Kilamba Kiaxi - O administrador do município angolano de Kilamba Kiaxi, José Rank Frank, negou ontem, terça-feira, que a Igreja Católica tenha tentado retirar de forma compulsiva os habitantes do bairro de Wenki Maka que ocupam os terrenos pertencentes à entidade religiosa, situação denunciada por um relatório da Amnistia Internacional (AI).
Em declarações à agência Lusa, José Rank Frank garantiu não ter sido realizada «nenhuma acção solicitada pela Igreja Católica, no sentido de retirar as pessoas do seu terreno».
«Foram gizadas algumas acções, mas não no sentido de retirar as pessoas de forma compulsiva, porque não é do carácter da igreja agir dessa forma», acrescentou Rank Frank.
Ainda segundo a Lusa, a Igreja Católica recusou-se a comentar a questão até ter analisado o relatório da AI. Uma vez estudadas as acusações, serão efectuados os devidos esclarecimentos, garantiu no entanto fonte da entidade.
De acordo com a AI, a desocupação dos terrenos, que pertenciam à Igreja Católica antes da independência do país, tendo sido devolvidos pelo Governo depois de um apelo do Papa João Paulo II, em 1992, pretende dar lugar à construção de um novo santuário.
No relatório divulgado na passada segunda-feira pela BBC, a AI afirma que as expulsões deste género em «musseques», bairros de lata angolanos, se vêm desenvolvendo desde 2001 com o objectivo de construir projectos habitacionais públicos e privados, sendo efectuadas com recurso a uma «força excessiva», tendo já criado milhares de desalojados.
Duas mil famílias que residem nos terrenos que a Igreja Católica detém no bairro de Wenji Maka estarão também iminência de conhecer o mesmo destino, acrescentava o documento da organização humanitária, onde se lê também que, em Kilamba Kiaxi, os despejos terão começado no final do ano de 2004.
O uso excessivo da força por parte das autoridades chegou a envolver «espancamentos policiais de crianças e mulheres - incluindo uma mulher grávida - e disparos indiscriminados contra residentes que tentavam proteger as suas casas», denuncia ainda a AI.
«O governo angolano está a planear o maior projecto urbano alguma vez tentado em África, e a desenvolver outros projectos de construção com o apoio do Governo chinês», acrescenta a AI, denunciando também que os moradores não tiveram direito a qualquer tipo de compensação.
De acordo com a Lusa, o Governo angolano reconheceu em 2006 o direito dos despejados a compensações, tendo assegurando estar a rever a respectiva política de habitação, designadamente nas formas de resposta à crescente pressão urbana.
Segundo a agência humanitária Christian Aid, que no mês passado terá também criticado estas expulsões, Luanda vive mesmo uma grave crise habitacional, com o crescimento da população nos passados 30 anos de 400 mil habitantes para cerca de 3 a 4 milhões.
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Só por existir, só por duvidar, tenho duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar... (J.P.)