Abmael escreveu:A estabilidade é um falso argumento, ela não é inerente ao servidor público, e nem é culpa dele, existem países sem estabilidade, acabem com ela oras, além disso existe estabilidade em empresas privadas também.
"O Globo" 03.11.2006
LUIZ GARCIA
Sem amigos do peito
Palavras do presidente reeleito: "O Brasil tem problema de desemprego,
você não pode cortar funcionário público. Pelo que eu conheço da
máquina, tem muito pouco para cortar." Curioso raciocínio, não raro no
orador: ele é vezeiro em juntar causa com inconseqüência.
Na frase citada, isso acontece claramente. É óbvio que o desemprego só
será combatido com razoável eficiência se a máquina pública funcionar
melhor. E isso dificilmente ocorre quando o governo passa quatro anos
caprichando para torná-la enxundiosa.
Pior ainda quando um dos critérios para engordá-la - em seguida a uma
generosa semeadura de ministérios e secretarias especiais - for a
nomeação em massa de pessoas escolhidas pelo critério da fidelidade
partidária, ficando em segundo plano a habilitação específica do
nomeado. A sua fidelidade ao Estado, por assim dizer.
No primeiro mandato, o governo Lula aumentou em 10,7% o número de cargos
de confiança, levando o total para mais de 21 mil. Do total, quase cinco
mil foram entregues a políticos, militantes partidários e sindicalistas.
Nesse grupo, é praticamente inevitável que lealdade política e comunhão
ideológica tenham mais peso do que eficiência.
A fidelidade ao partido e ao presidente não impediu que o número de
greves aumentasse no primeiro mandato. Segundo o Dieese, em 2004, o
setor público foi alvo de mais de 60% das greves no país: foram 31
paralisações contra o governo federal.
Obviamente, não está em questão se as reivindicações dos servidores
grevistas eram ou não justas.
O problema é a existência de um
privilégio: os funcionários públicos grevistas têm todos os direitos dos
demais trabalhadores, e ainda mantêm sobre eles a vantagem da estabilidade.
Ou seja, fazem greves com risco zero.
Outro dado do problema vem do fato de que a paralisação de uma
repartição pública faz suas maiores vítimas entre os cidadãos usuários
de seus serviços. No setor privado, o patrão é o primeiro e maior
prejudicado.
Dá para entender por que greves dentro do governo tendem a
se arrastar por muito mais tempo do que aquelas na área privada.
Lula tem prometido a prioridade do crescimento econômico e da
austeridade fiscal no segundo mandato. Ele parece não ter decidido ainda
se, além de manter os juros na rota de queda, procurará cortar gastos. É
o que parece indispensável - mas, para ser feito a sério, seria
necessário fechar a torneira das nomeações de petistas e aliados
políticos para funções que pedem exclusivamente profissionais
eficientes. De qualquer tendência política.
A máquina do Estado é - ou deveria ser, sempre - uma senhora de cara
fechada, austera e sem um só amigo do peito.