A economia do desejo
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A economia do desejo
09/01/2006
A economia do desejo
Como as variações de preço podem afetar o comportamento sexual? Essas mudanças poderiam nos dizer alguma coisa sobre a natureza do próprio sexo?
STEPHEN J. DUBNER e
STEVEN D. LEVITT*
O que é um preço?
Quem não é economista, provavelmente acha que um preço é apenas o que se paga para receber alguma coisa --o número de dólares que entrega para, digamos, o almoço de domingo em seu restaurante favorito. Mas para um economista, o preço é um conceito muito mais amplo. Os vinte minutos que a pessoa passa esperando por uma mesa fazem parte do preço. O mesmo acontece com os malefícios nutricionais da própria refeição: um cheeseburguer, segundo calculou o economista Kevin Murphy, custa US$ 2,50 (em torno de R$ 7,50) a mais que uma salada, em termos de implicações de longo prazo para a saúde.
Há também custos morais e sociais --por exemplo, o olhar de desprezo de seu acompanhante vegetariano, quando você pede o sanduíche. Apesar de o cardápio listar o preço do cheeseburguer a US$ 7,95 (em torno de R$ 21), isso é claramente apenas o começo.
A regra mais fundamental da economia é que um aumento do preço leva a uma redução da quantidade da demanda. Isso é verdade para uma refeição de restaurante, um imóvel, um curso universitário ou quase qualquer coisa. Quando o preço de um item aumenta, você compra menos dele (o que não quer dizer, é claro, que queira menos dele).
Mas e o sexo? Sendo a mais irracional das buscas humanas, responderia à tão racional teoria de preço?
Excetuando-se algumas situações óbvias, geralmente não pensamos em sexo em termos de preço. A prostituição é uma dessas situações, o processo de conquista é outra: certos homens parecem considerar um jantar caro um investimento prudente na busca de um dividendo sexual.
Mas como as variações de preço podem afetar o comportamento sexual? Essas mudanças poderiam nos dizer alguma coisa sobre a natureza do próprio sexo?
Aqui vai um exemplo claro: Quando um sujeito é preso, descobre rapidamente que o preço do sexo com uma mulher aumentou vertiginosamente --total falta de oferta-- e ele terá maior chance de ter sexo com homens. A preponderância de sexo oral entre adolescentes afluentes americanos também parece ilustrar a teoria do preço: com a possibilidade de doença ou gravidez, a penetração encarece --e passou a ser vista por alguns adolescentes como uma promessa valiosa de compromisso. Sob esse prisma, o sexo oral pode ser considerado uma alternativa mais barata.
Nas últimas décadas, testemunhamos o mais exorbitante novo preço associado ao sexo: o vírus do HIV. Como a Aids é potencialmente fatal e pode se disseminar com relativa facilidade entre dois homens, o surto da Aids no início dos anos 80 levou a um aumento significativo do preço do sexo gay.
Andrew Francis, aluno de pós-graduação em economia da Universidade de Chicago, tentou fixar um valor a essa mudança. Estabelecendo o preço da vida de um americano em US$ 2 milhões (aproximadamente R$ 6 milhões), Francis calculou quanto custaria para um homem fazer sexo desprotegido com um homossexual ou uma mulher ao acaso. Em termos da mortalidade relacionada à Aids, custava US$ 1.923,75 (cerca de R$ 5.770) em 1992 (no pico da crise da Aids) para fazer sexo com outro homem e menos de US$ 1 (em torno de R$ 3) com uma mulher.
Apesar do uso de preservativo reduzir em muito o risco de transmissão da Aids, o preservativo, obviamente, é outro custo associado ao sexo. Em um estudo da prostituição mexicana, o economista de Berkeley Paul Gertler e dois co-autores mostraram que, quando um cliente pedia sexo sem camisinha, a prostituta recebia cerca de 24% a mais do que sua tarifa normal.
Francis, em um artigo intitulado "A economia da sexualidade" tenta ir além dos números. Ele propõe um argumento empírico que pode fundamentalmente mudar a forma como as pessoas pensam sobre o sexo.
Como vários outros comportamentos que os cientistas sociais tentam medir, o sexo é um assunto complexo. Mas Francis descobriu um conjunto de dados que ofereceu possibilidades interessantes.
A Pesquisa de Saúde Nacional e Vida Social, patrocinada pelo governo americano e meia dúzia de fundações, levou a mais de 3.500 pessoas uma variedade impressionante de perguntas sobre sexo: os diferentes atos sexuais passivos ou ativos, com quem e quando; perguntas sobre preferência sexual e identidade; se conheciam alguém com Aids. Como acontece com esse tipo de dado, declarado livremente pelos entrevistados, a pesquisa pode não ser confiável, mas foi formulada para garantir o anonimato e gerar respostas honestas.
A pesquisa foi conduzida em 1992, quando a doença era muito menos tratável do que hoje. Francis primeiro procurou ver se havia uma correlação positiva entre ter um amigo com Aids e expressar preferência por sexo homossexual. Como esperava, havia. "Afinal, as pessoas escolhem seus amigos", diz ele, "e homossexuais têm maior probabilidade de ter amigos homossexuais."
Mas você não escolhe sua família. Então Francis procurou a correlação entre ter algum parente com Aids e expressar preferência homossexual. Desta vez, para os homens, a correlação era negativa. Não parecia fazer sentido. Muitos pesquisadores acreditam que a orientação sexual da pessoa é determinada antes do nascimento, que é uma função genética. Então, as pessoas na mesma família teriam maior probabilidade de compartilhar a mesma orientação. "Então compreendi --eles estavam com medo da Aids", disse o pesquisador.
Francis concentrou-se nesse subconjunto de cerca de 150 entrevistados que tinham um parente com Aids. Além das respostas sobre sexo, a pesquisa compilou o histórico sexual dos entrevistados. Isso permitiu que ele medisse, apesar de grosseiramente, como suas vidas poderiam mudar por terem visto de perto os horrores de alto custo da Aids. E concluiu: nem um único homem entrevistado que tinha um parente com Aids tinha tido sexo com um homem nos cinco anos anteriores; nem um único homem nesse grupo declarou-se atraído por homens ou considerou-se homossexual. As mulheres nesse grupo também evitavam sexo com homens. O índice de homossexualidade entre as mulheres foi mais que o dobro das que não tinham parentes com Aids.
Como a amostra era muito pequena --um grupo desse tamanho talvez tivesse meia dúzia de homens atraídos por homens-- fica difícil chegar a conclusões definitivas a partir dos dados da pesquisa. (Obviamente, nem todo homem solteiro muda de comportamento sexual ou identidade quando um parente contrai Aids). Mas como um todo, os números do estudo de Francis sugerem que pode haver um efeito causal aqui --que ter um parente com Aids pode mudar não só o comportamento sexual de uma pessoa, mas também sua identidade e desejo.
Em outras palavras, a preferência sexual, mesmo se for predeterminada, pode estar sujeita a forças mais tipicamente associadas com a economia do que com a biologia. Se for verdade, isso pode mudar a forma que todos --cientistas, políticos, teólogos-- pensam a sexualidade.
Mas provavelmente não vai mudar muito a forma como os economistas pensam. Para eles, sempre foi claro: gostando ou não, tudo tem seu preço.
*Stephen J. Dubner e Steven D. Levitt são autores do livro "Freakonomics: A Rogue Economist Explores the Hidden Side of Everything" (algo como "Economia do Absurdo: um Economista Desocupado Explora o Lado Oculto de Todas as Coisas").
Tradução: Deborah Weinberg
A economia do desejo
Como as variações de preço podem afetar o comportamento sexual? Essas mudanças poderiam nos dizer alguma coisa sobre a natureza do próprio sexo?
STEPHEN J. DUBNER e
STEVEN D. LEVITT*
O que é um preço?
Quem não é economista, provavelmente acha que um preço é apenas o que se paga para receber alguma coisa --o número de dólares que entrega para, digamos, o almoço de domingo em seu restaurante favorito. Mas para um economista, o preço é um conceito muito mais amplo. Os vinte minutos que a pessoa passa esperando por uma mesa fazem parte do preço. O mesmo acontece com os malefícios nutricionais da própria refeição: um cheeseburguer, segundo calculou o economista Kevin Murphy, custa US$ 2,50 (em torno de R$ 7,50) a mais que uma salada, em termos de implicações de longo prazo para a saúde.
Há também custos morais e sociais --por exemplo, o olhar de desprezo de seu acompanhante vegetariano, quando você pede o sanduíche. Apesar de o cardápio listar o preço do cheeseburguer a US$ 7,95 (em torno de R$ 21), isso é claramente apenas o começo.
A regra mais fundamental da economia é que um aumento do preço leva a uma redução da quantidade da demanda. Isso é verdade para uma refeição de restaurante, um imóvel, um curso universitário ou quase qualquer coisa. Quando o preço de um item aumenta, você compra menos dele (o que não quer dizer, é claro, que queira menos dele).
Mas e o sexo? Sendo a mais irracional das buscas humanas, responderia à tão racional teoria de preço?
Excetuando-se algumas situações óbvias, geralmente não pensamos em sexo em termos de preço. A prostituição é uma dessas situações, o processo de conquista é outra: certos homens parecem considerar um jantar caro um investimento prudente na busca de um dividendo sexual.
Mas como as variações de preço podem afetar o comportamento sexual? Essas mudanças poderiam nos dizer alguma coisa sobre a natureza do próprio sexo?
Aqui vai um exemplo claro: Quando um sujeito é preso, descobre rapidamente que o preço do sexo com uma mulher aumentou vertiginosamente --total falta de oferta-- e ele terá maior chance de ter sexo com homens. A preponderância de sexo oral entre adolescentes afluentes americanos também parece ilustrar a teoria do preço: com a possibilidade de doença ou gravidez, a penetração encarece --e passou a ser vista por alguns adolescentes como uma promessa valiosa de compromisso. Sob esse prisma, o sexo oral pode ser considerado uma alternativa mais barata.
Nas últimas décadas, testemunhamos o mais exorbitante novo preço associado ao sexo: o vírus do HIV. Como a Aids é potencialmente fatal e pode se disseminar com relativa facilidade entre dois homens, o surto da Aids no início dos anos 80 levou a um aumento significativo do preço do sexo gay.
Andrew Francis, aluno de pós-graduação em economia da Universidade de Chicago, tentou fixar um valor a essa mudança. Estabelecendo o preço da vida de um americano em US$ 2 milhões (aproximadamente R$ 6 milhões), Francis calculou quanto custaria para um homem fazer sexo desprotegido com um homossexual ou uma mulher ao acaso. Em termos da mortalidade relacionada à Aids, custava US$ 1.923,75 (cerca de R$ 5.770) em 1992 (no pico da crise da Aids) para fazer sexo com outro homem e menos de US$ 1 (em torno de R$ 3) com uma mulher.
Apesar do uso de preservativo reduzir em muito o risco de transmissão da Aids, o preservativo, obviamente, é outro custo associado ao sexo. Em um estudo da prostituição mexicana, o economista de Berkeley Paul Gertler e dois co-autores mostraram que, quando um cliente pedia sexo sem camisinha, a prostituta recebia cerca de 24% a mais do que sua tarifa normal.
Francis, em um artigo intitulado "A economia da sexualidade" tenta ir além dos números. Ele propõe um argumento empírico que pode fundamentalmente mudar a forma como as pessoas pensam sobre o sexo.
Como vários outros comportamentos que os cientistas sociais tentam medir, o sexo é um assunto complexo. Mas Francis descobriu um conjunto de dados que ofereceu possibilidades interessantes.
A Pesquisa de Saúde Nacional e Vida Social, patrocinada pelo governo americano e meia dúzia de fundações, levou a mais de 3.500 pessoas uma variedade impressionante de perguntas sobre sexo: os diferentes atos sexuais passivos ou ativos, com quem e quando; perguntas sobre preferência sexual e identidade; se conheciam alguém com Aids. Como acontece com esse tipo de dado, declarado livremente pelos entrevistados, a pesquisa pode não ser confiável, mas foi formulada para garantir o anonimato e gerar respostas honestas.
A pesquisa foi conduzida em 1992, quando a doença era muito menos tratável do que hoje. Francis primeiro procurou ver se havia uma correlação positiva entre ter um amigo com Aids e expressar preferência por sexo homossexual. Como esperava, havia. "Afinal, as pessoas escolhem seus amigos", diz ele, "e homossexuais têm maior probabilidade de ter amigos homossexuais."
Mas você não escolhe sua família. Então Francis procurou a correlação entre ter algum parente com Aids e expressar preferência homossexual. Desta vez, para os homens, a correlação era negativa. Não parecia fazer sentido. Muitos pesquisadores acreditam que a orientação sexual da pessoa é determinada antes do nascimento, que é uma função genética. Então, as pessoas na mesma família teriam maior probabilidade de compartilhar a mesma orientação. "Então compreendi --eles estavam com medo da Aids", disse o pesquisador.
Francis concentrou-se nesse subconjunto de cerca de 150 entrevistados que tinham um parente com Aids. Além das respostas sobre sexo, a pesquisa compilou o histórico sexual dos entrevistados. Isso permitiu que ele medisse, apesar de grosseiramente, como suas vidas poderiam mudar por terem visto de perto os horrores de alto custo da Aids. E concluiu: nem um único homem entrevistado que tinha um parente com Aids tinha tido sexo com um homem nos cinco anos anteriores; nem um único homem nesse grupo declarou-se atraído por homens ou considerou-se homossexual. As mulheres nesse grupo também evitavam sexo com homens. O índice de homossexualidade entre as mulheres foi mais que o dobro das que não tinham parentes com Aids.
Como a amostra era muito pequena --um grupo desse tamanho talvez tivesse meia dúzia de homens atraídos por homens-- fica difícil chegar a conclusões definitivas a partir dos dados da pesquisa. (Obviamente, nem todo homem solteiro muda de comportamento sexual ou identidade quando um parente contrai Aids). Mas como um todo, os números do estudo de Francis sugerem que pode haver um efeito causal aqui --que ter um parente com Aids pode mudar não só o comportamento sexual de uma pessoa, mas também sua identidade e desejo.
Em outras palavras, a preferência sexual, mesmo se for predeterminada, pode estar sujeita a forças mais tipicamente associadas com a economia do que com a biologia. Se for verdade, isso pode mudar a forma que todos --cientistas, políticos, teólogos-- pensam a sexualidade.
Mas provavelmente não vai mudar muito a forma como os economistas pensam. Para eles, sempre foi claro: gostando ou não, tudo tem seu preço.
*Stephen J. Dubner e Steven D. Levitt são autores do livro "Freakonomics: A Rogue Economist Explores the Hidden Side of Everything" (algo como "Economia do Absurdo: um Economista Desocupado Explora o Lado Oculto de Todas as Coisas").
Tradução: Deborah Weinberg
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.
*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.
*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.
- Dr. Estranho
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Re.: A economia do desejo
O fato é que o homem é influenciado pelas relações econômicas. O sexo não escapa a isso.
- Res Cogitans
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Re.: A economia do desejo
Sama e Manuel, este é o texto que falei.
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.
*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.
*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.
Dubnner e Lewitt também são conhecidos pelo pessoal da Administração e do Marketing como mentes que viajam bastante.
O texto é bom...mas perdeu um pouco a seriedade com essa pesquisa tão pouco profissional e restrita.
Mas com certeza, todo comportamento tem também uma regra de mercado que o acompanha.
O texto é bom...mas perdeu um pouco a seriedade com essa pesquisa tão pouco profissional e restrita.
Mas com certeza, todo comportamento tem também uma regra de mercado que o acompanha.
Re: Re.: A economia do desejo
Res Cogitans escreveu:Sama e Manuel, este é o texto que falei.
Acho que você já o postou uma vez, visto que me lembro de tê-lo lido.
- Res Cogitans
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Re: Re.: A economia do desejo
Samael escreveu:Res Cogitans escreveu:Sama e Manuel, este é o texto que falei.
Acho que você já o postou uma vez, visto que me lembro de tê-lo lido.
Só postei esse tópico uma vez, logo é o mesmo que você leu outrora. :)
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.
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Re.: A economia do desejo
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*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.
*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.
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