Por exemplo, um pedagogo entrevista um professorzinho de matemática de uma escola na zona rural, pede para ele definir "área". Este responde que é a medição da terra. Eles então escrevem artigos defendendo que em zonas rurais, o ensino de geometria deve ser voltada para a agrimensura. Mas custava simplesmente dizer ao cara: "área é o quanto uma figura ocupa uma superfície"?
Eu estava a ler um artigo de uma edição especial da Scientific American: Etnomatemática. Em meio a ótimos artigos como o sistema numérico maia e a resolução de problemas geométricos no Japão medieval, havia um escrito por um brasileiro: Eduardo Sebastiani Ferreira (pesquisador colaborador do Núcleo Interdisciplinar de Matemática da Unicamp), no qual ele descrevia sua experiência em aldeias indígenas. Ele descreve que uma vez ficou impressionado com um índio que pescava com arco e flecha, levando em conta a refração da água: o peixe parecia estar em um lugar e o índio disparava em outro. Ao perguntar ao índio sobre como ele sabia onde atirar, este respondeu "os olhos da gente estão errados". Por algum motivo o Eduardo achou o caso digno de nota, e levou a discussão para um grupo de estudos no Instituto de Artes. O que segue depois é uma das coisas mais ridículas que já vi um relativista dizer.
Eduardo Sebastiani Ferreira escreveu: ...a análise que fizemos para mim foi conclusiva. Somos de uma cultura judaico-cristã, na qual existe a crença de que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus - ser perfeito -, portanto não admitimos que podemos ter algo errado com o corpo. Para responder ao fenômeno da refração inventamos uma lei física, e com este pressuposto criamos toda nossa ciência.
Chamar a análise de "conclusiva" foi a cereja do bolo. Para esta gente tudo é relativo, menos suas elocubrações falaciosas.
O mínimo que poderia se esperar de alguém que seja pesquisador colaborador do Núcleo Interdisciplinar de Matemática é que conheça um pouco sobre a História da disciplina, tal como que Euclides e Arquimedes já estudavam o fenômeno da refração séculos antes de cristo. Talvez seja muito esperar que alguém em um grupo do Instituto de Artes saiba algum fato da história da filosofia, tal como que cristãos como Descartes admitiam as falhas nos sentidos e as estudavam.
Certamente é muito esperar que alguém cujo o cérebro atrofiou de tanto ler Paulo Freire lembre que o conhecimento do fenômeno da refração nos permite construir desde microscópios e telescópios até os óculos que o Paulo Freire usava.