O véu da ignorância
Adriano Moreira - Professor universitário
Fonte: DN
Para tornar a situação internacional ainda mais preocupante, do ponto de vista da paz e segurança, do que resulta dos factos que podem ser dados por fiáveis, cresce a preocupação sobre a cortina de ignorância que vai sendo tecida em mais de um domínio das relações internacionais, e que corta o acesso das populações interessadas ao conhecimento da realidade.
Não se trata da área reservada ao segredo de Estado, uma temática subordinada à disciplina do Estado de Direito, que introduz limitações claras. Mas área essa também submetida ao assédio dos meios de comunicação social de variadas sedes, orientações, interesses e dependências, criando frequentemente equívocos que desafiam a distinção entre o reservado, a dimensão violada, e sobretudo a área apenas presumida mas divulgada pela curiosidade legítima ou abusiva apoiada pela colheita.
Trata-se neste ponto de uma fragilidade agravada pela frequência com que a mentira real dos clássicos é abusada pelos poderes políticos, uma prática que inevitavelmente excita as referidas práticas do assédio à reserva governativa, e parece levar a uma subjacente e paliativa doutrina de equilíbrio e legitimação dos enganos.
A frequência e ritmo dos desmentidos, correcções, reinterpretações, envolventes do caudal de notícias relacionadas com os mais desafiantes conflitos de projectos, de interesses, e de comportamentos dos governos ou dos seus representantes, não pode deixar de contribuir para debilitar a segurança da opinião pública no sentido de orientar os seus apoios ou recusas em relação às políticas seguidas ou propostas pelos respectivos governos ou instâncias internacionais.
Nos conflitos armados que fazem parte da herança deixada pelo século XX, foi-se tornando longa a lista de profissionais dos meios de comunicação que foram sacrificados na árdua tarefa de surpreender o real, e darem assim um testemunho confiável do processo em que, pela maior parte, as populações são mais destinatárias dos efeitos do que participantes nas causas. E todavia o sacrifício torna-se mais angustiante sempre que os factos posteriores mostram, mais incidentalmente do que por contrição, que uma parte do real foi subtraída à observação pela eficiência da teatrologia em exercício.
Uma teatrologia que vai acompanhada do perigo de analistas e comentadores não terem sempre a capacidade de serem bem-vindos ao mundo do real, frustrando se o objectivo de ajudar a iluminar, racionalizar, tornar consistente a visão pública dos complexos processos que se cruzam e tecem um emaranhado de dependências. As coisas atingem um pico extremo quando os próprios serviços de informação estaduais, que, antes de visarem apoiar uma opinião cívica esclarecida, têm por dever primeiro ajudar os governos a serem esclarecidos, são envolvidos na dúvida pública de saber se informam com aceitável consistência, se teve consistência a descodificação feita pelos governos, se afeiçoaram os fundamentos usados pela mentira real para decidir, se esta abusivamente ignorou ou afeiçoou as informações recebidas.
A situação gravíssima do Médio Oriente e as sequelas que se multiplicam por outras geografias fornecem inquietantes exemplos de todos estes riscos, que não podem deixar de convocar as atenções para um imperativo convite de regresso ao deserto do real, usando, sem grande abuso de sentido, um apelo de variadas origens. Porque o abuso da teatrologia no processo político contribui excessivamente para que, talvez por efeito de uma lei de reflexividade, um véu de ignorância envolva não apenas os eleitorados mas também decisores, nas áreas mais inquietantes da paz e segurança indivisíveis.
É o que se passa com a proliferação das armas atómicas, que subitamente aflora ameaçadora em vários lugares, sendo por vezes difícil concluir sobre a relação do anúncio com os factos, e dos factos com as intervenções. A questão do Iraque ficou marcada pela falha de relação das motivações invocadas com os factos, os factos do Irão e da Coreia do Norte desafiam as motivações.
A cortina da ignorância tem muitas contribuições identificáveis para a sua consistência, e essa ignorância, em muito dinamizada por decisores políticos, tem severa responsabilidade na quebra de confiança das populações nos príncipes que nos governam.
O véu da ignorância
O véu da ignorância
"Nunca te justifiques. Os amigos não precisam e os inimigos não acreditam" - Desconhecido


Re.: O véu da ignorância
comentários...
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Re.: O véu da ignorância
os comentarios virao, pug, seja paciente
JINGOL BEL, JINGOL BEL DENNY NO COTEL...
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Re: Re.: O véu da ignorância
Hrrr escreveu:os comentarios virao, pug, seja paciente

Preguiçosos ou seria pelo chato inundador de foruns

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