
Membros da comunidade judaica que foram convocados para trabalhar no primeiro turno das eleições, em 1º de outubro, vão dar entrada individualmente com um pedido de mandado de segurança na Justiça para serem dispensados. A data do pleito coincide com o início do Yom Kipur, o Dia do Perdão, festa religiosa mais importante do calendário judaico.
Na quarta-feira (13) o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) delegou aos tribunais regionais a decisão sobre a dispensa dos mesários e presidentes de seção de religião judaica. A Confederação Israelita do Brasil (Conib) havia entrado com uma Petição no TSE em 8 de agosto para que a convocação dos cerca de 200 judeus em todo o país fosse revista, baseada no artigo 5º da Constituição Federal, que garante liberdade de crença e culto.
Segundo Luiz Sérgio, diretor executivo da Conib, a maioria dos judeus que não conseguirem ser liberados vai adotar a atitude do mandado de segurança. Por ser uma medida jurídica de caráter urgente, o pedido pode ser executado na hora, antes mesmo da questão ter sido julgada em um tribunal.
A celebração do Yom Kippur só começará a partir das 18 horas. Por isso, para o horário da votação não haverá qualquer problema. Depois de solicitar a dispensa na sua zona eleitoral e não ser atendida, Sabrina Steinecke, 25 anos, pretende entrar na segunda-feira próxima (18) com o pedido para não trabalhar em 1º de outubro. Ela foi convocada para ser presidente de seção eleitoral, o que implica exercer funções depois das 18 horas.
Alguns tribunais regionais já começaram a tomar posições. Elas variam entre a dispensa total, a dispensa parcial e a manutenção da convocação. Em São Paulo, o juiz João Carlos Sá Moreira de Oliveira, da 251ª Zona Eleitoral, em Pinheiros, liberou uma mesária judia para sair mais cedo, às 15 horas, do serviço eleitoral. Já o juiz Cláudio Hamilton Barbosa, da 5ª Zona Eleitoral, no Itaim Bibi, não atendeu a nenhum dos pedidos de licença da comunidade judaica e deu o seguinte parecer: "a liberdade de crença religiosa não exime o cidadão de suas obrigações eleitorais".
Luiz Sérgio diz ainda que os membros da comunidade judaica que não entrarem com pedido de mandado de segurança vão se resignar a pagar a multa pecuniária de R$350 pela falta nos serviços eleitorais. Para ele, serão poucos os que irão "macular a ordem religiosa" e comparecer ao trabalho eleitoral, se não tiverem obtido dispensa parcial.
Yom Kipur
O Dia do Perdão judaico, este ano, começa no pôr-do-sol do dia 1º de outubro e vai até o mesmo horário no dia seguinte. Nesse período, os praticantes do judaísmo ficam de jejum, fazem rezas e evitam contato com máquinas criadas pelo homem, em uma espécie de retiro espiritual para se redimir de seus pecados com seu Deus.
Para a religião judaica, é nesse dia que Deus decide o que vai acontecer ao longo de um ano com todas as suas criações. Segundo o rabino Rubens, o trabalho eleitoral no dia do Yom Kippur "é muito grave, porque pode mudar todo o destino da pessoa".
Como as celebrações começam por volta das 18 horas, aqueles que foram convocados para serem presidentes de sessão, e que devem sair depois que a votação já tiver terminado, por volta das 19h, perderão o começo do Dia do Perdão. Já os mesários não terão condições de preparar-se para a data sagrada - como fazer a última refeição antes do jejum.
Os membros da comunidade que não foram convocados poderão votar no período da manhã, antes do inicio das atividades da festa religiosa. Mas, para Rubens, todos os judeus serão prejudicados: "A comunidade judaica contribuiu muito para o Brasil e merece respeito. Merece direito de votar sem correria".
Terra Magazine