Hoje, por acaso, eu resolvi abrir o atalho que tenho para a sua coluna. E o resultado, para variar, foram boas risadas!
Volta, Marta!!!
Só para amenizar a saudade:
[center]VENENOTÍCIA[/center]
Por Marta Brocchini:
Olha, gente, assim não dá. Já faz duas colunas que eu não consigo falar mal do Lulorota da Filva por conta das pessoas que ficam ligando, mandando e-mail, recados e cartinhas reclamando, protestando, contra a minha coluna.
Dessa vez foi um pastor que enviou e-mail protestando contra uma coluna que escrevi, se bem me lembro, na reencarnação passada, sobre a Mancada Evangélica da Camarada dos pra-lamentar, envolvida com a máfia das ambulâncias.
Ele já começa manifestando a "sua" desaprovação "em nome da comunidade que representa". Mas, péraí!! A desaprovação é dele ou da comunidade que representa? Ou de ambas? Ou foi erro de gramática mesmo???
Depois de alguns blábláblás e salamaleques ele acaba concordando com o teor da crítica e até chegamos a um consenso quanto ao vergonhoso desempenho, sem precedentes, do atual Legislativo Federal. Apesar de concordar que tenho toda razão em criticar o desempenho do "Dep. Amarildo" e do "Dep. Reinaldo" pelas propostas boçais e de inutilidade pública que apresentaram no exercício do mandato, o pastor recomenda que eu separe as nobres excelências da fé que professam.
Não dá, pastor. Sabe por quê? Quando o senhor transcreve o nome do parlamentar como "Dep. Amarildo", e não "pastor Amarildo", está, o senhor, tentando mudar a verdade, visto que a excelência em questão elegeu-se com o nome de "pastor Amarildo", e o segundo também se elegeu com o nome de "pastor Reinaldo", logo, não há como separá-los da fé que declaram professar, mesmo porque, ambos, a incorporaram ao próprio nome com a intenção de, provavelmente, dela se utilizar para angariar votos junto à comunidade a qual pertencem e pela qual foram, democraticamente, eleitos para representar. Em caso de dúvida, basta acessar o site da Câmara Federal, www2.camara.gov.br/deputados e, em ordem alfabética, encontrar tanto o Amarildo quanto o Reinaldo na letra "P" de pastor.
Em seguida o pastor alega que entre os 523 pra-lamentar, 54 professam a fé evangélica. Eu acho que é um pouco mais, mas quem sou eu para discutir com o pastor? Se ele disse que são 54, são 54.
Então a continha é simples. Se entre os 523 deputados, 54 professam a fé evangélica, eles representam aproximadamente 10,5% da Câmara. Ainda entre o total de parlamentares, cerca de 110 estão sendo investigados no escândalo das ambulâncias, o que representa 21% da Câmara.
Entre os 54 deputados que pertencem à Bancada Evangélica, os "infelizmente alguns que estão sendo citados em listas vergonhosas" somam 29, ou seja, mais de 50% da referida bancada. Em se tratando de "infelizmente alguns", mais de 50% é uma percentagem bastante considerável, sem falar que o suposto mentor do esquema reluz entre eles.
Os 29 parlamentares evangélicos investigados pela CPI da máfia das ambulâncias são, segundo o Jornal O Globo: Adelor Vieira (PMDB-SC), Agnaldo Muniz (PP-RO), Almeida de Jesus (PL-CE), Almir Moura (PFL-RJ), Cabo Júlio (PMDB-MG), Carlos Nader (PL-RJ), Edna Macedo (PTB-SP), Gilberto Nascimento (PMDB-SP), Heleno Silva (PL-SE), Isaías Silvestre (PSB-MG), Jefferson Campos (PTB-SP), João Batista (PP-SP), João Mendes de Jesus (PSB-RJ), Jorge Pinheiro (PL-DF), José Divino (PRB-RJ), Josué Bengston (PTB-PA), Lino Rossi (PP-MT), Magno Malta (PL-ES), Marcos Abramo (PP-SP), Marcos de Jesus (PFL-PE), Neuton Lima (PTB-SP), Nilton Capixaba (PTB-RO), Pastor Amarildo (PSC-TO), Paulo Gouvêa (PL-RS), Raimundo Santos (PL-PA), Reginaldo Germano (PP-BA), Vieira Reis (PRB-RJ), Wanderval Santos (PL-SP) e Zelinda Novaes (PFL-BA).
A seguir, o pastor questiona por que, entre os citados, não viu ninguém se referindo à Mancada Católica ou Mancada Espírita.
Eu acredito que seja porque os evangélicos encontram-se entre aqueles que mais apreciam alardear a sua fé e ostentar os cargos que ocupam na igreja, tais como pastor, bispo, diáconos etc., como se isso fosse um crachá de honestidade inquestionável.
Um ou outro deputado já declarou sua fé, a exemplo do saudoso Severino mensalinho, que se dizia "católico roxo", ou um deputado, cujo nome não me recordo, que já incorporou um espírito em plena sessão, mas eles não formam "bancadas" e nem se elegem como Frei X ou PadreY nem Pai de Santo Fulano ou Sicrano Filho de Ogum.
Portanto, caro pastor, para quem leu a coluna além do sub título, não houve generalização alguma.
Quanto ao preconceito, que diz o senhor ser "anti-humanidade, erro, pecado e crime", a crítica não cabe a mim nem tampouco ao Jornal da Cidade que vem mostrando, ao longo de sua existência, que é um jornal aberto a TODAS as religiões. Suas páginas trazem notícias, desde festas e acontecimentos evangélicos ou católicos até fundação de ONG de Ateus e inauguração de Centro Espírita, sendo esse um dos principais motivos pelo qual me dispus a colaborar com este periódico, cujos predicados como o compromisso com a verdade, a seriedade, a liberdade de expressão, a imparcialidade, são valores imensuráveis que não encontrei em nenhum outro veículo de comunicação que tenho visto neste município. Para a sua informação, no último sábado fiz a reportagem de uma ação solidária elogiável em uma igreja Presbiteriana de Arujá.
A julgar por este parágrafo, transcrito na íntegra: "Uma mulher que viva da prostituição pode se candidatar a um cargo eletivo, um cantor popular pode, um bandido ou criminoso pode, mas um pastor ou um padre, na opinião da colunista não pode", o senhor demonstra que não prestou atenção ao texto e coloca como minhas palavras que eu jamais escrevi, nem tampouco proferi, a quem quer que seja em tempo algum.
Reza a Constituição Brasileira, Carta Magna do nosso país, em resumo, que qualquer cidadão brasileiro, alfabetizado, devidamente filiado a um partido e em dia com as suas obrigações eleitorais, está apto a se candidatar, seja ele um pastor, uma prostituta, um cantor, um pintor, um homossexual, um rabino, um pai de santo, um mecânico ou um padre. Da mesma forma, reza na mesma Constituição que o Estado, ou seja, o país, é laico, e isso significa que cargos públicos não devem estar a serviço de religião alguma, pois o Poder Legislativo elabora leis para todos os cidadãos, e é por isso que elas não devem ser feitas ao sabor de dogmas religiosos, os quais uns acreditam e outros, não. Tome, apenas tão somente como exemplo, os Testemunhas de Jeová. Eles acreditam que a transfusão de sangue é pecado e preferem morrer ao invés de fazê-la. Eu, particularmente, não tenho absolutamente nada contra ao que eles acreditam ou praticam. Todavia, se algum deputado que professe tal religião entrar com um Projeto de Lei proibindo as transfusões de sangue em todo o território nacional, eu vou espernear, assim como eu já esperneei aqui mesmo nessa coluna quando padres resolvem se meter no direito das mulheres, na evolução da ciência, na união de homossexuais, porque da mesma forma que eu respeito a crença deles, eu, como todos os cidadãos, merecem ser respeitados por não acreditarem em tudo que todas as religiões desejam nos enfiar goela abaixo, por bem ou pela força. E, como nós vivemos num país livre e democrático, a política é para todos e a religião é para cada qual. É água e óleo. Não se misturam.
Por conta de uma governadora evangélica, as escolas estaduais do Rio de Janeiro foram obrigadas a colocar no currículo escolar aulas de religião, e por muito pouco ela não excluiu o evolucionismo das aulas de ciência, a fim de ensinar às crianças apenas o criacionismo. Também, por um triz, não passou a lei proposta pela bancada evangélica da Assembléia legislativa do Rio, o "tratamento" a homossexuais por intermédio das igrejas evangélicas, pago pelo estado. Quem paga os impostos no Rio de Janeiro? Não são todos os cidadãos? Por que espíritas, ateus, judeus, muçulmanos, umbandistas e outros devem recolher impostos para pagar professores de criacionismo e pastores que "curam" gays? A resposta é bem simples: porque eles elegeram uma evangélica governadora e não uma governadora. É por aí que começa a matança generalizada.
Os noticiários estão fartos de guerras detonadas em nome de Deus. Bush, evangélico, se diz representante de Deus e em Seu nome já destruiu dois países. Os muçulmanos também se declaram representantes de Deus, a igreja católica com a sua santa inquisição fez churrasco de milhares de seres humanos e ao longo da história, muitos já morreram em nome de Deus. Quantos deuses existem? É bem por isso que diz o sábio ditado que religião não se discute (e nem se impõe a ninguém), perfeito?
Quanto aos políticos evangélicos desonestos, vale a máxima do bom marketing: Você não é obrigado a afirmar nada em seu slogan, mas se afirmou é obrigado a cumprir. Os holofotes estão sempre refletindo aqueles que vivem com suas bandeiras hasteadas. Um exemplo disso é o PT, que se firmou no mercado como sendo o guardião da ética e o paladino da moralidade. Quando a bomba estourou, deu no que deu. Hoje o Lula esconde a estrela do PT. Não vamos querer agora esconder o título de pastor do Amarildo. Quando a roda pega, todo mundo tira o time de campo. Toda a imprensa destaca a bancada evangélica no meio da lama, pois são eles que andam com o crachá da honestidade incontestável anexada ao nome de batismo. Se já é inaceitável um político corrupto, muito pior é o político corrupto "em nome de Jesus", é ou não é?
Se o marketing não lhe ajuda em nada, vamos então de psicologia de botequim: pessoas que muito alardeiam alguma coisa, cultivam desconfiança. Muito Jesus pra lá, Jesus pra cá, às vezes dá a impressão que se está tentando esconder alguma coisa, muitas vezes até de si mesmo. Quem tem fé no coração não precisa propagandear, porque Ele tudo sabe e tudo vê, não é?
O senhor exagera quando coloca o preconceito contra a fé evangélica como foco principal do seu pronunciamento. Evangélicos sempre existiram e foram aceitos pela sociedade. Eles começaram a incomodar os demais quando tentaram impor sua crença aos que não aceitavam. A religião evangélica é a única a possuir, hoje, um partido político legalizado, denominado PRM da Universal. O que será que eles pretendem? Fazer do Brasil uma teocracia?
É importante que os evangélicos tenham sempre em mente que a liberdade deles, ao cantarem a mais de 100 decibéis, termina no exato momento em que começa a liberdade do vizinho, de dormir ou ouvir uma boa música, e isso não significa preconceito, e sim respeito ao outro.
Quanto ao número de evangélicos que existe no país, segundo o pastor, 30 milhões de pessoas, nada tenho a contestar, como já disse e reafirmo, cada um acredita e segue aquilo que melhor lhe aprouver.
Defende-se ainda argumentando que existem milhares de templos que congregam um povo que prega e vive a sua fé e que desenvolve "uma infindável malha de obras assistenciais e de promoção humana". O senhor vai me desculpar o mau jeito, mas já vimos aqui que muitos pregam, mas que vivam realmente a fé há controvérsias. Quanto às malhas de obras assistencialistas, isso não é prerrogativa dos evangélicos. Ajudar ao próximo é pertinente às pessoas de bem, e seres generosos existem em todas as religiões e também fora delas.
Por fim, concordo que o povo evangélico merece todo o respeito, não apenas por ser evangélico, mas, principalmente, por ser povo, por ser gente. Se lhe ofendi, peço desculpas.



Fonte: http://www.jornaldacidadearuja.com.br/i ... =0&lang=16