Fonte
A decisão do tribunal corre o risco de se tornar, no final, apenas simbólica, já que ainda pode vir até um perdão presidencial - ou novo julgamento, ou então uma apelação (o advogado de defesa promete pedidos nesse sentido). Mas já é um marco, pois finalmente uma autoridade da administração Bush foi condenada por fazer o que mais tem sido feito nesse governo: mentir.
Irving Lewis ("Scooter") Libby foi condenado em quatro das cinco acusações feitas a ele por mentir sob juramento ao FBI (Bureau Federal de Investigações) e ao Grande Júri, caracterizando perjúrio e obstrução da Justiça. Libby não é um qualquer. Chefiava o gabinete do vice-presidente Dick Cheney, à frente daquilo que o ex-secretário de Estado Colin Powell chamou de "Gestapo" e "governo paralelo".
O persistente promotor federal Patrick Fitzgerald declarou-se "gratificado" pelo veredicto. Mas observou que aquele resultado, na verdade, é muito triste: "É triste termos uma situação na qual uma autoridade de alto nível, que operava no gabinete do vice-presidente, obstrui a ação da Justiça e mente sob juramento. Eu gostaria que não tivesse acontecido. Mas aconteceu".
Uma lambança devastadora
O caso é mais uma lambança devastadora do governo Bush. Em sua origem esteve o "vazamento" deliberado das autoridades à mídia, numa operação de vingança contra o ex-embaixador Joseph Wilson. Ele criticara publicamente uma mentira do próprio presidente, George W. Bush, que dissera em sessão conjunta do Congresso que Saddam Hussein tentava comprar urânio enriquecido na África.
Foi essa uma das mentiras notórias, invocadas como verdade, na busca de apoio para a obsessão de Bush-Cheney de invadir o Iraque. Como Wilson expôs as provas da mentira, o governo vazou a jornalistas levianos a informação de que a mulher de Wilson, Valerie Plame, era operadora de ações encobertas da CIA - o que, no desdobramento, deixou-a impossibilitada de continuar no emprego.
A revelação da identidade de agentes secretos é crime federal - ironicamente, em razão de lei dos próprios republicanos, no governo Ronald Reagan, para deter a sucessão de revelações na mídia sobre a ação da espionagem americana no mundo. Assim, sob pressão da CIA, o Departamento de Justiça viu-se forçado a desencadear uma investigação para descobrir de onde partira o vazamento.
Mídia entrega suas fontes
Como a investigação fora gravemente prejudicada pela ação subterrânea no próprio governo (para fazê-la fracassar) o promotor decidiu investigar Lewis Libby - que mentira deliberadamente, sob juramento, a investigadores do FBI e ao Grande Júri, na ânsia de obstruí-la. Ao mesmo tempo, o caso ganhou as manchetes por envolver jornalistas conspícuos que recebiam vazamentos oficiais.
O papel da mídia no caso é quase tão melancólico quanto o do governo Bush, já que se colocou a serviço do poder e não da verdade. Nem o "New York Times" escapou. Sua repórter Judith Miller, que recebera o vazamento mas não o publicara, achou que ganharia status de heroína da imprensa. Negou-se a depor, passou semanas na prisão e afinal, "autorizada" por Libby, rendeu-se. Identificou-o como sua fonte.
Bob Novak ("Chicago Sun-Times", CNN), Marc Cooper (revista "Time") e Tim Russert (apresentador do "Meet the Press" da rede NBC) foram outros intimados a depor. Cooper reconheceu ter ouvido a informação de Libby. Russert refutou a alegação de Libby segundo a qual só soubera através desse jornalista que Valerie Plame era agente da CIA. "Eu nunca disse isso, pois não o sabia", afirmou Russert.
O confronto Libby-Rove
O caso contribuiu ainda para estabelecer o papel de Miller (e outros) como receptadora habitual de vazamentos nos corredores do poder - alguns veiculados na primeira página do "Times", sobre as armas de destruição em massa do Iraque que, na realidade, não existiam. Sob o impacto das sucessivas revelações, a jornalista viu-se compelida a se demitir do jornal.
Mesmo não tendo sido adequadamente apurada, a operação de vingança da Casa Branca contra o casal Wilson-Plame motiva hoje uma causa cível da ex-agente da CIA contra Bush, Cheney, Libby e Karl Rove - este o alto assessor da Casa Branca que dirigira as duas campanhas do presidente. Ao mesmo tempo, advogados de Libby acusaram a equipe de Bush de tornar Libby bode expiatório para salvar Rove.
A pena para os crimes de Libby vão a 30 anos de prisão, mas ninguém duvida de que, mesmo se os expedientes já anunciados pela defesa não derem em nada, dificilmente a sentença será de um ou dois anos. E antes de cumpri-la ele ainda pode ganhar o perdão presidencial - como Oliver North e Eliot Abrams, condenados no escândalo Irã-Contras. Depois, ganhará na certa um emprego de luxo no American Enterprise Institute "think tank" da direita.
Justiça condenou a Gestapo de Cheney
Justiça condenou a Gestapo de Cheney
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Re.: Justiça condenou a Gestapo de Cheney
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¿Dónde está el Hexa?
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O grito liberalista em favor da prostituição já chegou à este fórum.
Lamentável...
O que vem de baixo, além de não me atingir, reforça ainda mais as minhas idéias.
The Only Difference Between Suicide And Martyrdom Is Press Coverage
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Re.: Justiça condenou a Gestapo de Cheney
Poderiam condenar é o ex-chefe dele a cadeira elétrica.
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