Imprensa Marrom
A turma da ‘direita’ deve estar em polvorosa. Os legítimos representantes do pensamento direitista, diante do que ocorre na campanha eleitoral neste segundo turno, provavelmente estão tristes e abatidos.
Primeiro, rememoremos 2002: o PT, para conseguir ganhar a simpatia de parte do eleitorado, teve que produzir a “Carta ao Povo Brasileiro”, na qual, entre outros compromissos, prometia cumprir os contratos firmados pelo governo. Em suma, garantia que não haveria calote ou coisa do gênero.
Mesmo assim, na propaganda eleitoral do segundo turno, houve atriz famosa se dizendo ‘com medo’ de uma eventual gestão petista. E não era um ‘medo ético’, mas expressamente um ‘temor econômico’. Chegou a mencionar, com a melhor voz viuvaporcínica, a “inflação desenfreaaaaada”.
Pavor legítimo? Talvez. Afinal, o PT sempre defendeu bandeiras socialistas. Não sei até que ponto era equivocado ter ‘medo’ de um não-cumprimento aos contratos, ou de um não-seguimento da política econômica.
Ok, isso é passado, o governo petista conseguiu ser até mais economicamente ortodoxo do que o anterior, e o resto é história. Voltemos ao presente.
Neste simpático e afável ano de 2006, a realidade é bem outra. Em vez do petista ser obrigado a dizer que cumprirá contratos, o tucano é que se declara contra privatizações.
E é nessa hora que a direita - a legítima direita - deve ficar incomodada. Pra começar, a direita-direita não considera nenhum dos dois candidatos como verdadeiros postulantes ‘direitistas’.
Mas, de todo modo, todos eles optam pelo ‘menos esquerdista’, que vem a ser obviamente o tucano. Mas ele, o preferido, precisa afirmar publicamente seu compromisso com uma bandeira esquerdista, para assim ter melhores condições de ser eleito.
Chega-se ao ponto de considerar “terrorismo” a atribuição de idéias direitistas (ou mesmo economicamente liberais) a um candidato. TERRORISMO! Justo esse termo! Eles, os direitistas, devem estar loucos.
E quem assim denomina são os próprios acusados, que a rigor deveriam DEFENDER o ideário direitista, e não considerá-lo “terrorista”.
Aliás, o candidato ‘menos esquerdista’ também já se comprometeu publicamente a manter alguns programas sociais de assistência. É mole? Isso desmoraliza totalmente os direitistas.
Dureza, hein?
Foi-se o tempo em que uma privatização era uma bandeira a ser defendida. Hoje, é “terrorismo”. E não se vê muitos direitistas indo contra isso, defendendo seu peixe, brigando por sua idéia. Estão todos num silêncio-camarada, para não atrapalhar ainda mais seu preferido. Ok, é do jogo.
Mas isso reforça minha tese (*) de que os brasileiros não são direitistas coisa nenhuma. Nosso povo é conservador, em sua maioria, mas em tempo algum recusa benesses oriundas do Estado, nem vê com simpatia a venda de empresas públicas (apesar da campanha monocórdia que a imprensa faz, no sentido contrário).
Este é um país “direitista”? Sei não. Na dúvida, vocês têm sempre a chance de colocar a culpa em Gramsci.
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).