PABLO KASCHNER por Ramon Mello
Quem nunca se divertiu assistindo às trapalhadas e aventuras do Chaves e Chapolin, no meio da tarde? Pois foi essa paixão e admiração pelos seriados mexicanos que inspiraram o jornalista Pablo Kaschner a escrever o livro “Chaves de um sucesso” (Editora Senac), em que conta histórias e curiosidades dos personagens que ultrapassaram barreiras e conquistaram o mundo.
“Não contavam com minha astúcia”, brinca o autor diante do famoso bordão.
Mas se engana quem pensa que o livro é uma síntese superficial dos programas. Existe sim um inevitável saudosismo dos anos 80 (que tem aflorado nos últimos anos), mas o trabalho é resultado de uma criteriosa pesquisa, que a princípio serviu de base para conclusão de sua monografia na faculdade de Rádio e TV, da UFRJ. Pablo oferece, em um texto leve e muito bem humorado, curiosidades, entrevistas e um ponto de vista crítico sobre um seriado que conquistou o Brasil e o mundo há mais de vinte anos.
Sim, o jornalista carioca, de apenas 25 anos, é um “chavemaníaco”! E a partir de hoje oficializa a homenagem aos personagens que passearam pela nossa infância e que, em muitos casos, ainda permanecem na fase adulta.
Conversei com o Pablo no café do Cinema Arteplex, em Botafogo. Cheguei com antecedência e, antes de iniciar a conversa, confundi um cinéfilo cabeludo com o autor... Ele é barbudo, cabeludo e torcedor do Flamengo – chegou feliz com a camisa do time, por conta da vitória, no dia anterior, contra o Madureira. Um papo tranqüilo com um escritor tímido, inteligente e extremamente bem humorado. Confira!
Click(IN)VERSOS – Pablo, como surgiu a idéia de escrever um livro sobre os seriados Chaves e Chapolin?
Pablo Kascher – Eu estava para concluir o curso de Rádio e TV, na UFRJ, e precisava escolher um tema para a monografia. Eu não gosto muito da linguagem acadêmica, sempre achei meio parada e difícil... Então resolvi escolher um tema que, tanto na forma quanto no conteúdo fossem leves, fugindo bastante do mundo acadêmico. Meu orientador da monografia, que é o projeto inicial do livro, falava que eu não poderia escrever tão informalmente, mas eu fui meio rebelde e com causa... (RISOS). Mas por fim consegui encontrar um meio termo para execução da pesquisa, depois pra transformar em livro eu não tive tanta dificuldade. Acrescentei o conteúdo sobre o Chapolin, porque a monografia foi somente sobre o Chaves.
Click(IN)VERSOS- Foi difícil encontrar um editora que apoiasse o seu projeto?
Pablo Kascher – Eu defendi a monografia, em seguida registrei e comecei a mandar para algumas editoras. Só que no dia que consegui uma editora, um livro sobre o mesmo tema foi lançado em São Paulo. Mas aí não desisti, estava disposto a defendê-lo. Várias pessoas me diziam que havia um apelo comercial grande, pois muita gente gosta do Chaves e do Chapolin...
Click(IN)VERSOS- A idéia do projeto é saudosista, uma tentativa de resgatar algo da sua infância, dos anos 80?
Pablo Kascher – Não. É verdade que está na moda essa fase anos 80 e as festas Ploc, mas não foi com essa intenção que escrevi. Claro que todo mundo tem uma ponta de saudosismo do que já passou, mas o intuito foi escrever sobre um assunto que eu gostava, entender o porquê desse sucesso e poder mostrar isso para as pessoas. É engraçado, pois, mesmo quem cresceu no meio de videogames, também gosta do seriado do Chaves, que é tosco e tem uma estética anos 70, simplória, que parece que você vai dar um peteleco no cenário e ele vai cair...
Click(IN)VERSOS- Quanto tempo você levou para concluir todo o trabalho, da monografia à publicação?
Pablo Kascher – Acho que demorei quase 3 anos, desde o final de 2003 que me dedico a esse projeto. Eu não consegui uma editora facilmente, ela desistiu por causa das outras publicações que já existiam sobre o tema e depois voltou atrás. Eu cheguei a ler o outro livro que foi lançando nessa época e notei que o tema não havia se esgotado e que a abordagem era completamente diferente da minha. Então continuei insistindo, mandando para outras editoras. Logo consegui outra, que foi importante para o livro – eles me deram o toque sobre acrescentar o estudo sobre o Chapolin, que até então não existia. Mas acabei fechando com uma terceira editora, a SENAC, por questões comerciais.
Click(IN)VERSOS – O que foi mais difícil na sua pesquisa?
Pablo Kascher – Acho que o mais difícil foi falar com o Bolaños, que é o criador da série e faz o Chaves. Hoje ele tem 78 anos. Demorou quase seis meses só para a assessora dele responder o meu e-mail. Foi um longo processo. Aconteceu uma cúpula de mídia em 2004 e eu fazia estágio numa produtora, então pude participar do evento. Lá conheci o pessoal da Televisa (os exibidores do seriado) que passaram o e-mail da filha do Bolaños, que passou para a assessora dele e que depois repassou o e-mail para ele. O Bolaños é muito querido no México, o apelido dele lá é Chesperito – que significa pequeno Shakespeare. Mas há intelectuais que o criticam, acham que o México não precisa ser retratado pela pobreza...
Click(IN)VERSOS- Já entregou o livro para o Bolaños?
Pablo Kascher – Não, já enviei um e-mail para a assessora dele pedindo o endereço, mas ela ainda não respondeu. Mas já foi divulgado que ele virá ao Brasil ainda esse ano, se ele vier eu vou à caça!
Click(IN)VERSOS- Como foi entrevistar os dubladores da série?
Pablo Kascher – Eu os entrevistei em um encontro de “Chavesmaníacos”, há mais de um ano. Foi ótimo. Eles foram super simpáticos, fiz um bate-papo com eles. A Cecília Lemes, que faz a Chiquinha, e o Nelson Machado, que faz o Quico, são de São Paulo. Só tem um que mora no Rio, que é o Carlos Sado, que faz o Seu Madruga. Uma vez eu pedi que ele gravasse o recado da minha secretária eletrônica, foi engraçado... Ah, teve o caso do Gustavo que é um fã que virou dublador, fez o teste para o desenho e agora dubla o Inhonho.
Click(IN)VERSOS – Qual foi a informação mais curiosa que você descobriu?
Pablo Kascher – O carteiro Jaiminho, um velhinho que fala o bordão “Sou de Tangamandapi”, foi o mais curioso. Eu descobri que essa cidade realmente existe. E perto dessa cidade tem outra chamada San Ramon, fazendo referência ao ator Ramón Valdez, o Seu Madruga...
Click(IN)VERSOS- Por que um seriado consegue arrastar uma legião de fãs – crianças e adultos – durante décadas, mesmo as pessoas sabendo que a história é sempre a mesma?
Pablo Kascher – Tem a estratégia da repetição, as pessoas gostam de ver aquilo que elas já conhecem. No livro eu até citei o Umberto Eco (teórico de comunicação), sobre a teoria do espelho: o espectador vê aquilo e quando sabe que vai acontecer o que ele estava esperando, se sente satisfeito... Mas eu ainda me surpreendo com os episódios, o roteiro é simples, mas é ótimo. Na verdade, não existe uma fórmula de bolo para explicar o sucesso do Chaves. Se existisse, as pessoas já teriam copiado. Mas no livro eu explico direitinho....(RISOS).
Click(IN)VERSOS- Em quantos países o seriado ainda é exibido?
Pablo Kascher – Eu não tenho o número exato. Só na América Latina são 17 países: Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, República Dominicana, Uruguai... Mas isso varia também. Às vezes, o programa sai do ar tanto no México como no Brasil. O Sílvio Santos sempre tira do ar, acho que nem ele sabe o que o tem na programação dele...(RISOS) Mas no Brasil ele é exibido desde 84, em agosto faz 23 anos. E no México ele começou em 71.
Click(IN)VERSOS- Por que o Seu Madruga é personagem considerado cult no Brasil?
Pablo Kascher – Talvez pelo lado malandro dele, que lembra o “jeitinho brasileiro”. O fato de não gostar de trabalhar, o aluguel atrasado há 14 meses e também a interpretação que ele faz que é bastante próxima.
Click(IN)VERSOS – Por que as pessoas se identificam tanto com o Chapolin, um anti-herói, um personagem tão avesso?
Pablo Kascher – Acho que porque ele é mais humano. Eu até falo isso no livro, o que adianta ser valente se você é indestrutível? Assim é fácil! O Chapolin não, ele é fraco, medroso, mulherengo, é tudo que não se espera de um herói. É contraditório mesmo, pois sentindo medo ele consegue reforçar o heroísmo dele. Ele é humano, as pessoas se identificam porque também têm defeitos.
Click(IN)VERSOS- Quais são os personagens que você mais gosta?
Pablo Kascher – Eu gosto muito do Seu Madruga (RISOS) e do Quico. Do Seu Madruga por causa do ator (Ramón Valdez), que eu achava excelente, e do Quico é uma certa identificação: sou filho único, de mãe viúva, sou mimado, quando era criança não gostava de perder as brincadeiras...(RISOS) Mas hoje em dia eu não sou mais assim não, tá! Ah, eu fui criado numa vila também.
Click(IN)VERSOS – Você escreve ficção?
Pablo Kascher – Sim, eu escrevo contos. Já tenho algumas idéias, mas no momento estou voltado para esse projeto. O primeiro livro que escrevi foi um diário que fiz durante uma viagem à Europa, aos 7 anos, a pedido da minha avó. Esse é um projeto que tenho vontade de publicar. Mas eu já lancei um livro de contos e crônicas cômicos, em parceria com outros autores. Chama-se Humor, tô vivo! (RISOS). Foi uma produção independente feita por sete autores, a maioria mulheres...
Click(IN)VERSOS – Você também escreve num blog de humor chamado Mico na Rede. Como é isso?
Pablo Kascher – É um blog feito por cinco amigos, nem sempre bem humorados...(RISOS) A maioria é da área de comunicação, mas tem um “errado” que estuda Direito. Faz tempo que estou atolado com o livro e em falta com eles, mas estou voltando!
Click(IN)VERSOS – Você pretende tentar publicar em outros países?
Pablo Kascher – Eu ainda não sondei isso com a editora, mas mercado não falta! Pelo menos na América Latina... Acho que é só revisar o livro e fazer as adaptações necessárias. Mas no Brasil o livro já está à venda, a distribuição é nacional!
Click(IN)VERSOS – E o recado que você deixaria para galera?
Pablo Kascher – Gostaria que lessem o livro! É um trabalho com humor, mas tem seriedade na pesquisa. Eu costumo dizer que, para quem gosta de Chaves, é um prato cheio. E considerando que Chaves sempre está faminto, nada melhor que um prato cheio... (RISOS)
FONTE:
[center] http://wwwb.click21.mypage.com.br/myblo ... log.com.br [/center]
CHAVES DE UM SUCESSO
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"...Transformam o País inteiro num puteiro, pois assim se ganha mais dinheiro..."
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Re: Re.: CHAVES DE UM SUCESSO
betossantana escreveu:Evoluindo, você é o Johnny?
Não.

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