user f.k.a. Cabeção escreveu:Tanto eu como você não acreditamos em anarco-capitalismo, e não é dele que estamos falando.
Eu mostrei para você uma lista de países que teriam maior liberdade econômica, e quem figura na lista invariavelmente é um país desenvolvido, ou no mínimo se encontra em melhores condições melhores que nações vizinhas. É só se dar ao trabalho de checar.
Se é possível chegar a um estado de anarco-capitalismo totalmente livre, não sei, creio que não, pois penso que deva existir um Estado para proteger a propriedade através da criação, aplicação e interpretação da lei, e isso não me parece passível de ser realizado sem um mínimo de intervencionismo.
Me dê exemplos de um "Estado que beira o anarco-capitalismo". Mostre que nessa situação o monopolismo e a desigualidade social se tornaram constantes.
Pois até hoje, vejo que a desigualdade social e os monopólios freqüentemente são observados em Estados com grande interferência na manutenção de uma nomenklatura, e que para isso tornam suas economias menos livres possíveis, e o Brasil é um desses casos.
Desigualdade econômica para mim é ponto pacífico. Precisa existir e é benéfico. Nas democracias liberais do mundo, ela existe em doses variadas. Já a desigualdade social ou inexiste ou é mínima, já que são apenas os Estados liberais que conseguem estender direitos iguais para cada cidadão, independente destes pertencerem ou não a grupos de pressão.
Agora quando você me diz que nenhum Estado consegue por em prática a agenda liberal completamente, eu te respondo que isso é fatalmente necessário a uma democracia. Uma democracia se caracteriza pelo debate constante, pluralismo de opiniões, e pela alternância de vertentes políticas no poder, logo, é natural que em períodos com trabalhistas no poder, leis e medidas anti-liberais sejam aprovadas. Do contrário, se trataria de uma ditadura, e não de uma liberal-democracia.
Em quase nada discordo desse seu post e acabamos falando das mesmas coisas. O que eu disse, particularmente, é que não há país liberal no mundo pois sua gradação máxima não pode ser alcançada. E, de qualquer forma, metade dos países listados são sociais-democracias pautadas sobre um Estado liberal, o que, na minha opinião, não é o ideal, mas é o melhor sistema sócio-econômico surgido até hoje.
Volto a perguntar o que você chama de "melhores condições" segundo esse seu ranking. Óbvio que não culpabilizo o sistema liberal per si em qualquer lugar do mundo onde eu veja pobreza, mas ainda não consegui perceber onde um sistema liberal seja melhor à totalidade do que um Estado que redistribua renda por meio de ações sociais e evite que o mercado se desregule ou gere algum tipo de crise produtiva.
Outra coisa que muito me incomoda é essa mania (não sua, exatamente, mas de muita gente) de tentar explicar a pobreza ou riqueza de uma nação a partir da "forma de bolo econômica" adotada. Os EUA não são necessariamente ricos porque adotaram em parte de sua História um sistema "liberal", nem a Escandinávia o é por ter adotado uma social democracia destributivista. Se não ocorresse uma segunda guerra mundial, por exemplo, os EUA nunca acumulariam metade do capital que acumularam, ou se a Noruega não tivesse a capacidade de exploração petrolífera que sempre teve, também dificilmente seria o que é hoje.
user f.k.a. Cabeção escreveu:O que você diz, além de ser parodoxal, não refuta o que eu afirmei.
Na medida que interpretemos Marx à luz de seu determinismo histórico, teremos como conclusão inexorável que sua teoria é falha e científica. Se nos apresentam a hipótese de que as condições "perfeitas" ainda não foram satisfeitas, e não nos dizem claramente quais são as condições subsidiárias para que essa teoria seja testada, com as devidas margens de erro aceitáveis, temos então que se trata de pseudo-ciência, pois na medida que apenas dadas "perfeitas" condições serão satisfatórias, tal teoria nunca poderia ser falseada.
É paradoxal pois pressupõe que a realização individual é o objetivo da abnegação do indivíduo.
De qualquer forma, a maioria das análises marxistas minimizam ou nulificam a importância individual no transcorrer histórico. Nas palavras de Vladmir Lenin : "O militante é nada. O partido é tudo."
1- Exato. Muita coisa em Marx está defasada e já foi refutado e/ou revisto. Mas muito em Marx é base das várias ciências sociais atuais. Ele é essencial ao diálogo de Weber, Braudel, Adorno ou mesmo Popper. Nada há de científico no messianismo comunista de Marx, até porque ele mesmo não revelou quais seriam, em sua opinião, as condições essenciais à realização comunista. Disse apenas, e simplesmente, que isso viria de uma revolução que instauraria a ditadura da classe proletária (e haveria democracia nessa ditadura APENAS para essa classe) e que esse Estado totalitário destribuiria os meios de produção. Se o que está dito por Marx já é falho, o que ocorreu na vida real (e ainda ocorre) é bem pior.
2- Você está errando por não compreender o que significa o indivíduo à luz do materialismo histórico marxista. Para Marx, o indivíduo só se realiza enquanto ser social, enquanto prática coletiva. Para ele, individualismo burguês é limitador do próprio homem, à medida que fecha os seres em si mesmos, ao invés de maximizar seu poder de "práxis" colocando-os enquanto seres coletivos. O individualismo marxista é uma negação da sua noção de indivíduo, assim como a sua noção, para Marx, seria um "falso individualismo". Questão de juízo de valor.
user f.k.a. Cabeção escreveu:Dissolução dos sindicatos não é liberalismo.
Não houve nenhum tipo de retirada do Estado da economia, muito pelo contrário. Desde a década de quarenta o peronismo argentino marcou-se pelo intervencionismo excessivo, que criou empecilhos à importação e nacionalizou empresas, gerando déficits estratosféricos, e a implantação do "justicialismo" (nome derivado de "justiça social"[sic]), fundamentando ideologicamente aquela ditadura. Assim, os gastos públicos explodiram, a briga pelos privilégios do modelo estatal também, e como resultado, hiperinflação.
Os militares o removeram, mas não mexeram no programa estatizante, e como resultado, o prejuízo do comércio internacional da argentina e o sucateamento das indústrias do país.
Depois veio Alfonsin, que para combater uma inflação de 400%, decretou o plano Austral, muito similar ao que Sarney faria aqui dois anos mais tarde: preços congelados.
Depois veio Menem, um peronista de carteirinha, até tentou ser um pouco pragmático, e realizou algumas aberturas a importação, privatizações apressadas (com graves acusações de corrupção), corte de custos, e a Argentina cresceu 50% em menos de sete anos, embora já fosse tarde.
A corrupção e o inchaço estatal não era só da conta do governo central, mas era um problema generalizado nas províncias, que emitiam títulos para cobrir seus rombos orçamentários numa velocidade alarmante. O modelo de conversibilidade fez do peso uma moeda supervalorizada, diminuindo a competitividade argentina num momento em que o Brasil desvalorizava o real. As crises da Rússia e dos tigres Asiáticos tornaram as coisas piores, com um mercado turbulento, que não toleraria o estado que a Argentina apresentava. O colapso era iminente.
O liberalismo nada tem a ver com isso. O mercado serviu apenas como termômetro da calamitosa situação em que a Argentina se colocou após sessenta anos de peronismo. O erro argentino esteve muito mais em pensar que em se matando comunistas, se livrariam das doenças venéreas que eles transmitem. Erro esse que não foi cometido no Chile.
Ataque aos sindicatos é uma forma de ação classista em busca de potencializar o poder de produção. Se fez isto por aqui em Vargas, se fez isto nos EUA (a história sindicalista ianque é uma das mais sangrentas da História), se fez isto em quase todo o mundo que flertou com o capitalismo industrial.
Sindicatos fortes são entraves às demissões e ao nivelamento de salários por baixo, além de defensores de férias e remunerações adicionais. Mesmo nos EUA, atualmente, fazer parte de um sindicato equivale a fazer parte de um clube: quanto mais forte, maiores os privilégios. Quem não faz parte de um sindicato decente por lá, pode contar, "se fode legal".
Quanto à Argentina, o que eu sempre soube é que foram feitas inúmeras privatizações nos governos militares e isso se extendeu à Menem. Vou procurar saber mais.
Abraço.