
Compaixão: Elefantes no Quênia prestam reverência aos mortos de sua manada e chegam a chorar
Os bichos também
sentem
Estudos revelam que os animais
nutrem sentimentos como ciúme,
vergonha e até compaixão
Por Luciana Sgarbi
Cada vez mais os estudos científicos demonstram que os animais têm sentimentos mais complexos que a raiva e o medo, respostas naturais do mecanismo de defesa de qualquer ser vivo aos estímulos externos. Os chimpanzés pigmeus, por exemplo, ficam com dó de outras espécies e os macacos sentem vergonha. A última descoberta, feita por especialistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, revela que os elefantes mostram compaixão na morte e na doença de seus semelhantes.
“Eles ficam de luto, em reverência”, diz o biólogo Iain Douglas-Hamilton, responsável pela pesquisa. Para chegar a essa conclusão, os cientistas puseram colares marcados com sensores ligados a satélites em 50 espécimes de uma manada da Reserva Nacional Samburu, no Quênia. Durante a caminhada dos animais, o elefante fêmea batizado de Eleonor sucumbiu a uma doença e caiu, ficando deitado no chão. Imediatamente, outro elefante fêmea apelidado de Grace volta para ajudá-lo a se levantar usando suas presas.

Tudo pela saúde: Os golfinhos, o mais esperto dos bichos, ficam preocupados quando um integrante de seu grupo fica doente
Com dificuldades, Eleonor se levanta, mas não resiste e tomba pela segunda vez. Naquele momento, outros membros da manada decidem prestar socorro, mas já era tarde: Eleonor tinha morrido. O corpo passou a ser visitado diariamente pelos elefantes que faziam uma espécie de reverência. “O curioso é que Eleonor também recebia visitas de elefantes de outras manadas”, diz Iain Douglas-Hamilton. “Essa não é uma atitude comum no reino animal. Sabíamos que apenas chimpanzés e golfinhos tinham preocupação com doentes e mortos.” Agora os elefantes entraram para esse grupo exclusivo.

Cheios de dó: Certas espécies de macacos sentem tanto pena de outros animais quanto vergonha
Os macacos, que segundo os especialistas
são bastante emocionais, sentem tanto pena de seus companheiros quanto vergonha. “Se eles levam um tombo, olham para os lados como se estivessem preocupados de terem sido flagrados”, afirma o psicólogo americano Marc Hauser, da Universidade de Harvard.
Esses estudos são polêmicos. Grande parte dos peritos em comportamento animal considera que esse tipo de manifestação de “sentimento” nada mais é que uma resposta bioquímica a estímulos externos. Em outras palavras: a bicharada não tem consciência de que se comporta com reverência ou ciúme. Os defensores dos sentimentos animais argumentam que, muitas vezes, os humanos têm emoções que desconhecem. Podem, por exemplo, se apaixonar por alguém e só se dar conta muito tempo depois.