Acauan escreveu:Posso parecer insensível, mas a solução do problema da educação não passa por envolvimento sentimental com os problemas pessoais dos professores. A maioria dos operários brasileiros também ganham mal e têm mil problemas e isto, por si só, não é motivo para seus empregadores lhes pagarem mais. O único motivo para se pagar melhor seus empregados é quando eles apresentam uma produtividade que justifique isto.
Não vejo sentido em ignorar os problemas que os professores enfrentam que são decorrentes da desvalorização que o governo lhes oferece. Perceber os reais motivos que os levam a ter um mal desempenho na sala de aula e procurar minimizá-los é, ao meu ver, fundamental.
É inútil exigir produtividade de um profissional que mal consegue se sustentar. Conheço professores que ganham 480 reais líquidos e precisam pegar duas ou mais conduções para chegar ao local de trabalho, o que dá uma despesa que ultrapassa os 100 reais mensais. Somente de passagem! Não é raro alguns professores pedirem dinheiro emprestado para poder pegar o ônibus de volta. Não é raro o professor adoecer por trabalhar muito e não conseguir apresentar atestado médico na escola porque não tem dinheiro para pagar uma consulta ou plano de saúde particular, ou não conseguiu atendimento em hospitais públicos ou postos de saúde, muitas das vezes por estarem em greve.
Somente melhorando as condições de trabalho dos professores, o que inclui salários decentes, é que será possível perceber com clareza aquele que realmente é bom e competente.
Acauan escreveu:A produtividade dos professores não se mede pelo número de horas-aulas dadas, mas pelo efetivo aprendizado dos alunos.
Como ninguém mede isto, então o Estado sequer distingue os professores altamente produtivos dos vagabundos.
Separar produtivos de improdutivos, recompensar os primeiros e reduzir o estrago dos vagabas devia ser uma das prioridades do choque de gestão.
Para mim está bastante claro que muitos professores (acredito que seja a grande maioria) não são mais produtivos por falta de condições, não por opção ou falta de capacidade ou potencial.
Talvez você conheça professores altamente produtivos em outros contextos, não em escolas altamente precárias dentro de uma comunidade carente. E são tais escolas que representam a maioria.
Em relação ao número de horas/aulas dadas, o que eu quis dizer foi que a produtividade a que você se refere é bastante afetada quando o professor é obrigado a dar muitas aulas para ter um salário razoável. Se o salário do professor fosse maior, a necessidade de dar aulas seria menor e as aulas tenderiam a serem mais produtivas.
Acauan escreveu:Os operadores de tráfico aéreo têm problemas parecidos, só que os aviões não caem por causa disto.
Voltando à insensibilidade, não podemos tolerar que as dificuldades de uma categoria profissional impliquem em condescendência com resultados desastrosos em uma questão de importância crucial como é a formação das futuras gerações.
Comparar um operador de tráfico com um professor, nesse caso, não faz muito sentido. Professor precisa estar com a mente fresca e sossegada, pois lida com pessoas diariamente. Precisa demonstrar amor e simpatia pelo que faz, com o tesão dos grandes conquistadores. Lidar com pessoas não é o mesmo que apertar um ou outro botão, fazer a manutenção de máquinas ou sinalizar para aviões. É muito mais do que isso! É olhar nos olhos dos alunos e fazer com que se sintam confiantes e seguros. É olhar com a ternura dos mansos e a compaixão dos verdadeiros heróis.
Não posso concordar com você, quando enquadra os professores como preguiçosos e os alunos como um bando de vagabundos. A vida não oferece para todos um painel de controle onde, com um simples toque no botão, seja escolhido o que se quer ser. A vida impõe regras. O sistema mina e sufoca as esperanças de muitos a ponto de não terem muitas alternativas, os impelindo a encontrarem caminhos sinistros como opção.
Não olho para os professores e alunos dessa forma. Todos nós somos muito mais do que isso. E, talvez, olhar para os outros, focalizando aquilo que há de bom, fazendo-os com que se sintam amados, respeitados e compreendidos, seja um ponto de partida mais correto e humano para chegarmos a uma boa solução, não só para os problemas educacionais, como também para os da vida, pois todos nós costumamos ficar mais empolgados quando percebemos que, além de nós, outros apostam e confiam no nosso valor.
Anauê Acauan!