Religião é Veneno. Fórum de discussão de assuntos relevantes para o ateísmo, agnosticismo, humanismo e ceticismo. Defesa da razão e do Método Científico.
Fórum de discussão de assuntos relevantes para o ateísmo, agnosticismo, humanismo e ceticismo. Defesa da razão e do Método Científico. Combate ao fanatismo e ao fundamentalismo religioso.
A arte como instrumento de expressão genuína do que nos vai por dentro, muitas vezes revela no êxtase uma condição quase mística.Depositando em deus ou forças extra-terrenas, a capacidade de resolver conflitos emocionais. Principalmente quando o "aflito" (adoro essa palavra ) não consegue mais suportar por si as agruras de viver e de ser humano. Assim também ocorrendo quando o êxtase é de paz, alegria e prazer. É a postura mesma do que se dobrou à sublimação dos próprios instintos, entrega-se à deuses, destinos, karmas e demais formas de transcender. Agora vejam que bela poesia...tão intensa, e de tal forma coberta pelo véu dessa incapacidade humana de ter o controle dos sonhos, da paixão e da perda...mesmo assim, à espera .
Neurônios
Hildeberto Abreu Magalhães
Não seria capaz de te escrever um poema confesso, um poema capaz de autenticidade e odor?
Fico onde estou, mascarando o sofrimento, sozinho, sem necessitar da simplicidade da saudação triste; corro o olhar, à vista de um olho vermelho, todo segredo binário transforma-se em conto...
Será que lhe roubei o sossego? Meu corpo vertido em fumaça, movimentando-se como bailarina, roçando teu ventre: apresentas-te sofreguidão e descaso, re-flexo opaco; como vou olhar-te sem desejar-te o contato caro,
o sussurro perto da nuca, teu cheiro que me corta. Penso antes que roubaste-me a paz e nada de bom restou desta história morta.
Em pleno meio-dia, parado aqui, nesta rua, aguardando um beijo indeciso, estás querendo derreter-me; verás como se comporta um triste 'ice cub' orvalhado, umedecendo o vale entre teus seios belos e pequenos, descendo por tua barriga como uma língua ardente. Custa-me pensar que do teu lado sou uma criança tola...
Quando penso em ti, minha cabeça dói; como fosses sair de lá, por acreditar-me afim a Zeus: mas que vão apelo à Natureza. Revelo-me miserável!
A vontade necessária para tanto não é consistente! Antes, zelo por estares aconchegada e quente, então, nos pequenos fios condutores de minha parca luz.
Ah! como quero poder descrever e dissertar, e assim escrever-te um romance para as horas fúteis, mas tenho pouca memória (pouca vitamina, talvez) e sintetizo a vida analisando o dia por vez.
Teria que ser um conto, ainda que aprecies o canto. Teria que ser uma curta história, que deixa saudade;
Miss me? Eu sinto tanta falta, me falta força para seguir-me fartando a vida, na falta e na tortura; fazer-te nova escultura, servir-me-ás como modelo.
Mas estou longe e tua imagem é vaga e sombria. Quero lançar-me às pedras, ou antes, fazer delas talismãs, teus voodoos secretos, uma fruta saborosa.
Quero me lambuzar de cores variadas e pintar-te o corpo, quem sabe deixar de ser tão cínico.
O amor de Prometeu, o amor de Dioniso, o amor de Zeus, que mais posso desejar-te como signo fatal?
"Demos as mão e ao correr juntos, esbarramos em fórmulas mal-ditas e satíricas, de refrões seculares".
Já vimos juntos o arrebol? É um risco a mais; metáforas espessas, o que podem expressar? Pergunta-se do que "sub-jaz" ou do que "aparece"?
Tento acreditar em "Lethes", deixar-te na memória, escorregarem-se os dias nestes rios fluentes; estamos navegando à deriva de uma intersecção de setas.
E ainda a alma rebelde que me cospe o rosto: constrange-me o suicídio, por ser uma utilidade inútil.
O sonho está diminuindo; a estrada, eu sempre retorno àquele mesmo ponto, encruzilhada de escolhas, no mais das vezes, interpeladas pela barbaridade.
Tenho medo do exílio de teus olhos, no assalto ao céu...
Assim quer o Deus? Desenhos de fumaça, crianças brincam, a vida correndo mais um setembro, construindo o caráter da prima-vera, sob auspícios diversos e 'be careful!'.
Acredito realmente na guerra e na morte, mas não na dor. Como se estivesse perdido no caminho, mesmo sabendo exatamente onde me encontro.
Mesmo pre-sentindo que tudo correrá como antes e poderei beijar-te cálida ou calorosamente, assim exijo uma seta para o arco que curva sóbrio: teu suor em minha boca, teus sais para salvar-me da solidão, teu sexo para energizar minhas glândulas.
Ou somente o teu cheiro, teu olhar, e 'go away alone'.
Veja, os animais, todos se soltaram: veja o coelho Bob Dylan e a galinha Janis, o porco Rotten; corra, ou vamos perdê-los! Agora, pastor!
Traga-me o vinho do odre mais antigo, comemore comigo o brotar da estação, dilacera-me com teu punhal, pareço anestesiado? Serei símbolo-diverso?
Deita do meu lado esquerdo, cobre-me com teu corpo, para sentir-lhe o peso; diga-me apenas 'querido' e
já a música inquietante absorve-nos em cristais. Lamento não poder gritar! Lamento a guerra e o rosto no espelho. O que estou fazendo? Nada.
"Não é nada orgânico, obrigado". Ecos primaveris.
Passa o passo rápido no auge do contraste que sobe ou desce e que seca e umedece agora... Alçou vôo e desapareceu, roçou o enjôo e vomitou, olvidou voar como pássaro...
Um vento que rodeia minha amada, um vento quente do norte, aliás, tórrido e puro éter, e mudança de modo-contínuo, mesmo sendo um e o mesmo, movimento ávido do mesmo calor, estátua na chuva!
Preciso preencher uma ânsia de vacuidade e dispersão, para arrebatar a lâmina de tua mão, naquele dia, quando os medos e paixões subsistiram num gesto;
quando mudas o fim do poema e descubro que foi antigamente projetado e me vejo nele feliz e absorto por ser divinamente dirigido a ti, em todas as súplicas surdas e canções, em novas re-edições de línguas mortas, que não se tocam mais, que feneceram por falta de uso devido ou mesmo impróprio. Não houve o fato. Ridículo?
Também gosto muito de poesia, essa particularmente não conhecia, e gostei muito.
Uma das minhas favoritas senão a mais:
Arquétipo
Ele era belo; na espaçosa fronte O dedo do Senhor gravado havia O sigilo do gênio; em seu caminho O hino da manhã soava ainda, E os pássaros da selva gorjeando Saudavam-lhe a passagem neste mundo.
Sim, era uma criança, e no entanto Friez de morte lhe coava n'alma! O seu riso era triste como o inverno, E dos olhos cansados, nem um raio Nem um clarão, nem pálido lampejo Da mocidade o fogo revelavam!
Era-lhe a vida uma comédia insípida, Estúpida e sem graça, - ele a passava Com a fria indiferença do marujo Que fuma o seu cachimbo reclinado Na proa do navio olhando as vagas, - Vivia por viver... porque vivia.
Em nada acreditava; há muito tempo Que a idéia de Deus soprara d'alma Como das botas a poeira incômoda. O evangelho era um livro de anedotas. Beethoven torturava-lhe os ouvidos, A poesia provocava o sono.
Muita donzela suspirou por ele, Muita beleza lhe dormiu nos braços, Mas frio como o gênio da descrença, Após uma hora de gozar maldito Saciado, as deixou, como o conviva A mesa do festim, - farto e cansado.
Era mais caprichoso, - mais bizarro Do que um filho de Albion, mais volúvel Que um profundo político; uma tarde Após haver jantado, recordou-se Que ainda era solteiro; Pelo Papa!
- É preciso tentar, disse consigo. Quatro dias depois tinha casado. Escolhera uma noiva descuidoso, Como um brinco chinês - um livro in-fólio, Ao altar conduziu-a, distraído, E as juras divinais do casamento Repetiu bocejando ao sacerdote.
Como tudo na vida, o matrimônio Bem cedo o aborreceu; após três meses Disse adeus à mulher que pranteava, E acendendo um cigarro, a passos lentos Dirigiu-se ao teatro onde assistiu Um drama de Feuillet -, quase dormindo.
Por fim de contas, uma noite bela, Depois de ter ceado entre dois padres, Em casa da morena Cidalisa, Pegou numa pistola e entre as fumaças De saboroso havana, à eternidade Foi ver se divertia-se um momento.
São Paulo, 1861.
Fagundes Varela
"Sua calcinha nos joelhos, sua bunda detonada... fazendo o velho movimento de entra e sai"
Led Zeppelin escreveu:Também gosto muito de poesia, essa particularmente não conhecia, e gostei muito.
Uma das minhas favoritas senão a mais:
Arquétipo
Ele era belo; na espaçosa fronte O dedo do Senhor gravado havia O sigilo do gênio; em seu caminho O hino da manhã soava ainda, E os pássaros da selva gorjeando Saudavam-lhe a passagem neste mundo.
Sim, era uma criança, e no entanto Friez de morte lhe coava n'alma! O seu riso era triste como o inverno, E dos olhos cansados, nem um raio Nem um clarão, nem pálido lampejo Da mocidade o fogo revelavam!
Era-lhe a vida uma comédia insípida, Estúpida e sem graça, - ele a passava Com a fria indiferença do marujo Que fuma o seu cachimbo reclinado Na proa do navio olhando as vagas, - Vivia por viver... porque vivia.
Em nada acreditava; há muito tempo Que a idéia de Deus soprara d'alma Como das botas a poeira incômoda. O evangelho era um livro de anedotas. Beethoven torturava-lhe os ouvidos, A poesia provocava o sono.
Muita donzela suspirou por ele, Muita beleza lhe dormiu nos braços, Mas frio como o gênio da descrença, Após uma hora de gozar maldito Saciado, as deixou, como o conviva A mesa do festim, - farto e cansado.
Era mais caprichoso, - mais bizarro Do que um filho de Albion, mais volúvel Que um profundo político; uma tarde Após haver jantado, recordou-se Que ainda era solteiro; Pelo Papa!
- É preciso tentar, disse consigo. Quatro dias depois tinha casado. Escolhera uma noiva descuidoso, Como um brinco chinês - um livro in-fólio, Ao altar conduziu-a, distraído, E as juras divinais do casamento Repetiu bocejando ao sacerdote.
Como tudo na vida, o matrimônio Bem cedo o aborreceu; após três meses Disse adeus à mulher que pranteava, E acendendo um cigarro, a passos lentos Dirigiu-se ao teatro onde assistiu Um drama de Feuillet -, quase dormindo.
Por fim de contas, uma noite bela, Depois de ter ceado entre dois padres, Em casa da morena Cidalisa, Pegou numa pistola e entre as fumaças De saboroso havana, à eternidade Foi ver se divertia-se um momento.
São Paulo, 1861.
Fagundes Varela
Envolta na palavra do "senhor" também...é como eu falei...o homem é fraco sem a proteção divina.
Apocaliptica escreveu:Quando penso em ti, minha cabeça dói; como fosses sair de lá, por acreditar-me afim a Zeus: mas que vão apelo à Natureza. Revelo-me miserável!
O amor de Prometeu, o amor de Dioniso, o amor de Zeus, que mais posso desejar-te como signo fatal?