Peça teatral... roteiro....

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Steve
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Peça teatral... roteiro....

Mensagem por Steve »

"me cago en dios"... o diretor me mandou via mail...
EU CAGO EM DEUS
(ME CAGO EN DIOS)

de Íñigo Ramírez de Haro

Traduzido por Carloto Cotta

Sala vazia. Ao centro, uma retrete. Entra um humano pelo público. Baixa as calças. Senta-se na retrete.

HUMANO. – Eu não sei como é com vocês, mas na verdade, a mim custa-me muito isto de cagar, perdão, de fazer cocó, que é mais fino. Tenho problemas. Quem não os tem? Eu sei. Mas não me sai. E o problema é que tenho vontade, vejam se não tenho, e muita... mas nada. No momento em que me sento, põe-se todo duro, bloqueia, e acabou-se. Posso ficar horas, dias. É igual. A única coisa que realmente sai são.... as hemorróidas. Crescem. Sangram. E como me doem. Posso remexer com o meu próprio dedo; posso pegar num livro e pôr –me a ler; posso pôr-me a pensar em estábulos de vacas cheios de bosta ou nas ruas infestadas de caganitas de cão. Vejo esses cães a cagar na cidade e cada vez que os seus donos recolhem esses lindos chouriços com as suas luvas de plástico e aquelas caras de nojo, dá-me uma fúria. Mas o que é que te fizeram? Deixa-os aí. Não vês que embelezam a cidade, dão-lhe um ar mais natural. Esculturas orgânicas. Arte efémera ao sabor da chuva ou do sapato desorientado que a pisa... Nada. Nem estes pensamentos bucólicos me fazem mover um único músculo do intestino. Pergunto-me se será psicológico. Não sei. (Para o público.) Qual é a vossa opinião? Falem, contem-me a vossa experiência. Têm problemas...? Em cagar, entendem. Que tal cagam? Talvez seja uma pergunta demasiado íntima. O que é a intimidade? Mas usam truques? Contem-me, assim pode ser que me contagiem. Acabou-se! Não vou cagar mais. Na minha vida. Vou pôr uma rolha, e a partir de agora fá-lo-ei cirurgicamente num hospital, uma vez por semana. Estou farto de sofrer! Estou-me a cagar para Deus! Eu cago em Deus...!! Aah, mas o que é que se passa? Passa-se algo estranho... Não me sinto bem. Há um médico na sala...? És tu, voltaste... Acendo-te uma vela para que o pai e a mãe não se separem. Acendo-te uma vela para que o avô não morra, deixa-o viver, por favor, sabes que gosto muito dele. Acendo-te uma vela para que a avó não me castigue, eu sei que sou mais moreno que os meus irmãos, que hei-de eu fazer, mas diz-lhe que não tenho a culpa. Acendo-te uma vela para que me passes no exame de matemática. Tu, que sabes tudo, de certeza que sabes a solução dos problemas. Passa-me. E eu juro-te, Deus, que sairei sem te virar as costas e nunca mais vou pisar nenhuma risca do chão do teu templo. Prometo. Perdoa-me por já ter jurado antes. Eu sei que é muito mau. Escapou-me. Não o voltarei a fazer. Prometo-te que pisarei sempre dentro das lousetas. Assim tudo o que te peço se cumprirá. Agora não me lembro se pisei a primeira linha entre as lousetas. É melhor que volte atrás, se não, não conta. Mas o que importa a ti se pisei ou não? A ti isso não te importa. O importante é outra coisa... claro que importa, e muito. Se não voltas a começar, despede-te. Deus não te realizará os teus pedidos. E mais, farei com que não se realize nenhum dos teus desejos e então vais andar muito mal... Não, por favor, isso nunca. Eu sou bom e portanto Deus ajuda-me. De certeza que me ajuda. Por que Tu és bom e entendes que se pisei a risca da louseta foi sem querer. Pela emoção de acender-te uma vela e não te virar as costas.... e então? Se foi sem querer é porque te saiu de dentro. Do fundo de ti próprio. Não te controlas. Ou seja, estás podre. Estás completamente podre. Pecaste tanto que já não te resta nada puro. Tudo te escapa. Por isso pisaste a risca no chão. Por isso juraste. Vais ficar irremediavelmente condenado. Vais acabar por te arrastar até..., tu já sabes. Sabes onde? Não podes sabê-lo. Nem sequer fizeste bem os exercícios espirituais... Isso não. Como é que não os fiz bem? Revoltas-te? Não. Mas, Deus eu asseguro-te... Não me chames Deus em vão...! Perdoa, mas nunca sei como te hei de chamar. Fiz tudo o que me disseste. Eu imaginei o grande, vasto e profundo inferno. Eu imaginei os desgraçados contorcendo-se nas chamas abrasivas a suar na angústia da morte, e mil vezes pior que a própria morte. Sofri muito com as chamas, lentamente como tu querias. Nada de arder assim muito rapidamente e já está, morto. Não. Isso é o que fazem os que fazem que fazem... Estás a acusar alguém? Acusa. É muito feio.... Não, nada disso. Mas eu ardi em câmara lenta, muito devagarinho. Primeiro as chamas chamuscavam-me os pêlos. E aí comecei a chorar de dor. Logo as chamas me queimavam a pele e eu chorava mais. E a dor era insuportável. Já me está a voltar a dor agora. O fogo consumia-me os olhos, os miolos, as entranhas...., todo. Ai, como me dói. Eu oferecia-te a minha dor. Que mais queres, senhor? A minha carne ardia e embora eu me contorcesse de dor, continuava consciente muito tempo, muito, até desmaiar. Eu sofri como tu gostas. Vais-me perdoar? Volto a começar outra vez a partir das velas para não pisar nenhuma risca....(Aplaude.) Bravo. Bravíssimo! Estiveste muito bem. Mentiroso! Cagão! Maricas! Com quem pensas que estás a falar? Imbecil. A mim não me enganas. Eu leio todos os pensamentos e sabes que me mentiste. Tu estavas distraído, desconcentrado, e só pensavas na miúda que conheceste ontem quando vinhas no autocarro. Ficaste completamente apanhadinho por ela. É assim que me agradeces? Eu, que morri por ti. Eu que te redimi da morte para que possas desfrutar da vida eterna. Eu que te concedi a vida. A ti. Tirei -te do nada onde podias ter permanecido para sempre. E ainda mais. Para toda a eternidade. E ainda mais para lá da eternidade, para...como se chama? Como se chama ao para lá da eternidade? É tão grande. Chama-lhe Deus. Eu tive a infinita generosidade de fazer algo a partir do nada e dar-te uma alma especial e dar-te um corpo especial e aí estás tu. Tu, tu, tu, carregado de um eu, eu, eu, com os teus caprichos e os teus desejos, os teus conflitos e as tuas raivas, os teus egoísmos e as tuas injustiças, as tuas misérias e as tuas traições. Que me importa a mim que tu existas? Diz-me. No plano do mundo que me importas tu? Vá, fala! Para que me serve um humano a mais, outro pecador vicioso com todos os outros que já existem? Vá, fala! Não sei acho que pouco... Pouco não, nada! Nada de nada! Tu és um micróbio perfeitamente prescindível. E esse micróbio a que se dedica? Eh... não quero ser maior... A que se dedica? A pedir! Tu só pensas em pedir. Acendes velas a pedir. E ainda por cima pisas as riscas das lousetas! É a única coisa que sabes fazer bem. Pedir. E nunca pensaste, seu micróbio, que também se tem que dar...Não, isso não é justo, e dói muito...! E ainda por cima estás cheio de ódio! Tens todos os pecados capitais. Dar não é o que tu fazes. Dar as sobras, dar com cálculo não é dar! Não! Dar é dar algo realmente importante, que perdes e não voltas a recuperar. Bom. O melhor é que o deixemos. Conforma-te com a tua vida ordinária... não meu Deus, por favor, eu não quero uma vida ordinária. Eu quero uma vida extraordinária. Ajuda-me, tu podes... Está bem. Vou-te dar uma última oportunidade: voltas atrás, acendes outra vez a vela e sais sem me virar as costas, e sem pisar nenhuma risca, com os pés bem dentro das lousetasl. Entendido? Sim! Sim quê? Sim senhor...!E agora já não me vais pedir nada. Agora vais-me dar. E não me vais enganar, hã? Assim eu perdoarei-te e poderás voltar ao meu reino infinito. Está claro? Então o que me vais dar? Obrigado, obrigado meu deus, por confiar em mim mesmo quando não mereço. Sim, claro que te vou dar tudo. Tudo o que é meu é teu. Tu és bom e eu quero ser bom. Eu quero ser teu. Eu quero sacrificar a minha vida por ti. Leva o meu ser para espalhar a tua palavra pelo mundo. Usa-me como peão para converter todos esses infelizes que tiveram o azar de nascer em países sem deus ou com deuses equivocados. Eu juro que cortarei a língua para nunca te negar, como o missionário que nos mostraste o outro dia. Ele pôs-se no meio do altar, abriu a boca, e sacou o pedaço de língua que lhe restava e passámos todos em fila, a menos de um metro para a ver. Eu vi os pontos da cicatriz já escurecidos pelo passar dos anos. Os dentes negros. O liquido de reacção alcalina, algo viscoso, segregado por glândulas cujos canais de excreção se abrem como na cavidade bocal de muitos animais, quero dizer, a saliva esverdeada. Olhei para os olhos escondidos atrás da barba, e já me ia embora, quando de repente, me piscou um olho e disse: tu serás como eu. E eu pus-me de joelhos e disse-lhe que sim, que seria como ele, que ele será para sempre o meu herói, que lhe darei tudo e que seguirei o seu exemplo e sofrerei perseguições por defender-te. Jamais te atraiçoarei. Sem vacilar. Sem dissimular. Não terei vergonha e sofrerei com alegria, orgulhoso de ti e de mim. Quando me torturarem eu ofereço-lhes o que tiver para que me cortem. E cortam-me a língua e eu sorrio. E arrancam-me os olhos e eu sorrio. E furam-me os ouvidos e eu continuo a sorrir. E arrancam-me as unhas e eu sorrio. E queimam-me a boca e eu sorrio. E cortam-me as mãos e eu sorrio. E amputam-me as pernas e eu sorrio. E castram-me a pila, eu sorrio. E quando não for mais que um tronco, aqui e agora, eu te quero dizer Deus, que embora não me possa pôr de pé porque não tenho pernas, não possa tocar-te porque não tenho braços, não possa beijar-te porque não tenho lábios, obrigado. Obrigado por existir. Obrigado, Senhor, por não me abandonares a uma vida ordinária como a quase todo o mundo e me teres dado esta grandíssima oportunidade de te demonstrar que a vida só faz sentido se morrer por ti. Obrigado por me cederes a honra de ser teu mártir. Obrigado. Porque embora eu não saiba porque é que se tem de cortar tudo, tu, Deus de certeza que sim. Porque tu és bom, és sábio e és belo. Ai, Deus, amado, onde te escondeste e me deixaste a gemer? Saí a chamar- te e já tinhas ido. Porque feriste o meu coração e não o curaste? Que suave é o teu colo onde apoio a cabeça e me embalas na tua melodia universal, onde fecho os olhos e por fim descanso. Descanso sabendo que tu me proteges, que vês o meu sonho, que o mundo está bem e tu estás aí a acariciar-me. Ai Deus amado, que maravilha não ter mais dúvidas e pertencer ao teu rebanho. A minha alma está ao teu serviço. Já não tenho outro ofício. Já só o amor é o meu exercício. Tu salvaste-me da vertigem, da insegurança permanente, da minha razão raciocinando no vazio, essa faca horrorosa que gira e corta sem cessar, da minha solidão. Em solidão vivia, na solidão de amor ferido, na solidão de indivíduo isolado. Ai, Deus, amado gozemos, mergulhemos na profundidade. Vejam-te os meus olhos pois tu és luz e só para ti eu quero tê-los. Descobre a tua figura para que me matem o teu olhar e a tua beleza. Deixa-me fundir-me à tua infinita ternura e que todo o meu ser se dissolva em ti. Já não existe mais este eu com limites, pesado, preso a um corpo. Eu explodi dentro de ti e a minha consciência pulverizou-se em milhares de partículas que se fundem ao teu infinito. Eu sou tu. Não sou. Eu Sou deus. E agora, para além do tempo e do espaço, contemplo e entendo a tua criação, o percurso da história, a tua vitória final e a chegada do reino de deus à terra, quando todos nós, os seres vivos, humanos, animais e vegetais nos prostrarmos a venerar-te para gozar da tua felicidade. E agora contemplo e entendo que a vida de indivíduos concretos foram sacrifícios necessários para o grande triunfo final. E agora contemplo e entendo os milhões de mortos em nome de Jesus Cristo. Louvemos ao senhor. Agora contemplo e entendo os milhões de mortos em nome de Alá. Louvemos ao senhor. Agora contemplo e entendo os milhões de mortos em nome de Jeová. Louvemos ao senhor. Agora contemplo e entendo os milhões de mortos em nome de Buda, Visnú, Brahma e Shiva. Louvemos ao senhor. Agora contemplo e entendo os milhões de massacrados em nome as evidências de Deus. Louvemos ao senhor. Agora contemplo e entendo os milhões de tarados em nome de todas as evidências de deus. Lembras-te? Diz-me que te lembras, Deus, quando eu servia no teu templo e ajudava os teus ministros. O odor das batinas purificava-me. O odor a casula. Para mim, o odor a Deus. Aquele brilho das manchas nos tecidos. Aquela caspa branca sobre as ombreiras negras que fazia lembrar gotas de orvalho numa manhã do teu mês, Maio. O teu ministro repreendia-me carinhosamente porque me tinha rido durante a eucaristia.... Sabes que isso é pecado mortal...? Pergunta-me ele enquanto apoia casualmente a sua mão grande, rugosa e peluda sobre a minha coxa rosada com sardas e algum outro sinal que sobressaia dos meus calções curtos. Tendo em conta que sou mais moreno que os meus irmãos como não se cansa de mo recordar a minha avó... Se morres agora com pecado mortal já sabes o que te acontece... E a mão grande, rugosa e peluda sobre a minha coxa... Tu não queres morrer com pecado mortal, pois não? Tens que remediar essa horrível ofensa que fizeste a Deus: gozar com Ele debaixo do seu próprio nariz, no momento mais solene do seu sacrifício por todos nós... E a mão grande, rugosa e peluda acaricia-me a cocha e começa a tocar- me na pontinha... E não te arrependes, filho? Não dizes nada? E a mão grande rugosa e peluda dá-me palmadinhas na coxa e toca-me na pontinha... Desabafa, filho, confessa-te... E a mão fica mais tempo em cima da minha pila que começa a mexer-se dentro das cuecas... Mas diz algo filho, fala arrepende-te, por que se morresses agora mesmo, e que Deus não o queira, estás em pecado mortal! Filho segue o exemplo dos santos que embora muito tenham pecado, muito se arrependeram... E a mão esfrega-me com força a pila que para minha surpresa está a ficar dura... filho fala por Deus, te digo que fales, ordeno- te que fales. Se não falas, Deus castiga-te e deixa-te mudo por te portares assim. Só a tua grande arrogância faz com que desafies deus com o teu silêncio em vez de te confessares e falar e.... Eu morro padre, eu morro. Já noto que estou a morrer. Estou a ficar duro. Nunca me aconteceu isto. (Chora e grita.) Estou a morrer com pecado mortal. Vou ser condenado. Ajude- me, padre... Calma filho, tu não te tocas...? Tocar-me quê, padre? Ajude-me, padre. Eu vou morrer. Estou tão duro. Eu prometo que não me quis rir. Era o meu amigo que me estava a mostrar a língua... Filho, fica tranquilo, não se passa nada, ficaste duro mas vais ver que já amoleces. É natural. Anda põe-te a rezar e a pedir perdão a Deus pelo que fizeste. E para Deus ver que estas arrependido, imita os santinhos. Vá, fala com Deus, filho, e não digas a ninguém que me viste. É o nosso segredo... Mas não amolecia. Eu morria enquanto pedia perdão a Deus, via que não me perdoava. Disse a Deus que se me salvasse tornava-me me santo. Segui o exemplo do teu ministro e converti-me em Santa Catalina de Siena... a mais malvada e culpada das tuas servas implora-te misericórdia. Perdoa esta horrível pecadora. Ajuda-me a vencer o diabo. Sozinha não consigo... Some-te serpente repugnante, afasta-te... Senhor, sabes que ardo em vontade de socorrer os pobres e necessitados. Dá-me forças para ajudar os doentes mais contagiosos de lepra e de cancro cujo fedor é tão repulsivo que nem os familiares, amigos ou médicos têm coragem de chegar perto. Eu sim! Mas por favor, Senhor, só te peço que não sinta náuseas quando beijo e lambo os seus tumores podres para que assim os pobres doentinhos possam sentir um pouco de alívio nas suas dores. Eu sei que é ele. O Mal tenta-me para destruir a minha virtude e perder-me... mas eu vou mostrar-te, Satanás, que com Catalina não consegues. Fora! Eu sou de Deus. A Ele é consagrado tesouro da minha virgindade. Renunciei aos prazeres da carne. Desprezei a minha reputação e a opinião dos homens. Não há nada mais penoso para a minha alma que o olhar de um homem. Vou-te vencer, lobo infernal! Esta ovelha do Senhor não cairá nas tuas garras. Vê! Vê como recolho o pus putrefacto e os líquidos pestilentos das crostas, chagas e úlceras podres desta pobre velha, Andreia. Vê como os meto nesta taça, os misturo e os bebo. Vê! Em toda a minha vida nunca bebi nada que tivesse um sabor tão agradável. Vês! Não sinto náuseas. Venci-te! Derrotei a minha natureza humana. Afasta-te demónio corrupto, que quero rezar ao meu dono... (Ouve-se voz vinda do céu.) Amada esposa, nunca foste tão querida por mim e nunca me agradaste tanto. Em recompensa por esse santo ódio que demonstraste por ti própria e contra o teu corpo asqueroso, a minha divina generosidade previu derramar sobre ti a superabundante graça do meu licor celestial.: bebe esposa., bebe o sangue que escorre da sagrada ferida das minhas costas na cruz... (Prostrado.) Ai, não, não, não meu divino esposo não queiras inflamar mais e mais o meu fervor amoroso com a violência do teu ardor santo se não para levar-me contigo e livrar-me deste corpo de morte. Eu apenas sou tua escrava, meu Amo, uma vil criatura miserável que não merece tal honra. Eu não sou digna do teu sangue. Dá-me os teus excrementos, meu esposo, que para mim serão e minha salvação, o teu alimento mais sagrado... (Ouve-se voz vinda do céu.) Bebe o meu sangue , Catalina. Contradizes a minha palavra? Não queiras pecar de soberba... Sim, sim, sim eu pequei, meu senhor. A besta maligna voltou a seduzir-me. Está claro que não destruí os gérmenes do meu amor-próprio, da minha vaidade, raiz de todos os vícios. Não me humilhei o suficiente. Senhor, castiga-me para que possas voltar a mim. Vou acalmar a tua justa cólera com uma condenação completa. Permite-me que me retire para um lugar retirado onde possa castigar e torturar o meu frágil corpo, monte de terra podre, com disciplina exemplar. (Tira o cinto. Flagela-se.) Sou infinitesimal. Sou microscópica. Sou imperceptível. Sou insignificante. E por isso faço a tua vontade e não a minha. Agora mesmo bebo o teu sangue divino , o teu elixir. E não só bebo o teu sangue, como te chupo a ferida das costas. E não só te chupo a ferida das costas, como te chupo todo inteiro, meu esposo. Aaaaaaaaai. Alma rompe as ligaduras do meu corpo. Perco o uso dos meus sentidos. Resfriam-se as extremidades. Contraem-se. Não sinto nada. Do coração uma luz infinita puxa-me para o céu. E a alma ascende. O corpo agarra-se e quer seguir a alma. Sobe. Estou a levitar. É pena que esteja tão pesado. Amanhã ponho-me em dieta. Aaaaaaaaaaai!! (Emite sons estranhos. Êxtase. Tempo.) Que cheiro é este que me distrai do êxtase das tuas delicias celestiais? És tu, meu Esposo? (Olha para dentro da retrete.) Mas que grande cagada! Que horror, imagino que o cheiro chegue aí. Perdoem-me. Um fósforo, rápido. Alguém tem um fósforo? (Acende um fósforo.) Mas o que é que se passou? Falei muito? Passou muito tempo? Vocês são os mesmos, ou é como no conto medieval em que quando o monge volta já passaram várias gerações? Ah, não está ai... (Cita o nome próprio de alguém no público.) Há muito tempo que não cagava tão bem. Saiu todo. Estou completamente vazio. Talvez seja o nirvana. O nada. Será que sou budista? (Tira o colar do pescoço.) Deus concedeu-me esta grande cagada. Graças a Deus. Adeus. (Saindo pelo público.) Por favor, não me toquem. Deixem-me sair. Não quero violência. Já sei que tenho que tenho poderes e se me tocarem, curam-se. Não se preocupem. À saída vamos fazer um leilão da minha roupa. Faz milagres. E para os casos sem solução, dou-lhes um dente. (Arranca um dente.) Vêem? Por isso não me toquem, por favor, não me toquem que me despedaçam. ( Sai a correr.)

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videomaker
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Re: Peça teatral... roteiro....

Mensagem por videomaker »


Se Deus for diferente do que achamos que ele seja, perde toda a graça , a questão Deus !
Não pode ser diferente... de jeito nenhum .
Há dois meios de ser enganado. Um é acreditar no que não é verdadeiro; o outro é recusar a acreditar no que é verdadeiro. Søren Kierkegaard (1813-1855)

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Nospheratu
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Re.: Peça teatral... roteiro....

Mensagem por Nospheratu »

Organiza isso, Al, tá todo sem parágrafos.

Steve
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Registrado em: 01 Dez 2005, 17:59

Re: Re.: Peça teatral... roteiro....

Mensagem por Steve »

Nospheratu escreveu:Organiza isso, Al, tá todo sem parágrafos.

falou , vampire...
veja o resto aki... depois crio paragrafos

http://heliopereiriano.iforums.com.br/v ... ighlight=&

Trancado