(Aqui está o post onde eu "importei" o posts tanto do Clube Cético quanto do Religião é Veneno)
http://www.atosforum.com/viewtopic.php?p=18942#18942
Hélio escreveu:Oi, Moisés!
Legal você ter colocado o meu post em outros foruns... é da diversidade de opiniões que a gente consegue ter um quadro de como anda a percepção deste problema e, principalmente, do quanto as pessoas estão dispostas a aprofundar-se nessa questão, ou se preferem dar uma opinião rasa baseada unicamente na xenofobia ou no preconceito interno (no caso contra o Lula).
Felizmente o Google existe. Acho que era só procurar por lá que o povo acharia as respostas pra essas questões. O presidente da Bolívia na época da construção do gasoduto era o Gonzalo Sánchez de Lozada, um "bom boliviano branco" educado em Chicago, que aplicou na Bolívia as mesmas medidas neoliberais que o sr. FHC aplicou no Brasil, ou seja, privatização de tudo a preço de banana (no caso da Bolívia a preço de folha de coca). O gasoduto foi implementado na sua 1ª presidência, de 1993 a 1997. Depois ele foi eleito novamente em 2002, com 1% de vantagem sobre o Evo Morález, e a crise boliviana foi tamanha que ele teve que renunciar em 2003. O povo boliviano tinha percebido que essas jogadas privatizacionistas e neoliberais geralmente só engordam os bolsos de alguns poucos, enquanto o povo continua nessa draga toda.
Ver http://es.wikipedia.org/wiki/Gonzalo_S% ... _de_Lozada
O Evo Morález é fruto desse processo. Obviamente é um populista que está se aproveitando do caos deixado pelo Sánchez de Lozada para fazer isso tudo. E, muito provavelmente, não durará muito no poder, já que governos bolivianos são firmes como macarrão cozido, e a resistência ao governo dele, principalmente na região de Santa Cruz de la Sierra é enorme.
Ao Lula coube a difícil tarefa de ter que administrar essa crise que não foi causada por ele. Quem tornou 50% da indústria de SP dependente do gás boliviano não foi ele, mas o FHC (e os caras dos outros forum deveriam saber disso, basta procurar no Google, já que os nossos jornais "independentes" também não gostam de lembrar dessa trapalhada do nosso glorioso intelectual).
Então: como é que o Lula invadiria a Bolívia, como querem alguns mais afoitos, correndo o risco de ver-se execrado pela comunidade internacional? Como é que ele entraria em atrito imediato com o Evo Morález, arriscando o destino das indústrias de SP e de milhares de empregos que dela dependem? Que "pulso firme" é esse a que se referem?
O governo Lula não adotou o MELHOR caminho para a negociação, mas o ÚNICO caminho possível diante do quadro criado pelo FHC, e tem conseguido se sair muito bem dentro disso, tanto que o acordo assinado pela Petrobrás recentemente é o mesmo que várias outras multinacionais estrangeiras assinaram. O Lula está apenas ganhando tempo para o próximo presidente do Brasil que for eleito em 2010, decidir o que vai fazer com a Bolívia. Até lá não dá pra dispensar o gás boliviano, mas em 4 ou 5 anos o Brasil vai estar auto-suficiente em gás e, se quiser, meterá o pé no traseiro do Morález ou do governante boliviano de plantão, mas até lá temos que nos sujeitar a esse tipo de situação, que é o mal menor.
Quanto àqueles que temem que o Lula presenteie ativos da Petrobrás ao governo boliviano, podem ficar tranqüilos. Mesmo que o Lula fosse louco a ponto de fazer isso, qualquer acionista minoritário da Petrobrás (pela ação própria), ou qualquer um do povo (pela ação popular) impediria que esta operação fosse feita. A vontade política não se sobrepõe à Lei.
Abraços,
Hélio
P.S.1: o Acre era legítimo território boliviano no século XIX. Depois que foi invadido e, em tese, "comprado", passou a ser legítimo território brasileiro, o que não elimina, entretanto, toda a "esperteza" envolvida nessa negociação.
P.S.2: quanto ao sujeito que falou em sistemas de cotas para bolivianos, diga pra ele que o sistema de cotas pra boliviano já existe e consiste simplesmente em entrar no Brasil pra fugir da miséria da Bolívia, e o governo brasileiro, há muito tempo, vem fazendo de tudo para protegê-los. Provavelmente, esse indivíduo não conhece São Paulo, muito menos o bairro do Brás, em que imigrantes coreanos exploram os imigrantes bolivianos em suas oficinas de costura. Há cerca de 200 mil bolivianos ilegais só na cidade de São Paulo, e o governo brasileiro, há décadas, vem fazendo de tudo para protegê-los do trabalho escravo a que são submetidos pelos coreanos. Nesse caso os jornais noticiam, mas pelo jeito o sujeito que escreveu isso (sobre as cotas) gosta mesmo de escravidão. E é o mesmo sujeito que disse que FHC só assinou o documento... mas espero que ele procure no google algo sobre a amizade do FHC com o Sánchez de Lozada.