Saudações, Thorium.
thorium escreveu:Tranca-Ruas escreveu:
Também não me agrada a idéia de passar a eternidade comendo couve e agradecendo um grande deus manipulador por ter me escolhido dentro desta grande loteria universal.
Acontece que a vida eterna não é uma loteria, e não foi um Deus manipulador que te escolheu para ir para lá. Foi você quem escolheu estar lá ou não estar lá.
Hahahaha.
Este é o costumeiro ponto de vista de alguém que acha que está no caminho correto e que são os outros que sofrerão a aniquilação/danação.
Veja bem, se todos têm a liberdade de escolher como viver o no que crer (e isso depende muito da época e da cultura na qual o indivíduo se desenvolveu); a existência de "um caminho certo para o céu", que é oferecido e aceito por uns poucos que tomam contato com o mesmo, constitui-se em um afunilamento que descarta a grande maioria e faz com que seja a escolha dos eleitos à eternidade uma grande loteria, sim senhor.
Ademais, toda seita cristã têm plena certeza que oferece a "verdadeira senda" para a santificação a ascenção ao paraíso.
Os adventistas acham que são eles, os presbiterianos acham que são eles, os católicos idem... até os IURDianos.
Então, não é causa de simplesmente se afirmar: "é você quem escolheu estar lá ou não", pois tudo depende das regras do jogo, se há um deus que as plantou entre inúmeras que se pode seguir e dar com os burros n'água (ou com os fundilhos no lago de fogo. Ou na aniquilação, que seja).
Porque se Deus fosse manipulador, não te daria o direito de escolher estar de fora.
E se esse mesmo deus não fosse manipulador, não existiria toda essa necessidade de cumprir regras para poder fazer jus à sua graça.
E ele escolheria os seus pelo seu valor, não por sua fé ou pelo cumprimento de costumes e regras, entre as inúmeras opções.Portanto, a concepção de divindade consolidada no mito judaico-cristão é sim de uma divindade ciumenta, manipuladora e "nepotista" (pois só privilegia os que acertarem, ao chamá-lo de pai).
E o caminho de acesso ao paraíso pode ser sim definido como uma grande loteria universal.
Ou mesmo um torneio grand-slam de acesso às dependências celestes, sem direito a GPS (vá lá que mapas com as coordenadas são distribuídos, mas são tantos que ninguém pode afirmar qual o verdadeiro
).
Prossigamos...
E também Ele poderia colocar todo mundo no céu, se quisesse. Só não faz isso porque tem gente que não ia se sentir muito à vontade com o vegetarianismo, que não ia gostar do clima do céu, nem das músicas. Então vai quem quer e quem aceita seguir as condições que Ele deu.
Cara, admita. Essa foi muito fraquinha.
É isso que se aprende desde a mais tenra idade nas aulas da escolinha dominical?
E o engraçado foi o que eu disse no sentido figurado você levou para o lado literal, afirmando tudo como se já lhe houvesse sido dado vislumbrar o mencionado "paraíso".
Cuidado, essa pretensão toda pode lhe fazer cair...
Agora, o que interessa, por um caminho lógico e objetivo:
Se o deus que encabeça o mito judaico-cristão não fosse manipulador, a visão de mundo paralela ao mito não seria teleológica e nem haveria o citado "afunilamento do caminho em direção ao paraíso", onde a grande maioria da humanidade criada para competir sofre as conseqüências de não ter acertado "como jogar" ou por "ter infringido as regras do jogo" porque colocada em uma situação absurda em que os "jogadores" precisam escolher entre as inúmeras regras, para acertar apenas uma (os diversos deuses a seguir e ainda as diversas opções de crenças e dentro disto tudo mais regras as quais giram em torno de coisas muito específicas ou mesmo comezinhas, para se dar alguma atenção, como as mulheres deixarem ou não o cabelo crescer ou raspar as pernas, por exemplo
).
E não adianta dizer: "tá na bíblia".
A humanidade sempre foi muito maior do que o alcance deste livro.
Muito menos, pode-se dizer: "tem que ter fé em deus".
Os religiosos de quaisquer religiões ou seitas possuem fé nos seus "deuses" e demais objetos de culto. E com a mesma sinceridade que os membros de sua seita. E de igual modo crêem que seguem a senda que leva ao encontro último com a divindade.
Logo, se as chances são distribuídas de forma desigual de modo que muitos nem sequer conhecerão a "palavra" (as verdadeiras regras do jogo), por sua distância das mesmas tanto no tempo quanto no espaço, e essa divindade somente escolhe ajudar aqueles que acertam as regras e qual o modo correto de se comportar "durante a partida"; inclusive a maneira correta de render-lhe culto; é corretíssima minha comparação de que a senda que leva os "fiéis" ao paraíso (dentro da concepção cristã) é uma grande loteria universal e que o deus que ocupa o topo do cristianismo é um deus manipulador (além de vaidoso, ciumento e vingativo).
E ainda deve ser lembrado e levado em consideração o fato de que o número de vagas a serem ocupadas no paraíso celestial é infinitamente menor que o número de competidores lançados na disputa para ocupá-las.
Então não adianta dizer, novamente: "é você que escolhe".
Não.
Mesmo escolhendo o certo e fazendo o que está no livro de regras correto, a disputa será resolvida na filigrana, de forma que muitos que seguiram o correto, por diferença mínima de pontos irão também perecer no final. É a história dos poucos eleitos entre os inúmeros concorrentes.
Ou você nega que na sua seita haja a crença que mesmo adventistas que fazem quase tudo correto, acabarão afastados da graça por terem cometido uma ou outra besteira e que o paraíso é reservado a poucos que conseguirem ser firmes até o fim?
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Quanto a "estar à vontade nos domínios celestes", você inverte os fatos como se na sua própria concepção seu deus já tivesse criado a humanidade toda antes de criar o paraíso, o que o mito mostra ser o contrário.
Se deus é perfeito e criou um paraíso perfeito, por que diabos criaria um humanidade imperfeita para ocupá-lo?
Volta-se à "grande loteria universal" ou "torneio grand-slam de acesso às dependências celestes"... até que se escolha os capacitados a residir no jardim das delícias.
O lado bom do inferno é que se o paraíso for ocupado somente por adventistas, pelo menos estarão os condenados ao fogo eterno poupados do martírio de ouvir as músicas daqueles.
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O próprio vegetarianismo citado por você é apenas mais uma regra do jogo que perde seu valor à medida que se aceita uma outra crença.
Demais cristãos ou judeus, se estiverem corretos, podem descartar essa regra e acatar somente as suas.
Ou seja, um costume que pode variar de povo para povo de tempos em tempos e de pessoa para pessoa, pode acabar influindo no "número de pontos válidos" para adentrar-se ao paraíso.
Então, qual a regra correta a seguir, mesmo?
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Concluindo, temos um deus que espalhou diversas regras, sendo apenas algumas válidas, e permitiu que se consolidasse diversas outras crenças, sendo apenas verdadeira a crença nele e do modo que acertarem ser o correto, de maneira que nem todos estarão em iguais condições de concorrer ao grande prêmio celeste, por ter escolhido seguir regras e crenças diversas da correta (e isso sem contar aqueles que estão separados do acesso à crença e regras corretas pelo tempo ou espaço).
Vai dizer o quê para provar que não posso afirmar que esse deus que você rende culto não é manipulador e nem o acesso ao dito paraíso não é determinado por uma grande loteria (ou torneio grand-slam, se preferir) em que bilhões perecerão (no aniquilamento ou fogo eterno, não importa), sendo somente vencedores poucos milhares de sortudos que acertaram como agir e em quem ter fé?
Ah, e não esqueça: se outros adventistas estiverem certos, o inferno existe.
E se outros tantos cristãos estiverem certos: você irá queimar no lago de fogo do inferno pela eternidade, só por ter se equivocado na escolha das regras.
E se os muçulmanos estiverem certos: você irá queimar no mármore de inferno e beber água fervente pela eternidade, só por ter se equivocado na escolha das regras e da crença.
Idem para as outras milhares de crenças que possuam uma concepção teleológica semelhante.
Ah, se os espíritas estiverem certos, você terá que reencarnar sucessivas vezes, passando temporadas no umbral, até quitar seu carma e evoluir o suficiente para se tornar um espírita e depois voltar ao seio do pai celeste, em sua glória de espírito que cumpriu todo o ciclo da evolução espiritual. Tá a fim?