América do Sul reconhece-se nas tradições oprimidas à procur

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Claudio Loredo
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América do Sul reconhece-se nas tradições oprimidas à procur

Mensagem por Claudio Loredo »

América do Sul reconhece-se nas tradições oprimidas à procura de identidade

Fonte: Agência Carta Maior

Em meio ao processo pós-moderno, alimentado pela cultura do individualismo, o resgate das tradições e saberes populares tornam-se imprescindíveis para a identificação do ser coletivo. Através das culturas populares, países sul-americanos descobrem suas semelhanças de histórias e tradições oprimidas.

Carlos Gustavo Yoda – Carta Maior

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BRASÍLIA - Na abertura do I Encontro Sul-Americano das Culturas Populares e do II Seminário de Políticas Públicas para as Culturas Populares, realizado em Brasília, entre 14 e 17 de setembro, o músico poeta ministro da Cultura, Gilberto Gil, ressaltou a proposta do encontro de repensar a construção da nação brasileira na perspectiva das manifestações culturais populares e unir os povos vizinhos diante desse desafio da busca de uma identidade comum, talvez até uma única nação: latino-americana.

“A referência para o diálogo intercultural no Brasil sempre foi a Europa e, mais, recentemente, os Estados Unidos. Essa afirmação da sociedade brasileira conectada com a América do Sul através das suas culturas populares é um passo importante na descolonização e na revisão da perspectiva profundamente eurocêntrica e elitizada que por muito tempo orientou as ações do Estado Brasileiro”, pontuou o ministro.

Gil deixou clara a intenção do Ministério da Cultura (MinC) em procurar caminhos e alternativas para uma integração cultural regional: “É preciso enfatizar que a integração cultural promovida até hoje na América do Sul foi marcada pela exclusividade de expressões derivadas da tradição letrada, ou acadêmica, em todos os campos artísticos. Sob esse ponto de vista, houve sempre uma exclusão dessas propostas de integração e intercâmbio. As classes populares não estiveram no horizonte dos promotores desses eventos. E mesmo que quisessem, dificilmente se identificariam com as linguagens de referências para a maioria das apresentações, debates e exposições realizados nessas ocasiões. Por outro lado, justamente aquelas expressões culturais que mais facilmente encontrariam receptividade entre os artistas populares (os gêneros musicais, as danças e artesanato, entre outros) estiveram sempre excluídas das agendas dos encontros, festivais, exposições e demais eventos internacionais”.

Pacto Regional
Sérgio Mamberti, secretário da Identidade e Diversidade Cultural do MinC destaca a busca por uma cidadania cultural regional. Mamberti defende ainda a implantação de um pacto de unidade regional para formar um bloco continental a fim de promover a diversidade cultural.

“Essa nossa formação e colonização e, quando digo nossa, falo de todos os nossos hermanos, deixa claro que somos mestiços. Culturalmente mestiços. A lógica da homogeneização oprime-nos. É contra isso que lutamos. Por isso precisamos dar toda a importância e destaque para as culturas populares. Só assim saberemos quem somos”, afirmou Mamberti.

O ministro Gilberto Gil acredita que primeiro possa acontecer uma integração cultural, o que forçaria um alinhamento entre os governos em outras áreas da atuação política: "É possível que, a partir de um diálogo entre as identidades e diversidades culturais dos países, povos e governos também se aproximem e que isso seja um espelho capaz de refletir imagens sem distorções e preconceitos", concluiu o ministro.

Tradições Oprimidas
A coordenadora da TV Vive venezuelana, Celina Cabarcas, considera essencial a valorização do processo social coletivo de articulação e produção do trabalho dos países da América do Sul: “Devemos reafirmar nossa história e identidade através da história de opressão de nossos antepassados. Nossas histórias são tão parecidas e tão desconhecidas”.

O historiador Eric Hobsbawn disse certa vez que o século XX deu fim a um período de sete mil anos da vida humana, que esteve centrada na agricultura desde que apareceram os primeiros cultivos no final do paleolítico. Talvez seja por isso que a tradição do Fandango esteja desaparecendo do Paraná, como narrou Mestre Eugênio há um ano, antes de falecer: “o Fandango faz parte de uma tradição e de existência. Nós costumávamos trabalhar em mutirão na roça. Avisávamos todo mundo um dia antes e íamos todos trabalhar juntos para ir mais rápido. De noite, a gente fazia o Fandango e brincava criança, jovem, pessoa de idade, todo mundo. Todos trabalhavam o dia inteiro apenas sonhando com o Fandango. Hoje não tem mais terra, não tem mais pé de planta, cultura, nada”.

Arte para a integração das identidades
Na Tenda Mestre Eugênio, local onde aconteciam eventos artísticos durante o I Encontro Sul-Americano das Culturas Populares e o II Seminário de Políticas Públicas para as Culturas Populares, uma homenagem ao Mestre Paranaense concentrava as diversas atividades artísticas do encontro. Lá, era possível conferir o “Espelho das Artes”. As misturas e semelhanças do Tambor de Crioula do Maranhão com os Tambores de Barlovento da Venezuela (na foto); o Qhapaq Negro do Peru com Os Caretas de Lizarda de Tocantis; A Rabeca Encantada do Mestre Salustiano e o trio de Senegaleses convidados para a batucada.

Luta continuada
No I Seminário Nacional de Políticas Públicas para as Culturas Populares, em 2005, o professor Pedro Benjamim Garcia (Universidade Católica de Petrópolis) já havia destacado a intensa busca humana por uma identidade. Em meio ao processo pós-moderno, alimentado pela cultura do individualismo, o resgate das tradições e saberes populares tornam-se imprescindíveis para a identificação do ser coletivo.

João Cabral de Melo Neto narrou a saga do retirante nordestino em Morte e Vida Severina. Mais importante do que a luta pela sobrevivência em meio à seca, à fome, à vida e à morte, a tentativa falha de se apresentar (leia trecho no fim da matéria) é essencial para compreender que todos os severinos são iguais. Iguais em tudo na vida.

Severinos são todos esses, nós, trabalhadores. Estes homens e suas cidades se parecem cada vez menos consigo mesmos. As massas consumidoras recebem ordens num idioma universal: a publicidade conseguiu aquilo que o esperanto ambicionou. Qualquer um entende as mensagens que o televisor transmite. A vocação democrática do progresso: não escuta ninguém, mas fala para todos.

Na teia:

Leia o ESPECIAL com a cobertura do I Encontro Sul-Americano das Culturas Populares e do II Seminário de Políticas Públicas para as Culturas Populares (clique aqui).


Severino, em busca de uma identidade
“O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.

Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.

Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.

Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.

Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).

Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
alguns roçado da cinza.

Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.”
(João Cabral de Melo Neto – trecho de Morte e Vida Severina).



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Hrrr
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Re.: América do Sul reconhece-se nas tradições oprimidas à p

Mensagem por Hrrr »

welcome back, loredo das letras verdes :emoticon1:
JINGOL BEL, JINGOL BEL DENNY NO COTEL... :emoticon266:

i am gonna score... h-hah-hah-hah-hah-hah...

plante uma arvore por dia com um clic

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Ateu Tímido
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Re.: América do Sul reconhece-se nas tradições oprimidas à p

Mensagem por Ateu Tímido »

Pensei que o "dono" tinha abandonado o barco...

Concordando ou não, entre nós, ou com a maioria do "rebanho", acho importante a sua participação.

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Poindexter
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Re.: América do Sul reconhece-se nas tradições oprimidas à p

Mensagem por Poindexter »

Li até a parte onde se diz: "Agência Carta Maior".

Daí, obviamente, parei.

O pior é que até fiquei curioso, hehe... quais seriam essas tais tradições "AI! UI! SANTA! OPRIMIDAAAAS pelos bofes maléficos da Espanha, de Potugal e dos States, UI!!!, sob pena de levarmos chumbo GROSSO de armas de CANO LONGO se resolvermos ASSUMIR"!

Ah, sim, claro! Talvez o texto defenda que, se não tivessem reprimido o culto à Tupã e ao Deus-Sol, hoje estaríamos no 1o Mundo e seríamos uma Potência Nuclear! :emoticon22: :emoticon22: :emoticon22:

Faz-me rir! :emoticon266:
Si Pelé es rey, Maradona es D10S.

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O ENCOSTO
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Mensagem por O ENCOSTO »

Tentei ler o texto numa boa, sem preconceito.

É foda.

A propósito, odeio música, dança, e qualquer outra forma de arte produzida na america latina (fora do Brasil).

Somos consumidores de cultura. E quem decide oque é bom ou ruim somos nós, consumidores. Individualmente.
O ENCOSTO


http://www.manualdochurrasco.com.br/
http://www.midiasemmascara.org/
Onde houver fé, levarei a dúvida.

"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas infundadas, e a certeza da existência das coisas que não existem.”

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Claudio Loredo
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Re: Re.: América do Sul reconhece-se nas tradições oprimidas

Mensagem por Claudio Loredo »

Ateu Tímido escreveu:Pensei que o "dono" tinha abandonado o barco...

Concordando ou não, entre nós, ou com a maioria do "rebanho", acho importante a sua participação.


Obrigado, Bruno. :emoticon7: Só que eu não abandonei o barco. É que estou sem poder acessar a internet, mesmo no trabalho. Além de estar um pouco sem tempo e envolvido com outras coisas. Assim que der, volta a postar mais.


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Claudio Loredo
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Mensagem por Claudio Loredo »

O ENCOSTO escreveu:Tentei ler o texto numa boa, sem preconceito.

É foda.

A propósito, odeio música, dança, e qualquer outra forma de arte produzida na america latina (fora do Brasil).

Somos consumidores de cultura. E quem decide oque é bom ou ruim somos nós, consumidores. Individualmente.



As pessoas escolhem a cultura que querem consumir dentro do leque de opções que elas tem a sua disposição. As diferentes construções cultarais humanas são um patrimônio da humanidade que deve ser preservado. Para que isto aconteça, é necessário um esforço social para garantir a sobrevivência das manifestações culturais desenvolvidas ao longo de gerações por diferentes comunidades. Toda produção cultural tem sua beleza e se por isso merecem proteção contra as forças do mercado que tendem a impor um padrão único de cultura. Assim, as atuais e futuras gerações terão a oportunidade de conhecerem e vivenciarem toda a beleza da produção artistica humana.

Trancado