Samuel e o átomo

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spink
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Samuel e o átomo

Mensagem por spink »

DEMÉTRIO MAGNOLI

Samuel e o átomo

NA CAMPANHA eleitoral de 2002, Lula elogiou o "planejamento de longo prazo" da ditadura militar. Agora, Samuel Pinheiro Guimarães, o secretário-geral do Itamaraty, divulga um programa de política externa que eleva o general Geisel ao panteão dos heróis da pátria, atualiza a noção de Brasil-Potência e ressuscita o projeto de desenvolvimento nacional de armas nucleares.
A leitura de "Desafios do Brasil na Era dos Gigantes" (Contraponto, 2006), de autoria do secretário-geral, é uma viagem no tempo rumo à geopolítica militar dos anos 70. A nação deveria se engajar na eliminação da "vulnerabilidade militar" que "decorre da adesão do Brasil, em situação de inferioridade, a acordos de não-proliferação de armas de destruição em massa".
O TNP (Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares) nasceu em 1968 sob um paradigma assimétrico. As potências nucleares prometiam eliminar seus arsenais num futuro incerto, enquanto os demais signatários descartavam o desenvolvimento de tecnologia nuclear com fins bélicos. O Brasil recusou-se a aderir e, por algum tempo, acalentou um programa nuclear clandestino. Nos anos 90, consolidando a aliança estratégica com a Argentina, que se baseia na desistência mútua da bomba atômica, o Brasil assinou o tratado. O secretário-geral caracteriza esse ato como renúncia "ao direito inalienável de defesa".
Samuel Pinheiro interpreta o TNP como elemento de um esforço dos EUA "de desarmamento dos países já desarmados" e rejubila-se com "o reconhecimento da Índia e do Paquistão como potências nucleares de fato", pois isso representaria "uma exceção ao processo de concentração do poder militar". Ele só enxerga desvantagens na decisão do Brasil e da Argentina de não se tornarem a Índia e o Paquistão da América do Sul e prega "a reserva ou a ausência do Brasil de qualquer negociação" de normas sobre armas de destruição em massa. No fim do livro, o autor propõe "construir uma capacidade militar dissuasiva sem armas de destruição em massa". A frase, contraditória com toda a argumentação precedente, é um álibi político elaborado ao preço da abdicação da honestidade intelectual.
Em política externa, palavras são atos. As palavras do secretário-geral, escritas na conjuntura da "guerra ao terror" e do impasse no Irã, ricochetearão sobre o programa nuclear civil brasileiro e a relação bilateral com a Argentina. Como cidadão e diplomata, Samuel Pinheiro tem o direito de difundir suas opiniões. Como número 2 do Itamaraty, não tem o direito de abrir fogo contra decisões de Estado. Um governo sério o aliviaria do peso de seu cargo. Mas isso não acontecerá.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opinia ... 200606.htm
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

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Cisco
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Re.: Samuel e o átomo

Mensagem por Cisco »

Porque no Psiut Carlos?

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spink
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Re.: Samuel e o átomo

Mensagem por spink »

Vacilo. :emoticon16:
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

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Spitfire
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Re.: Samuel e o átomo

Mensagem por Spitfire »

Carlos... te lembra quando os milicos estavam construindo Itaipú?

Eu era guri, morava no interior de SP (Fernandópolis)... meu padrasto é engenheiro civil e estava envolvido na construção das usinas hidroelétricas nesta região (SP/MG).
Lembro-me perfeitamente que o assuntório era sobre o desperdicio de dinheiro que estava sendo a construção de "uma obra faraônica" daquele porte, desnecessária.

Duvido alguem ter mais "visão estratégica" e planejamento a longo prazo como os milicos tiveram.

Quando teve o APAGÃO eu estava em SP à serviço... juro que naquele momento me lembrei daqueles comentários.

Programa nuclear brasileiro? Agradeça ao Collor (menina dos olhos da direita brasileira) que jogou uma pá de cal sobre o reator brasileiro. :emoticon8:

Trancado