user f.k.a. Cabeção escreveu:Certo. Mas em que matar animais aumenta o seu sofrimento ou o meu? As leis devem proteger as pessoas, e de certa forma, podem proteger recursos que venham a ser ameaçados por consumo abusivo (ainda que as perspectivas em geral venham a ser sempre mais alarmistas do que a situação real costuma indicar).
Matar animais com fim alimentício não causa nenhum sofrimento para mim ou para você, como mencionei mais acima, só causa sofrimento para os próprios animais. Você pode considerar que o sofrimento dos animais é irrelevante, creio que esse é um direito inquestionável seu, só o que precisa ficar claro é que essa visão não é "a verdade", é apenas uma ideologia.
É bom enfatizar que o fato de dizer que algo é ideologia não quer dizer que aquilo é uma opinião infundada, ou que tenha o mesmo valor que qualquer outra coisa que se queira dizer. Não é isso. A questão é que a realidade
independe dos pressupostos que adotamos para lidar com ela e esses pressupostos existem em função das nossas necessidades e não das coisas tais como são.
user f.k.a. Cabeção escreveu:Veja que explorar os animais ainda é uma atividade econômica necessária ao homem. Talvez, quando se tornar economicamente inviável ou plenamente substituível, passe a ser válido abandonar a sua exploração.
Quando passamos a questionar substitutos viáveis e satisfatórios, há aí o reconhecimento de que aquela atividade é questionável. Claro, alguém pode dizer isso porque ela é questionável para os outros, ainda que para si mesmo não seja uma questão importante. Isso é bom, mostra respeito à diversidade de opiniões e, porque não, preocupação desinteressada pelas questões alheias.
user f.k.a. Cabeção escreveu:Eu sei que você virá com o argumento da escravidão humana aqui.
Olha, se consideramos a escravidão errada, porque teríamos o direito a explorar a vida dos animais?

Eu nem tinha pensado na escravidão.
user f.k.a. Cabeção escreveu:Só que seres humanos são indivíduos conscientes e capazes de discernimento moral, ou seja, seres humanos são capazes de serem humintários uns com os outros, respeitar leis e a individualidade alheia, enquanto animais não. A reciprocidade é uma necessidade para que direitos sejam igualados.
Essa é a continuidade da ideologia expressa na parte inicial desta mensagem.
user f.k.a. Cabeção escreveu:Sobrevivência e conforto não são coisas tão distantes quanto você imagina. Nós matamos mosquitos não porque eles podem nos matar com suas picadas, mas porque elas nos incomodam. Da mesma forma, nós poderíamos escolher meios de manter nossos alimentos longe de ratos, ao invés de matá-los. Só que é mais cômodo e viável matar. E matamos sem remorso porque são animais.
Como eu dizia para a Carmen, é natural para nós nos preocuparmos com o próximo e com o semelhante e ignorarmos o distante e diferente, mesmo para um vegan. É até uma questão de proteção.
Eu penso que nos preocuparmos com aquilo que não nos identificamos é uma maneira de enfraquecer o egocentrismo e isso pode contribuir para levarmos uma vida mais interessante. Muitas pessoas são provincianas com relação aos costumes do lugar onde nasceu, mas quase todas o são com relação à imagem que têm de si próprias. A empatia, da forma como a vejo, abre horizontes e possibilidades de ver o mundo sobre outras perspectivas e isso é gratificante. Para alguém que aprecia a beleza da diversidade, esse esforço vale muito a pena.
Voltando especificamente ao tema do vegetarianismo, colocações como essa sua última reforçam em mim motivos para ver a dieta vegetariana como uma opção, jamais como uma obrigação. Mesmo assim, não me faz aplaudir a necessidade de matar para viver. Aceito bem esse fato da vida sem, porém, fazer dele um ideal. Pelo contrário, a cada dia procuro usufruir do prazer de contrariar um pouco essa condição humana, mas sem fazer disso uma obrigação ou uma exigência severa. Liberdade é mesmo algo ótimo.