user f.k.a. Cabeção escreveu:
Bem, você é que escolheu uma acepção de normalidade que lhe parece conveniente, não eu.
Eu nunca disse que o que é anormal é criminoso, ou mesmo ruim.
O fato dessas taras que você expôs serem repugnantes para a maioria das pessoas as torna anormais, ainda que não sejam necessariamente ilegais. Talvez sexo com animais seja.
Cada um expõe o conceito de normalidade que acha mais adequado. O Acauan colocou um dele, usado por várias pessoas, mas no terreno da sexualidade não é o mais abrangente nem o que eu considero mais apto a obstar efeitos perniciosos do que se considera "anormal". Se considerarmos a relação homossexual simplesmente anormal, certos movimentos progressistas sofrem reveses, como o pela instituição da união entre pessoas do mesmo sexo e as consequências jurídicas da mesma. Apresentar o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo como anormal pode lhe satisfazer, mas é reducionista.
O conceito de homossexualidade, ou bissexualidade, geralmente é apresentado como anormal em contraposição ao que se considera relação normal, que é a do homem com a mulher. O critério adotado é o pretensamente "natural", usando o fato óbvio de que o pênis é "desenhado" para ser introduzido na vagina e a ejaculação se destina a fecundar o óvulo. Assim, o homossexual é anormal, porque em sua relação não é possível a fecundação ou a reprodução. Mas qualquer simples abordagem da sexualidade humana demonstra que isso está muito longe de ser exato e que essa simplicidade está muito longe de ser satisfatória para a sexualidade humana.
Primeiro, o sexo para as pessoas não é puramente instinto, mas também cultura (cultura como tudo adicionado à natureza pelo homem), ou seja, o homem desenvolve sua sexualidade adicionando a ela diversos outros elementos estranhos à sexualidade animal, como o carinho, o amor, e sobretudo a busca pelo prazer. As pessoas têm no sexo a mais intensa e importante ferramenta para experimentar prazer físico intenso, ao mesmo tempo em que usam o sexo para se relacionar com as outras pessoas. Ao dissociar a importância do sexo com a importância da reprodução, o homem libertou a sexualidade do instinto reprodutivo e pôde dar a ela todos os significados que queira. Nesse ponto, o homossexual ou o bissexual já podem ser considerados normais porque usam sua sexualidade da mesma maneira que o heterossexual, para obter prazer e para se relacionar com outra pessoa por quem sinta tesão ou afeto, nascendo daí a necessidade do Direito abrigar e normatizar tais relações e as consquências patrimoniais e familiares que ela gera, pelo princípio da igualdade.
Além disso, o pensamento seletivo é um aditivo impressionante do conceito de sexualidade normal como a que implica a relação entre o pênis e a vagina. Sim, podemos admitir que o coito vaginal é o meio natural de se relacionar sexualmente na espécie humana por compatibilidade genital e objetivo biológico claro. Mas, justamente pelo fato do sexo humano ser também cultura, diversas outras maneiras de se fazer sexo entre homem e mulher acabam escapando dessa pretensa naturalidade e caindo no terreno do anormal.
O beijo na boca, por exemplo, não tem função biológica, seja entre homem e mulher, entre mulheres ou entre homens, serve apenas para o prazer e para demonstrar afeto, entretanto o discurso da homossexualidade anormal ignora este fato. Não há diferença categorizável entre o beijo trocado entre pessoas de sexos diferentes ou do mesmo sexo. O coito anal então é pior ainda, porque se presta a provocar a ejaculação do homem com total desperdício, já que é impossível a fecundação pelo ânus. Não existem diferenças estruturais entre o ânus masculino e o ânus feminino, então forçosamente teríamos que considerar o sexo anal como anormal em qualquer forma que seja praticado. O sexo oral vem a reboque, já que também é outra forma de sexo apta a fazer o homem ejacular abundantemente sem nenhuma função outra que não seja a obtenção do prazer. Não havendo possibilidade de fecundação pela boca, o sexo oral é tão anormal e inútil do ponto de vista NATURAL(?) quanto o sexo anal. Um pênis na boca de uma mulher é tão anormal quanto um pênis na boca de um homem, ou uma vagina sendo chupada por um homem é tão anormal quanto uma vagina sendo chupada por uma mulher. Do ponto de vista da "natureza" é inútil e não tem porque ser feito ou estimulado, mas do ponto de vista da natureza HUMANA é normal e corriqueiro. Esse critério da normalidade pelo "natural" deixa até a camisinha num papel difícil, já que barrar a ejaculação é, por definição, contra a "natureza" e portanto anormal; assim como a masturbação, que desperdiça esperma; e quaisquer outros atos libidinosos de prazer mas reprodutivamente indiferentes, como cheirar calcinhas.
Na verdade, por isso eu acho que o sexo entre crentes ortodoxos é mais coerente do ponto de vista do critério "normal": a penetração vaginal é a única relação sexual lícita e moral, e nunca de modo a impedir o papel legítimo do esperma. Jamais sexo anal ou oral e beijo bastante controlado. Mas infelizmente não me lembro de jamais ter conhecido uma pessoa que não considerasse a homossexualidade anormalidade porque DEUS criou o homem para a mulher, ou que o homem deve se relacionar exclusivamente com a mulher porque assim determinou a "natureza", que achasse muito errado gozar na boca ou na bundinha da namorada, só usando dois exemplos muito óbvios, por tais atos serem "anormais".