.k.a. Cabeção escreveu:
Samael escreveu:É uma parte envolvida. Ou alguém confiaria, da mesma forma, nas fontes americanas? Não sei se é verdade. Caso seja, e muito tem se falado nesse assunto, sejam fontes totalmente parciais ou não, vale a pena se averigüar.

E, escroque por escroque, o de Israel ao menos não tinha aquele gorro tão chique! :emoticon12:



Então você assume que dá mais credibilidade a fontes como à AlQaeda e congêneres do que à Casa Branca?

E ainda se considera ideologicamente neutro?


- O Cabeção tem razão em afirmar que a fonte (FDLP) tira a credibilidade do documento, mas por outro lado temos que admitir que a casa branca perdeu completamente a credibilidade depois da mentira deslavada das armas de destruição em massa que nunca foram encontradas.

Abraços,
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Capitão América
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Re.: Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

Mensagem por Capitão América »

Nunca foram encontradas porque devem estar enterradas no meio de um deserto do tamanho do Brasil. Ou em território Iraniano. Ou foram devolvidas aos russos-soviéticos...
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karas
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Re.: Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

Mensagem por karas »

é isso aí,capitão. esses anti-americanos e comunistóides babosos nunca se preocuparam em especular a hipótese da ocultação das armas.

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Jack Torrance
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Re: Re.: Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

Mensagem por Jack Torrance »

Capitão América escreveu:Nunca foram encontradas porque devem estar enterradas no meio de um deserto do tamanho do Brasil. Ou em território Iraniano. Ou foram devolvidas aos russos-soviéticos...


:emoticon266:
“No BOPE tem guerreiros que matam guerrilheiros, a faca entre os dentes esfolam eles inteiros, matam, esfolam, sempre com o seu fuzil, no BOPE tem guerreiros que acreditam no Brasil.”

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Capitão América
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Re.: Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

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Aranha
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Re: Re.: Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

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Capitão América escreveu:Nunca foram encontradas porque devem estar enterradas no meio de um deserto do tamanho do Brasil. Ou em território Iraniano. Ou foram devolvidas aos russos-soviéticos...



- Grande defesa, se o Bush te contratar como advogado ele tá FODIDO!!!
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Jack Torrance
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Re: Re.: Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

Mensagem por Jack Torrance »

Capitão América escreveu:Imagem


Será que eu queimei a língua? :emoticon5:
“No BOPE tem guerreiros que matam guerrilheiros, a faca entre os dentes esfolam eles inteiros, matam, esfolam, sempre com o seu fuzil, no BOPE tem guerreiros que acreditam no Brasil.”

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karas
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Re.: Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

Mensagem por karas »

não fale assim desse grande patriota, onde estão seus argumentos para derrubar a hipótese de ocultação das armas???

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Capitão América
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Re.: Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

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Re: Re.: Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

Mensagem por Aranha »

Capitão América escreveu:Imagem

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- Dãããããã, é claro que os iraquianos tiveram que ocultar aviões e tanques para não serem abatidos em solo pelos "ataques cirúrgicos" americanos, isso todo mundo sabe, agora mostra as fotos das armas de destruição em massa por favor.

Abraços,
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Capitão América
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Re.: Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

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Leo
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Re: Re.: Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

Mensagem por Leo »

Capitão América escreveu:Nunca foram encontradas porque devem estar enterradas no meio de um deserto do tamanho do Brasil. Ou em território Iraniano. Ou foram devolvidas aos russos-soviéticos...


É verdade. Inclusive eu suspeito de que essas bombas estejam escondidas aqui mesmo no Brasil. Tudo isso é um plano orquestrado pelo novo eixo terrorista internacional São Paulo-Bogotá-Teerã.

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Pug
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Re.: Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

Mensagem por Pug »

Confirma-se o que pensava, sobre quais as respostas que iriam ser dadas.

:emoticon13:
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spink
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EntreLivros


DA BIBLIOTECA PARA A FOGUEIRA
Razões políticas, religiosas e morais têm levado os livros à destruição desde sua origem, na Mesopotâmia, até os dias atuais, como no saque à Biblioteca de Bagdá

Por José Castello


Livros são potencialmente perigosos e, por isso, devem ser destruídos. A repulsiva idéia, que o escritor italiano Umberto Eco desenvolveu, de forma impecável, em seu popular romance O nome da rosa, de 1981, é na verdade muito antiga. Surgiu com os próprios livros, que aparecem pela primeira vez, feitos em argila, na Suméria, Mesopotâmia, onde é hoje o sul do Iraque. Guerras sucessivas os destruíram - perto de 100 mil deles, estimam os historiadores. Ainda assim, expedições arqueológicas desenterraram tabletas de argila que datam dessa época. Desde esses tempos remotos, o livro – em suas primeiras formas, tabletas, depois papiros, pergaminhos – está, sempre, sob ameaça.

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A saga dessas agressões é relatada em História universal da destruição dos livros, do escritor venezuelano Fernando Báez. “Os que queimam livros acabam queimando homens”, escreveu o poeta Heinrich Heine. A história prova que sim. Báez participou da comissão da Unesco que, em março de 2003, visitou o Iraque depois da invasão americana, para investigar a devastação da Biblioteca Nacional de Bagdá. Ela sofreu dois ataques com bombas e mísseis, seguidos de dois violentos saques. Todo o acervo desapareceu. Tabletas de argila dos sumérios, de 5.300 anos, foram roubadas das vitrines.

“Mas a destruição da Biblioteca Nacional não teve a repercussão mundial da pilhagem do Museu Arqueológico de Bagdá”, Báez lamenta. Em um café da capital, a poucas quadras da biblioteca, ele ouviu o desabafo de um professor iraquiano. “Nossa memória já não existe.” A destruição de livros vem de muito longe. Em 1975, arqueólogos escavaram, a 55 km a sudoeste de Alepo, na Síria, os restos de um antigo palácio. O que encontraram? Uma biblioteca enterrada, com um acervo de 15 mil tabletas. A destruição foi conseqüência de um ataque militar inimigo, a respeito do qual os historiadores, ainda hoje, se encontram divididos; uns o atribuem ao rei acadiano Naramsin, outros ao rei Sargão. Três mil anos antes de Cristo, livros já eram dizimados pela guerra.

A devastação continuou, por volta de 2000 a.C., em uma região governada pelo rei Hamurabi, que é, hoje, o sul de Bagdá. Em 689 a.C., as tropas de Senaquerib arrasaram a Babiblônia. Seu neto, o soberano assírio Assurbanipal, o primeiro grande colecionador de livros do mundo antigo, fundou, em Ninive, outra esplêndida biblioteca, arrasada ela também décadas depois. De seus restos, no século XIX, arqueólogos desencavaram mais de 20 mil tabletas, hoje guardadas no Museu Britânico. No início do século XX, arqueólogos desenterraram na antiga Hattusa, a capital dos hititas, mais de 10 mil tabletas escritas, em pelo menos oito línguas diferentes. Também a biblioteca do Ramesseum, o templo que Ramsés II construiu em Tebas para lhe servir de túmulo, desapareceu com seus rolos de papiros esotéricos.

Depois de Ramsés II, o faraó monoteísta Akhnatón mandou queimar milhares de papiros, porque eles falavam de espectros e demiurgos. A destruição de livros continuou na Grécia Antiga. Estima-se que 75% de toda a literatura, filosofia e ciência antiga se perderam. Das 120 obras incluídas no catálogo de Sófocles, hoje só temos a versão integral de sete, e um monte de fragmentos. “O horror é ainda maior”, lembra Báez. “Todos os pré-socráticos e todos os sofistas estão em fragmentos.” É a história em pedaços. Um dos momentos mais brutais foi o da destruição da Biblioteca de Alexandria, com um acervo que se aproximava do milhão de livros. Durante a metade de um ano, papiros contendo textos de Hesíodo, Platão, Górgias e Safo, entre tantos outros autores, foram usados para acender o fogo dos banhos públicos da cidade.

Centenas de obras da biblioteca de Aristóteles desapareceram quando da morte repentina de Alexandre Magno, de quem ele foi tutor. O fato mais grave é a perda do segundo livro de sua Poética, dedicado ao estudo da comédia. Em O nome da rosa, Umberto Eco propõe a versão de que ele foi destruído progressivamente pela Igreja Católica, para conter a influência do humor. Báez suspeita que a Poética tenha sido, na verdade, destruída pelo desleixo. Um dos momentos maiores da história de Israel é a destruição das Tábuas da Lei. O Êxodo diz que foi o próprio Moisés quem, em um acesso de cólera, as destruiu. A descoberta, em 1947, por jovens beduínos, dos célebres Manuscritos do Mar Morto, revelou a primeira coleção conhecida de livros do Antigo Testamento.

Até hoje eles provocam a polêmica, o que leva Báez a concluir que “os teólogos não parecem preparados para admitir a existência de Cristo para além da fé”. Um Cristo nos livros. A perseguição religiosa é universal. Na China, houve a caça aos textos budistas. Em 1900, em grutas em meio ao deserto de Gobi, foram encontrados milhares de textos sagrados do budismo, muitos em bom estado, mas outros em fragmentos, que lá estiveram adormecidos ao longo de 1500 anos. São Paulo lutou contra o que considerava “livros mágicos”. Em uma visita a Éfeso, levou os magos da cidade a queimarem voluntariamente seus livros, para que não caíssem nas mãos dos cristãos. “O desaparecimento dos escritos dos gnósticos, causado, em grande parte, pela feroz perseguição da Igreja Católica, merece um livro só para si”, Báez comenta.

Vínculo mais direto com a cultura grega clássica, o Império Bizantino preservou os escritos de Platão, Aristóteles, Heródoto e Arquimedes. Lá, nos século II e III, surgiu um novo formato de livro, o códice, mais resistente, feito de pele de cabra, ou de ovelha. Ainda assim, em 1204, quando a Quarta Cruzada chegou a Constantinopla, milhares de manuscritos foram destroçados. O feroz ataque das tropas turcas em 1453 também levou à destruição de milhares de livros. “Houve um momento em que todo o continente europeu ficou literalmente sem bibliotecas”, Báez recorda. Nos séculos V e VI, copiar e ler eram atividades pouco usuais, quase secretas. Se os clássicos gregos sobreviveram em Bizâncio, os clássicos latinos e celtas foram salvos, em grande parte, pelos monges da Irlanda.

Foi Carlos Magno, o rei dos francos, quem, no século VIII, estimulou os bispos a fundar escolas e bibliotecas. Nada disso conteve a destruição. Abelardo – que foi castrado por seu amor proibido por Heloisa – teve a obra queimada pelo papa Inocêncio III. Dante viu o seu Sobre a monarquia virar um monte de cinzas na Lombardia, em 1318. Savonarola queimou também os livros de Dante, mas, um ano depois, a Igreja lançou no fogo todos os seus escritos, sermões, ensaios e panfletos. Um dos momentos mais célebres da história da destruição dos livros envolve a Bíblia de Gutenberg, concluída em 1455.

Dos 180 exemplares impressos, só restam 48 cópias. O descaso a destruiu, mas o próprio Gutenberg, segundo algumas fontes, arruinou alguns exemplares, na esperança de lhes aprimorar a beleza. O horror se disseminou com a perseguição promovida pelo Santo Ofício. Com a excomunhão de Martim Lutero, em 1520, a difusão de seus escritos foi proibida pela Igreja. Em 1542, o papa Paulo III constituiu a Congregação da Inquisição. Seu sucessor, Paulo IV, criou o temido Index, lista de livros proibidos. Na Espanha, a ascensão de Felipe II fortaleceu a censura católica. Também na França, Carlos IX passou a destruir, pelo fogo, livros perigosos. A perseguição a astrólogos, alquimistas e poetas atingiu o profeta Nostradamus. Seu livro mais importante, as Centúrias, de 1555, “tem sido sistematicamente destruído desde seu aparecimento”, lembra Báez. Da primeira edição, só restam hoje dois exemplares.

A guerra sempre foi inimiga dos livros. No século XV, uma guerra civil no Japão acabou com todas as bibliotecas de Kioto. Em 1527, o exército de Carlo V, ao conquistar Roma, destruiu muitas bibliotecas. Na Guerra de Secessão dos Estados Unidos, muitos livros desapareceram. Quando tomaram o Canadá em 1813, os soldados americanos queimaram a Biblioteca Legislativa. Como vingança, os ingleses queimaram a Biblioteca do Congresso Americano. A destruição de livros é, em grande parte, fruto da hostilidade contra o pensamento. “A França foi o berço da liberdade européia porque também foi o berço da censura”, lembra Báez. As Cartas filosóficas, de Voltaire, provocaram a ira da Igreja; Voltaire foi preso e seu livro queimado.

Do mesmo modo, a publicação da Enciclopédia, em 1759, provocou tanto escândalo que o próprio editor, Le Breton, temendo as retaliações, destruiu vários exemplares. Também os Pensamentos filosóficos, de Diderot, foram incinerados por ordem do Parlamento. Na Revolução Francesa, a lei do terror estimulou o ataque a bibliotecas. Só em Paris, mais de 8 mil livros foram queimados. Também durante a Comuna de Paris, em 1871, bibliotecas foram destruídas. A emancipação da América Latina também foi marcada por saques e destruições. Na Venezuela, o Santo Ofício mandou queimar uma coleção que Simon Bolívar conseguiu reunir para o acervo de uma biblioteca pública. Durante a Guerra Civil Espanhola, a Biblioteca Nacional, em Madri, foi bombardeada. “Somente graças à abnegação dos bibliotecários, centenas de livros e manuscritos se salvaram”, observa Báez.

Com a chegada de Franco ao poder, iniciou-se um movimento de “depuração” das bibliotecas, perseguindo “idéias que possam resultar nocivas à sociedade”, de acordo com um decreto oficial. A ascensão dos nazistas gerou um verdadeiro “bibliocausto”, Báez define. Ao ser designado chanceler em 1933, Hitler, que era um pintor frustrado, iniciou uma feroz perseguição à cultura. Leitor voraz, ele, ao morrer, num exemplar dos ensaios de Ernst Schertel, deixou uma frase sublinhada: “Quem não carrega dentro de si as sementes do demoníaco nunca fará nascer um novo mundo”. A expansão soviética destruiu muitas bibliotecas. Em 1944, dezenas delas foram arrasadas em Budapeste, na Hungria. No ano seguinte, na Romênia, trezentos mil livros desapareceram.

Também quando o regime do Khmer Vermelho triunfou no Camboja, em 1975, um estranho letreiro foi dependurado na porta da Biblioteca Nacional: “Não há livros. O governo do povo triunfou”. Mas a destruição não tem ideologia. Quando subiu ao poder, no Chile, o ditador Augusto Pinochet atacou a sede da Editora Quimantú, destroçando milhares de livros. A Revolução Cultural chinesa, Báez acrescenta, foi uma máquina de destruir livros. Na Universidade de Pequim, todos os livros considerados ofensivos à consciência do povo eram queimados. Mais tarde, o escritor Pa Kin assim descreveu o clima de histeria que dominou o país e pelo qual ele mesmo se deixou arrastar: “Destruí livros que armazenei durante anos. (...) Eu negava completamente a mim mesmo”.

Em todo o planeta, a destruição se alastrou. No dia 30 de agosto de 1980, a mando da ditadura a Argentina, vários caminhões descarregaram 1,5 milhão de volumes em um terreno abandonado. Eles foram borrifados com gasolina e queimados. Mais recentemente, os talibãs destruíram na capital Cabul todos os livros contrários à sua fé. No conflito entre judeus e palestinos, milhares de livros, de ambos os lados, já foram perdidos. Em Cuba, em dezembro de 1999, em um estacionamento de uma colina de Havana, centenas de livros doados pelo governo espanhol foram destruídos. O motivo: entre eles, havia 8 mil exemplares da Declaração dos Direitos Humanos.

Em março de 1997, os bibliotecários da Escola Hertford mandaram destruir 30 mil livros sobre temas homossexuais, que haviam sido doados. Durante oito horas de trabalho, 35 voluntários enterraram os livros. Mas não é só o conservadorismo que promove queima de livros, o pensamento progressista também. Em 1998, na Virginia Ocidental, um grupo chamado Coletivo de Mulheres queimou, em uma imensa fogueira, livros considerados degradantes à condição feminina, entre eles obras de Schopenhauer. No ano de 1994, as tropas russas entraram na Chechênia e arrasaram Grosny. O bombardeio sobre a cidade destruiu uma coleção de dois milhões e setecentos mil livros. Salvaram-se apenas 20 mil livros, guardados nos subterrâneos de um estádio de futebol. Calcula-se que em toda a Chechênia mais de mil bibliotecas e mais de 11 milhões de livros foram dizimados. As ameaças mais atrozes vêm, hoje, do terrorismo.

Recentemente, grupos diversos já manifestaram a intenção de destruir a Biblioteca do Congresso americano e a Biblioteca do Vaticano. O ataque ao World Trade Center, em Nova York, aniquilou arquivos e bibliotecas de economia. Mas, com a criação dos livros-bomba, os livros se tornaram, eles também, efetivamente perigosos. Em dezembro de 2003, Romano Prodi, presidente da Comissão Européia, quase morreu quando abriu um livro-bomba recheado de pólvora. Ainda assim, consola-se Báez, a cada livro destruído, mais aumenta o nosso horror. “Cada livro queimado ilumina o mundo”, sintetizou Ralph W. Emerson. Essa constatação não recupera as bibliotecas perdidas, mas acalenta a esperança de um futuro melhor.
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

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O ENCOSTO
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Re: Re.: Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

Mensagem por O ENCOSTO »

Pug escreveu:Confirma-se o que pensava, sobre quais as respostas que iriam ser dadas.

:emoticon13:


Já era previsivel realmente.

Qual será a próxima fonte?

A tal de radio islã?
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O ENCOSTO
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Mensagem por O ENCOSTO »

carlos escreveu:EntreLivros


DA BIBLIOTECA PARA A FOGUEIRA
Razões políticas, religiosas e morais têm levado os livros à destruição desde sua origem, na Mesopotâmia, até os dias atuais, como no saque à Biblioteca de Bagdá

Por José Castello


Livros são potencialmente perigosos e, por isso, devem ser destruídos. A repulsiva idéia, que o escritor italiano Umberto Eco desenvolveu, de forma impecável, em seu popular romance O nome da rosa, de 1981, é na verdade muito antiga. Surgiu com os próprios livros, que aparecem pela primeira vez, feitos em argila, na Suméria, Mesopotâmia, onde é hoje o sul do Iraque. Guerras sucessivas os destruíram - perto de 100 mil deles, estimam os historiadores. Ainda assim, expedições arqueológicas desenterraram tabletas de argila que datam dessa época. Desde esses tempos remotos, o livro – em suas primeiras formas, tabletas, depois papiros, pergaminhos – está, sempre, sob ameaça.

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A saga dessas agressões é relatada em História universal da destruição dos livros, do escritor venezuelano Fernando Báez. “Os que queimam livros acabam queimando homens”, escreveu o poeta Heinrich Heine. A história prova que sim. Báez participou da comissão da Unesco que, em março de 2003, visitou o Iraque depois da invasão americana, para investigar a devastação da Biblioteca Nacional de Bagdá. Ela sofreu dois ataques com bombas e mísseis, seguidos de dois violentos saques. Todo o acervo desapareceu. Tabletas de argila dos sumérios, de 5.300 anos, foram roubadas das vitrines.

“Mas a destruição da Biblioteca Nacional não teve a repercussão mundial da pilhagem do Museu Arqueológico de Bagdá”, Báez lamenta. Em um café da capital, a poucas quadras da biblioteca, ele ouviu o desabafo de um professor iraquiano. “Nossa memória já não existe.” A destruição de livros vem de muito longe. Em 1975, arqueólogos escavaram, a 55 km a sudoeste de Alepo, na Síria, os restos de um antigo palácio. O que encontraram? Uma biblioteca enterrada, com um acervo de 15 mil tabletas. A destruição foi conseqüência de um ataque militar inimigo, a respeito do qual os historiadores, ainda hoje, se encontram divididos; uns o atribuem ao rei acadiano Naramsin, outros ao rei Sargão. Três mil anos antes de Cristo, livros já eram dizimados pela guerra.

A devastação continuou, por volta de 2000 a.C., em uma região governada pelo rei Hamurabi, que é, hoje, o sul de Bagdá. Em 689 a.C., as tropas de Senaquerib arrasaram a Babiblônia. Seu neto, o soberano assírio Assurbanipal, o primeiro grande colecionador de livros do mundo antigo, fundou, em Ninive, outra esplêndida biblioteca, arrasada ela também décadas depois. De seus restos, no século XIX, arqueólogos desencavaram mais de 20 mil tabletas, hoje guardadas no Museu Britânico. No início do século XX, arqueólogos desenterraram na antiga Hattusa, a capital dos hititas, mais de 10 mil tabletas escritas, em pelo menos oito línguas diferentes. Também a biblioteca do Ramesseum, o templo que Ramsés II construiu em Tebas para lhe servir de túmulo, desapareceu com seus rolos de papiros esotéricos.

Depois de Ramsés II, o faraó monoteísta Akhnatón mandou queimar milhares de papiros, porque eles falavam de espectros e demiurgos. A destruição de livros continuou na Grécia Antiga. Estima-se que 75% de toda a literatura, filosofia e ciência antiga se perderam. Das 120 obras incluídas no catálogo de Sófocles, hoje só temos a versão integral de sete, e um monte de fragmentos. “O horror é ainda maior”, lembra Báez. “Todos os pré-socráticos e todos os sofistas estão em fragmentos.” É a história em pedaços. Um dos momentos mais brutais foi o da destruição da Biblioteca de Alexandria, com um acervo que se aproximava do milhão de livros. Durante a metade de um ano, papiros contendo textos de Hesíodo, Platão, Górgias e Safo, entre tantos outros autores, foram usados para acender o fogo dos banhos públicos da cidade.

Centenas de obras da biblioteca de Aristóteles desapareceram quando da morte repentina de Alexandre Magno, de quem ele foi tutor. O fato mais grave é a perda do segundo livro de sua Poética, dedicado ao estudo da comédia. Em O nome da rosa, Umberto Eco propõe a versão de que ele foi destruído progressivamente pela Igreja Católica, para conter a influência do humor. Báez suspeita que a Poética tenha sido, na verdade, destruída pelo desleixo. Um dos momentos maiores da história de Israel é a destruição das Tábuas da Lei. O Êxodo diz que foi o próprio Moisés quem, em um acesso de cólera, as destruiu. A descoberta, em 1947, por jovens beduínos, dos célebres Manuscritos do Mar Morto, revelou a primeira coleção conhecida de livros do Antigo Testamento.

Até hoje eles provocam a polêmica, o que leva Báez a concluir que “os teólogos não parecem preparados para admitir a existência de Cristo para além da fé”. Um Cristo nos livros. A perseguição religiosa é universal. Na China, houve a caça aos textos budistas. Em 1900, em grutas em meio ao deserto de Gobi, foram encontrados milhares de textos sagrados do budismo, muitos em bom estado, mas outros em fragmentos, que lá estiveram adormecidos ao longo de 1500 anos. São Paulo lutou contra o que considerava “livros mágicos”. Em uma visita a Éfeso, levou os magos da cidade a queimarem voluntariamente seus livros, para que não caíssem nas mãos dos cristãos. “O desaparecimento dos escritos dos gnósticos, causado, em grande parte, pela feroz perseguição da Igreja Católica, merece um livro só para si”, Báez comenta.

Vínculo mais direto com a cultura grega clássica, o Império Bizantino preservou os escritos de Platão, Aristóteles, Heródoto e Arquimedes. Lá, nos século II e III, surgiu um novo formato de livro, o códice, mais resistente, feito de pele de cabra, ou de ovelha. Ainda assim, em 1204, quando a Quarta Cruzada chegou a Constantinopla, milhares de manuscritos foram destroçados. O feroz ataque das tropas turcas em 1453 também levou à destruição de milhares de livros. “Houve um momento em que todo o continente europeu ficou literalmente sem bibliotecas”, Báez recorda. Nos séculos V e VI, copiar e ler eram atividades pouco usuais, quase secretas. Se os clássicos gregos sobreviveram em Bizâncio, os clássicos latinos e celtas foram salvos, em grande parte, pelos monges da Irlanda.

Foi Carlos Magno, o rei dos francos, quem, no século VIII, estimulou os bispos a fundar escolas e bibliotecas. Nada disso conteve a destruição. Abelardo – que foi castrado por seu amor proibido por Heloisa – teve a obra queimada pelo papa Inocêncio III. Dante viu o seu Sobre a monarquia virar um monte de cinzas na Lombardia, em 1318. Savonarola queimou também os livros de Dante, mas, um ano depois, a Igreja lançou no fogo todos os seus escritos, sermões, ensaios e panfletos. Um dos momentos mais célebres da história da destruição dos livros envolve a Bíblia de Gutenberg, concluída em 1455.

Dos 180 exemplares impressos, só restam 48 cópias. O descaso a destruiu, mas o próprio Gutenberg, segundo algumas fontes, arruinou alguns exemplares, na esperança de lhes aprimorar a beleza. O horror se disseminou com a perseguição promovida pelo Santo Ofício. Com a excomunhão de Martim Lutero, em 1520, a difusão de seus escritos foi proibida pela Igreja. Em 1542, o papa Paulo III constituiu a Congregação da Inquisição. Seu sucessor, Paulo IV, criou o temido Index, lista de livros proibidos. Na Espanha, a ascensão de Felipe II fortaleceu a censura católica. Também na França, Carlos IX passou a destruir, pelo fogo, livros perigosos. A perseguição a astrólogos, alquimistas e poetas atingiu o profeta Nostradamus. Seu livro mais importante, as Centúrias, de 1555, “tem sido sistematicamente destruído desde seu aparecimento”, lembra Báez. Da primeira edição, só restam hoje dois exemplares.

A guerra sempre foi inimiga dos livros. No século XV, uma guerra civil no Japão acabou com todas as bibliotecas de Kioto. Em 1527, o exército de Carlo V, ao conquistar Roma, destruiu muitas bibliotecas. Na Guerra de Secessão dos Estados Unidos, muitos livros desapareceram. Quando tomaram o Canadá em 1813, os soldados americanos queimaram a Biblioteca Legislativa. Como vingança, os ingleses queimaram a Biblioteca do Congresso Americano. A destruição de livros é, em grande parte, fruto da hostilidade contra o pensamento. “A França foi o berço da liberdade européia porque também foi o berço da censura”, lembra Báez. As Cartas filosóficas, de Voltaire, provocaram a ira da Igreja; Voltaire foi preso e seu livro queimado.

Do mesmo modo, a publicação da Enciclopédia, em 1759, provocou tanto escândalo que o próprio editor, Le Breton, temendo as retaliações, destruiu vários exemplares. Também os Pensamentos filosóficos, de Diderot, foram incinerados por ordem do Parlamento. Na Revolução Francesa, a lei do terror estimulou o ataque a bibliotecas. Só em Paris, mais de 8 mil livros foram queimados. Também durante a Comuna de Paris, em 1871, bibliotecas foram destruídas. A emancipação da América Latina também foi marcada por saques e destruições. Na Venezuela, o Santo Ofício mandou queimar uma coleção que Simon Bolívar conseguiu reunir para o acervo de uma biblioteca pública. Durante a Guerra Civil Espanhola, a Biblioteca Nacional, em Madri, foi bombardeada. “Somente graças à abnegação dos bibliotecários, centenas de livros e manuscritos se salvaram”, observa Báez.

Com a chegada de Franco ao poder, iniciou-se um movimento de “depuração” das bibliotecas, perseguindo “idéias que possam resultar nocivas à sociedade”, de acordo com um decreto oficial. A ascensão dos nazistas gerou um verdadeiro “bibliocausto”, Báez define. Ao ser designado chanceler em 1933, Hitler, que era um pintor frustrado, iniciou uma feroz perseguição à cultura. Leitor voraz, ele, ao morrer, num exemplar dos ensaios de Ernst Schertel, deixou uma frase sublinhada: “Quem não carrega dentro de si as sementes do demoníaco nunca fará nascer um novo mundo”. A expansão soviética destruiu muitas bibliotecas. Em 1944, dezenas delas foram arrasadas em Budapeste, na Hungria. No ano seguinte, na Romênia, trezentos mil livros desapareceram.

Também quando o regime do Khmer Vermelho triunfou no Camboja, em 1975, um estranho letreiro foi dependurado na porta da Biblioteca Nacional: “Não há livros. O governo do povo triunfou”. Mas a destruição não tem ideologia. Quando subiu ao poder, no Chile, o ditador Augusto Pinochet atacou a sede da Editora Quimantú, destroçando milhares de livros. A Revolução Cultural chinesa, Báez acrescenta, foi uma máquina de destruir livros. Na Universidade de Pequim, todos os livros considerados ofensivos à consciência do povo eram queimados. Mais tarde, o escritor Pa Kin assim descreveu o clima de histeria que dominou o país e pelo qual ele mesmo se deixou arrastar: “Destruí livros que armazenei durante anos. (...) Eu negava completamente a mim mesmo”.

Em todo o planeta, a destruição se alastrou. No dia 30 de agosto de 1980, a mando da ditadura a Argentina, vários caminhões descarregaram 1,5 milhão de volumes em um terreno abandonado. Eles foram borrifados com gasolina e queimados. Mais recentemente, os talibãs destruíram na capital Cabul todos os livros contrários à sua fé. No conflito entre judeus e palestinos, milhares de livros, de ambos os lados, já foram perdidos. Em Cuba, em dezembro de 1999, em um estacionamento de uma colina de Havana, centenas de livros doados pelo governo espanhol foram destruídos. O motivo: entre eles, havia 8 mil exemplares da Declaração dos Direitos Humanos.

Em março de 1997, os bibliotecários da Escola Hertford mandaram destruir 30 mil livros sobre temas homossexuais, que haviam sido doados. Durante oito horas de trabalho, 35 voluntários enterraram os livros. Mas não é só o conservadorismo que promove queima de livros, o pensamento progressista também. Em 1998, na Virginia Ocidental, um grupo chamado Coletivo de Mulheres queimou, em uma imensa fogueira, livros considerados degradantes à condição feminina, entre eles obras de Schopenhauer. No ano de 1994, as tropas russas entraram na Chechênia e arrasaram Grosny. O bombardeio sobre a cidade destruiu uma coleção de dois milhões e setecentos mil livros. Salvaram-se apenas 20 mil livros, guardados nos subterrâneos de um estádio de futebol. Calcula-se que em toda a Chechênia mais de mil bibliotecas e mais de 11 milhões de livros foram dizimados. As ameaças mais atrozes vêm, hoje, do terrorismo.

Recentemente, grupos diversos já manifestaram a intenção de destruir a Biblioteca do Congresso americano e a Biblioteca do Vaticano. O ataque ao World Trade Center, em Nova York, aniquilou arquivos e bibliotecas de economia. Mas, com a criação dos livros-bomba, os livros se tornaram, eles também, efetivamente perigosos. Em dezembro de 2003, Romano Prodi, presidente da Comissão Européia, quase morreu quando abriu um livro-bomba recheado de pólvora. Ainda assim, consola-se Báez, a cada livro destruído, mais aumenta o nosso horror. “Cada livro queimado ilumina o mundo”, sintetizou Ralph W. Emerson. Essa constatação não recupera as bibliotecas perdidas, mas acalenta a esperança de um futuro melhor.



Nas guerras não são destruidos somente livros. Muitas vezes é destruido obras de arte por pura ignorancia.

360 ídolos da Kaaba foram destruidos por oredem de Maomé. Várias copias do Alcorão foram queimadas após sua morte pois acreditava-se que apenas uma (a compilada para a ocasião) deveria existir.

Isso para não citar exemplos mais atuais.
O ENCOSTO


http://www.manualdochurrasco.com.br/
http://www.midiasemmascara.org/
Onde houver fé, levarei a dúvida.

"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas infundadas, e a certeza da existência das coisas que não existem.”

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Ricardo
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Registrado em: 28 Out 2005, 09:55

Re: Re.: Genocídio Cientifico e Cultural no Iraque

Mensagem por Ricardo »

Deve ser um hoax.
Assassinar cientistas seria estrategicamente valido se os Estados Unidos não tivessem vencido a guerra ou destruido qualquer chance de o iraque produzir armas de destruição em massa.
Agora seria mais vantajoso apenas emprega-los, que é a politica americana desda segunda guerra mundial quando os estados unidos salvou vários cintistas nazistas de serem julgados por crimes de guerra.

Trancado