Em que consiste a identidade pessoal?
Em que consiste a identidade pessoal?
http://www.philosophersnet.com/games/identity.htm
Eu sobrevivi de acordo com a teoria de que a existência do "eu" depende apenas da continuidade corporal, vejam:
Congratulations! According to one theory of personal identity, you have survived!
You chose:
Round 1: It's the spaceship for me!
Round 2: Let the virus do its worst!
Round 3: Freeze me!
There are basically three kinds of things which could be required for the continued existence of your self. One is bodily continuity, which actually may require only parts of the body to stay in existence (e.g., the brain). Another is psychological continuity, which requires, for the continued existence of the self, the continuance of your consciousness, by which is meant your thoughts, ideas, memories, plans, beliefs and so on. And the third possibility is the continued existence of some kind of immaterial part of you, which might be called the soul. It may, of course, be the case that a combination of one or more types of these continuity is required for you to survive.
Your choices are consistent with the view that bodily continuity is necessary for personal survival. You risk death on the spaceship, allow your mind to be messed around with by the virus and allow your soul to be destroyed so that your body (or at least your brain in a body) can have a chance of staying in existence. And it does!
But is this survival of you? Is it enough for your body to continue to exist if your personality, wishes, beliefs, desires and memories do not? Remember, opting to suffer the consequences of the virus means that now you have no memories of the person you were when you stepped into the teletransporter. So is the self really no more than a particular animal body? Many think it is, but many others think that without some kind of psychological continuity, the self cannot survive as a body alone.
Eu sobrevivi de acordo com a teoria de que a existência do "eu" depende apenas da continuidade corporal, vejam:
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Round 2: Let the virus do its worst!
Round 3: Freeze me!
There are basically three kinds of things which could be required for the continued existence of your self. One is bodily continuity, which actually may require only parts of the body to stay in existence (e.g., the brain). Another is psychological continuity, which requires, for the continued existence of the self, the continuance of your consciousness, by which is meant your thoughts, ideas, memories, plans, beliefs and so on. And the third possibility is the continued existence of some kind of immaterial part of you, which might be called the soul. It may, of course, be the case that a combination of one or more types of these continuity is required for you to survive.
Your choices are consistent with the view that bodily continuity is necessary for personal survival. You risk death on the spaceship, allow your mind to be messed around with by the virus and allow your soul to be destroyed so that your body (or at least your brain in a body) can have a chance of staying in existence. And it does!
But is this survival of you? Is it enough for your body to continue to exist if your personality, wishes, beliefs, desires and memories do not? Remember, opting to suffer the consequences of the virus means that now you have no memories of the person you were when you stepped into the teletransporter. So is the self really no more than a particular animal body? Many think it is, but many others think that without some kind of psychological continuity, the self cannot survive as a body alone.
- Aurelio Moraes
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Re.: Em que consiste a identidade pessoal?
Onde estão os filósofos de plantão?
Re.: Em que consiste a identidade pessoal?
Se a mente for um algoritmo... a identidade corresponde a esse algoritmo. Como os algoritmos nao dependem do substrato... a continuidade pode continuar noutro corpo completamente diferente... desde que funcional. E a tese funcionalista da teoria computacional da mente.
Re.: Em que consiste a identidade pessoal?
A tese crista nao afetada pelo platonismo é, curiosamente, computacional. Os antigos nao tinham nenhuma noçao de espíritos tipo fumos sobrenaturais. Para eles a morte era o fim. Só Deus pode nos resgatar... e dar um corpo glorificado capaz de sustentar o espírito (algoritmo). E onde estaria o algoritmo (que é um mero padrao)? Ele nao desapareceria com o corpo? Sim, ele desapareria do mundo material mas continuaria da mente de Deus (esse grande cientista informático). 

- Flavio Costa
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Re.: Em que consiste a identidade pessoal?
Ah Kramer, ninguém sabe ao certo. É bem possível que esse conceito de identidade pessoal seja meio furado, se até mesmo o conceito é duvidoso, como alguém poderia dizer o que é necessário para que ela continue?
The world's mine oyster, which I with sword will open.
- William Shakespeare
Grande parte das pessoas pensam que elas estão pensando quando estão meramente reorganizando seus preconceitos.
- William James
Agora já aprendemos, estamos mais calejados...
os companheiros petistas certamente não vão fazer as burrices que fizeram neste primeiro mandato.
- Luis Inácio, 20/10/2006
- William Shakespeare
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- Luis Inácio, 20/10/2006
A identidade pessoal reside na capacidade do ser em afirmar "eu existo" e compreender esta afirmação como uma verdade absoluta e imutável no tempo e no espaço.
Nós, Índios.
Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.
Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!
Acauan Guajajara
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Se me permitem um momento narcísico, gostei tanto da definição abaixo que vou assiná-la:
Acauan escreveu:A identidade pessoal reside na capacidade do ser em afirmar "eu existo" e compreender esta afirmação como uma verdade absoluta e imutável no tempo e no espaço.
Acauan Guajajara
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Eu li um artigo certa vez que trazia o conceito de que essa identidade pessoal seria uma "colcha de retalhos" dos diversos "eus" com os quais entramos em contato durante nossas vidas. Não me lembro se foi postado no RV velho, ou se recebi por email. Vou tentar achar.
Cérebro é uma coisa maravilhosa. Todos deveriam ter um.
Kramer, eu também escolhi essas saídas. Eu tenho uma forte intuição que identidade pessoal exige uma continuidade da consciência, mas isso também pode ser uma ilusão. No modelo de múltiplos-rascunhos da consciência de Daniel Dennett, uma série de processos paralelos realizam uma disputa no seu cérebro e os processos que se sobressaem são a consciência.
- Flavio Costa
- Mensagens: 4307
- Registrado em: 25 Out 2005, 07:32
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Acauan escreveu:Se me permitem um momento narcísico, gostei tanto da definição abaixo que vou assiná-la:Acauan escreveu:A identidade pessoal reside na capacidade do ser em afirmar "eu existo" e compreender esta afirmação como uma verdade absoluta e imutável no tempo e no espaço.
Acauan Guajajara

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- Luis Inácio, 20/10/2006
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Grande parte das pessoas pensam que elas estão pensando quando estão meramente reorganizando seus preconceitos.
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- Luis Inácio, 20/10/2006
É da Galileu, se alguém tiver acesso por favor poste. Infelizmente não achei o texto todo, aí vai a retranca da revista.
Penso, logo não existo
Cientistas da mente derrubam a noção clássica de consciência e se aproximam de crenças budistas
u não sou o que penso que sou, caro leitor, e você também não. Loucura? Pois é o que afirmam alguns dos mais talentosos e inquietos cientistas de nossos dias. À medida que mergulham no mistério da consciência humana, pesquisadores das áreas de neurociências, psicologia, filosofia da mente e ciências cognitivas estão criando teorias que desmontam a idéia, levada às últimas consequências pelo cartesianismo, de que existe uma consciência independente, separada do mundo, que está em algum lugar do nosso cérebro e que usa seu livre-arbítrio para fazer escolhas e viver a vida. Pura ilusão, dizem eles.
Na verdade, nossa mente abrigaria uma profusão de diferentes 'eus', que disputam espaço entre si, executam ações especializadas sem que saibamos e, mais impressionante, nos mantém na ilusão de que somos 'apenas um'. Na verdade idéias assim não são novas. Ensinamentos semelhantes sobre a natureza humana têm sido transmitidos há milhares de anos por diversas tradições do pensamento oriental, especialmente do budismo, que ressalta o abismo entre a realidade e as idéias que temos dela. Quem acha que isso parece coisa de místico, vai se surpreender com a participação nesse debate de pesquisadores reconhecidamente céticos.
Penso, logo não existo
Cientistas da mente derrubam a noção clássica de consciência e se aproximam de crenças budistas
u não sou o que penso que sou, caro leitor, e você também não. Loucura? Pois é o que afirmam alguns dos mais talentosos e inquietos cientistas de nossos dias. À medida que mergulham no mistério da consciência humana, pesquisadores das áreas de neurociências, psicologia, filosofia da mente e ciências cognitivas estão criando teorias que desmontam a idéia, levada às últimas consequências pelo cartesianismo, de que existe uma consciência independente, separada do mundo, que está em algum lugar do nosso cérebro e que usa seu livre-arbítrio para fazer escolhas e viver a vida. Pura ilusão, dizem eles.
Na verdade, nossa mente abrigaria uma profusão de diferentes 'eus', que disputam espaço entre si, executam ações especializadas sem que saibamos e, mais impressionante, nos mantém na ilusão de que somos 'apenas um'. Na verdade idéias assim não são novas. Ensinamentos semelhantes sobre a natureza humana têm sido transmitidos há milhares de anos por diversas tradições do pensamento oriental, especialmente do budismo, que ressalta o abismo entre a realidade e as idéias que temos dela. Quem acha que isso parece coisa de místico, vai se surpreender com a participação nesse debate de pesquisadores reconhecidamente céticos.
Cérebro é uma coisa maravilhosa. Todos deveriam ter um.
Azathoth escreveu:Kramer, eu também escolhi essas saídas. Eu tenho uma forte intuição que identidade pessoal exige uma continuidade da consciência, mas isso também pode ser uma ilusão. No modelo de múltiplos-rascunhos da consciência de Daniel Dennett, uma série de processos paralelos realizam uma disputa no seu cérebro e os processos que se sobressaem são a consciência.
Curiosamente Dennett diz que o cerebro, apesar de processar em paralelo, simula um computador em Série.
Anna escreveu:Eu li um artigo certa vez que trazia o conceito de que essa identidade pessoal seria uma "colcha de retalhos" dos diversos "eus" com os quais entramos em contato durante nossas vidas. Não me lembro se foi postado no RV velho, ou se recebi por email. Vou tentar achar.
Teoria do Pandemónio. Daniel Dennett e Steven Pinker defendem essa teoria.
A teoria é mais ou menos assim. A nossa mente é formada por milhares de modulos especialistas (demónios) que lutam entre si para entrar na consciência.
Anna escreveu: É da Galileu, se alguém tiver acesso por favor poste. Infelizmente não achei o texto todo, aí vai a retranca da revista.
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u não sou o que penso que sou, caro leitor, e você também não. Loucura? Pois é o que afirmam alguns dos mais talentosos e inquietos cientistas de nossos dias. À medida que mergulham no mistério da consciência humana, pesquisadores das áreas de neurociências, psicologia, filosofia da mente e ciências cognitivas estão criando teorias que desmontam a idéia, levada às últimas consequências pelo cartesianismo, de que existe uma consciência independente, separada do mundo, que está em algum lugar do nosso cérebro e que usa seu livre-arbítrio para fazer escolhas e viver a vida. Pura ilusão, dizem eles.
Na verdade, nossa mente abrigaria uma profusão de diferentes 'eus', que disputam espaço entre si, executam ações especializadas sem que saibamos e, mais impressionante, nos mantém na ilusão de que somos 'apenas um'. Na verdade idéias assim não são novas. Ensinamentos semelhantes sobre a natureza humana têm sido transmitidos há milhares de anos por diversas tradições do pensamento oriental, especialmente do budismo, que ressalta o abismo entre a realidade e as idéias que temos dela. Quem acha que isso parece coisa de místico, vai se surpreender com a participação nesse debate de pesquisadores reconhecidamente céticos.
Análise da terceira pessoa. No entanto as pessoas vivem na primeira pessoa. Cientificismo. Uma pergunta: Se a ciência descrever a posição de todos os átomos do cérebro, tu vais encontrar nessa descrição o que é para ti ver a cor azul, ou saborear chocolate?
Independentemente de termos muitos "Eus" a verdade é que a maioria opera no inconsciente... e interactuam entre sí formando uma série a que podemos chamar o eu. O processamento paralelo pode simular o processamento em série e o contrário também é verdade. É a noção de máquina de Turing Universal.
Editado pela última vez por MDiesel em 30 Jun 2006, 11:11, em um total de 1 vez.
MDiesel escreveu:Anna escreveu:Eu li um artigo certa vez que trazia o conceito de que essa identidade pessoal seria uma "colcha de retalhos" dos diversos "eus" com os quais entramos em contato durante nossas vidas. Não me lembro se foi postado no RV velho, ou se recebi por email. Vou tentar achar.
Teoria do Pandemónio. Daniel Dennett e Steven Pinker defendem essa teoria.
A teoria é mais ou menos assim. A nossa mente é formada por milhares de modulos especialistas (demónios) que lutam entre si para entrar na consciência.
Eu li o livro do Pinker "como a mente funciona" é muito bom! Concordo bastante com ele.
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- Res Cogitans
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Identidade pessoal
Theodore Sider
Universidade de Rutgers
O conceito de identidade pessoal
Ao ser julgado por homicídio, você decide defender-se a si próprio. Alega não ser o assassino; o assassino é outra pessoa. O juiz pede-lhe que apresente provas. Tem fotografias de um intruso com bigode? Não é verdade que as suas impressões digitais coincidem com as da arma do crime? Pode provar que o assassino é esquerdino? Você responde "não". A sua defesa será muito diferente. Eis os seus argumentos conclusivos:
Concedo que o assassino é dextro, tal como eu, tem as mesmas impressões digitais que as minhas e tem o rosto barbeado, como eu. Inclusive, assemelha-se exactamente a mim nas fotografias das câmaras de vigilância apresentadas pela defesa. Não, não tenho um irmão gémeo. Na verdade, admito lembrar-me de haver cometido o crime! Mas o assassino e eu não somos a mesma pessoa, uma vez que sofri mudanças. A banda rock favorita dessa pessoa era os Led Zeppelin; agora prefiro Todd Rundgren. Essa pessoa tinha um apêndice, mas eu não; o meu foi removido na semana passada. Essa pessoa tinha vinte e cinco anos de idade; eu tenho trinta. Eu e esse assassino de há cinco anos não somos a mesma pessoa. Por conseguinte, não podem punir-me, pois ninguém é culpado de um crime cometido por outra pessoa.
Como é óbvio, nenhum tribunal aceitaria este argumento. E no entanto, o que há de errado nele? Quando alguém sofre mudanças, quer física quer psicologicamente, não é verdade que ela "não é a mesma pessoa"?
Sim, mas a expressão "a mesma pessoa" é ambígua. Há dois sentidos em que podemos afirmar duas pessoas serem a mesma. Quando uma pessoa se converte a uma religião ou rapa o cabelo, torna-se dissemelhante de como era antes. Não permanece qualitativamente a mesma pessoa, digamos. Então, num sentido ela não é "a mesma pessoa". Mas noutro sentido ela é a mesma pessoa: nenhuma outra pessoa tomou o seu lugar. Este segundo género de identidade é chamado "identidade numérica", uma vez que se trata do mesmo tipo de identidade denotada pelo sinal de igualdade em expressões matemáticas como "2 + 2 = 4": as expressões "2 + 2" e "4" representam o mesmo número. Você é numericamente a mesma pessoa que era quando era um bebé, apesar de ser qualitativamente muito diferente. Os argumentos conclusivos do julgamento confundem os dois tipos de identidade. Você de facto mudou desde o cometimento do crime: qualitativamente não é a mesma pessoa. Mas você e o assassino são numericamente a mesma pessoa; nenhum outro assassinou a vítima. É verdade que "ninguém pode ser punido por crimes cometidos por outrem". Mas "outrem" significa aqui alguém numericamente distinto.
O conceito de identidade numérica é importante para as relações humanas. Determina quem podemos punir, uma vez que é injusto punir alguém numericamente distinto do transgressor. Também desempenha um papel crucial em emoções como a antecipação, o arrependimento e o remorso. Não pode sentir pelos erros dos outros o mesmo tipo de arrependimento ou remorso que sente pelos seus próprios erros. Não pode antecipar os prazeres de que outra pessoa terá experiência, por mais que essa pessoa seja semelhante a si, em termos qualitativos. A questão de saber o que torna as pessoas numericamente idênticas ao longo do tempo é conhecida dos filósofos como a questão da identidade pessoal.
A questão da identidade pessoal pode ser dramatizada através de um exemplo. Imagine que está muito curioso acerca de como será o futuro.
Um dia encontra Deus particularmente bem-humorado; ela promete ressuscitá-lo quinhentos anos após a sua morte, para que tenha experiência do futuro. Ao princípio fica compreensivelmente entusiasmado, mas depois começa a duvidar. Como irá Deus garantir que você existirá no futuro? Daqui a quinhentos anos você terá morrido e e o seu corpo apodrecido. A matéria que o compõe agora ter-se-á então dispersado pela superfície da terra. Deus poderia facilmente criar a partir de outra matéria uma nova pessoa que se assemelhasse a si, mas isso não o consola. Quer ser você mesmo a existir no futuro; alguém meramente parecido consigo não serve.
Este exemplo torna o problema da identidade pessoal particularmente intenso, mas repare que as mesmas questões são levantadas pela mudança trivial ao longo do tempo. Recordando fotografias da infância, você diz "este era eu". Mas porquê? O que faz que aquele bebé e você sejam a mesma pessoa, apesar de todas as mudanças que sofreu com o correr dos anos?
(Além de pessoas, os filósofos também reflectem na identidade de objectos ao longo do tempo; reflectem no que faz um electrão, árvore, bicicleta ou nação serem a mesma coisa em tempos distintos. Estes objectos levantam muitas das mesmas questões que as pessoas, além de algumas questões novas. Mas as pessoas são particularmente fascinantes. Por um lado, apenas a identidade pessoal se liga a emoções como o arrependimento e a antecipação. Por outro lado, nós somos pessoas. É natural que nos interessemos em particular por nós mesmos.)
Então, como poderia Deus fazer você existir no futuro? Como vimos, não basta reconstituir, a partir de outra matéria, uma pessoa fisicamente similar. Seria mera semelhança qualitativa. Adiantaria usar a mesma matéria? Deus poderia recolher todos os protões, neutrões e electrões que agora constituem o seu corpo, mas que então estarão dispersos pela superfície da Terra, e transformá-los numa pessoa. Como bónus, ela poderia até fazer esta nova pessoa parecer-se consigo. Mas não seria você. Seria uma nova pessoa criada a partir da sua velha matéria. Se não concorda, então pense nisto. Esqueça o futuro; tanto quanto sabe, a matéria que agora compõe o seu corpo em tempos compôs o corpo de outra pessoa, há milhares de anos. É altamente improvável, mas contudo possível, que a matéria de um antigo estadista grego se tenha reciclado pela biosfera vindo a acabar em si. Claramente, isso não o tornaria numericamente idêntico àquele estadista. Você não deveria ser punido pelos crimes daquele; não poderia arrepender-se dos seus feitos. A coincidência da matéria não é condição suficiente para a identidade pessoal.
Nem é necessária. Pelo menos, a exacta coincidência da matéria não é condição necessária da identidade pessoal. As pessoas sobrevivem constantemente a mundanças graduais na sua matéria. Ingerem e segregam, cortam o cabelo e perdem porções de pele, e por vezes fazem implantes de pele ou de outra matéria nos seus corpos. Na verdade, o processo normal de ingestão e excreção reciclam quase toda a sua matéria de anos a anos. No entanto, você continua a ser o mesmo. A identidade pessoal não está especialmente ligada à coincidência da matéria. Então com o que está ela ligada?
A alma
Alguns filósofos e pensadores religiosos respondem: a alma.
A alma de uma pessoa é a sua essência psicológica, uma entidade não-física onde ocorrem pensamentos e emoções. A alma permanece imune a todas as formas de transformação física do corpo e pode mesmo sobreviver à destruição total do corpo. A sua alma é o que o faz ser você. O bebé nas fotos é você porque a mesma alma que agora habita o seu corpo habitava então o corpo daquele bebé. Deus pode então ressuscitá-lo no futuro criando um novo corpo e inserindo-lhe a sua alma.
As almas parecem fornecer respostas rápidas a muitas perplexidades filosóficas sobre a identidade ao longo do tempo, mas não há qualquer boa razão para acreditar que existem. Os filósofos costumavam argumentar que as almas são necessárias para explicar os pensamentos e as emoções, uma vez que os pensamentos e as emoções não parecem fazer parte do corpo físico. Mas este argumento é destruído pela ciência contemporânea. Os seres humanos sabem desde há muito que uma parte do corpo - o cérebro - está peculiarmente ligada à vida mental. Mesmo antes da neurociência contemporânea, sabia-se que as lesões cefálicas causam danos psicológicos. Sabemos agora como certas partes do cérebro estão associadas a certos efeitos psicológicos. Embora estejamos longe de poder correlacionar inteiramente estados psicológicos com estados cerebrais, progredimos o suficiente ao ponto de a existência de uma tal correlação ser uma hipótese razoável. É razoável inferir que a própria vida mental reside no cérebro, e que a alma não existe. Não se trata de dizer que a ciência neurológica refuta a existência da alma: as almas poderiam existir ainda que os estados psicológicos e os estados mentais estivessem perfeitamente correlacionados. Mas se o cérebro físico explica por si a vida mental, não há necessidade de postular almas.
Além disso, os defensores da alma vêm-se em apuros para explicar como as almas pensam. Os defensores do cérebro possuem o princípio de uma explicação: o cérebro contém biliões de neurónios, cujas interacções incrivelmente complexas produzem o pensamento. Ninguém sabe ao certo como isto funciona, mas os neurocientistas pelo menos avançaram um pouco. O defensor da alma não tem nada de comparável para dizer, uma vez que a maioria dos defensores da alma pensam que a alma é destituída de partes menores. As almas não são compostas de biliões de minúsculas particulas anímicas. (Se o fossem, deixariam de fornecer respostas rápidas para as perplexidades filosóficas acerca da identidade ao longo do tempo. Os defensores da alma enfrentariam as mesmas difíceis questões filosóficas que os defensores do cérebro. Por exemplo: o que torna uma alma a mesma ao longo do tempo, apesar das mudanças nas suas partículas anímicas?) Mas se as almas não têm minúsculas partículas anímicas, não têm algo semelhante a neurónios para as ajudar a fazer o que fazem. Como é que, então, fazem o que fazem?
A continuidade espácio-temporal e o caso do príncipe e do sapateiro
Pondo de parte as almas, voltemo-nos agora para as teorias científicas que sustentam a identidade pessoal em fenómenos naturais. Tais teorias empregam o conceito de continuidade espácio-temporal. Considere a identidade ao longo do tempo de um objecto inanimado, tal como uma bola de baseball. Um lançador agarra a bola e esboça o gesto do lançamento; momentos depois, uma bola encontra-se na luva do apanhador. Serão ambas a mesma bola? Como saberemos? É mais fácil se tivermos mantido os olhos na bola. Uma série contínua - uma série de posições no espaço e no tempo contendo uma bola de baseball, a primeira na mão do lançador, posições sucessivas nos espaços e tempos intermédios, e a posição final na luva do apanhador - convence-nos de que a bola do lançador e a bola do apanhador são a mesma. Se não observamos uma tal série contínua podemos suspeitar que se trata de bolas diferentes. Ora, habitualmente não precisamos deste método para identificar uma pessoa ao longo do tempo, uma vez que as pessoas na sua maioria diferem muito umas das outras, mas pode vir a ser útil ao lidarmos com gémeos verdadeiros. Quer saber se é o Zé Manel ou o Manel Zé que está na cela? Primeiro, reúna a informação dos vídeos de vigilância ou de informadores. Depois, usando esta informação, esboçe uma série contínua regredindo no tempo a partir da pessoa na cela, e veja a qual dos gémeos ela conduz.
Todos concordam em que a continuidade espácio-temporal é um bom indício prático da identidade pessoal. Mas enquanto filósofos queremos mais. Queremos descobrir a essência da identidade pessoal; queremos saber o que é ter identidade pessoal, e não apenas saber reconhecê-la quando está presente. Se quer saber se um homem é solteiro, é um bom indício prático verificar se tem o apartamento desarrumado; se quer determinar se um dado metal é ouro, a inspecção visual e a pesagem numa balança darão a resposta certa nove vezes em cada dez. Mas ter o apartamento desarrumado não é a essência de ser solteiro, pois alguns solteiros são arrumados. Ter um certo peso e uma certa aparência não são a essência do ouro, pois é possível um metal aparentar ser ouro (em todas as características superficiais) sem que por isso seja realmente ouro (pense na pirite). A verdadeira essência de ser solteiro é ser um indivíduo não casado do sexo masculino; a verdadeira essência de ser ouro é ter o número atómico 79. Pois em nenhuma circunstância possível algo é solteiro sem ser um homem não casado, e em nenhuma circunstância possível algo é ouro sem ter o número atómico 79. Tudo o que exigimos dos indícios práticos para reconhecer solteiros ou ouro é que funcionem na maioria das vezes, mas as considerações filosóficas da essência têm de funcionar em todas as circunstâncias possíveis. A teoria da continuidade espácio-temporal afirma que a continuidade espácio-temporal constitui de facto a essência da identidade pessoal, e não apenas que é um bom indício prático. A identidade pessoal é, simplesmente, a continuidade espácio-temporal.
A teoria tem de ser um pouco aperfeiçoada para que possa funcionar em todas as circunstâncias possíveis. Suponha que é capturado, metido numa panela, e transformado em sopa. Embora possamos traçar uma série contínua de si até à sopa, a sopa não é você. Depois de liquefeito, você deixa de existir; a matéria que antes o compunha compõe agora outra coisa qualquer. Assim, temos de aperfeiçoar a teoria da continuidade espácio-temporal até a seguinte formulação: as pessoas são numericamente idênticas se, e só se, são espácio-temporalmente contínuas ao longo de uma série de pessoas. Você está certamente ligado à sopa por uma série contínua, mas os últimos membros da série são porções de sopa e não pessoas.
São possíveis melhoramentos posteriores (entre os quais afirmar que qualquer mudança de matéria numa série contínua tem de ocorrer gradualmente, ou que os elementos anteriores de uma tal série são a causa dos elementos posteriores). Mas passemos antes a um exemplo muito interessante apresentado pelo filósofo britânico do séc. XVII, John Locke. Um príncipe interroga-se sobre como seria viver como um humilde sapateiro. Um sapateiro, reciprocamente, sonha com uma vida de príncipe. Um dia têm a sua oportunidade: trocam-se todas as características mentais de ambos. O corpo do sapateiro vem a ter a memória, conhecimento e atributos pessoais do príncipe, cujas características mentais migraram por seu turno para o corpo do sapateiro. O próprio Locke falou em almas: as almas do príncipe e do sapateiro são trocadas. Mas modifiquemos a sua história: suponhamos que a troca ocorre porque os cérebros do príncipe e do sapateiro são trocados, sem recurso a transferência de alma ou matéria, por obra de um cientista malévolo. Embora seja implausível, não é de todo inconcebível. A ciência diz-nos que os estados mentais dependem da configuração dos neurónios no cérebro. Essa configuração poderia em princípio ser alterada de modo a igualar-se à configuração de outro cérebro.
Depois da troca, a pessoa no corpo do sapateiro lembrar-se-á de ter sido um príncipe, e do desejo de experimentar a vida como sapateiro. Ele dirá para si: "Finalmente, tenho a minha oportunidade!" Reconhece-se como príncipe, e não como sapateiro. A pessoa no corpo do príncipe reconhece-se como sapateiro e não como príncipe. Terão razão?
A teoria da continuidade espácio-temporal afirma que estão errados. Os itinerários espácio-temporais contínuos são indexados a corpos; eles levam-nos do príncipe original à pessoa no corpo do príncipe, e do sapateiro original à pessoa no corpo do sapateiro. Então, se a teoria da continuidade espácio-temporal está correcta, a pessoa no corpo do sapateiro é de facto o sapateiro, e não o príncipe, e a pessoa no corpo do príncipe é de facto o príncipe e não o sapateiro.
Locke assume uma perspectiva diversa; ele concorda com o príncipe e com o sapateiro. Se tem razão, então a sua experiência mental refuta a teoria da continuidade espácio-temporal. Eis um argumento poderoso da parte de Locke. Suponhamos que o príncipe cometera um crime horrível, que sabia ir ocorrer a troca mental, e que esperava usá-la para escapar à acusação. Após a troca, o crime é descoberto, e os guardas vêm buscar o culpado. Desconhecendo de todo a troca, prendem a pessoa que está no corpo do príncipe, ignorando os seus protestos de inocência. A pessoa no corpo do sapateiro (que se reconhece como o príncipe) lembra-se de ter cometido o crime e gaba-se da sua fuga engenhosa. Trata-se de uma enorme injustiça! O fanfarrão no corpo do sapateiro deveria ser punido. Se sim, então a pessoa no corpo do sapateiro é o príncipe, e não o sapateiro, pois uma pessoa não deve ser punida senão pelo que ela mesma fez.
A continuidade psicológica e o problema da duplicação
Locke usou o exemplo do príncipe e do sapateiro para mostrar que a identidade pessoal obedece a outro tipo de continuidade, a continuidade psicológica. De acordo com a nova teoria proposta por Locke, a teoria da continuidade psicológica, uma pessoa no passado é numericamente idêntica a uma pessoa do futuro, se alguma houver, que possua a memória, as características individuais daquela pessoa, e assim por diante - quer as pessoas do passado e do futuro sejam ou não espácio-temporalmente contínuas uma com a outra. A teoria de Locke afirma que o fanfarrão no corpo do sapateiro é de facto o príncipe, e, por conseguinte, é culpado pelos crimes do príncipe, uma vez que lhe é psicologicamente contínuo. Como vimos, este parece ser o veredicto correcto. Mas Locke enfrenta o desafio fascinante que se segue, apresentado pelo filósofo Britânico do séc. XX, Bernard Williams.
O nosso cientista malévolo entra de novo em cena, e faz Charles, uma pessoa dos nossos dias, adquirir a psicologia de Guy Fawkes, um homem enforcado em 1606 por tentar fazer explodir o Parlamento inglês. Obviamente, seria difícil saber se Charles está a fingir, mas se tiver de facto as características mentais de Fawkes, então, diz Locke, Charles é Guy Fawkes. Até aqui tudo bem.
Mas agora o nosso cientista, perversamente, provoca esta transformação também em outra pessoa, Robert. Adquirir as características mentais de Fawkes consiste apenas numa alteração do cérebro; se pode acontecer a Charles, então pode acontecer também a Robert. A teoria de Locke encontra-se agora em apuros. Tanto Charles como Robert são psicologicamente contínuos com Fawkes. Se a identidade pessoal é a continuidade psicológica, então tanto Charles como Robert seriam idênticos a Fawkes. Mas tal não faz sentido, uma vez que implicaria que Charles e Robert são idênticos entre si! Pois se sabemos que
x = 4 e y = 4
Então concluímos que
x = y
Do mesmo modo, se sabemos que
Charles = Fawkes e Robert = Fawkes
Então concluímos que
Charles = Robert
Mas é absurdo afirmar que Charles = Robert. Apesar de serem agora qualitativamente similares (cada um possui a memória de Fawkes e as suas características individuais), numericamente são duas pessoas distintas. Este é o problema da duplicação na teoria de Locke: o que sucede quando a continuidade psicológica é duplicada? (ou triplicada, ou quadruplicada...)
Williams preferiu a continuidade espácio-temporal e não a psicológica devido ao problema da duplicação. Antes de o seguirmos, pensemos um pouco mais na continuidade espácio-temporal. Tal como uma árvore pode sobreviver à perda de um ramo, uma pessoa pode sobreviver à perda de algumas partes, ainda que significativas. Mesmo que lhe amputassem as pernas ou os braços você continuaria a ser a mesma pessoa. No entanto, perder partes provoca alguma descontinuidade espácio-temporal, uma vez que a região do espaço-tempo ocupada pela pessoa muda abruptamente de forma. Assim, a "continuidade espácio-temporal" deve ser entendida como continuidade espácio-temporal suficiente, de modo a permitir mudanças nas partes enquanto a coisa ou pessoa permanecem as mesmas.
Que continuidade é uma continuidade espácio-temporal "suficiente"? Imagine que tem um cancro incurável na metade direita do seu corpo mas que a esquerda se encontra saudável. Este cancro estende-se ao seu cérebro: o hemisfério direito está canceroso enquanto que o hemisfério esquerdo se encontra saudável. Felizmente, cientistas do futuro podem separar o seu corpo em dois. Podem dividir os hemisférios cerebrais e remover a parte cancerosa. São-lhe dadas próteses do braço e perna direitos, uma metade artificial do seu coração, e assim por diante. Contudo, não precisa de qualquer prótese do hemisfério cerebral direito, porque o remanescente hemisfério esquerdo saudável acabará por funcionar tal como todo o cérebro costumava funcionar. (Apesar de ficcional, não é completamente implausível: os hemisférios cerebrais humanos podem de facto funcionar independentemente quando desligados, e duplicar algumas - embora não todas - das funções do outro.) Seguramente, a pessoa após a operação é a mesma que antes: esta operação é um meio de lhe salvar a vida! Mas a operação resulta numa descontinuidade espácio-temporal significativa, uma vez que a continuidade entre a pessoa do antes e a pessoa do depois é reduzida às dimensões de metade do corpo. Moral da história: mesmo a continuidade de apenas metade do corpo seria suficiente para manter a identidade pessoal.
Mas agora a teoria da continuidade espácio-temporal enfrenta o seu próprio problema da duplicação. Alteremos a história do parágrafo anterior de tal modo que o cancro se encontre apenas no cérebro, mas presente em ambos os hemisférios. A radioterapia é a única cura, mas apresenta hipóteses de sucesso de apenas 10%. As probabilidades não são boas. Felizmente, podem ser melhoradas. Antes da radioterapia, os médicos dividem o seu corpo - incluindo os hemisférios - em dois. Cada metade é completada artificialmente como antes; inicia-se então a radioterapia aos hemisférios cancerosos. Isto dá-lhe duas vezes 10% de hipóteses em vez de uma. Mas agora surge o imprevisto na história: suponha o resultado improvável de que ambas as metades são curadas pelo tratamento. Então da operação resultam duas pessoas, cada uma com um dos seus hemisférios originais. Repare que cada um tem "suficiente" continuidade espácio-temporal consigo, uma vez que concordámos que metade de uma pessoa é um grau suficiente de continuidade. A teoria da continuidade espácio-temporal implica então que você seja idêntico com cada uma destas duas novas pessoas, e mais uma vez temos a consequência absurda de que estas duas pessoas são idênticas uma com a outra.
Cada uma das nossas teorias, a teoria da continuidade psicológica de Locke e a teoria da continuidade espácio-temporal, enfrenta o problema da duplicação. Apenas uma pessoa original pode ser contínua, quer psicologicamente quer espácio-temporalmente, com duas sucessoras. Cada teoria diz que a identidade pessoal é uma forma de continuidade. Então a pessoa original é idêntica com cada sucessora, o que implica o absurdo de as sucessoras serem idênticas entre si. Como podemos resolver este problema?
Alguns sentir-se-ão tentados a abandonar as teorias científicas virando-se para a alma. A continuidade, quer psicológica quer espácio-temporal, não determina o que acontece a uma alma. Quando um corpo é duplicado, a alma do corpo original pode ser herdada por um dos corpos sucessores, ou pelo outro, ou talvez por nenhum, mas não por ambos.
Embora esta seja uma solução correcta, não é sustentada pelas provas disponíveis: continuamos sem uma razão para crer na existência de almas. Seria melhor rever de algum modo as teorias científicas tomando em consideração o problema da duplicação. (Se formos bem sucedidos, precisamos ainda de decidir entre a continuidade espácio-temporal ou psicológica, ou uma combinação de ambas. Mas deixemos isso de lado.)
Tal como originalmente as propusémos, as teorias científicas afirmavam que a identidade pessoal é continuidade. Poderíamos reformulá-las de modo a afirmar que a identidade pessoal é continuidade não-ramificante. Normalmente a continuidade não ramifica: normalmente apenas uma pessoa de cada vez é contínua com uma única pessoa anterior. Assim, de acordo com a teoria reformulada, não existe indentidade pessoal em tais casos. Nem Charles nem Robert são idênticos com Guy Fawkes. Você não sobrevive à dupla operação de transplante.
Ao contrário da asserção de que as sucessivas pessoas são mutuamente idênticas, esta não é absurda. Mas é bastante difícil de aceitar. Imagine que recebe uma boa notícia antes da operação: a pessoa com o seu hemisfério esquerdo irá sobreviver à operação de divisão. Excelente. Mas agora, se a teoria modificada da continuidade espácio-temporal está correcta, e se além disso a pessoa com o hemisfério direito sobrevive, você não sobreviverá. Então é pior para si se a pessoa com o hemisfério direito sobreviver. Deve esperar e rezar para que a pessoa com o hemisfério direito morra. Quão estranho! A notícia de que a pessoa com o hemisfério esquerdo sobreviveria era boa; a notícia de que a pessoa com o hemisfério direito também sobreviveria parece somar-se à boa notícia. Como poderia uma acréscimo de boas notícias tornar as coisas muito, muito piores?
Soluções radicais para o problema da duplicação
A duplicação é de facto um problema tortuoso! Talvez seja altura de investigar algumas soluções radicais. Eis duas.
Derek Parfit, o filósofo britânico contemporâneo, coloca em causa uma premissa fundamental que temos mantido acerca da identidade pessoal, a premissa de que a identidade pessoal é importante. No início deste capítulo, concordámos que a identidade pessoal se liga à antecipação, ao arrependimento e ao castigo. Esta é uma parte da importância da identidade pessoal. O último parágrafo da secção anterior coloca em causa a outra parte: que é muito mau para si se ninguém no futuro for idêntico consigo. Ou seja, deixar de existir é mau. Parfit coloca em causa a premissa de que a identidade é importante. O que é realmente importante, diz Parfit, é a continuidade psicológica. Na maior parte dos casos, a continuidade psicológica e a identidade pessoal são indissociáveis. Isso ocorre porque, de acordo com Parfit, a identidade pessoal é uma continuidade não-ramificante, e a continuidade raramente ramifica. Mas no caso da duplicação ela ramifica. Nesse caso, então, você deixa de existir. Mas no caso da duplicação, diz Parfit, deixar de existir não é mau. Pois ainda que você mesmo deixe de existir, preservará tudo aquilo que importa: terá continuidade psicológica (em dose dupla, na verdade!).
As considerações de Parfit são interessantes e provocadoras. Mas podemos realmente acreditar que deixar completamente de existir é insignificante em certas circunstâncias? Isso implicaria uma revisão radical das nossas crenças comuns. Há alternativas?
Poderíamos antes reconsiderar uma das nossas outras premissas acerca da identidade pessoal. O argumento da duplicação presume que se há identidade pessoal entre a pessoa original e cada uma das sucessoras, temos a conclusão absurda de que as sucessoras são idênticas entre si. Mas esta conclusão absurda só colhe se a identidade pessoal for identidade numérica, a mesma noção expressa pelo sinal de igualdade (=) em matemática. Pressupomos isto logo à partida, mas talvez seja um erro. Talvez a "identidade pessoal" nunca seja identidade numérica. Talvez toda a mudança resulte de facto numa pessoa numericamente distinta. Se sim, então não seria necessário dizer que a ramificação destrói a identidade pessoal. Poderíamos regressar à ideia de que a "identidade" pessoal é continuidade (quer psicológica quer espácio-temporal - sobre isso temos de decidir.) Em casos de ramificação, uma única pessoa pode estar em relação de "identidade pessoal" com duas pessoas distintas; tal não é absurdo se a identidade pessoal não for identidade numérica. Precisaríamos ainda de distinguir entre a mera semelhança qualitativa ("ele não é a mesma pessoa que era antes de ir para a faculdade") e uma noção mais estrita de "identidade" pessoal que se ligue ao castigo, antecipação e arrependimento. Mas mesmo esta noção mais estrita seria mais frouxa que a identidade numérica.
Podemos realmente acreditar que as nossas fotografias de infância são de pessoas numericamente distintas de nós? Também isso iria exigir uma revisão radical das crenças. Mas às vezes a filosofia não pede menos.
Theodore Sider
Sugestões de leitura
A antologia de John Perry Personal Identity (University of California Press, 1975) é uma excelente fonte para posterior leitura acerca da identidade pessoal. Contém um excerto de John Locke defendendo a posição da continuidade psicológica, um ensaio de Derek Parfit argumentando que a identidade pessoal não é tão significativa como normalmente a consideramos, um ensaio de Thomas Nagel sobre a divisão cerebral, e muitos outros ensaios de interesse. A introdução de Perry à antologia é também excelente.
Outro bom livro, também intitulado Personal Identity, é da co-autoria de Sydney Shoemaker e Richard Swinburne (Blackwell, 1984). A primeira parte, redigida por Swinburne, defende a teoria da identidade pessoal ancorada na alma, e é particularmente acessível. A segunda parte, redigida por Shoemaker, defende a perspectiva da continuidade psicológica.
Bernard Williams introduz o problema da duplicação em "Personal Identity and Individuation", no seu livro Problems of the Self (Cambridge University Press, 1973).
Theodore Sider
Universidade de Rutgers
O conceito de identidade pessoal
Ao ser julgado por homicídio, você decide defender-se a si próprio. Alega não ser o assassino; o assassino é outra pessoa. O juiz pede-lhe que apresente provas. Tem fotografias de um intruso com bigode? Não é verdade que as suas impressões digitais coincidem com as da arma do crime? Pode provar que o assassino é esquerdino? Você responde "não". A sua defesa será muito diferente. Eis os seus argumentos conclusivos:
Concedo que o assassino é dextro, tal como eu, tem as mesmas impressões digitais que as minhas e tem o rosto barbeado, como eu. Inclusive, assemelha-se exactamente a mim nas fotografias das câmaras de vigilância apresentadas pela defesa. Não, não tenho um irmão gémeo. Na verdade, admito lembrar-me de haver cometido o crime! Mas o assassino e eu não somos a mesma pessoa, uma vez que sofri mudanças. A banda rock favorita dessa pessoa era os Led Zeppelin; agora prefiro Todd Rundgren. Essa pessoa tinha um apêndice, mas eu não; o meu foi removido na semana passada. Essa pessoa tinha vinte e cinco anos de idade; eu tenho trinta. Eu e esse assassino de há cinco anos não somos a mesma pessoa. Por conseguinte, não podem punir-me, pois ninguém é culpado de um crime cometido por outra pessoa.
Como é óbvio, nenhum tribunal aceitaria este argumento. E no entanto, o que há de errado nele? Quando alguém sofre mudanças, quer física quer psicologicamente, não é verdade que ela "não é a mesma pessoa"?
Sim, mas a expressão "a mesma pessoa" é ambígua. Há dois sentidos em que podemos afirmar duas pessoas serem a mesma. Quando uma pessoa se converte a uma religião ou rapa o cabelo, torna-se dissemelhante de como era antes. Não permanece qualitativamente a mesma pessoa, digamos. Então, num sentido ela não é "a mesma pessoa". Mas noutro sentido ela é a mesma pessoa: nenhuma outra pessoa tomou o seu lugar. Este segundo género de identidade é chamado "identidade numérica", uma vez que se trata do mesmo tipo de identidade denotada pelo sinal de igualdade em expressões matemáticas como "2 + 2 = 4": as expressões "2 + 2" e "4" representam o mesmo número. Você é numericamente a mesma pessoa que era quando era um bebé, apesar de ser qualitativamente muito diferente. Os argumentos conclusivos do julgamento confundem os dois tipos de identidade. Você de facto mudou desde o cometimento do crime: qualitativamente não é a mesma pessoa. Mas você e o assassino são numericamente a mesma pessoa; nenhum outro assassinou a vítima. É verdade que "ninguém pode ser punido por crimes cometidos por outrem". Mas "outrem" significa aqui alguém numericamente distinto.
O conceito de identidade numérica é importante para as relações humanas. Determina quem podemos punir, uma vez que é injusto punir alguém numericamente distinto do transgressor. Também desempenha um papel crucial em emoções como a antecipação, o arrependimento e o remorso. Não pode sentir pelos erros dos outros o mesmo tipo de arrependimento ou remorso que sente pelos seus próprios erros. Não pode antecipar os prazeres de que outra pessoa terá experiência, por mais que essa pessoa seja semelhante a si, em termos qualitativos. A questão de saber o que torna as pessoas numericamente idênticas ao longo do tempo é conhecida dos filósofos como a questão da identidade pessoal.
A questão da identidade pessoal pode ser dramatizada através de um exemplo. Imagine que está muito curioso acerca de como será o futuro.
Um dia encontra Deus particularmente bem-humorado; ela promete ressuscitá-lo quinhentos anos após a sua morte, para que tenha experiência do futuro. Ao princípio fica compreensivelmente entusiasmado, mas depois começa a duvidar. Como irá Deus garantir que você existirá no futuro? Daqui a quinhentos anos você terá morrido e e o seu corpo apodrecido. A matéria que o compõe agora ter-se-á então dispersado pela superfície da terra. Deus poderia facilmente criar a partir de outra matéria uma nova pessoa que se assemelhasse a si, mas isso não o consola. Quer ser você mesmo a existir no futuro; alguém meramente parecido consigo não serve.
Este exemplo torna o problema da identidade pessoal particularmente intenso, mas repare que as mesmas questões são levantadas pela mudança trivial ao longo do tempo. Recordando fotografias da infância, você diz "este era eu". Mas porquê? O que faz que aquele bebé e você sejam a mesma pessoa, apesar de todas as mudanças que sofreu com o correr dos anos?
(Além de pessoas, os filósofos também reflectem na identidade de objectos ao longo do tempo; reflectem no que faz um electrão, árvore, bicicleta ou nação serem a mesma coisa em tempos distintos. Estes objectos levantam muitas das mesmas questões que as pessoas, além de algumas questões novas. Mas as pessoas são particularmente fascinantes. Por um lado, apenas a identidade pessoal se liga a emoções como o arrependimento e a antecipação. Por outro lado, nós somos pessoas. É natural que nos interessemos em particular por nós mesmos.)
Então, como poderia Deus fazer você existir no futuro? Como vimos, não basta reconstituir, a partir de outra matéria, uma pessoa fisicamente similar. Seria mera semelhança qualitativa. Adiantaria usar a mesma matéria? Deus poderia recolher todos os protões, neutrões e electrões que agora constituem o seu corpo, mas que então estarão dispersos pela superfície da Terra, e transformá-los numa pessoa. Como bónus, ela poderia até fazer esta nova pessoa parecer-se consigo. Mas não seria você. Seria uma nova pessoa criada a partir da sua velha matéria. Se não concorda, então pense nisto. Esqueça o futuro; tanto quanto sabe, a matéria que agora compõe o seu corpo em tempos compôs o corpo de outra pessoa, há milhares de anos. É altamente improvável, mas contudo possível, que a matéria de um antigo estadista grego se tenha reciclado pela biosfera vindo a acabar em si. Claramente, isso não o tornaria numericamente idêntico àquele estadista. Você não deveria ser punido pelos crimes daquele; não poderia arrepender-se dos seus feitos. A coincidência da matéria não é condição suficiente para a identidade pessoal.
Nem é necessária. Pelo menos, a exacta coincidência da matéria não é condição necessária da identidade pessoal. As pessoas sobrevivem constantemente a mundanças graduais na sua matéria. Ingerem e segregam, cortam o cabelo e perdem porções de pele, e por vezes fazem implantes de pele ou de outra matéria nos seus corpos. Na verdade, o processo normal de ingestão e excreção reciclam quase toda a sua matéria de anos a anos. No entanto, você continua a ser o mesmo. A identidade pessoal não está especialmente ligada à coincidência da matéria. Então com o que está ela ligada?
A alma
Alguns filósofos e pensadores religiosos respondem: a alma.
A alma de uma pessoa é a sua essência psicológica, uma entidade não-física onde ocorrem pensamentos e emoções. A alma permanece imune a todas as formas de transformação física do corpo e pode mesmo sobreviver à destruição total do corpo. A sua alma é o que o faz ser você. O bebé nas fotos é você porque a mesma alma que agora habita o seu corpo habitava então o corpo daquele bebé. Deus pode então ressuscitá-lo no futuro criando um novo corpo e inserindo-lhe a sua alma.
As almas parecem fornecer respostas rápidas a muitas perplexidades filosóficas sobre a identidade ao longo do tempo, mas não há qualquer boa razão para acreditar que existem. Os filósofos costumavam argumentar que as almas são necessárias para explicar os pensamentos e as emoções, uma vez que os pensamentos e as emoções não parecem fazer parte do corpo físico. Mas este argumento é destruído pela ciência contemporânea. Os seres humanos sabem desde há muito que uma parte do corpo - o cérebro - está peculiarmente ligada à vida mental. Mesmo antes da neurociência contemporânea, sabia-se que as lesões cefálicas causam danos psicológicos. Sabemos agora como certas partes do cérebro estão associadas a certos efeitos psicológicos. Embora estejamos longe de poder correlacionar inteiramente estados psicológicos com estados cerebrais, progredimos o suficiente ao ponto de a existência de uma tal correlação ser uma hipótese razoável. É razoável inferir que a própria vida mental reside no cérebro, e que a alma não existe. Não se trata de dizer que a ciência neurológica refuta a existência da alma: as almas poderiam existir ainda que os estados psicológicos e os estados mentais estivessem perfeitamente correlacionados. Mas se o cérebro físico explica por si a vida mental, não há necessidade de postular almas.
Além disso, os defensores da alma vêm-se em apuros para explicar como as almas pensam. Os defensores do cérebro possuem o princípio de uma explicação: o cérebro contém biliões de neurónios, cujas interacções incrivelmente complexas produzem o pensamento. Ninguém sabe ao certo como isto funciona, mas os neurocientistas pelo menos avançaram um pouco. O defensor da alma não tem nada de comparável para dizer, uma vez que a maioria dos defensores da alma pensam que a alma é destituída de partes menores. As almas não são compostas de biliões de minúsculas particulas anímicas. (Se o fossem, deixariam de fornecer respostas rápidas para as perplexidades filosóficas acerca da identidade ao longo do tempo. Os defensores da alma enfrentariam as mesmas difíceis questões filosóficas que os defensores do cérebro. Por exemplo: o que torna uma alma a mesma ao longo do tempo, apesar das mudanças nas suas partículas anímicas?) Mas se as almas não têm minúsculas partículas anímicas, não têm algo semelhante a neurónios para as ajudar a fazer o que fazem. Como é que, então, fazem o que fazem?
A continuidade espácio-temporal e o caso do príncipe e do sapateiro
Pondo de parte as almas, voltemo-nos agora para as teorias científicas que sustentam a identidade pessoal em fenómenos naturais. Tais teorias empregam o conceito de continuidade espácio-temporal. Considere a identidade ao longo do tempo de um objecto inanimado, tal como uma bola de baseball. Um lançador agarra a bola e esboça o gesto do lançamento; momentos depois, uma bola encontra-se na luva do apanhador. Serão ambas a mesma bola? Como saberemos? É mais fácil se tivermos mantido os olhos na bola. Uma série contínua - uma série de posições no espaço e no tempo contendo uma bola de baseball, a primeira na mão do lançador, posições sucessivas nos espaços e tempos intermédios, e a posição final na luva do apanhador - convence-nos de que a bola do lançador e a bola do apanhador são a mesma. Se não observamos uma tal série contínua podemos suspeitar que se trata de bolas diferentes. Ora, habitualmente não precisamos deste método para identificar uma pessoa ao longo do tempo, uma vez que as pessoas na sua maioria diferem muito umas das outras, mas pode vir a ser útil ao lidarmos com gémeos verdadeiros. Quer saber se é o Zé Manel ou o Manel Zé que está na cela? Primeiro, reúna a informação dos vídeos de vigilância ou de informadores. Depois, usando esta informação, esboçe uma série contínua regredindo no tempo a partir da pessoa na cela, e veja a qual dos gémeos ela conduz.
Todos concordam em que a continuidade espácio-temporal é um bom indício prático da identidade pessoal. Mas enquanto filósofos queremos mais. Queremos descobrir a essência da identidade pessoal; queremos saber o que é ter identidade pessoal, e não apenas saber reconhecê-la quando está presente. Se quer saber se um homem é solteiro, é um bom indício prático verificar se tem o apartamento desarrumado; se quer determinar se um dado metal é ouro, a inspecção visual e a pesagem numa balança darão a resposta certa nove vezes em cada dez. Mas ter o apartamento desarrumado não é a essência de ser solteiro, pois alguns solteiros são arrumados. Ter um certo peso e uma certa aparência não são a essência do ouro, pois é possível um metal aparentar ser ouro (em todas as características superficiais) sem que por isso seja realmente ouro (pense na pirite). A verdadeira essência de ser solteiro é ser um indivíduo não casado do sexo masculino; a verdadeira essência de ser ouro é ter o número atómico 79. Pois em nenhuma circunstância possível algo é solteiro sem ser um homem não casado, e em nenhuma circunstância possível algo é ouro sem ter o número atómico 79. Tudo o que exigimos dos indícios práticos para reconhecer solteiros ou ouro é que funcionem na maioria das vezes, mas as considerações filosóficas da essência têm de funcionar em todas as circunstâncias possíveis. A teoria da continuidade espácio-temporal afirma que a continuidade espácio-temporal constitui de facto a essência da identidade pessoal, e não apenas que é um bom indício prático. A identidade pessoal é, simplesmente, a continuidade espácio-temporal.
A teoria tem de ser um pouco aperfeiçoada para que possa funcionar em todas as circunstâncias possíveis. Suponha que é capturado, metido numa panela, e transformado em sopa. Embora possamos traçar uma série contínua de si até à sopa, a sopa não é você. Depois de liquefeito, você deixa de existir; a matéria que antes o compunha compõe agora outra coisa qualquer. Assim, temos de aperfeiçoar a teoria da continuidade espácio-temporal até a seguinte formulação: as pessoas são numericamente idênticas se, e só se, são espácio-temporalmente contínuas ao longo de uma série de pessoas. Você está certamente ligado à sopa por uma série contínua, mas os últimos membros da série são porções de sopa e não pessoas.
São possíveis melhoramentos posteriores (entre os quais afirmar que qualquer mudança de matéria numa série contínua tem de ocorrer gradualmente, ou que os elementos anteriores de uma tal série são a causa dos elementos posteriores). Mas passemos antes a um exemplo muito interessante apresentado pelo filósofo britânico do séc. XVII, John Locke. Um príncipe interroga-se sobre como seria viver como um humilde sapateiro. Um sapateiro, reciprocamente, sonha com uma vida de príncipe. Um dia têm a sua oportunidade: trocam-se todas as características mentais de ambos. O corpo do sapateiro vem a ter a memória, conhecimento e atributos pessoais do príncipe, cujas características mentais migraram por seu turno para o corpo do sapateiro. O próprio Locke falou em almas: as almas do príncipe e do sapateiro são trocadas. Mas modifiquemos a sua história: suponhamos que a troca ocorre porque os cérebros do príncipe e do sapateiro são trocados, sem recurso a transferência de alma ou matéria, por obra de um cientista malévolo. Embora seja implausível, não é de todo inconcebível. A ciência diz-nos que os estados mentais dependem da configuração dos neurónios no cérebro. Essa configuração poderia em princípio ser alterada de modo a igualar-se à configuração de outro cérebro.
Depois da troca, a pessoa no corpo do sapateiro lembrar-se-á de ter sido um príncipe, e do desejo de experimentar a vida como sapateiro. Ele dirá para si: "Finalmente, tenho a minha oportunidade!" Reconhece-se como príncipe, e não como sapateiro. A pessoa no corpo do príncipe reconhece-se como sapateiro e não como príncipe. Terão razão?
A teoria da continuidade espácio-temporal afirma que estão errados. Os itinerários espácio-temporais contínuos são indexados a corpos; eles levam-nos do príncipe original à pessoa no corpo do príncipe, e do sapateiro original à pessoa no corpo do sapateiro. Então, se a teoria da continuidade espácio-temporal está correcta, a pessoa no corpo do sapateiro é de facto o sapateiro, e não o príncipe, e a pessoa no corpo do príncipe é de facto o príncipe e não o sapateiro.
Locke assume uma perspectiva diversa; ele concorda com o príncipe e com o sapateiro. Se tem razão, então a sua experiência mental refuta a teoria da continuidade espácio-temporal. Eis um argumento poderoso da parte de Locke. Suponhamos que o príncipe cometera um crime horrível, que sabia ir ocorrer a troca mental, e que esperava usá-la para escapar à acusação. Após a troca, o crime é descoberto, e os guardas vêm buscar o culpado. Desconhecendo de todo a troca, prendem a pessoa que está no corpo do príncipe, ignorando os seus protestos de inocência. A pessoa no corpo do sapateiro (que se reconhece como o príncipe) lembra-se de ter cometido o crime e gaba-se da sua fuga engenhosa. Trata-se de uma enorme injustiça! O fanfarrão no corpo do sapateiro deveria ser punido. Se sim, então a pessoa no corpo do sapateiro é o príncipe, e não o sapateiro, pois uma pessoa não deve ser punida senão pelo que ela mesma fez.
A continuidade psicológica e o problema da duplicação
Locke usou o exemplo do príncipe e do sapateiro para mostrar que a identidade pessoal obedece a outro tipo de continuidade, a continuidade psicológica. De acordo com a nova teoria proposta por Locke, a teoria da continuidade psicológica, uma pessoa no passado é numericamente idêntica a uma pessoa do futuro, se alguma houver, que possua a memória, as características individuais daquela pessoa, e assim por diante - quer as pessoas do passado e do futuro sejam ou não espácio-temporalmente contínuas uma com a outra. A teoria de Locke afirma que o fanfarrão no corpo do sapateiro é de facto o príncipe, e, por conseguinte, é culpado pelos crimes do príncipe, uma vez que lhe é psicologicamente contínuo. Como vimos, este parece ser o veredicto correcto. Mas Locke enfrenta o desafio fascinante que se segue, apresentado pelo filósofo Britânico do séc. XX, Bernard Williams.
O nosso cientista malévolo entra de novo em cena, e faz Charles, uma pessoa dos nossos dias, adquirir a psicologia de Guy Fawkes, um homem enforcado em 1606 por tentar fazer explodir o Parlamento inglês. Obviamente, seria difícil saber se Charles está a fingir, mas se tiver de facto as características mentais de Fawkes, então, diz Locke, Charles é Guy Fawkes. Até aqui tudo bem.
Mas agora o nosso cientista, perversamente, provoca esta transformação também em outra pessoa, Robert. Adquirir as características mentais de Fawkes consiste apenas numa alteração do cérebro; se pode acontecer a Charles, então pode acontecer também a Robert. A teoria de Locke encontra-se agora em apuros. Tanto Charles como Robert são psicologicamente contínuos com Fawkes. Se a identidade pessoal é a continuidade psicológica, então tanto Charles como Robert seriam idênticos a Fawkes. Mas tal não faz sentido, uma vez que implicaria que Charles e Robert são idênticos entre si! Pois se sabemos que
x = 4 e y = 4
Então concluímos que
x = y
Do mesmo modo, se sabemos que
Charles = Fawkes e Robert = Fawkes
Então concluímos que
Charles = Robert
Mas é absurdo afirmar que Charles = Robert. Apesar de serem agora qualitativamente similares (cada um possui a memória de Fawkes e as suas características individuais), numericamente são duas pessoas distintas. Este é o problema da duplicação na teoria de Locke: o que sucede quando a continuidade psicológica é duplicada? (ou triplicada, ou quadruplicada...)
Williams preferiu a continuidade espácio-temporal e não a psicológica devido ao problema da duplicação. Antes de o seguirmos, pensemos um pouco mais na continuidade espácio-temporal. Tal como uma árvore pode sobreviver à perda de um ramo, uma pessoa pode sobreviver à perda de algumas partes, ainda que significativas. Mesmo que lhe amputassem as pernas ou os braços você continuaria a ser a mesma pessoa. No entanto, perder partes provoca alguma descontinuidade espácio-temporal, uma vez que a região do espaço-tempo ocupada pela pessoa muda abruptamente de forma. Assim, a "continuidade espácio-temporal" deve ser entendida como continuidade espácio-temporal suficiente, de modo a permitir mudanças nas partes enquanto a coisa ou pessoa permanecem as mesmas.
Que continuidade é uma continuidade espácio-temporal "suficiente"? Imagine que tem um cancro incurável na metade direita do seu corpo mas que a esquerda se encontra saudável. Este cancro estende-se ao seu cérebro: o hemisfério direito está canceroso enquanto que o hemisfério esquerdo se encontra saudável. Felizmente, cientistas do futuro podem separar o seu corpo em dois. Podem dividir os hemisférios cerebrais e remover a parte cancerosa. São-lhe dadas próteses do braço e perna direitos, uma metade artificial do seu coração, e assim por diante. Contudo, não precisa de qualquer prótese do hemisfério cerebral direito, porque o remanescente hemisfério esquerdo saudável acabará por funcionar tal como todo o cérebro costumava funcionar. (Apesar de ficcional, não é completamente implausível: os hemisférios cerebrais humanos podem de facto funcionar independentemente quando desligados, e duplicar algumas - embora não todas - das funções do outro.) Seguramente, a pessoa após a operação é a mesma que antes: esta operação é um meio de lhe salvar a vida! Mas a operação resulta numa descontinuidade espácio-temporal significativa, uma vez que a continuidade entre a pessoa do antes e a pessoa do depois é reduzida às dimensões de metade do corpo. Moral da história: mesmo a continuidade de apenas metade do corpo seria suficiente para manter a identidade pessoal.
Mas agora a teoria da continuidade espácio-temporal enfrenta o seu próprio problema da duplicação. Alteremos a história do parágrafo anterior de tal modo que o cancro se encontre apenas no cérebro, mas presente em ambos os hemisférios. A radioterapia é a única cura, mas apresenta hipóteses de sucesso de apenas 10%. As probabilidades não são boas. Felizmente, podem ser melhoradas. Antes da radioterapia, os médicos dividem o seu corpo - incluindo os hemisférios - em dois. Cada metade é completada artificialmente como antes; inicia-se então a radioterapia aos hemisférios cancerosos. Isto dá-lhe duas vezes 10% de hipóteses em vez de uma. Mas agora surge o imprevisto na história: suponha o resultado improvável de que ambas as metades são curadas pelo tratamento. Então da operação resultam duas pessoas, cada uma com um dos seus hemisférios originais. Repare que cada um tem "suficiente" continuidade espácio-temporal consigo, uma vez que concordámos que metade de uma pessoa é um grau suficiente de continuidade. A teoria da continuidade espácio-temporal implica então que você seja idêntico com cada uma destas duas novas pessoas, e mais uma vez temos a consequência absurda de que estas duas pessoas são idênticas uma com a outra.
Cada uma das nossas teorias, a teoria da continuidade psicológica de Locke e a teoria da continuidade espácio-temporal, enfrenta o problema da duplicação. Apenas uma pessoa original pode ser contínua, quer psicologicamente quer espácio-temporalmente, com duas sucessoras. Cada teoria diz que a identidade pessoal é uma forma de continuidade. Então a pessoa original é idêntica com cada sucessora, o que implica o absurdo de as sucessoras serem idênticas entre si. Como podemos resolver este problema?
Alguns sentir-se-ão tentados a abandonar as teorias científicas virando-se para a alma. A continuidade, quer psicológica quer espácio-temporal, não determina o que acontece a uma alma. Quando um corpo é duplicado, a alma do corpo original pode ser herdada por um dos corpos sucessores, ou pelo outro, ou talvez por nenhum, mas não por ambos.
Embora esta seja uma solução correcta, não é sustentada pelas provas disponíveis: continuamos sem uma razão para crer na existência de almas. Seria melhor rever de algum modo as teorias científicas tomando em consideração o problema da duplicação. (Se formos bem sucedidos, precisamos ainda de decidir entre a continuidade espácio-temporal ou psicológica, ou uma combinação de ambas. Mas deixemos isso de lado.)
Tal como originalmente as propusémos, as teorias científicas afirmavam que a identidade pessoal é continuidade. Poderíamos reformulá-las de modo a afirmar que a identidade pessoal é continuidade não-ramificante. Normalmente a continuidade não ramifica: normalmente apenas uma pessoa de cada vez é contínua com uma única pessoa anterior. Assim, de acordo com a teoria reformulada, não existe indentidade pessoal em tais casos. Nem Charles nem Robert são idênticos com Guy Fawkes. Você não sobrevive à dupla operação de transplante.
Ao contrário da asserção de que as sucessivas pessoas são mutuamente idênticas, esta não é absurda. Mas é bastante difícil de aceitar. Imagine que recebe uma boa notícia antes da operação: a pessoa com o seu hemisfério esquerdo irá sobreviver à operação de divisão. Excelente. Mas agora, se a teoria modificada da continuidade espácio-temporal está correcta, e se além disso a pessoa com o hemisfério direito sobrevive, você não sobreviverá. Então é pior para si se a pessoa com o hemisfério direito sobreviver. Deve esperar e rezar para que a pessoa com o hemisfério direito morra. Quão estranho! A notícia de que a pessoa com o hemisfério esquerdo sobreviveria era boa; a notícia de que a pessoa com o hemisfério direito também sobreviveria parece somar-se à boa notícia. Como poderia uma acréscimo de boas notícias tornar as coisas muito, muito piores?
Soluções radicais para o problema da duplicação
A duplicação é de facto um problema tortuoso! Talvez seja altura de investigar algumas soluções radicais. Eis duas.
Derek Parfit, o filósofo britânico contemporâneo, coloca em causa uma premissa fundamental que temos mantido acerca da identidade pessoal, a premissa de que a identidade pessoal é importante. No início deste capítulo, concordámos que a identidade pessoal se liga à antecipação, ao arrependimento e ao castigo. Esta é uma parte da importância da identidade pessoal. O último parágrafo da secção anterior coloca em causa a outra parte: que é muito mau para si se ninguém no futuro for idêntico consigo. Ou seja, deixar de existir é mau. Parfit coloca em causa a premissa de que a identidade é importante. O que é realmente importante, diz Parfit, é a continuidade psicológica. Na maior parte dos casos, a continuidade psicológica e a identidade pessoal são indissociáveis. Isso ocorre porque, de acordo com Parfit, a identidade pessoal é uma continuidade não-ramificante, e a continuidade raramente ramifica. Mas no caso da duplicação ela ramifica. Nesse caso, então, você deixa de existir. Mas no caso da duplicação, diz Parfit, deixar de existir não é mau. Pois ainda que você mesmo deixe de existir, preservará tudo aquilo que importa: terá continuidade psicológica (em dose dupla, na verdade!).
As considerações de Parfit são interessantes e provocadoras. Mas podemos realmente acreditar que deixar completamente de existir é insignificante em certas circunstâncias? Isso implicaria uma revisão radical das nossas crenças comuns. Há alternativas?
Poderíamos antes reconsiderar uma das nossas outras premissas acerca da identidade pessoal. O argumento da duplicação presume que se há identidade pessoal entre a pessoa original e cada uma das sucessoras, temos a conclusão absurda de que as sucessoras são idênticas entre si. Mas esta conclusão absurda só colhe se a identidade pessoal for identidade numérica, a mesma noção expressa pelo sinal de igualdade (=) em matemática. Pressupomos isto logo à partida, mas talvez seja um erro. Talvez a "identidade pessoal" nunca seja identidade numérica. Talvez toda a mudança resulte de facto numa pessoa numericamente distinta. Se sim, então não seria necessário dizer que a ramificação destrói a identidade pessoal. Poderíamos regressar à ideia de que a "identidade" pessoal é continuidade (quer psicológica quer espácio-temporal - sobre isso temos de decidir.) Em casos de ramificação, uma única pessoa pode estar em relação de "identidade pessoal" com duas pessoas distintas; tal não é absurdo se a identidade pessoal não for identidade numérica. Precisaríamos ainda de distinguir entre a mera semelhança qualitativa ("ele não é a mesma pessoa que era antes de ir para a faculdade") e uma noção mais estrita de "identidade" pessoal que se ligue ao castigo, antecipação e arrependimento. Mas mesmo esta noção mais estrita seria mais frouxa que a identidade numérica.
Podemos realmente acreditar que as nossas fotografias de infância são de pessoas numericamente distintas de nós? Também isso iria exigir uma revisão radical das crenças. Mas às vezes a filosofia não pede menos.
Theodore Sider
Sugestões de leitura
A antologia de John Perry Personal Identity (University of California Press, 1975) é uma excelente fonte para posterior leitura acerca da identidade pessoal. Contém um excerto de John Locke defendendo a posição da continuidade psicológica, um ensaio de Derek Parfit argumentando que a identidade pessoal não é tão significativa como normalmente a consideramos, um ensaio de Thomas Nagel sobre a divisão cerebral, e muitos outros ensaios de interesse. A introdução de Perry à antologia é também excelente.
Outro bom livro, também intitulado Personal Identity, é da co-autoria de Sydney Shoemaker e Richard Swinburne (Blackwell, 1984). A primeira parte, redigida por Swinburne, defende a teoria da identidade pessoal ancorada na alma, e é particularmente acessível. A segunda parte, redigida por Shoemaker, defende a perspectiva da continuidade psicológica.
Bernard Williams introduz o problema da duplicação em "Personal Identity and Individuation", no seu livro Problems of the Self (Cambridge University Press, 1973).
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.
*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.
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Re.: Em que consiste a identidade pessoal?

Título: Livro - Filosofia da Mente
Título Original:
Subtítulo:
Autor: Claudio Costa
Tradução:
Editora: Jorge Zahar
Assunto: Filosofia
ISBN: 8571108307
Idioma: Português
Tipo de Capa: BROCHURA
Edição:
Número de Páginas: 68
Uma clara, concisa e atualizada exposição crítica dos problemas mais discutidos pela filosofia da mente contemporânea: a natureza da consciência, a relação mente-corpo, a identidade pessoal e a estrutura da ação humana.
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Re.: Em que consiste a identidade pessoal?
Prefiro acreditar na poderosa intuição que temos de um eu... não importa quantos demónios existam na caximónia. Eles lutam, dão porrada e ás vezes fazem-nos parecer malucos. Mas o padrão formado por esses demónio é uma identidade. Pode ser fluída mas é eu...
x = 4 e y = 4
Então concluímos que
x = y
Do mesmo modo, se sabemos que
Charles = Fawkes e Robert = Fawkes
Então concluímos que
Charles = Robert
Mas é absurdo afirmar que Charles = Robert.
Parece um argumento pós-moderno, Que pode misturar o significado do Pi com o crescimento de cenouras e da sua relação com a batata e da significância de tudo isto com o sexo...
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MDiesel escreveu:x = 4 e y = 4
Então concluímos que
x = y
Do mesmo modo, se sabemos que
Charles = Fawkes e Robert = Fawkes
Então concluímos que
Charles = Robert
Mas é absurdo afirmar que Charles = Robert.
Parece um argumento pós-moderno, Que pode misturar o significado do Pi com o crescimento de cenouras e da sua relação com a batata e da significância de tudo isto com o sexo...
Não tem nada de pós-moderno nisso. O que vc não entendeu?
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Acauan escreveu:Se me permitem um momento narcísico, gostei tanto da definição abaixo que vou assiná-la:Acauan escreveu:A identidade pessoal reside na capacidade do ser em afirmar "eu existo" e compreender esta afirmação como uma verdade absoluta e imutável no tempo e no espaço.
Acauan Guajajara
Em outra ocasião, posso apresentar a crítica de Nietzsche, Pascal, Russel e Wittgenstein para o argumento do "cogito", até porque tenho que pegar novamente na fonte.
Fora isso, o "cogito" não fornece explicação para a continuidade temporal da pessoa.
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