..."Por quê vagueias assim Gilgamech?
A vida sem fim que tu procuras,
Tu, nunca a encontrarás.
Quando os deuses criaram os homens,
Consignaram-lhes a morte,
Reservando a imortalidade unicamente para eles próprios.
Tu deves comer com prazer,
Proceder com alegria dia e noite,
Fazendo do quotidiano uma festa,
Dança e diverte-te, dia e noite,
Adopta hábitos higiénicos,
Lava-te e banha-te,
Olha com ternura o teu filho
Que te segura a mão,
Faz a felicidade da tua mulher
Apertada contra ti
Porque é através dela
Que nasce a única perspectiva dos homens"...
Neste planeta com cerca de 4.600 milhões de anos, a vida começou há 3.500 milhões de anos, acabando por se tornar mais complexa 570 milhões de anos atrás.
As primeiras plantas surgiram há 430 milhões de anos e os primeiros animais terrestres há 400 milhões. Após ser dominada pelos dinossauros entre 200 e 45 milhões de anos atrás, os mamíferos passaram a povoar a Terra há 50 milhões de anos.
Os primeiros macacos viveram há 25 milhões de anos e passariam mais 21 milhões de anos antes de surgirem os Australopitecos aos quais se seguiria, há 2,5 milhões de anos, o Homo Habilis.
Após o início dos ciclos glaciares, há 2 milhões de anos, seria a vez de se detectar a presença do Homo Erectus em África e Java, há 1,7 milhões de anos, e mais tarde na Europa e Médio Oriente. Após a descoberta do fogo, há 460 mil anos, na China, o Homo Sapiens arcaico habitaria a África, a Ásia e a Europa desde há 250 mil anos. Os primeiros homens de Neanderthal balbuciavam a sua linguagem primitiva há 120 mil anos, na Europa, antes de extinguirem cerca de 33 mil anos A.C..
Mas seria logo após o início do último período glaciar (há 110 mil anos) que surgiria finalmente o Homo Sapiens (há 100 mil anos) desenvolvendo um dialecto mais elaborado. A Austrália seria colonizada há 55 mil anos e a primeira arte rupestre teria sido executada há cerca de 45 mil anos, numa altura em que despertava a consciência do sagrado.
As temperaturas baixaram como nunca há cerca de 20 mil anos permitindo, com a consequente descida do nível do mar, que o homem viesse a atravessar o estreito de Behring e colonizasse a América há 13 mil anos. Três mil anos depois iniciar-se-ia o actual período interglaciar, propiciando o início da agricultura, há cerca de 11 mil anos, no Médio Oriente, local onde seria descoberta a metalurgia há cerca de 8.500 anos.
Entre o início do período pré-dinástico no Egipto (há cerca de 7 mil anos) e a chegada dos sumérios, com a sua escrita cuneiforme, à Mesopotâmia (há cerca de 6 mil anos), ocorreram períodos de grande precipitação de água na Terra, que seriam descritos pelos nossos irmãos antepassados como: o Dilúvio.
Só 3.100 anos A.C. surgiria o primeiro faraó egípcio e cerca de 100 anos depois o primeiro imperador da China. As pirâmides de Ghizé seriam construidas entre 2.550 e 2.470 anos A.C., na mesma altura em que surgiam as primeiras grandes cidades no vale do Indo. Stonehenge adquiriria a sua forma definitiva 2.100 anos A.C., nessa época surgiria, também, a escrita chinesa. A escrita alfabética seria inventada pelos semitas Arameus, ainda no segundo milénio A.C. e grandes lideres religiosos apareceram: Abraão nasceria em 2406 A.C., Moisés viveu em 1300-1250 A.C.(embora haja quem afirme que nasceu em 1766 A.C.), Lao-Tseu nasceu em 604 A.C., Buda em 586 A.C. e Confúcio em 551 A.C..
Mas, nesta cronologia, vamos determo-nos na Mesopotâmia edificada através da simbiose entre os sumérios e os semitas acadianos (ou acádios), pois representa a primeira grande civilização historicamente conhecida, a que inventou a escrita, as leis, um sistema de pensamento e de explicação do mundo. São os mais velhos antepassados directos, aos quais nos podemos referir.
OS SUMÉRIOS:
A História começa, pois, nesta altura, cerca de 4 mil anos A.C., na mesma altura em que foram edificadas as primeiras pirâmides-templo no Peru.
Todas as civilizações do próximo Oriente que nasceram desde o 3º milénio A.C., e a própria Bíblia, foram fecundadas pelos antigos mesopotamicos.
Os acadianos vinham da Arábia, e os sumérios instalaram-se, no início, no sul da região, estando a sua origem, ainda hoje, envolta em mistério. No entanto, de acordo com o mito mesopotamico "dos 7 sábios", este povo teria vindo pelo mar, chegando pelo golfo Pérsico, após o Dilúvio. A linguagem dos sumérios assemelhava-se à das populações do vale do Indo e da península Ibérica, sendo estes lugares duas hip6teses para o seu ponto de partida.
Primeiro existiu preponderância sumérica e depois, acadiana. Os sumérios eram mais criativos e engenhosos, donos de uma cultura mais antiga e traziam técnicas e ideias avançadas, que ensinaram aos acadianos, com quem se misturaram. Os semitas acadianos tinham mais propensão para o comércio, raízes étnicas muito fortes e maior fervor religioso, colocando os deuses em planos de maior transcendência.
A língua sumérica foi falada durante todo o 3º milénio, desaparecendo em seguida, progressivamente. Consoante os semitas foram dominando a Mesopotâmia e os sumérios desaparecendo, as divindades reduziram-se e surgiu o sentimento do pecado e da revolta que os sumérios não traziam. A economia era em parte socialista-dirigida e em parte capitalista-livre. O modelo de organização política era uma monarquia aberta às formas de oposição, sem autoritarismo e descentralizada em cidades-estados.
Estes estados seriam unificados por Sargào (2.330-2.280 A.C.) e por Hammurabi cujo reinado começou em 1.750 A.C., e que redigiu um importante conjunto de leis.
Curiosamente, este monarca foi praticamente contemporâneo do "legislador" Moisés.
Ignoramos se há apenas coincidência ou existe alguma ligação. No entanto, o mais antigo código de leis, foi executado cerca de 300 anos antes de Hammurabi pelo rei sumério: Ur-Nammu, e era uma jurisdição humana e compreensiva para a época, substituindo a lei do "olho por olho" por um sistema de multas.
A ESCRITA:
Os mais antigos documentos de escrita cuneiforme, descobertos, datam de 3.200 anos A.C. e são invenção sumérica.
A escrita começou por ter uma função contabilística, memorizando o que era necessário, como por exemplo: o numero de cabeças de gado, e era ainda pictográfica. Reproduzia a silhueta de coisas ou de animais, e era acompanhada de vários entalhes no barro representando as respectivas quantidades. Depois desenvolveu-se a ideografia, afectando a cada sinal aquilo que lhe estaria ligado na realidade ou por convenção. Por exemplo: o desenho de um pé significaria andar ou ir. Depois de uma escrita das coisas passar-se-ia para uma escrita de sons, logo fonética. As palavras suméricas eram evocadas por desenhos e eram monossilábicas. No final do 3º milénio A.C. a escrita tinha atingido grande perfeição interna e estendia-se a todos os géneros literários. 3 mil anos A.C., os escribas sumérios eram profissionais especializados que pensavam em termos de ensino e de estudo, criando escolas para assegurar a transmissão de conhecimentos. Em cada escola o Mestre principal era designado por "Irmão Grande", existiam "irmãos vigilantes" e um irmão para manter o ritual e a disciplina. Em placas-pranchas de argila foram executados dicionários, compêndios de matemática, de astronomia e de ciências naturais.
Apesar de a língua suméria quase ter desaparecido, continuou a ser escrita por alguns sábios. técnicos treinados unicamente na arte de escrever que, nos três primeiros séculos do 2' milénio A.C., procederam como se estivessem incumbidos de preservar algo para a posteridade. Mais tarde, escribas acadianos, influenciados por mestres sumérios, traduziram e produziram multiplas obras com grande significado literário.
O estilo seguiu bastante tempo a tradição oral com inúmeras repetições precisando as proposições iniciais, tal como anteriormente se cantavam ou recitavam mitos. tradições ou lendas, por contistas profissionais que assim conseguiam preservar conhecimentos passando-os oralmente de geração em geração. Os acadianos, influenciados pelos velhos sumérios, desenvolveram temporariamente a prioridade da inteligência sobre o coração, mantendo uma vontade de classificar, ordenar e compreender o mundo.
O esquecimento a que esta região do globo esteve votada, desde cerca de 363 anos D.C., extinguiu definitivamente a civilização que a habitara. A humanidade acabou por ter uma sorte excepcional, em que documentos, de escrita cuneiforme, fundamentais para História do Homem, tenham conseguido chegar aos nossos dias. Embora em 1 . 160 o espanhol Benjamim de Tudela, após visitar a antiga Mesopotâmia, escrevesse um livro, só em 1.850 começaram a ser decifrados os caracteres cuneiformes.
A escrita cuneiforme, cujo último exemplar conhecido é um almanaque astronómico datado de 74 da nossa era, foi substituído pelo alfabeto semita inventado pelos arameus, em meados do 2' milénio A.C.. Este novo idioma era menos obsoleto e tinha uma escrita menos complicada. Dos cerca de 5Û0 caracteres passava-se para uma opção de uma vintena, ao alcance de um maior número de pessoas. No entanto, a escrita cuneiforme, estender-se-ia ainda a cerca de uma dezena de povos e línguas durante cerca de 3 mil anos.
Para se entender a Bíblia há que investigar as suas fontes, e descobrir que tem atrás de si cerca de 3 milhares de anos de escrita cuneiforme.
OS DEUSES:
Há múltiplos exemplos nos escritos suméricos de temas ou hist6rias cujo eco chegaria à Bíblia: o mar primordial, a separação do Céu e da Terra, a existência de um Inferno e de um Paraíso (no qual o deus Enki come indevidamente 8 plantas que a deusa-mãe fizera nascer, pelo que fica doente, aparecendo-lhe finalmente Nin-Ti, ou "a senhora que cria vida", tratar-lhe de uma costela), a modelação do homem a partir da argila, o tema de Job, disputas entre um Abel e Caim bem como um Dilúvio e o respectivo Noé (Ziusudra) com uma descrição surpreendentemente sobreponivel à bíblica.
A Bíblia poderá representar, pois, um conjunto de diversos livros compostos entre 1.100 e um a dois séculos antes da nossa era, e que representam uma escolha da literatura do povo de Israel. A Bíblia trata de uma religião fundada, num dado momento do tempo, por um grande espirito religioso que concebeu as suas próprias ideias do sobrenatural e que as propagou em seu redor, pelo menos através de discípulos que defenderam e implantaram a obra do seu Mestre. A partir de determinado momento (ignorando-se exactamente quando), foram passadas a escrito.
Esses escritos foram sucessivamente enriquecidos e rearranjados, introduzindo um novo conceito religioso: o monoteísmo.
Mas quais seriam as convicções religiosas dos mais antigos sumérios? Não sabemos só que eram politeístas e antropormofistas. Podemos ter uma ideia mais concreta de alguns conceitos religiosos sumérios, resumindo a epopeia da Criação ou poema do "Supersábio", escrito 1750 A.C., esclarecido apenas há cerca de 30 anos, e que serviu de modelo aos primeiros capítulos da Génese bíblica.
O poema conta que, no início, o rei dos deuses enfrentou a deusa primitiva, Tiamet (o Mar) que atacara a comunidade de divindades primordiais, com a colaboração dos seus monstros marinhos. O rei dos deuses acabaria por criar o mundo a partir do cadáver de Tiamet, formando-se novos deuses do corpo inanimado da deusa. Os primeiros eram enormes e monstruosos e progressivamente foram adquirindo formas intermediárias até atingirem o aspecto humano. Podemos admitir, aqui, a hipótese de os sumérios trazerem o conhecimento de esqueletos de dinossauros e da evolução das espécies.
Os deuses de aspecto humano trabalhavam arduamente, organizando o mundo, mas ao fim de muitos anos protestaram junto de Enlil, o deus supremo, pedindo para serem tratados de igual para com os deuses governantes. Foi Enki, o supersâbio, conselheiro técnico do deus supremo, que engendrou a solução, inventando um substituto feito à imagem dos deuses, para continuar o trabalho que estes faziam, sem o perigo de também se revoltarem e exigirem o mesmo que os deuses que os precederam. Assim houve que fazer o homem a partir da argila para o tomar mortal.
No entanto os homens começaram, com a sua actividade intensa, a fazer um enorme rumor que incomodava Enlil, dado que inesperadamente para os deuses a raça humana multiplicava-se freneticamente, mostrando um apetite sexual ao qual os deuses não estavam habituados. Então Enlil enviou a Epidemia das doenças para reduzir a espécie humana a proporções mais cómodas. Enki, amigo dos homens, evitou a dizimação total ensinando ao rei dos homens (Atra-hasis ou Ziusudra) como resolver a situação mercê de preceitos higiénicos e de utilização de determinadas plantas. Em consequência assistiu-se a um segundo surto de sobremultiplicação e a nova insónia de Enlil que, desta feita enviou grandes catástrofes naturais como a Seca e a Fome. Como Enki e Atra-hasis conseguiram também ultrapassar aqueles desastres, Enlil resolve ser mais radical enviando, eventualmente após o último período glaciar, o Dilúvio universal. Mais uma vez Enki interveio junto de Atra-hasis surgindo-lhe em sonho (pois jurara aos outros deuses, nada dizer aos homens - e sugerir em sonho não era falar), aconselhando-o a fazer uma enorme arca insubmersível, com a forma de um cubo com 7 andares no seu interior, onde levaria determinadas espécies de animais, salvando-os da extinção e permitindo, sobretudo, a renovação da raça humana.
É uma interpretação da necessidade de regeneração e aperfeiçoamento da humanidade através de fases de destruição.
Após o Dilúvio, Enki resolve os problemas de uma vez por todas (para não se multiplicarem os castigos), diminuindo a vida dos homens para uma duração máxima de cerca de 100 anos, introduzindo-lhes no destino o envelhecimento (se os sumérios tivessem os conhecimentos actuais falariam, provavelmente, em condicionamento genético).
Os deuses, em geral, não morriam de morte natural como os homens. Mas por vezes (raramente), poderiam ser atingidos mortalmente por homens excepcionalmente fortes e inteligentes. Os homens que enfrentavam os deuses poderiam ser castigados com uma morte prematura ou com o desaparecimento-sofrimento de um amigo ou familiar, mas também, após a morte, seriam divinizados se tal fosse determinado pela assembleia dos deuses. Quando se pretendia, na escrita cuneiforme, assinalar os homens excepcionais inseria-se o símbolo da estrela antes do nome próprio, conferindo características divinas. Os deuses concederiam, ainda, aos homens a possibilidade de adivinhação (para poderem conhecer o futuro) e o poder do exorcismo (para melhorarem o futuro). Os adivinhos profissionais, os examinadores de presságios e os oráculos eram, no início, seres marginais a quem, preferencialmente, os deuses surgiam em sonhos ou visões.
Os sumérios deixaram, aliás, vários tratados de provérbios (anteriores aos livros egípcio e hebreu de provérbios) e de presságios, e o exorcismo confundia-se com a medicina, pois havia que enfrentar os males físicos desencadeados por demónios com estatuto entre os deuses e os homens.
Seria o despertar do reconhecimento das capacidades mágicas do homem.
Capacidades essas que transparecem da obra literária mais brilhante e com maior significado que os sumérios produziram: a epopeia de Gilgamés.
GILGAMÉS:
Esta epopeia é anterior à Ilíada, ao Mahabharata e à Bíblia, e é a mais antiga obra literária deste tipo. Os Vedas seriam escritos cerca de 1.400 anos depois, e os Upanisadas apareceriam 800 A.C., 200 anos depois dos primeiros textos brâmanes.
Dos seus cerca de 3 mil versos são conhecidos apenas 2/3, escritos em fragmentos dispersos.
Gilgamés foi o 5º rei da primeira dinastia sumérica após o Dilúvio e viveu na cidade de Uruk, cerca de 2.700 A.C.. O seu nome, que em sumério quer dizer: "o antigo ainda esta na força da vida", entrou na lenda após a sua morte (2.650 A.C.) mediante o primeiro conjunto de fragmentos propriamente literários de escrita fonética. Quer no reinado de Sargão (2.320-2.000 A.C.) e de Hammurabi (1.750-1.6Û0 A.C.), surgiram versões, que foram difundidas em outras cópias entre 1.600 e 1.000 A.C.. Neste último ano surgiu a interpretação ninivita. O último manuscrito, conhecido, desta epopeia foi escrito entre 609 e 130 A.C..
Ao todo, foram encontrados 14 locais com peças relatando a história de Gilgamés.
Onze no actual Iraque, um na Palestina, um na Síria e outro na Turquia.
A epopeia conta, resumidamente, que o poderoso rei Gilgamés vivia rodeado de uma certa luxuria, quando viu em sonhos que em breve iria ter um amigo de confiança, de nome Enkidu (aquele feito por Enki - a partir do barro), associando-o simbolicamente a um "bloco que veio do céu". Enkidu era o homem primitivo, a outra face de Gilgamés e ligar-se-iam, estabelecendo-se uma simbiose nas aventuras que se seguiriam. Ao lermos determinadas estrofes, em que se abraçam como se tratasse da mesmo indivíduo, quase que somos levados a interpretar que poderiam simbolizar a mistura de 2 raças (uma delas mais primitiva) da qual resultaria a actual espécie humana. Enkidu foi atraído até Gilgamés através de uma armadilha amorosa (com uma prostituta), a partir da qual não foi capaz de correr, como dantes, com os seus irmãos animais selvagens, que deixaram de o reconhecer como um dos seus.
Gilgamés e Enkidu iniciam então a epopeia em busca da imortalidade. Ap6s atravessarem 7 montanhas, Enkidu, tal como um S. Jorge sumério, mata um monstro sobrenatural de nome Huwawa que, revestido de 7 fulgurâncias mortais, guardava a região dos grandes cedros que Gilgamés procurava.
Abatem, ainda, o grande touro celeste que a deusa Inanna, repudiada por Gilgamés, enviara para prejudicar a cidade de Uruk. Interrogamo-nos se este animal simbolizaria um qualquer flagelo que se abatera sobre aquela metrópole e que os astrónomos da Babilónia relacionariam com a constelação do Touro.
Mais tarde, Enkidu desceu ao Inferno procurando saber os seus segredos, mas acabou por ai ficar retido, morrendo como castigo de ter eliminado Huwawa. Após Enkidu regressar à argila e Gilgamés o chorar durante 6 noites e 7 dias, este rei retomou viagem encontrando vários personagens, entre eles, uma ninfa que o aconselhou.
Após atravessar o último braço de mar com água mortal, chegou por fim junto de Ziusudra (em sumério quer dizer: vida de dias prolongados), o Noé dos sumérios.
Este contou-lhe o episódio do Dilúvio, anunciado por uma chuva de pequenos pães]. Após o Dilúvio, que durou 7 dias, enviou sucessivamente uma pomba e um corvo até ter sinais que existiria de novo terra firme e arrastar a sua arca até ao actual pico Omar Gudrum a 80km de Kerkurk.
Ziusudra fez reflectir Gilgamés sobre a obrigação universal da morte. Afinal será a própria condiçào humana que acaba por absolver o homem e é a sua maior força.
Perante uma realidade não decifrável, há apenas que viver com sabedoria aceitando a mortalidade de cada um, como condição para o aperfeiçoamento e renovação da raça.
Afinal uma raça plural, como os deuses sumérios. Ou seja: valerá a pena continuar a procurar quando tudo está predeterminado?
O Noé sumério compensou, no entanto, o esforço de Gilgamés, indicando-lhe o lício marinho com espinhos que lhe poderia prolongar a vida, numa eventual alegoria às possibilidades, que a natureza à nossa volta contém, em termos de fornecimento de substâncias terapêuticas ou com propriedades benéficas. Aliás a medicina suméria assentava principalmente em preparados de origem vegetal. Esta planta acabaria por ser roubada a Gilgamés, por uma serpente, enquanto este tomava banho.
Ziusudra explicou ainda que a sua própria imortalidade tinha sido concedida, pelos deuses, em consequência de ter salvo a humanidade, assegurando a transmissão do saber e técnica adquiridos, bem como o aparecimento de uma espécie humana renovada e com maior capacidade de caminhar para a perfeição. Portanto a imortalidade só será alcançada por um futuro Noé perante uma futura calamidade que se abata sobre o homem. Após regressar a Uruk, entendendo finalmente os seus limites, Gilgamés modificou-se levando uma vida de tolerância e exemplo, passando a ser de bons costumes, a fazer, sistematicamente, o bem ao seu próximo, e aceitando conscientemente - como prova máxima da sua tolerância - a mortalidade como condição da vida.
Após a sua morte, Gilgamés acabaria por ser divinizado pelo povo, passando o seu nome a ser precedido pelo símbolo da estrela. Uma surpresa, afinal, para aquele rei que tanto desejou em vida a imortalidade, sem prever que afinal esta lhe seria concedida.
Ler esta epopeia é entrar num zigurate sumério e ouvir um cântico antigo, é entrar na vida, no pensamento, na cultura dos mais velhos de todos os nossos antepassados directos, conhecidos. Mas é também reencontrar um espirito e um coração cujas raízes não se modificaram desde o horizonte do nosso passado. O enriquecimento diário que a amizade e a vida participada nos trazem, as mesmas revoltas e interrogações e, no fim, perante a lei universal que nos remete de um modo mais claro à igualdade, a morte inexorável, o regresso ao mar primordial a que sempre pertencemos.
O indivíduo liberta-se dando o que se lhe dá, e o Tempo é o horizonte que elevará o ser humano sobre a morte. O Sempre é agora e a Verdade estará no interior de algo feito por todos nós. É a sempre actual questão da religião do humano versus a submissão a um divino supra-humano.
Não resistimos em finalizar com uma tradução livre de uma pequena parte dos conselhos que a ninfa Siduri ensinou a Gilgamés, e onde mais uma vez se aprende que uma das formas mais importantes de tolerância é a aceitação da morte, com a perspectiva de que é através dos filhos que a raça se aperfeiçoa e poderá alcançar a imortalidade.
..."Por quê vagueias assim Gilgamech?
A vida sem fim que tu procuras,
Tu, nunca a encontrarás.
Quando os deuses criaram os homens,
Consignaram-lhes a morte,
Reservando a imortalidade unicamente para eles próprios.
Tu deves comer com prazer,
Proceder com alegria dia e noite,
Fazendo do quotidiano uma festa,
Dança e diverte-te, dia e noite,
Adopta hábitos higiénicos,
Lava-te e banha-te,
Olha com ternura o teu filho
Que te segura a mão,
Faz a felicidade da tua mulher
Apertada contra ti
Porque é através dela
Que nasce a única perspectiva dos homens"...
Obs.: Este texto não é meu, me foi enviado por um amigo, que também não sabe a origem, nem o autor!
Eu Sou Gilghamesh!






Versão 4.7 (Tremei teístas, vossas crenças são precárias muletas!)