O show dos números
Revista Veja - 18/09/2006
Os bons resultados nos indicadores de emprego, renda e consumo explicam o favoritismo de Lula
Daniela Pinheiro
Com a divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo IBGE na semana passada, ficou patente que a vida do brasileiro melhorou nos últimos anos. A Pnad é o melhor retrato para medir as recentes mudanças do país. Ela não deixa dúvida: em 2005, houve aumento do emprego, da renda e do consumo (veja quadro). O salário médio do trabalhador, por exemplo, cresceu pela primeira vez desde 1996. Mais: comparados aos resultados do começo do governo Lula, os números da Pnad mostram que os brasileiros estão mais alfabetizados e há mais casas com luz elétrica, esgoto, coleta de lixo e água canalizada. Esses indicadores, mais do que quaisquer outros, podem explicar de maneira cristalina o porquê da folgada vantagem nas pesquisas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre seus adversários.
A preferência por Lula nas pesquisas feitas no Nordeste – onde ele tem 70% das intenções de voto – é reflexo quase direto do crescimento de 16,5% das vendas no comércio na região no último ano. É o maior porcentual de crescimento de vendas do país, segundo uma pesquisa inédita da MB Associados. Evidentemente, esse aumento do consumo tem origem nos programas assistenciais do governo, como o Bolsa Família, que atinge 11 milhões de lares brasileiros. Segundo as pesquisas, proporcionalmente o maior contingente dos eleitores do presidente Lula ainda se concentra entre os mais pobres e os menos escolarizados. Entre os que ganham menos de dois salários mínimos por mês e completaram apenas o ensino fundamental, a preferência por Lula chega a 59%, conforme mostrou o instituto Datafolha na semana passada. "A vida melhorou. Pode não ter sido o espetáculo do crescimento, mas foi um show indiscutível, principalmente para quem está na base da pirâmide", afirma o economista Marcelo Néri, da Fundação Getulio Vargas. O levantamento da MB Associados aponta que o trabalhador desfruta hoje mais crédito, tem maior poder de compra de alimentos e bens duráveis do que há quatro anos. Diz o cientista político Rogério Schmitt, da Tendências Consultoria: "É isso o que conta para o pobre. Mensalão, sanguessuga, isso não quer dizer nada. Ele está preocupado com a queda no preço do cimento e do arroz, o que de fato aconteceu. Qualquer candidato com uma bandeira dessa se beneficiaria nas urnas".
Bem, todos os indicadores são positivos, então estamos no melhor dos mundos, certo? Não. Há o que comemorar, mas também há com o que se preocupar. Boa parte desses bons resultados está lastreada no aumento dos gastos públicos. Portanto, no fim das contas, é um resultado que custa caro. E, pior, não é sustentável. "Reajustar o salário mínimo em padrões muito acima da inflação, como tem sido feito, aumenta o gasto público, principalmente na Previdência Social", diz a economista Tereza Fernandez, diretora da MB Associados. Economistas de bom senso, o mercado financeiro internacional e representantes de organismos internacionais têm alertado sobre a gastança. Na quinta-feira passada, véspera, portanto, da divulgação da Pnad, o vice-diretor do departamento de pesquisas do FMI, Charles Collyns, criticou publicamente o Brasil. Diz Collyns: "Os gastos públicos cresceram. Deveriam ser realizados de forma mais eficiente. Há ainda uma grande agenda de reformas a serem feitas".
Esse é o ponto. Há no governo quem pense (e não são poucos) que se pode prescindir de uma agenda firme de reformas e partir para a "retomada do desenvolvimento" – para usar um chavão tão caro a um certo grupo. Na semana passada, o ministro Luiz Fernando Furlan tocou novamente nessa tecla. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Furlan defendeu a fixação de uma meta entre 5% e 6% nos próximos quatro anos. Como intenção, meritório. Evidentemente, o ministro não explicou como o governo deveria fazer para atingir esse porcentual.
O crescimento brasileiro tem sido medíocre na última década. Todos concordam. Assim como há consenso sobre ser vital crescer mais. Não se deve, porém, querer soluções mágicas. São medidas que normalmente passam pela gastança e pelo mantra dos desenvolvimentistas – "crescimento com um pouquinho mais de inflação", sabidamente o primeiro passo para o abismo. O caminho para uma taxa chinesa e sustentável, queira-se ou não, é mais duro. Passa, por exemplo, por:
• Reforma Tributária, que legará ao país menos impostos.
• Reforma da Previdência e diminuição dos gastos públicos. A conseqüência mais vistosa dessas providências será a tão almejada queda dos juros.
• Redução da burocracia, que emperra a efervescência da economia.
Desde a década passada, o Brasil avançou bastante. Privatizou, diminuiu a presença do Estado na economia, começou a adquirir uma cultura de preocupação com os gastos públicos. Melhoramos muito, como o próprio resultado da Pnad comprova. Não é hora, portanto, de desviar da rota correta.
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O show dos números
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.
*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.
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Re.: O show dos números
Ou seja, a culpa é do salário mínimo, como sempre. Acho que quem ganha por salário mínimo tem que morrer mesmo. Brincadeira meu! Ainda tem gente que bate nesta tecla? Ah, tá bom, estamos falando aqui das aposentadorias e pensões, certo? Vamos então começar cortando as aposentadorias vitalicias e hereditárias? Vamos acabar REALMENTE com os desperdicios na área de saúde? Não, isso não dá. MElhor botar a culpa no velhinho que joga dominó na praça. Ninguém liga pra ele mesmo. Ele incomoda pegando onibus de graça as sete da manhã pra tomar io lugar de quem realmente trabalha e sustenta o pais. Tá certo, a quantidade de pessoas velhas dependentes da aposentadoria está muito maior hoje do que a 20 anso atrás. Só que a mais de 30 anos que a culpa dos gastos é a mesma, o salário minimo. Tenha a santa paciencia. Pior que isso foi em 74 em que a culpa da inflação era do chuchu. Abraços
"Tentar provar a existencia de deus com a biblia, é a mesma coisa q tentar provar a existencia de orcs usando o livro senhor dos aneis."

