Acauan escreveu:Najma escreveu:
Não por acaso, esse direito à vida é celebrado nas religiões onde a dignidade humana é apontada como uma dádiva divina e que só cabe a deus destituí-la pela hora da morte natural e não imposta por outros seres humanos... Mais uma vez, e aí, como ficamos, Acauan?
Dito isto, cabe lembrar, Lígia, você está falando com o Índio Velho e não com o núncio apostólico.
As diferenças entre prevenir a concepção e abortar são óbvias e esta discussão só interessa ao Vaticano, não a mim.
De minha parte coloquei um texto inicial que questiona o argumento mais frequentemente repetido na defesa do aborto, apontando nele uma contradição intrínseca a partir de uma análise guiada totalmente por premissas materialistas.
Até o momento só vi uma ou duas contestações a este ponto central de minha tese, ficando as demais no discurso partidarista, muitas vezes emocional, mas que não vêm acompanhadas de uma sustentação racional ou de um falseamento racional do argumento contrário.
Meu ponto é muito simples.
Conflitos são resolvidos pelo direito ou pela força.
Se a questão do aborto deve ser tratada como questão de direito, deve-se demonstrar de onde vem o direito de cada parte e no que se sustenta.
Fora disto, resta a opção da força.
O feto não tem força alguma, logo é indefeso diante da força da mãe, que tem o poder de destruí-lo quando quiser.
Por outro lado o Estado, através da lei, é mais forte do que a mãe e tem o poder de proibi-la de fazer isto e de lhe impor sanções caso desobedeça.
Se vêem outro modo racional de abordar o tema, me informem.
Acauan,
Do meu ponto de vista, eu diria que uma vez que nós criamos os códigos e leis que seguimos, tanto faz se são leis pretensamente divinas ou meramente a cargo dos legisladores. O fato é que nós determinamos o certo e o errado mediante o que afete e englobe o maior número possível de indivíduos dentro de um grupo humano, mesmo que para isso tenhamos que calar as vozes isoladas que destoem da comunidade. E sim, a noção do certo e o errado visa permitir que caminhemos com o menor número percalços como um todo, a despeito dos escorregões de cada um. O problema da proibição do aborto é o fato de mulheres continuarem submetendo-se a ele mesmo com o estado vetando. E sim, mesmo que haja permissão e até assistência, isso não tiraria a utilidade das fazedoras de anjos de fundo de quintal nem do uso das beberagens passadas de geração a geração porque a opção de impedir uma gestação indesejada é uma escolha íntima da mulher mesmo que o estado legislado majoritariamente por homens, não leve isso em consideração.
Bem aqui, é interessante notar um ponto. Durante as primeiras semanas de gestação, o organismo da mulher trata o óvulo fecundado recém instalado como um corpo estranho ao mesmo. Daí as ânsias de vómito e a indisposição que muitas mulheres sentem. O fato é que a natureza não segue as leis que nós estipulamos. Nosso corpo reage a corpos estranhos de forma a expurgá-los e isso acontece até mesmo com mulheres que desejam engravidar e que sofrem muito quando nesse mesmo período acontece um aborto espontâneo motivado pelas reações hormonais e metabólicas. A minha pergunta é: se o corpo da mulher reconhece o zigoto, o embrião nos primeiros estágios como um corpo estranho e não como um "decantado em prosa e verso filho parte de si mesmo", qual o porquê de, nesse mesmo período, nãos e dar o direito à MULHER escolher entre ajudar as reações físicas de repúdio ao corpo estranho permitindo que ele seja expulso, ou seguir com a gestação?
Não tenho a pretensão de estar tratando o assunto com argumentos racionais mas note:
- As leis que seguimos são feitas por seres humanos, não importa se divinizadas ou não, de onde vem a "dignidade humana" ou a "alma" que estamos negando a um abortado.
- A lei que proíbe o aborto no Brasil é uma lei que visa o natalismo e não preservar o direito das mulheres de escolherem o tempo em que querem engravidar, caso os métodos contraceptivos falhem.
- Nós agimos na contramão do que é natural quando fazemos sexo heterossexual com intercurso vaginal sem fins de procriação.
- Nós acalentamos um óvulo fecundado como um "ser humano" passível de ser "assassinado" caso esteja instalado em um útero de um corpo que por todos os meios, irá tentar expurgá-lo por tratá-lo como um corpo estranho durante as primeiras semanas.
Não é muita contradição junta, não? Em que ponto está a razão?
Beijos