Freqüentemente presencio (ainda que virtualmente :)), idéias com uma boa intenção referente à ciência, mas que carregam conceitos errôneos quanto à sua conceituação. Por exemplo, é comum ouvirmos que a ciência "provou" algo, o que exige alguns cuidados. Lembrando que, se queremos usar a ciência como fonte de argumentos e conjecturas contra as irracionalidades que tanto combatemos, é importante conhecermos seus limites e, fundamentalmente, sua fragilidade que a faz tão poderosa.
Vamos lá...
É importante frisar que, ainda na nossa época, existem muitos estudos a respeito do que é Ciência, produzindo-se, a cada ano, uma copiosa literatura a respeito. Todos concordam que a Ciência pode ser caracterizada por várias atividades como pesquisa, experimentação sistemática e controlada, refutação e confirmação, embora uma conceituação mais categórica seja sempre controversa. Não obstante, temos um certo consenso que podemos utilizar para um princípio geral norteador.
Os conceitos de Ciência mais bem aceitos nos dias de hoje são fundamentados nos estudos de Filósofos da Ciência como Thomas Kuhn (1922-1996), Karl Popper (1902-1994) e Paul Feyerabend (1924-1994). Com estes filósofos cientistas temos um entendimento de como a Ciência evolui ao longo do tempo, com a idéia de “ruptura de paradigmas” (Kuhn) que acontece de tempos em tempos. Ao longo da maior parte do tempo, a Ciência é um conjunto de procedimentos – o método científico - que visam desenvolver um conhecimento através da elaboração de uma tese e idealizar maneiras de testá-la. Para isto utiliza-se um aparato experimental adequado onde o experimento possa ser feito de forma controlada e passível de repetição, por qualquer cientista, com o intuito de produzir dados que ratifiquem, retifiquem ou refutem a tese testada para, idealmente, chegar a um conhecimento com cada vez mais sucesso de explicação e predição de novos fenômenos. Esta última característica é normalmente a “chave de ouro” de uma teoria: é quando ela, além de suas explicações de fenômenos existentes, permite a previsão de novos fenômenos, que são posteriormente verificados, é que a teoria científica mostra seu poder.
Neste período, conhecido como “Ciência Normal”, as atividades produzidas se fundamentam em alguma teoria pré-concebida e paradigmática, sendo raro o surgimento de idéias realmente novas. Quando isto acontece, temos a “Revolução Científica”, onde antigos conceitos e teorias são substituídos por outros mais corretos e/ou abrangentes. Assim, uma nova teoria científica, para sobreviver ao ataque feroz (benéfico e necessário) da comunidade científica, deve oferecer uma exatidão maior que a antecessora, ao mesmo tempo em que a engloba, ou seja, a substitui com vantagens. Deste modo, a Ciência progride de forma essencialmente descontínua, aonde cada idéia vai sendo substituída por outra melhor.
Uma definição mais categórica de Ciência, e muito aceita pela comunidade científica, é associada à idéia de Refutabilidade (Popper). De forma a complementar as características já descritas, a noção de refutabilidade é essencial para caracterizar completamente (ou quase, como veremos) o fazer científico, estabelecendo que um conhecimento só é científico na medida em que pode, com os procedimentos já citados, ser refutado. Assim, o conhecimento esotérico a respeito dos Anjos e sua hierarquia, para citar um exemplo, não é científico justamente por não oferecer maneiras de ser refutado, e o conhecimento de que nossas características hereditárias são produzidas com base no código genético nas nossas células o é, pois oferece maneiras para sua refutação, através de experimentos que (neste caso) comprovam sua veracidade.
Esta é a idéia mais difundida concernente à Ciência e sua conceituação, e só não é absolutamente aceita pois deixa de fora uma observação crucial: o fato de pesquisas históricas mostrarem que algumas idéias científicas revolucionárias não se dão como o “método científico” exige, e sim através de caminhos muitas vezes “propagandistas” (baseados na coerção e não na demonstração), que não oferecem maneiras de serem refutadas, mas que levam à produção de teorias de extraordinário sucesso. Exemplo disto é justamente o sistema heliocêntrico, desenvolvido inicialmente por Aristarco, e melhor desenvolvido por nosso amigo Galileu, onde suas afirmações não podiam, na época, ser testadas e refutadas, mas acabaram prevalecendo devido à sua simplicidade (em relação ao sistema geocêntrico) e poder explicativo e preditivo. Analogamente temos a teoria da Evolução e do Big Bang que, mesmo em nossa época, também oferecem poucas maneiras de serem refutadas (e também ratificadas), mas que produzem resultados fantásticos quanto à explicação de fenômenos. Novamente, o motivo de sobreviverem e compartilharem significativo respeito na comunidade científica é o fato de produzirem resultados efetivos na explicação, e mesmo predição, de fenômenos. Ou seja, são teorias que sobrevivem não pelo seu método, mas por seus resultados.
Com isto chegamos às idéias de Paul Feyerabend a respeito da Ciência, onde a mesma, além das características já descritas, deve gerar resultados. Importante dizer que resultados, aqui, não significa necessariamente aplicação prática direta, mas sim uma aplicação ainda que conceitual e abstrata. Exemplo disto seria o desenvolvimento de modelos matemáticos avançados que não possuem qualquer ligação direta com o mundo físico, mas que produzem um repertório maior de ferramentas de raciocínio que podem ajudar na resolução de outros problemas que, aí sim, geram frutos tecnológicos diretos.
Resumindo, mas não finalizando, lembremos Einstein: "Toda nossa Ciência, comparada com a realidade, é primitiva e infantil. E, no entanto, é a coisa mais preciosa que temos".
Ciência: o que é isto?
Ciência: o que é isto?
Editado pela última vez por Dick em 23 Nov 2006, 17:13, em um total de 2 vezes.
docdeoz escreveu:
"Você vai apertando a "coisa" e encontra um livro- "Variedades da Experiência Científica" que que CARL SAGAN afirma que há evidências de uma entidade chamada DEUS...
PASMEM!"
CADÊ O TRECHO? EM QUÊ PÁGINA? DE QUAL EDIÇÃO? EM QUAL CONTEXTO? SUA HONESTIDADE INTELECTUAL É IGUAL A UMA TEMPERATURA DE - 274 GRAUS CENTÍGRADOS, NÃO É MESMO?
"Você vai apertando a "coisa" e encontra um livro- "Variedades da Experiência Científica" que que CARL SAGAN afirma que há evidências de uma entidade chamada DEUS...
PASMEM!"
CADÊ O TRECHO? EM QUÊ PÁGINA? DE QUAL EDIÇÃO? EM QUAL CONTEXTO? SUA HONESTIDADE INTELECTUAL É IGUAL A UMA TEMPERATURA DE - 274 GRAUS CENTÍGRADOS, NÃO É MESMO?
Desculpem a cor da fonte, esqueci que o fundo ficaria preto. Selecionem o texto com o mouse que melhora. Foi mal. 

docdeoz escreveu:
"Você vai apertando a "coisa" e encontra um livro- "Variedades da Experiência Científica" que que CARL SAGAN afirma que há evidências de uma entidade chamada DEUS...
PASMEM!"
CADÊ O TRECHO? EM QUÊ PÁGINA? DE QUAL EDIÇÃO? EM QUAL CONTEXTO? SUA HONESTIDADE INTELECTUAL É IGUAL A UMA TEMPERATURA DE - 274 GRAUS CENTÍGRADOS, NÃO É MESMO?
"Você vai apertando a "coisa" e encontra um livro- "Variedades da Experiência Científica" que que CARL SAGAN afirma que há evidências de uma entidade chamada DEUS...
PASMEM!"
CADÊ O TRECHO? EM QUÊ PÁGINA? DE QUAL EDIÇÃO? EM QUAL CONTEXTO? SUA HONESTIDADE INTELECTUAL É IGUAL A UMA TEMPERATURA DE - 274 GRAUS CENTÍGRADOS, NÃO É MESMO?
Valeu... 

docdeoz escreveu:
"Você vai apertando a "coisa" e encontra um livro- "Variedades da Experiência Científica" que que CARL SAGAN afirma que há evidências de uma entidade chamada DEUS...
PASMEM!"
CADÊ O TRECHO? EM QUÊ PÁGINA? DE QUAL EDIÇÃO? EM QUAL CONTEXTO? SUA HONESTIDADE INTELECTUAL É IGUAL A UMA TEMPERATURA DE - 274 GRAUS CENTÍGRADOS, NÃO É MESMO?
"Você vai apertando a "coisa" e encontra um livro- "Variedades da Experiência Científica" que que CARL SAGAN afirma que há evidências de uma entidade chamada DEUS...
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CADÊ O TRECHO? EM QUÊ PÁGINA? DE QUAL EDIÇÃO? EM QUAL CONTEXTO? SUA HONESTIDADE INTELECTUAL É IGUAL A UMA TEMPERATURA DE - 274 GRAUS CENTÍGRADOS, NÃO É MESMO?