Fernando escreveu:
Quando o sujeito consegue se manter dentro do puro debate científico, não temos consequências tão drásticas. Mas quando ele começa a falar as coisas do seu umbigo, isso fica complicado. Aih ele trata uma hipótese pessoal dele como um fato. Todo pesquisador sincero só pode ver esta atitude como condenável.
De forma mais geral, acho realmente condenável falar de teorias como fatos, especialmente teorias novas, e do próprio cara.
Fernando escreveu:Outro ponto que eu acho muito problemático que decorre do que vc está proponto é a possibilidade enorme que se cria com isso de tratar a ciência de forma dogmática. Quando se confunde teoria com fenômeno pelo nome "fato" as pessoas passam a acreditar que teorias tão complexas como a da Evolução são verdades prontas e acabadas, e como tais são verdades irrefutáveis a qualquer custo. Outra atitude completamente sensurável em qualquer pesquisa. A ciência se contrapõe a religião justamente por se propor a explicar as coisas de forma natural. E isso significa que ela se servirá da razão para escolher aquelas que são as esplicações mais sensatas. A religião diz que a tese A é verdadeira. A ciência diz que a tese A é verdadeira, dada a validade de determinadas razões. Se tais razões forem falsas, então a tese é falsa.
Eu não acho que falar de determinada teoria como fato/fenômeno seja dar status de dogma. Ou ao menos, não sempre
Se é uma teoria consideravelmente abrangente, mas que se sustenta firmemente apesar de todas suas previsões muito arriscadas, é normal considerar a teoria como realidade, como que descreve mesmo um fenômeno. Não que tenha "deixado de ser teoria". Nunca deixou, e por isso mesmo alguém pode amanhã descobrir que não é verdade aquilo que se supunha confiantemente ser um fato.
Eu não consigo entender uma opinião muito diferente dessa, me parece uma "cautela" excessiva, um pé sempre no niilismo.
Fernando escreveu:É justamente o apelo à razão o que distingue a atitude do cientista da atitude do religioso de butiquim. Quando o estudante de ciências esquece que a teoria não é um fenômeno, trata-a como uma verdade acabada. Ou seja, é como se a teoria científica lhe fosse dada por algum deus, de tal forma que o que sabe é inquestionável. Esta é uma atitude que caracterisa o dogmatismo na ciência, uma vez que o intuito é completamnente outro.
Por isso, creio que seja de suma importância que o cientista saiba distinguir criteriosamente o fenômeno da teoria, para que não caia no perigo do dogmatismo.
Minhas considerações lhe parecem desnecessárias? Será mesmo que podemos dormir tranquílos enquanto confundimos propositalmente fenômeno e teoria como se ambas as coisas não existissem? Eu acho que não. Acho que isso só colaboraria para a extinção da ciência e divulgação do fanatismo e do dogmatismo.
E ninguém melhor do que Popper para nos mostrar que fatos são coisas bem diferentes de uma teoria com tão elevado grau de complexibilidade. Talvez seria muito mais proveitoso se assumíssemos o caráter hipotético da Evolução (e como tal reconhecer que ela é uma teoria), e que é a melhor teoria que temos para explicar os fatos. Se algum dia surgir outra teoria melhor, teremos todo prazer em reconhecer o nosso erro e adotar a nova teoria que é mais adequada. Não concorda comigo? [/b]
... em parte..... de modo geral, acho que sim, tem que se lembrar que teoria e fato são coisas diferentes.... mas nesse caso específico.... e em vários outros..... é quase como se eu supusesse que toda a realidade é uma "teoria" na minha cabeça.
Se vejo uma pessoa vindo da esquina, vindo em minha direção, e começa então a falar comigo, seria apenas uma teoria que essa pessoa existia antes de cruzar a esquina, teve toda sua vida, e chegou até aquela esquina andando, ou de carro.
Porque eu não observei de fato a pessoa saindo de onde quer que estivesse, e vindo andando até a mim, até que já estivesse bem próxima, muito menos se ela teve uma vida antes disso. Se eu a conhecia antes, ainda assim só a observei durante uma fração do tempo dessa suposta "vida". Estou fazendo uma generalização, com base em como a natureza aparenta funcionar, e supondo que seja sempre esse o caso, é a melhor teoria para explicar o fato das pessoas virem e falarem comigo, elas se deslocam por meios naturais, e que são pessoas que nasceram, cresceram e estão por aí.
Eu não acho que assumir isso como fato seja exatamente "dogma", e vejo da mesma forma a teoria da evolução - ancestralidade comum universal. Para que alguma dessas teorias não fosse fatos, aquilo que eu vejo teria que ser muita coincidência, e a realidade ser inimaginavelmente diferente do que aparenta.
Estou falando exclusivamente dessa 'teoria de que as outras pessoas existem' e da teoria da evolução, porque são teorias que eu conheço bem (a primeira foi eu que inventei, inclusive). Não tomo, "para mim", como fato teorias que eu não entendo muito bem, por mais bem estabelecidas que sejam no meio científico, como big-bang, por exemplo.