Educação, crime e desemprego

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Educação, crime e desemprego

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Folha de S.Paulo


ANTONIO DELFIM NETTO

Educação, crime e desemprego

NAS ÚLTIMAS duas semanas confirmaram-se os piores temores sobre o futuro dos cidadãos que vivem no Estado de São Paulo. Estão a nos indicar que sua paciência e tolerância estão se esgotando. Podemos estar chegando àquele ponto em que o sufrágio universal responde com radicalidade.
Foram três esses indicadores: 1º) a evidente incapacidade do Estado de controlar a violência, que se organizou sob a complacência dos governantes, como já acontecera nos anos 80 no Rio de Janeiro.
Transacionaram, talvez inconscientemente, um pouco de tranqüilidade aparente por uma acomodação no tratamento dos criminosos. Não se trata dos direitos humanos que devem ser respeitados: trata-se de um certo desinteresse das autoridades que "detestam falar do assunto", o que tornou possível a formidável organização tática e estratégica do crime a que assistimos atônitos; 2º) o estado absolutamente deplorável a que chegou a educação fundamental pública em São Paulo (particularmente na periferia da capital), revelada nos números divulgados pela mais recente avaliação do Ministério de Educação: a juventude do estrato mais pobre da população foi abandonada, o que lhe tirou a possibilidade de progredir num mundo onde a capacidade de aprender é o diferencial do sucesso; e 3º) o levantamento do pavoroso nível de desemprego na região metropolitana de São Paulo por conta do pífio crescimento: na faixa etária de 15 a 17 anos (onde 43% dos indivíduos já estão inseridos na força de trabalho), de cada dez jovens, seis se encontram desempregados; e na faixa de 18 a 24 anos (onde 83% já estão inseridos na força de trabalho), de cada dez jovens, três se encontram sem trabalho. Esses não são fenômenos independentes entre si ou mesmo peculiares a São Paulo. Revelam, entretanto, uma gravidade maior justamente porque ocorrem no Estado mais rico da Federação.
Os três são, basicamente, produto da baixa qualidade do ensino público. Foram gestados lentamente, ao longo de uma geração, por governos que trocaram a obrigação de educar pelo "exibicionismo pedagógico". Quando fingiram preocupar-se com a questão, atacaram o problema da "quantidade" e exterminaram a "qualidade", como agora se confirmou. A solução definitiva dos três problemas será lenta: uma revolução cuidadosa, inteligente e persistente na educação fundamental proporcionada pelo Estado, que deveria ter começado anteontem...
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

Trancado