SickBoy escreveu:Uma outra maneira de se verificar a relação entre pobreza e violência seria comparando os índices de violência em países onde ocorreu empobrecimento da população, devido a uma recessão econômica, por exemplo. pesquisando um pouco, já achei um caso onde fica evidente a correlação. argentina
http://revistaepoca.globo.com/Revista/E ... 21,00.htmlViolência na Argentina
Argentinos estão assustados com aumento da violência
Janaína Figueiredo, correspondente do jornal O Globo
O medo tomou conta de Buenos Aires. No rastro da crise econômica que assola o país, o aumento da violência nas últimas semanas tem deixado os moradores da capital argentina, e sobretudo das cidades do cinturão industrial da província de Buenos Aires, em estado de paranóia e pânico. Nos primeiros seis meses deste ano foram registrados 34 mil assaltos na província de Buenos Aires. Na capital, ocorrem, em média, 550 delitos por dia.
A onda de seqüestros-relâmpago, desencadeada após o confisco dos depósitos bancários (atualmente a população guarda US$ 28 bilhões em casa), está mudando o estilo de vida dos argentinos, e obrigando o governo a adotar medidas de emergência. O presidente Eduardo Duhalde está estudando a possibilidade de convocar as Forças Armadas para que se encarreguem da vigilância nas fronteiras, e assim poder deslocar parte dos agentes da Polícia Federal e da Gerdarmeria (corpo especial das forças de segurança) para regiões de maior conflito, como a província de Buenos Aires.
Todos os dias são noticiados casos de seqüestro na TV. De empresários a filhos de comerciantes, a lista de vítimas é cada vez maior. Na última segunda-feira, foi encontrado o corpo de um jovem de 17 anos, Diego Peralta, após 38 dias de busca. No mesmo dia, a mulher de um empresário era libertada, na província de San Juan, depois de quatro dias de cativeiro.
percebe os tipos de crimes? os mesmos que afligem a nossa sociedade.
Hummm... primeiramente, como já mencionei, não acho que não haja relação alguma entre as duas coisas... mas acho que é uma relação mais complexa do que isso pode fazer parecer. Acho diferente uma crise econômica súbita e uma situação de crise/pobreza mais "estável". Talvez possa se comparar com, por exemplo, suicídios e a quebra da bolsa, ou outras coisas. Para uns que estavam acostumados a certo modo de vida, e de repente perdem tudo, o impacto emocional é diferente do que ter tido sempre o que consideram como sendo "nada" (e que pode talvez até ser mesmo nada). Ainda tem o comportamento de bando, gerando um pânico irracional e contagioso.
Aí tem um pequeno efeito "bola de neve", mas principalmente cultural, e apenas incidentalmente sócio-econômico. Vários desses cuja moral individual não condena os crimes que optaram por fazer - muitas vezes tendo tido inclusive pais e familiares que nunca recorreram ao crime - podem ser influentes e acabam formando grupos dos "fodões", diferentes dos "manés" que ficam ralando, sendo "peão" para não ter dinheiro para nada e ainda não conseguir "impor respeito".
Sim, o crime da status. mas percebe que se os peões talvez não ganhassem tão pouco eles teriam um pouco mais de resistência a se aliar ao crime?
Com certeza, há sempre uma relação de custo e benefício subjetiva.
E sim, de forma geral, o benefício ou a tentação potencialmente diminui, de forma geral, com quanto mais já se tiver - para alguém que já tem um empreguinho mais ou menos, mas garantido, não vale a pena roubar um pão, mas talvez a perspectiva de roubar um toca fitas ou um carro fosse mais recompensadora; para alguém com um emprego já um pouco melhor, talvez tivesse que ser necessariamente um carro bom, ou um banco, e por aí vai.
Mas ao mesmo tempo, essa relação de quanto o crime parece compensar ou não não desaparece simplesmente com igualdade social. Se toda riqueza de alguma forma fosse homogeneamente distribuída para todos, ainda assim teriam aqueles que quereriam ter mais e considerariam válido alguma ação criminosa para alcançar esse algo mais. E talvez para alguns valha a pena até mesmo um crime para ter só um pouquinho mais.
Soma-se isso ao popular meme de que a culpa do crime é a sociedade injusta, e já se está dando de bandeja a racionalização que uns precisariam para cometer um crime qualquer.
Não se está dando argumentação para que bandidos cometam crimes. ninguém sobe o morro e diz que aqueles pobrezinhos são injustiçados e tem como única saída pegar em armas para lutar pelos seus "direitos", ou aprova e incentiva quando champinhas da vida esquartejam pessoas a sangue frio.
Eles não são "aprovados" individualmente, mas são praticamente desculpados, vide o texto da Felinto. A culpa é da sociedade, e eles são meras vítimas; aqueles que chamamos de vítimas, são catalizadores de uma "violência probabilística" que seria produto da desigualdade ou da pobreza. É um processo irracional, natural como uma descarga elétrica que iguala as cargas entre dois objetos, com a diferença de que a "carga monetária" não é necessariamente igualada, e a "carga vital" de um dos "objetos" é muitas vezes eliminada, talvez meio análogamente à perda de energia que se tem em todos os processos físicos.
E não precisa se subir num morro e dizer pessoalmente; há TV, rádio, boca-a-boca, espalhando as idéias.
Aliás, se a simples aprovação ou desaprovação fossem influenciar a criminalidade, então a quantidade de manifestações pedindo paz no rio já teria tornado a cidade a mais segura do Brasil.
A coisa não funciona de maneira tão simples. Não é uma questão de aprovação ou desaprovação, mas de banalização e estabelecimento de culturas. Como tradições diversas, como a separação de trabalhos entre homens e mulheres, cada um com seus papéis definidos, tipos de profissões e ocupações que cada um deveria ter idealmente, etc. As pessoas então se guiam pelo padrão de como devem agir por serem homens ou mulheres. E de forma parecida, há expectativas culturais de perfis sócio-econômicos também.
Considere algumas informações da wikipédia:
The Pygmalion effect can also result from racial expectations. This effect is seen during Jane Elliott's blue-eyed versus brown-eyed discrimination exercise, where third graders were divided based on eye color. One group was given preference and regarded as "superior" because of their eye color, with the other group repeatedly being considered inferior in intelligence and learning ability. On the second day of the experiment, the groups were completely reversed, with those oppressed against one day being regarded as superior the next.
Elliott gave spelling tests to both groups on each day of the experiment. The students scored very low on the day they were racially "inferior" and very high on the day they were considered racially "superior." This was a glaring example of the Pygmalion effect based on racial prejudice. The only difference between the two days was the racial argument for or against the students.
http://en.wikipedia.org/wiki/Pygmalion_effect

(não encontro o artigo, tem vários sobre QI, e talvez o quadro já tenha sido removido)
Outro artigo pertinente ainda:
http://en.wikipedia.org/wiki/Stereotype_threatE todo mundo já ouviu aqueles argumentos do tipo "ah, mas eu nunca vou conseguir subir na vida, porque sou X" (X= pobre, negro, brasileiro, do interior, ou outra coisa), até aqueles "para mim, que sou X, conseguir subir na vida, só se for no crime mesmo, sendo X não tem jeito, ninguém consegue", ou "a injustiça social é foda. O único jeito que um X tem para viver se a situação apertar é pegar uma 12 e ir pra luta"*.
Bem parecidos com algumas coisas sobre capacidades ou papéis femininos e masculinos.
*BTW, o autor de um livro chamado, se não me engano, "Capão pecado", falou algo praticamente nessas mesmas palavras durante uma entrevista no programa "vitrine", na tv cultura, quando esse ainda era com o Marcelo Taz.
E isso, claro que não tem efeito apenas como uma espécie de conformismo, pela pessoa aprender que esse é simplesmente o modo que as coisas são, mas é reforçado pelos preconceitos serem muitas vezes compartilhados com outras pessoas, o que acaba até fazendo com que esse tipo de coisa "se torne realidade". A parte da violência em si é até alimentada por um ódio de classes inverso a esse do texto da Felinto, de pessoas mais pobres invejarem aqueles que tem mais, criticando muitas vezes por não terem feito nada, por não terem que ter pego trem, por comerem iogurte, e etc. "Playboys" e etc. Ou até como a própria autora do texto exemplificou, simplesmente pelo nome da pessoa não ser um nome "simples", não ser tão "do povo", já é algo recriminável, e uma forma de agressão aqueles com sobrenomes mais populares. Isso me assusta, de verdade (apesar dos meus dois sobrenomes serem totalmente "do povo").
E isso de certa forma até faz o sucesso financeiro ser algo não só fora do estereótipo em que alguns se vêem enquadrados, mas como algo indesejável para não se identificarem com aqueles playboys que tanto desprezam.
reconhecer isso nada tem a ver com pedir impunidade, ou vontade de "levar pra casa", como dizem aqui. Apenas se entende que soluções como a diminuição da maioridade penal ou mesmo a pena de morte pouco influenciariam na diminuição da criminalidade.
Sobre maioridade penal, não estou bem certo, acho que se não fosse algo bem cuidadoso, na verdade mais "emendas" para cuidar de "aberrações" em fases de transição dos 17 aos 18 e coisas do tipo, não deveria ser feito, porque o efeito seria praticamente apenas diminuir a idade necessária para os laranjas.
Eu não acho que pena de morte seja "a solução"; faz se isso e dormimos tranquilos, esperamos e daqui a dois meses, não haverão mais crimes. Acho um recurso válido, um fim menos dispendioso para elementos irrecuperáveis, e principalmente para aqueles cuja argumentação de serem pobrezinhas vítimas da desigualdade social não consegue deixar de ser ridícula por maior que for a articulação verbal do defensor. Como estupros e assassinatos despropositados com requintes de crueldade. Queimar pessoas vivas, por favor, se a desigualdade social causa isso eu sou o Papai Papudo.
"inclusão social", por mais bobinha e politicamente correta que possa parecer, ainda acho que seria a única medida eficaz para combater a violência. ou isso, ou napalm na favela.
Eu não tenho nada contra a melhoria das condições econômicas de todos, de jeito nenhum. Só acho que é algo em boa parte distinto do problema da violência, e que se há relação causal pobreza -> violência, a inversa também é defensável, e a melhoria das condições econômicas pode ter como pré-requisito a diminuição da violência também.
eu considero que esquecer que somos o segundo país em desigualdade social no mundo, e não perceber os malefícios que
isso trás, é muito mais prejudicial. sobretudo em pessoas bem instruídas
Bem, como eu disse antes, acho que o problema não é a desigualdade... fossem todos igualmente pobres, supostamente ainda haveriam muitos que estariam dispostos cometer crimes para ter mais, dificultando apenas em que teriam que roubar menos, de mais pessoas, para ter o mesmo que poderiam roubar de uma única pessoa rica numa situação de desigualdade social prévia.
Também somos um dos países com as mulheres mais belas do mundo, segundo muitos, e isso não justifica em nada que hajam ou que houvessem as taxas mais elevadas de estupro, e a "igualdade estética" ou "barangalização" feminina igualmente não deveria ser vista como a solução para esses crimes, mas o combate ao crime em si.