Samael escreveu:Imposição não funciona, visto que o próprio Marx critica essa posição nas Grundrisse, A descobertas dos Manuscritos Filosóficos foram, particularmente, um dos maiores fatores de reforma ao marxismo ortodoxo. A idéia de filosofia da práxis atira sobre o indivíduo toda a idéia antes centrada no determinismo histórico. E apenas o marxismo ortodoxo se agrega a essa noção.
Irrelevante, na medida que pouco importa se as forças irresistíveis da história levarão a uma erupção social ou se a coisa ocorrerá de forma mais sub-reptícia, ou gramscista.
O que se coloca em questão é que a crença marxista é a de que o progresso tecnológico é uma lei inexorável e que os detentores de capital se apropriam desses meios para extrair a mais valia dos trabalhadores, e o caráter abjeto do capitalismo emerge desse cenário.
Samael escreveu:O mesmo vale para o caráter científico do marxismo. Para os néo-marxistas, em geral, não existe essa questão de "juízos objetivos que revelem a verdade sob uma manta científica impenetrável". Aí, exatamente, surge a idéia de ideologia enquanto fator essencial à ciência (idéia retirada, em parte, da filosofia hermeneuta).
Exato. O marxismo precisou inventar o desconstrutivismo e o relativismo para poder sobreviver. Mas ainda há muito duplipensar, que nega a existência de uma verdade objetiva em favor de uma realidade de ideologias e juízos arbitrários, mas que também agrega sentimentos de justiça absolutos manifestos em sociedades comunistas.
Talvez seja por isso que eles tenham inventado também o pós-modernismo, para não precisarem mais ser consistentes nem com o que eles mesmos dizem.
Samael escreveu:Quanto à seu parágrafo final, juízo de valor puro. Como eu já disse, o grande exemplo de totalitarismo socialista bem sucedido está aí para todos verem: China. Mas mesmo nisso você insiste a "culpa do liberalismo".
A China atual é produto de uma política EXTREMAMENTE amigável ao investimento externo aliada ao grande potencial ainda inexplorado de recursos naturais e humanos do país, além de uma localização geográfica interessante.
Ela é produto das corporações que investiram capital lá dentro, nada tem a dever aos projetos maoístas exceto o fato dela ter se encontrado em estado miserável até bem pouco tempo.
Samael escreveu:Por fim, vale ressaltar que a economia marxista tem em mente desmantelar e criticar o capitalismo, e não estruturar uma forma de governo capitalista sustentável. A isso couberam os regimes que arrogaram a alcunha de comunistas. E esses falharam por uma série de fatores, externos e internos, mas a dicotomia permanece viva.
O intervencionismo é meio que um Frankenstein que tenta ter a paternidade reconhecida por Marx, ainda que esse compreendesse a impossibilidade prática e lógica de qualquer modelo alheio ao capitalismo ou ao socialismo.
A conseqüência natural do intervencionismo é o socialismo, como demonstra Mises, assim como a conseqüência natural de um terremoto é que os prédios desabem.
Samael escreveu:E de onde vem o capital deste rico? E por onde ele se reproduz, diariamente, senão pelo salário de outros? A isso você chama de meritocracia? Eu não. Mas me contento com o sistema, mesmo sem endossá-lo nem criar utopias dentro dele. E de bom grado aceitarei outro que passe pelas vias democráticas e seja utilitariamente mais benéfico à sociedade.
O capital do rico vem da poupança, da produção excedente que foi acumulada na forma de bens de capital e está sendo reinvestida, no único mecanismo de progresso econômico existente.
A diferença entre os países ricos e pobres é exatamente o tamanho dessa poupança, que determina a quantidade de capital existente na economia.
O salário nada mais é do que o preço pago pelo trabalho, e o rico não extrai seus rendimentos dele, o salário é um custo de produção. Os rendimentos do rico vem da alocação do capital acumulado em alguma atividade na qual ele possa empregar o trabalho de algumas pessoas no sentido de realizar atividades que agreguem valor a algum bem ou prestem algum serviço necessário a comunidade. Mas para isso ele tem o trabalho de conseguir o capital, muitas vezes através de empréstimos, além de decidir em quais áreas ele deve investir afim de maximizar seu lucro, qual modelo de produção adotar, etc, etc. Não é só ter dinheiro e vê-lo se multiplicar, como gostam de pensar os que não são empresários mas acham que sabem de tudo.
Samael escreveu:Quanto à questão do capital estrangeiro, depende, em primeiro lugar, do que você considera "desenvolvimento econômico". Uma empresa forte pode muito bem adentrar uma país, esmagar as empresas menores com a sua capacidade de produção e o seu capital de giro alto, substituir, no país, mã-de-obra humana por maquinaria que seja, a curto prazo, menos lucrativa, mas, a longo prazo, mais lucrativa, mandar 90% dos seus faturamentos para a matriz no exterior e o Estado ficar, no máximo, com o imposto cobrado sobre a mesma. A questão passa longe de ser uma forma de bolo, como anseiam os comunistóides anti-imperialistas ou os liberais xiitas.
Ainda assim, se não foi praticado nenhuma ação ilegal nem contra o mercado, houve crescimento econômico.
O fato de uma empresa forte chegar numa localidade e esmagar a concorrência se deve simplesmente a sua capacidade de oferecer melhores produtos a preços mais baixos.
Outro aspecto é que muitas empresas vão para países cujos habitantes não são os consumidores de seus produtos, mas apenas fornecem a mão-de-obra e recursos naturais para a sua produção.
Além disso, sua presença também cria empregos bem remunerados, que aumentam a produtividade marginal, pressionando os demais empregos a aumentarem seus salários, de acordo também com o aumento da rentabilidade das demais atividades, em virtude do aumento de capital.
Como as pessoas tem mais dinheiro, em virtude da nova fábrica, existem mais consumidores para os produtos locais e portanto aumenta a oferta de mão-de-obra e portanto o valor dos salários.
O fato do dono do capital ser do país X ou Y não muda o fato de que os empregos criados são mais vantajosos para a população local do que as práticas agrícolas, extrativistas e coletoras primitivas das quais estavam acostumados. E que a empresa estimula o crescimento e acúmulo de capital naquela sociedade, independente de repatriar dividendos para seus acionistas.
O fato do Estado tomar muito ou pouco da renda dessas empresas é uma questão da política tributária ali praticada, e em geral não é um ganho econômico o simples fato do Estado arrecadar mais. O país não é só o seu governo, a economia não precisa crescer junto com o Estado. O governo deve considerar sim se vale a pena ser hostil e espantar a empresa de seu país com tributações opressivas, ou se é melhor ser um pouco mais amigável.
Aqui é que entra o seu exemplo da China, na melhor das ilustrações.
Samael escreveu:ALELUIA! Eu não proponho utopias, acho que passei da idade. Só odeio essa sua babação pelo capitalismo. É um papo ultra-moralista e que ofende a sua inteligência. Meritocracia só existiria, de fato numa utopia qualquer. E eu não tenho problemas diretos com a herança não. Só acho uma puta hipocrisia defenderem "igualdade de condições" para os nascidos e darem "bônus" especial para alguns. E não me venha com essa, Vitor, até um imbecil ultra-milionário saberia como colocar todo o dinheiro em algum investimento de risco baixo num banco qualquer e viver de renda. Esse não é o ponto. O ponto é o mérito de se receber a herança.
Independente de qual seja a sua moral, o fato básico e que deve ser tratado é que o socialismo propõe uma divisão equitativa da renda, por ser mais justa e a título de extinguir a miséria, mas o que ocorre é sempre uma aniquilação da renda e uma generalização da miséria.
Ou seja, é um sistema cujo resultado não está de acordo com a proposta, e portanto não presta.
O capitalismo liberal é meritocrático. Se é perfeitamente meritocrático, aí depende do que se queira entender ou tomar por "perfeitamente". É aí que entra o seu teor pessoal de utopia.
Eu me dou por satisfeito se o regime não limitar a liberdade que cada um pode ter de comprar ou vender uma mercadoria, ou de sair de seu emprego ou não, ou de dizer o que quiser do governo, ou de demitir um funcionário. É claro que essa liberdade implica em considerações várias: talvez sair do seu emprego não seja uma boa opção agora que seu filho está para nascer e você precisará bancar sua família. Mas não é o governo quem restringirá sua liberdade de ação, é a sua consciência (e sua conta bancária, caso queira exercer sua liberdade de comprar um iate sem ter reservas para tanto).