Popper e o Darwinismo

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Fernando
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Re: Re.: Popper e o Darwinismo

Mensagem por Fernando »

Mr.Hammond escreveu:Aonde estão as evidências que poderiam corrobar o criacionismo, sem ser a "inerrância "(sic) bíblica? O evolucionismo tem evidências aos montes...coisa que o criacionismo não tem.
Evidências experimentais de que o criacionismo estah certo? Eu não tenho, nem faço questão de ter. Não sou cientista, deixo isso pra quem quiser se interessar com isso.

Só gostaria de lembrar que a ciência experimental não é a única forma de conhecimento válida, nem mesmo a melhor.
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o anátema
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Re: Re.: Popper e o Darwinismo

Mensagem por o anátema »

Fernando escreveu: Então o Popper mudou de opinião, ué. Bastaria ter dito isso.


Eu disse, em algum momento. Mas acho que só dizer que Popper mudou de opinião é meio como um apelo à autoridade. Mesmo que Popper não tivesse mudado de opinião, não significaria nada pois a opinião dele continuaria estando errada, ele não é uma espécie de papa.

Coloquei aquilo tudo para tentar explicar de forma simples porque a evolução é testável, mas não sei se realmente faz alguma diferença.
Sem tempo nem paciência para isso.

Site com explicações para 99,9999% de todas as mentiras, desinformações e deturpações criacionistas:

www.talkorigins.org
Todos os tipos de criacionismos, Terra jovem, velha, de fundamentalistas cristãos, islâmicos e outros.

Série de textos sugerida: 29+ evicences for macroevolution

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Perseus
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Re: Re.: Popper e o Darwinismo

Mensagem por Perseus »

Fernando escreveu:
Perseus escreveu:Sabe o que é mais triste nisto tudo?

O mentiroso e desonesto por trás deste texto atende pelo nome de Michelson Borges... pasmem... o cara é jornalista... Imaginem só... um jornalista caindo na idiotice de pegar uma citação de 20 anos atrás e achar que ainda vale para os dias de hoje...


Depois que a gente fala que o criacionismo consome o que resta dos cérebros que lhe abrem a porta, esses topeiras se sentem ofendidos.


E meu caro Colega, deixa de ser idiota e vai pesquisar antes de vim postar qualquer porcaria. Sinto dizer, mas você está em um site em que o QI do povo esta bem acima da média 15 dos criacionistas.
O dia que você aparecer com algo mais inteligente, que seja de seu próprio punho, ai podemos conversar.
Quanto melodramatismo. Bastaria dizer que o Popper mudou de opinião depois. Não precisa ficar falando tudo isso.

Melodramismo ou não meu caro, é a verdade.

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o anátema
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Mensagem por o anátema »

Fernando escreveu: Dante,

Sua acusação de desonestidade intelectual se dá por dois motivos: a) uma citação de um texto de internet que possui erros (como geralmente acontece); b) pela falta de conhecimento da mudança de opinião de Popper.

O erro não condiz em nada com o ponto defendido pelo Caro Colega de que a evolução é uma tese metafísica pois estava no começo do texto e tinha o único intuito de apresentar quem é Popper, pois nem todos sabem quem é.

Não se pode acusar de desonestidade intelectual quando a pessoa simplesmente não conhecia o fato de que Popper mudou de opinião.

Por isso creio que a sua acusação é apressada demais.


Eu acho que a acusação é válida ao menos quanto ao autor do texto. O caro colega talvez tenha apenas lido a versão criacionista, que como de costume, dá só o que interessa, desossado e mastigadinho.

Se você reparar, os citações de Popper no texto que o caro colega postou, são do texto em inglês que postei, em que ele muda de opinião, mas isso simplesmente fica de fora.

Nada contra usar a opinião velha de Popper para atacar a evolução, mas seria interessante ao menos dizer que não é mais aquela, e se possível, achar a opinião atualizada em detalhes e confrontar com a velha, tentando mostrar que a anterior era mais correta.
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o anátema
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Re.: Popper e o Darwinismo

Mensagem por o anátema »

Acho engraçado que Popper aceita bem a ancestralidade comum universal, e implica mais com a seleção natural, que vê como tautologia...

.... quando muitos criacionistas, a maioria, faz justamente o contrário (e mesmo assim usam Popper).... aceitam algum nível de seleção natural, mas negam a ancestralidade comum universal...
Sem tempo nem paciência para isso.

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o anátema
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Re: Re.: Popper e o Darwinismo

Mensagem por o anátema »

Fernando escreveu:
O ponto do Popper é o seguinte.

P1 Só é científica a teoria que pode ser falseada.
P2 A teoria da evolução não pode ser falseada.
Conclusão: A teoria da evolução não é científica.

Eu acho que isso só contribui para afastar ainda mais o dogmatismo daqueles ateus que dizem que a teoria da evolução é um fato.


Mas Popper admite que a teoria da evolução é um fato:

"All scientific theories are conjectures, even those that have successfully passed many severe and varied tests. The Mendelian underpinning of modern Darwinism has been well tested, and so has the theory of evolution which says that all terrestrial life has evolved from a few primitive unicellular organisms, possibly even from one single organism."

Talvez "fato" seja um termo meio forte para o jargão filosófico e eu esteja pondo indevidamente palavras na boca dele. Ele diz ao menso que a teoria da ancestralidade comum universal foi bem testada, tanto quanto a genética mendeliana.

Sem me preocupar com jargão filosófico, eu considero esses testes suficientes para que a TE seja considerada como fato, assim como a "genética é um fato".




PS: O Dante abriu um outro tópico pra dizer, contra o Popper, que a Teoria da Evolução é falseável. Segundo ele o critério de falseamento é o de que não existam mutação de espécies. Isso poderia fazer da evolução uma teoria científica.

Bem, quanto a teoria da ancestralidade comum universal, o teste poder-se montar uma única árvore genealógica de todos os seres, que seja biologicamente defensável. Algo extremamente improvável. É uma previsão bem arriscada, porque é extremamente distinto do que se esperaria se a ancestralidade comum universal fosse falsa.

Mas ainda assim a previsão é confirmada, mesmo só com os seres atualmente vivos. Os encontrados em fósseis não fogem da regra. Por isso, ou teoricamente deveria ser por isso, Popper aceita a ancestralidade comum universal.

A seleção natural, por outro lado, é conseqüência inevitável da existência de variações hereditárias, e seus respectivos graus de adaptação. Para mostrá-la falsa, teria-se que provar que não há isso que chamamos de "adaptação", o que seria um delírio, como supor que cães viveriam tão bem em alto-mar quanto tubarões. Ou, em menor grau, que qualquer variação populacional não representa diferença adaptativa alguma.

Mas também há como prová-la "positivamente", procurando pelos rastros de algo que tenha evoluído pelo acúmulo de sucessivos "improvisos" de variações aleatórias proporcionando vantagem adaptativa em dado instante.

Ou seja, a seleção natural deixa "rastros".
Editado pela última vez por o anátema em 04 Dez 2005, 17:48, em um total de 2 vezes.
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Schultz
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Re.: Popper e o Darwinismo

Mensagem por Schultz »

John S. Wilkins:

Uma boa Tautologia é Difícil de Encontrar

Sumário: A afirmação de que a teoria evolucionária é uma tautologia se apóia em um engano da teoria. Adaptação é mais do que apenas sobrevivência.

A versão simplificada do tão chamado “argumento tautológico” é esta:
Seleção natural é a sobrevivência dos mais adaptados. Os mais adaptados são aqueles que sobrevivem. Portanto, evolução por seleção natural é uma tautologia (uma lógica circular).

O verdadeiro significado deste argumento não é o próprio argumento, mas que ele foi tomado seriamente por quaisquer filósofos profissionais de maneira geral. A “adaptação” para Darwin não significava aqueles que sobrevivem, mas aqueles que se poderiam esperar sobreviver devido às suas adaptações e eficiências funcionais, quando comparado a outros na população. Isto não é tautologia, ou se é, então se pode dizer o mesmo sobre a equação newtoniana F=ma, que é a base para muitas das explicações físicas habituais.

A frase ‘sobrevivência dos mais adaptados’ não é nem de autoria de Darwin. Ela foi impelida a ele por Wallace, o codescobridor da seleção natural, que odiava ‘seleção natural’ porque ele imaginava que a frase lembrava que algo estava realizando a seleção. Darwin cunhou o termo ‘seleção natural’ porque ele fez uma analogia com ‘seleção artificial’ como as realizadas por criadores de animais, uma analogia que Wallace não tinha feito quando ele desenvolveu sua versão da teoria. A frase ‘sobrevivência dos mais adaptados’ foi originalmente imposta por Herbert Spencer alguns anos antes do Origem das Espécies.

Todavia, há outra versão, mais sofisticada, pertencente principalmente a Karl Popper. De acordo com Popper, qualquer situação onde espécies existem é compatível com as explicações darwinianas, porque se essas espécies não forem adaptadas, elas não existiriam. Quer dizer, diz Popper, que definimos adaptação como aquilo que é suficiente para a existência em um ambiente dado. Entretanto, visto que nada é rejeitado, a teoria não possui poder explanatório, pois tudo é considerado.

Isso não é verdade, como um número de críticos de Popper então observou. A teoria darwiniana rejeita muita coisa. Ela rejeita a existência de organismos ineficientes quando organismos mais eficientes estão ao redor. Ela rejeita mudanças que são teoricamente impossíveis (de acordo com as leis da genética, ontogenia, e biologia molecular) para alcançar passos graduais e adaptativos. Ela rejeita novas espécies sendo estabelecidas sem espécies ancestrais.

Todas estas hipóteses são mais ou menos testáveis, e em conformidade com os padrões da ciência. A resposta a esta versão do argumento é a mesma assim como para a versão simplística – adaptação não é apenas definida de acordo com o que sobrevive. Necessitaria haver uma história causal disponível para fazer sentido de adaptação (que é a razão da imitação em borboletas ter sido uma discussão focal na adolescência e aos vinte anos). Adaptação é um conceito funcional, não uma definição a priori lógica ou semântica, a despeito do que Popper imaginou.

O entendimento atual de adaptação é disposicional. Ou seja, adaptação é uma disposição de um traço a reproduzir-se melhor que os competidores. Não é determinístico. Se dois gêmeos são idênticos geneticamente, e, portanto, são igualmente adaptados, não há garantia que ambos sobreviverão para ter números iguais de proles. Adaptação é uma propriedade estatística. O que ‘possui’ a adaptação não é o organismo, mas os genes. Eles tenderão a ser mais frequentemente transmitidos enquanto o que eles entregam é melhor ‘projetado’ para as necessidades dos organismos no ambiente em que vivem. E você pode determinar isso, dentro dos limites, por realizar ‘engenharia reversa’ nos traços para entender como eles funcionam.

Além disso, adaptação existe acima das propriedades dos próprios organismos individuais. Há três maneiras discutidas para interpretar isto. Adaptação pode ser uma relação de genes a outros genes. Adaptação pode ser uma propriedade superveniente – isto é, pode ser uma propriedade de estruturas físicas muito diferentes (de formigas, porcos-da-terra e alcachofras). Ou adaptação pode ser vista como uma propriedade emergente, uma propriedade de sistemas de uma determinada complexidade e dinâmica. Se adaptação é uma propriedade genética, organísmica ou sistêmica, isso é um assunto na filosofia moderna da biologia. Eu acho que a interpretação sistêmica é a maneira de abordá-la.

Recentemente, houve ataques no verdadeiro conceito da explicação adaptativa por alguns dos prórios biólogos evolucionários (por exemplo, Gould e Lewontin). Estes caem em dois campos – aqueles que pensam que adaptação não é suficiente para explicar a diversidade da forma, e aqueles que acham que explicações adaptativas exigem mais informação que alguém pode obter tanto da engenharia reversa ou da habilidade de gerar cenários plausíveis. A razão dada pelo precedente é um tipo de argumento vindo de incredulidade – seleção natural não é imaginada a ser uma causa suficiente, e que a macroevolução (evolução no nível de espécies ou acima) é um processo de um tipo diferente da seleção dentro de espécies. Argumentos sobre parsimônia (Navalha de Ockham) abundam.

Argumentos para a segunda opinião – que explicações seletivas necessitam complementar – se apóiam não a uma eficácia causal de seleção (que não é negada), mas nos problemas de explicação histórica. A fim de explicar porque uma espécie exibe este traço preferivelmente àquele traço, você precisa saber o que é a hipótese nula (do contrário, você pode fazer uma explicação seletiva para ambos, um caso e seu oposto, igualmente bem).

Talvez tenha este traço porque seus ancestrais o tinham, e este traço foi mantido por seleção. Talvez o tenha porque poderia ser muito disruptivo para o genoma inteiro e mecanismo desenvolvido para removê-lo. Talvez o tenha por razões que tem a ver com derivação genética, acidente simples, ou qualquer coisa. A fim de fazer uma boa explicação científica, diz Griffiths, você deve saber um pouco sobre a filogenia das espécies, sua distribuição ambiental, e como o processo que cria o traço trabalha ao nível dos genes, células e zigotos.

Isto nos leva a questão sobre o que uma explicação científica realmente é; de fato, ela abre a questão sobre o que é ciência, que é tão diferente de outras perseguições intelectuais como gamão, teologia e crítica literária.

Dante, the Wicked
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Re: Re.: Popper e o Darwinismo

Mensagem por Dante, the Wicked »

Fernando escreveu:
o anátema escreveu:porque os criacionistas só colocam essa citação de Popper, e ignoram o que ele disse depois?


Eu não acho que a citação deles corrobore muito o intuito pelo qual citam, que é, no fundo, mostrar que a evolução é um erro e que só se explica realidade através da Bíblia.

Mas ela é fundamental no intuito de mostrar que muitos ateus cometem o equívoco de dizer que a evolução é um fato, quando ela é, na verdade uma teoria. Segundo o próprio Popper ela nem seria uma teoria científica, mas metafísica. O que, ao meu ver, não diminuiria em nada sua validade.


Joguinho de palavras, Fernando. A Gravitação Universal também é uma teoria. Nem por isto ela é altamente dubitável.
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Dante, the Wicked
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Mensagem por Dante, the Wicked »

Fernando escreveu:
Dante, the Wicked escreveu:A desonestidade intelectual dos criacionistas me enoja!
Em primeiro lugar, a forma como é descrita a epistemologia científica popperiana está errada! Isto aqui não é popperiano: "a partir dos 'fatos' observados, por indução, chega-se a formulações gerais na forma de leis". Popper não se preocupava com a gênese do conhecimento, mas com sua estrutura.
Em segundo lugar, como o anátema apontou, Popper mudou de opinião quanto à cientificidade do Darwinismo na década de 80. Ele aceitou que o darwinismo consiste numa legítima hipótese científica pois existem sim teste cruciais. Por exemplo: encontrar um fóssil de ser humano tão antigo quanto um fóssil de dinossauro falsearia a evolução.

É irônico que no desespero de defender os dogmas da sua religião, os criacionistas se rebaixam a desonestidades tão ridículas.


Dante,

Sua acusação de desonestidade intelectual se dá por dois motivos: a) uma citação de um texto de internet que possui erros (como geralmente acontece); b) pela falta de conhecimento da mudança de opinião de Popper.

O erro não condiz em nada com o ponto defendido pelo Caro Colega de que a evolução é uma tese metafísica pois estava no começo do texto e tinha o único intuito de apresentar quem é Popper, pois nem todos sabem quem é.

Não se pode acusar de desonestidade intelectual quando a pessoa simplesmente não conhecia o fato de que Popper mudou de opinião.

Por isso creio que a sua acusação é apressada demais.


Veja bem, Fernando. Eu falei da desonestidade intelectual criacionista, o que se aplica ao autor do texto.
Ele ou fez uma pesquisa incompleta, ou ocultou um dado que ele sabia. Como o texto contém um erro crasso, mais provável é a primeira opção. Mas seja como for, pesquisa incompleta ou omissão de dados é desonestidade intelectual.

E ainda - agora a crítica vale tanto para o autor quanto para o Caro Coléga - o fato da crítica popperiana proceder para o criacionismo é completamente ignorado. Ou seja, ou eles são muito burros para não perceber que a filosofia popperiana destrói as pretensões de científicidade do criacionismo, ou eles percebem isto mas o desespero por argumentos contra o darwinismo é tão grande que eles fazem uso até de faca de dois gumes. Ou seja, incorrem de desonestidade intelectual.

Por fim, não há argumentação mais ingênua que citar opinião de filósofos. Eles podem estar terrívelmente equivocados. Kant achava que a física newtoniana é perfeita. Voltaire chegou a dizer que os egípicios nada fizeram de relevante, fora sob o governo dos Ptolomeus. Popper por sua vez não tinha um conhecimento muito abrangente de biologia, o que o levou a dizer coisa deste tipo.
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Huxley
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Mensagem por Huxley »

Em suas declarações em relação ao darwinismo,Karl Popper se refere a teoria da seleção natural, não como a evolução como um todo.E de qualquer forma,a crítica ao grau de testabilidade era bem menos extensiva do que se pensava, como demonstrou a sua revisão a New Scientist em 1980.

Não existe uma teoria evolutiva, mas teorias evolutivas buscando a compreensão do processo evolutivo.A que é definida como fato da evolução é a teoria da descedência comum, a idéia que todos organismos evoluíram por um único ancestral comum.Ela atingiu o status de fato científica devido a corroboração de dezenas de predições detalhadas na Anatomia Comparativa, Embriologia,Bioquímica,Biogeografia,Paleontologia,
Sistemática,etc

Nenhum cientista nega que a evolução seja um fato; o que se discute são os detalhes de como ela aconteceu.Como disse Stephen Jay Gould, "seres humanos evoluíram de um ancestral comum com o macaco, seja pelo mecanismo proposto por Darwin, seja por qualquer outro ainda por ser descoberto".

Mas acredito que teorias que expliquem sem utilizar a seleção natural são "rivais condenadas".Utilizando a epistemologia popperiana e a da Hume, crenças criacionistas são supérfluas.Hume já havia refutado o argumento teleológico por este utilizar a indução.O argumento do design tenta explicar utilizando o método da exclusão.Nem para provar que porcos não voam , esse método é científico.Não é porque porcos nunca foram vistos voando, que quer dizer que foi provado que eles não voam.Se isso já era válido na época de Hume, imagine depois de Darwin.

O que diferencia ciência de metafísica é a não utilização da indução, algo deve mostrar-se capaz de ser testável,nem que seja em parte.

Antievolucionistas dizem que a seleção natural é uma tautologia.Mas isso não procede,porque ela faz afirmações falseáveis.Poderia haver diferença entre os organismos que deixam mais prole e os que não deixam pouca ou nenhuma prole.Mas não é isso o que se observa.Existe um sucesso reprodutivo diferencial dos genótipos.As frequências gênicas dos genótipos que tem mais valor adaptativo aumentam.Isso pode ser testado em várias situações e pode-se utilizar equações determinando até quanto determinada adaptação, confere sucesso reprodutivo para organismo que a possui.
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”

Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)

"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."

John Maynard Keynes

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o anátema
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Re.: Popper e o Darwinismo

Mensagem por o anátema »

E sobre o exemplo das três bactérias marcianas, o que acham?

Eu acho que é meio simplista, dá pouquissimos dados, mas parcialmente válido.

Mais dados poderiam fazer toda a diferença, dizer se as bactérias têm ancestralidade comum com seres terrestres inclusive, se não, e se têm ancestralidade comum entre si ou não.
Sem tempo nem paciência para isso.

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Fernando
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Re: Re.: Popper e o Darwinismo

Mensagem por Fernando »

o anátema escreveu:Eu disse, em algum momento. Mas acho que só dizer que Popper mudou de opinião é meio como um apelo à autoridade. Mesmo que Popper não tivesse mudado de opinião, não significaria nada pois a opinião dele continuaria estando errada, ele não é uma espécie de papa.

Coloquei aquilo tudo para tentar explicar de forma simples porque a evolução é testável, mas não sei se realmente faz alguma diferença.


Eu acho sua atitude muito louvável. Só que o argumento do caro colega se baseava no que popper disse. Se o próprio popper mudasse de opinião, o papo acabava.
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Fernando
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Re: Re.: Popper e o Darwinismo

Mensagem por Fernando »

Perseus escreveu:Melodramismo ou não meu caro, é a verdade.


O que eu quero dizer é que bastaria dizer que Popper mudou de opinião. Afinal, o que Popper dizia antes realmente ia de encontro com o intuito do Caro Colega. Neste sentido eu não vejo desonestidade alguma em alguém usar um argumento de alguém que é aceito pelos sesu interlocutores para corroborar aquilo que diz..
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Fernando
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Mensagem por Fernando »

o anátema escreveu:Eu acho que a acusação é válida ao menos quanto ao autor do texto. O caro colega talvez tenha apenas lido a versão criacionista, que como de costume, dá só o que interessa, desossado e mastigadinho.

Se você reparar, os citações de Popper no texto que o caro colega postou, são do texto em inglês que postei, em que ele muda de opinião, mas isso simplesmente fica de fora.

Nada contra usar a opinião velha de Popper para atacar a evolução, mas seria interessante ao menos dizer que não é mais aquela, e se possível, achar a opinião atualizada em detalhes e confrontar com a velha, tentando mostrar que a anterior era mais correta.


Se a acusação vai em direção ao autor do texto, e se o autor do texto soubesse que Popper muda de opinião, eu concordo com vc.
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Fernando
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Re: Re.: Popper e o Darwinismo

Mensagem por Fernando »

o anátema escreveu:Mas Popper admite que a teoria da evolução é um fato:

"All scientific theories are conjectures, even those that have successfully passed many severe and varied tests. The Mendelian underpinning of modern Darwinism has been well tested, and so has the theory of evolution which says that all terrestrial life has evolved from a few primitive unicellular organisms, possibly even from one single organism."

Talvez "fato" seja um termo meio forte para o jargão filosófico e eu esteja pondo indevidamente palavras na boca dele. Ele diz ao menso que a teoria da ancestralidade comum universal foi bem testada, tanto quanto a genética mendeliana.

Sem me preocupar com jargão filosófico, eu considero esses testes suficientes para que a TE seja considerada como fato, assim como a "genética é um fato".


Eu entendo o que vc diz. Mas eu acho que há um grande problema aí que não condiz ao peso do jargão. Quando vc usa "fato" nesta concempção não fica muito clara a distinção entre o fenômeno e a teoria. O problema é que isso gera uma confusão. Teoria e fenômeno viram a mesma coisa.

Isso é um pé de barro que é encontrado muito frequentemente nos estudantes de ciência. Não é apenas para o filósofo que é essencial que se possa traçar uma distinção clara entre teoria e fenômeno, isso é essencial para o próprio cientista. De forma que quando não traça tal distinção age, sem querer, de forma manipuladora. Afinal toda teoria que parece muito evidente pode ser considerada um fato.

Quando o sujeito consegue se manter dentro do puro debate científico, não temos consequências tão drásticas. Mas quando ele começa a falar as coisas do seu umbigo, isso fica complicado. Aih ele trata uma hipótese pessoal dele como um fato. Todo pesquisador sincero só pode ver esta atitude como condenável.

Outro ponto que eu acho muito problemático que decorre do que vc está proponto é a possibilidade enorme que se cria com isso de tratar a ciência de forma dogmática. Quando se confunde teoria com fenômeno pelo nome "fato" as pessoas passam a acreditar que teorias tão complexas como a da Evolução são verdades prontas e acabadas, e como tais são verdades irrefutáveis a qualquer custo. Outra atitude completamente sensurável em qualquer pesquisa. A ciência se contrapõe a religião justamente por se propor a explicar as coisas de forma natural. E isso significa que ela se servirá da razão para escolher aquelas que são as esplicações mais sensatas. A religião diz que a tese A é verdadeira. A ciência diz que a tese A é verdadeira, dada a validade de determinadas razões. Se tais razões forem falsas, então a tese é falsa.

É justamente o apelo à razão o que distingue a atitude do cientista da atitude do religioso de butiquim. Quando o estudante de ciências esquece que a teoria não é um fenômeno, trata-a como uma verdade acabada. Ou seja, é como se a teoria científica lhe fosse dada por algum deus, de tal forma que o que sabe é inquestionável. Esta é uma atitude que caracterisa o dogmatismo na ciência, uma vez que o intuito é completamnente outro.

Por isso, creio que seja de suma importância que o cientista saiba distinguir criteriosamente o fenômeno da teoria, para que não caia no perigo do dogmatismo.

Minhas considerações lhe parecem desnecessárias? Será mesmo que podemos dormir tranquílos enquanto confundimos propositalmente fenômeno e teoria como se ambas as coisas não existissem? Eu acho que não. Acho que isso só colaboraria para a extinção da ciência e divulgação do fanatismo e do dogmatismo.

E ninguém melhor do que Popper para nos mostrar que fatos são coisas bem diferentes de uma teoria com tão elevado grau de complexibilidade. Talvez seria muito mais proveitoso se assumíssemos o caráter hipotético da Evolução (e como tal reconhecer que ela é uma teoria), e que é a melhor teoria que temos para explicar os fatos. Se algum dia surgir outra teoria melhor, teremos todo prazer em reconhecer o nosso erro e adotar a nova teoria que é mais adequada. Não concorda comigo?
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Fernando
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Re: Re.: Popper e o Darwinismo

Mensagem por Fernando »

Dante, the Wicked escreveu:Joguinho de palavras, Fernando. A Gravitação Universal também é uma teoria. Nem por isto ela é altamente dubitável.


Vc poderia citar a parte do meu texto em que alego que a Teoria da Evolução é altamente dubitável, ou que não deve ser aceita?

Eu estava atacando a Teoria da Evolução e nem sabia. Olha que incrível! Eu pensei que meu juízo sobre a validade ou não da teoria da evolução estava suspenso e que eu não estava nem dizendo que ela era falsa nem que era verdadeira. Pensei que só estava discutindo sobre o funcionamento do método científico segundo Popper que é o autor em questão.

Quais foram os trechos que em que dei a entender que defendo este erro que vc quer denunciar?
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Fernando
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Mensagem por Fernando »

Dante,

Sua acusação de desonestidade intelectual se dá por dois motivos: a) uma citação de um texto de internet que possui erros (como geralmente acontece); b) pela falta de conhecimento da mudança de opinião de Popper.

O erro não condiz em nada com o ponto defendido pelo Caro Colega de que a evolução é uma tese metafísica pois estava no começo do texto e tinha o único intuito de apresentar quem é Popper, pois nem todos sabem quem é.

Não se pode acusar de desonestidade intelectual quando a pessoa simplesmente não conhecia o fato de que Popper mudou de opinião.

Por isso creio que a sua acusação é apressada demais.
[/b][/quote]

Veja bem, Fernando. Eu falei da desonestidade intelectual criacionista, o que se aplica ao autor do texto.
Ele ou fez uma pesquisa incompleta, ou ocultou um dado que ele sabia. Como o texto contém um erro crasso, mais provável é a primeira opção. Mas seja como for, pesquisa incompleta ou omissão de dados é desonestidade intelectual.

E ainda - agora a crítica vale tanto para o autor quanto para o Caro Coléga - o fato da crítica popperiana proceder para o criacionismo é completamente ignorado. Ou seja, ou eles são muito burros para não perceber que a filosofia popperiana destrói as pretensões de científicidade do criacionismo, ou eles percebem isto mas o desespero por argumentos contra o darwinismo é tão grande que eles fazem uso até de faca de dois gumes. Ou seja, incorrem de desonestidade intelectual.

Por fim, não há argumentação mais ingênua que citar opinião de filósofos. Eles podem estar terrívelmente equivocados. Kant achava que a física newtoniana é perfeita. Voltaire chegou a dizer que os egípicios nada fizeram de relevante, fora sob o governo dos Ptolomeus. Popper por sua vez não tinha um conhecimento muito abrangente de biologia, o que o levou a dizer coisa deste tipo.[/quote]

Vc acredita mesmo que pesquisa incompleta é sinônimo de desonestidade intelectual? Seria interessante então que vc me mostrasse uma única pesquisa científica completa, que se coloca no ponto de vista da totalidade.

Quanto ao autor, eu concordo que foi desonesto, SE ele sabia que Popper mudou de opinião e não disse. Quanto à acusação ao Caro Colega, eu concordo SE ele já sabia que o Popper mudou de opinião e fez de conta que isso nunca tinha acontecido.
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Fernando
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Mensagem por Fernando »

Huxley escreveu:Em suas declarações em relação ao darwinismo,Karl Popper se refere a teoria da seleção natural, não como a evolução como um todo.E de qualquer forma,a crítica ao grau de testabilidade era bem menos extensiva do que se pensava, como demonstrou a sua revisão a New Scientist em 1980.

Não existe uma teoria evolutiva, mas teorias evolutivas buscando a compreensão do processo evolutivo.A que é definida como fato da evolução é a teoria da descedência comum, a idéia que todos organismos evoluíram por um único ancestral comum.Ela atingiu o status de fato científica devido a corroboração de dezenas de predições detalhadas na Anatomia Comparativa, Embriologia,Bioquímica,Biogeografia,Paleontologia,
Sistemática,etc

Nenhum cientista nega que a evolução seja um fato; o que se discute são os detalhes de como ela aconteceu.Como disse Stephen Jay Gould, "seres humanos evoluíram de um ancestral comum com o macaco, seja pelo mecanismo proposto por Darwin, seja por qualquer outro ainda por ser descoberto".

Mas acredito que teorias que expliquem sem utilizar a seleção natural são "rivais condenadas".Utilizando a epistemologia popperiana e a da Hume, crenças criacionistas são supérfluas.Hume já havia refutado o argumento teleológico por este utilizar a indução.O argumento do design tenta explicar utilizando o método da exclusão.Nem para provar que porcos não voam , esse método é científico.Não é porque porcos nunca foram vistos voando, que quer dizer que foi provado que eles não voam.Se isso já era válido na época de Hume, imagine depois de Darwin.

O que diferencia ciência de metafísica é a não utilização da indução, algo deve mostrar-se capaz de ser testável,nem que seja em parte.

Antievolucionistas dizem que a seleção natural é uma tautologia.Mas isso não procede,porque ela faz afirmações falseáveis.Poderia haver diferença entre os organismos que deixam mais prole e os que não deixam pouca ou nenhuma prole.Mas não é isso o que se observa.Existe um sucesso reprodutivo diferencial dos genótipos.As frequências gênicas dos genótipos que tem mais valor adaptativo aumentam.Isso pode ser testado em várias situações e pode-se utilizar equações determinando até quanto determinada adaptação, confere sucesso reprodutivo para organismo que a possui.


Excelente texto. Só que pelos motivos que eu já expús ao anátema não diria que ela é um fato.

Tb gostaria de acrescentar algo importante. O intuito de Popper, diferentemente do positivistas do Wien Kreiz, não é o de acabar com a metafísica. Mas sim o de fornecer um critério claro pra distinguir a ciência de outros saberes. Se vc parar bem pra ver, perceberá que a própria teoria popperiana é metafísica pois não permine nenhuma espécie de falseamento. Qual seria a condição de falseamento da tese popperiana? Ora, que existissem teorias científicas falseadas e ainda assim consideradas verdadeiras. Mas se uma teoria considera-se como verdadeira, mesmo sendo falseada, então ela não é uma teoria científica. O que mostra que o falseamento não é uma tese científica.

O estatuto da metafísica não é sequer posto em questão por Popper. Mas parece que quando as pessoas querem fazer uma tese cair em descrédito usam a tese metafísica popperiana para desvalorizar o outro chamando-o de metafísico.

Ora, se ele é metafísico, então o problema é outro. A única preocupação é Ñao confundir teses metafísicas com teses científicas. Mais nada.
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o anátema
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Re: Re.: Popper e o Darwinismo

Mensagem por o anátema »

Fernando escreveu:
Quando o sujeito consegue se manter dentro do puro debate científico, não temos consequências tão drásticas. Mas quando ele começa a falar as coisas do seu umbigo, isso fica complicado. Aih ele trata uma hipótese pessoal dele como um fato. Todo pesquisador sincero só pode ver esta atitude como condenável.

De forma mais geral, acho realmente condenável falar de teorias como fatos, especialmente teorias novas, e do próprio cara.


Fernando escreveu:Outro ponto que eu acho muito problemático que decorre do que vc está proponto é a possibilidade enorme que se cria com isso de tratar a ciência de forma dogmática. Quando se confunde teoria com fenômeno pelo nome "fato" as pessoas passam a acreditar que teorias tão complexas como a da Evolução são verdades prontas e acabadas, e como tais são verdades irrefutáveis a qualquer custo. Outra atitude completamente sensurável em qualquer pesquisa. A ciência se contrapõe a religião justamente por se propor a explicar as coisas de forma natural. E isso significa que ela se servirá da razão para escolher aquelas que são as esplicações mais sensatas. A religião diz que a tese A é verdadeira. A ciência diz que a tese A é verdadeira, dada a validade de determinadas razões. Se tais razões forem falsas, então a tese é falsa.

Eu não acho que falar de determinada teoria como fato/fenômeno seja dar status de dogma. Ou ao menos, não sempre

Se é uma teoria consideravelmente abrangente, mas que se sustenta firmemente apesar de todas suas previsões muito arriscadas, é normal considerar a teoria como realidade, como que descreve mesmo um fenômeno. Não que tenha "deixado de ser teoria". Nunca deixou, e por isso mesmo alguém pode amanhã descobrir que não é verdade aquilo que se supunha confiantemente ser um fato.

Eu não consigo entender uma opinião muito diferente dessa, me parece uma "cautela" excessiva, um pé sempre no niilismo.



Fernando escreveu:É justamente o apelo à razão o que distingue a atitude do cientista da atitude do religioso de butiquim. Quando o estudante de ciências esquece que a teoria não é um fenômeno, trata-a como uma verdade acabada. Ou seja, é como se a teoria científica lhe fosse dada por algum deus, de tal forma que o que sabe é inquestionável. Esta é uma atitude que caracterisa o dogmatismo na ciência, uma vez que o intuito é completamnente outro.

Por isso, creio que seja de suma importância que o cientista saiba distinguir criteriosamente o fenômeno da teoria, para que não caia no perigo do dogmatismo.

Minhas considerações lhe parecem desnecessárias? Será mesmo que podemos dormir tranquílos enquanto confundimos propositalmente fenômeno e teoria como se ambas as coisas não existissem? Eu acho que não. Acho que isso só colaboraria para a extinção da ciência e divulgação do fanatismo e do dogmatismo.

E ninguém melhor do que Popper para nos mostrar que fatos são coisas bem diferentes de uma teoria com tão elevado grau de complexibilidade. Talvez seria muito mais proveitoso se assumíssemos o caráter hipotético da Evolução (e como tal reconhecer que ela é uma teoria), e que é a melhor teoria que temos para explicar os fatos. Se algum dia surgir outra teoria melhor, teremos todo prazer em reconhecer o nosso erro e adotar a nova teoria que é mais adequada. Não concorda comigo?
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... em parte..... de modo geral, acho que sim, tem que se lembrar que teoria e fato são coisas diferentes.... mas nesse caso específico.... e em vários outros..... é quase como se eu supusesse que toda a realidade é uma "teoria" na minha cabeça.

Se vejo uma pessoa vindo da esquina, vindo em minha direção, e começa então a falar comigo, seria apenas uma teoria que essa pessoa existia antes de cruzar a esquina, teve toda sua vida, e chegou até aquela esquina andando, ou de carro.

Porque eu não observei de fato a pessoa saindo de onde quer que estivesse, e vindo andando até a mim, até que já estivesse bem próxima, muito menos se ela teve uma vida antes disso. Se eu a conhecia antes, ainda assim só a observei durante uma fração do tempo dessa suposta "vida". Estou fazendo uma generalização, com base em como a natureza aparenta funcionar, e supondo que seja sempre esse o caso, é a melhor teoria para explicar o fato das pessoas virem e falarem comigo, elas se deslocam por meios naturais, e que são pessoas que nasceram, cresceram e estão por aí.

Eu não acho que assumir isso como fato seja exatamente "dogma", e vejo da mesma forma a teoria da evolução - ancestralidade comum universal. Para que alguma dessas teorias não fosse fatos, aquilo que eu vejo teria que ser muita coincidência, e a realidade ser inimaginavelmente diferente do que aparenta.

Estou falando exclusivamente dessa 'teoria de que as outras pessoas existem' e da teoria da evolução, porque são teorias que eu conheço bem (a primeira foi eu que inventei, inclusive). Não tomo, "para mim", como fato teorias que eu não entendo muito bem, por mais bem estabelecidas que sejam no meio científico, como big-bang, por exemplo.
Sem tempo nem paciência para isso.

Site com explicações para 99,9999% de todas as mentiras, desinformações e deturpações criacionistas:

www.talkorigins.org
Todos os tipos de criacionismos, Terra jovem, velha, de fundamentalistas cristãos, islâmicos e outros.

Série de textos sugerida: 29+ evicences for macroevolution

Índice com praticamente todas as asneiras que os criacionistas sempre repetem e breves correções

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Fernando
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Re: Re.: Popper e o Darwinismo

Mensagem por Fernando »

Eu não acho que a não distinção entre teoria e fato tenha como fim necessário apenas o dogmatismo. Apenas digo que com isso é muito fácil que aquele que está se iniciando em algum conhecimento científico o trate de forma dogmática. Isso não é incomum. Vemos constantemente as pessoas recorrendo a outras teorias pra justificar teses do seu umbigo, tratando-as como fatos. Quero dizer que o meu discurso vai mais no intuito de evitar este erro do que dizer que existe uma consequência necessária da aproximação dos conceitos.

O problema aí que que eu acho que os estdantes de ciências são muito parciais. O que precisamos perceber é que não é pq uma tese não é científica deve ser menos considerada. Existem teses metafísicas muito claras e evidentes como, por exemplo, o cogito. E que não são menos verdadeiras só pq não passam pelo crivo da experiência.
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Azathoth
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Re.: Popper e o Darwinismo

Mensagem por Azathoth »

Fernando, mas já está demonstrado que o neodarwinismo não é uma tese metafísica. Também reconheço a validade de vários pressupostos metafísicos, o próprio empreendimento científico ao alegar que existe uma realidade objetiva estudável está partindo de alguns.

O fato da evolução se refere ao fenômeno da evolução, a observação de que as frequências gênicas de seres vivos mudam ao longo do tempo. Cabe às teorias evolutivas descrever os mecanismos físicos de como isso ocorre.
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Fernando
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Re: Re.: Popper e o Darwinismo

Mensagem por Fernando »

Azathoth escreveu:Fernando, mas já está demonstrado que o neodarwinismo não é uma tese metafísica. Também reconheço a validade de vários pressupostos metafísicos, o próprio empreendimento científico ao alegar que existe uma realidade objetiva estudável está partindo de alguns.

O fato da evolução se refere ao fenômeno da evolução, a observação de que as frequências gênicas de seres vivos mudam ao longo do tempo. Cabe às teorias evolutivas descrever os mecanismos físicos de como isso ocorre.


Mas repare que eu já reconheci que a evolução não é uma tese metafísica.
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Azathoth
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Re.: Popper e o Darwinismo

Mensagem por Azathoth »

Ok.
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