Ateísmo, Liberalismo e Moral

[Apáte]

Ótimo texto.

[Apáte]

Uai, o Janer Cristaldo não escreve mais pra lá...

[André]

Ateísmo, Liberalismo e Moral

© 2004 MidiaSemMascara.org

Quando pedi espaço à editoria do Mídia Sem Máscara, pensava em apresentar um contraponto ao artigo de Nivaldo Cordeiro, intitulado "Os Ateus", que a meu ver revelou um posicionamento preconceituoso, ainda que sincero, por parte do autor quanto ao ateísmo. Acabei escrevendo, inicialmente, um texto muito longo, que de tão extenso, se não fosse recusada sua publicação, acabaria não sendo lido por nenhum dos leitores até o final. Feitos os devidos cortes e adequações, o que segue é menos a tentativa de estabelecer um debate abrangente sobre o ateísmo que uma tentativa de expôr, didaticamente, por meio de perguntas e respostas, minha opinião sobre as questões que envolvem o ateísmo, o liberalismo e a moral:

1) Não há uma incoerência no fato de alguém ser ao mesmo tempo liberal e ateu?

Por que haveria? Que o liberalismo tenha surgido do caldo cultural formado pelas tradições político-filosóficas greco-romanas e religiosas judaico-cristãos, vá lá. Daí também veio outra invenção ocidental, a ciência, e nem por isso causa espécie que a maior parte dos cientistas contemporâneos sejam ateus. Os ateus, bem como pessoas de outras religiões, que abraçam os princípios liberais o fazem porque os consideram melhores que outros. E esse "melhores" é juízo de valor que se aplica apenas aos princípios em si, não a suas origens. Em outras palavras, se uma idéia (ou um conjunto de idéias, como é o caso do liberalismo) é boa, pouco importa de onde ela vem.

2) Mas não há uma incompatibilidade entre a moral ateísta e a moral do liberalismo, que é baseada em grande parte em valores cristãos?

Não, em primeiro lugar porque não existe o que possa ser chamado de moral ateísta. Em segundo lugar, o fato de alguns dos valores caros ao liberalismo terem sido herdados do cristianismo é algo que só pesa negativamente para um ateu que tenha algum tipo de preconceito irracional contra a religião. O que não é, obviamente, o caso dos liberais que se declaram ateus.

3) Mas afinal de contas, o que é um ateu?

Um ateu é alguém que não acredita em deuses. Essa descrença é o único pré-requisito a ser satisfeito para que alguém possa ser considerado ateu. O ateísmo, por se resumir unicamente à falta de fé em qualquer tipo de divindade, não é um tipo de doutrina que impõe a seus adeptos normas de conduta específicas ou que pressupõe essa ou aquela afiliação a uma corrente política ou filosófica. Talvez isso explique porque, em oposição a boa parte dos religiosos, que costumam apresentar o típico comportamento de rebanho, os ateus apresentam uma variedade tão grande de comportamentos e opiniões, o que torna inútil -- e até mesmo injusto -- querer construir um padrão de ateu.

4) E o que justifica a não crença em Deus?

A ausência de evidências sensíveis a favor da existência de Deus, principalmente. Para os ateus, um ser que além de humanamente incompreensível também é humanamente indetectável não difere muito de algo inexistente. A idéia que muitas pessoas têm de que o ateísmo é um tipo de revolta contra Deus, portanto, não procede.

5) Mas sem o temor a Deus, o ateu não tende ao comportamento imoral?

Depende do que se chama de comportamento imoral. Para os freqüentadores de algumas igrejas evangélicas, é imoral uma mulher usar calça ou cortar o cabelo. A esse tipo de comportamento imoral, por ser baseado numa noção de imoralidade que de tão tacanha beira o grotesco, não só os ateus como a maioria dos teístas estão bastante propensos.

Aproveitando o ensejo, é estranho que seja comum da parte dos teístas a associação do ateísmo com a imoralidade e mesmo com uma criminalidade latente (fundamentada em não sei que estudos, já que nunca vi um ser apresentado), e não, por exemplo, com a ciência ou com o progresso tecnológico. Seria uma associação ainda assim falaciosa, já que não justifica o ateísmo tanto quanto a outra não o torna injustificável, mas ao menos seria melhor fundamentada.

6) A militância ateísta é um perigo para o Ocidente?

Eu não sei o que se quer dizer com militância ateísta. Salvo alguns sites da Internet, como o da Sociedade da Terra Redonda e uma ou outra ONG norte-americana, desconheço outras formas como os ateus "militam" (militância socialista não é necessariamente militância ateísta, como comprova a senadora Heloísa Helena, que em entrevista concedida à Caros Amigos disse ter no "camarada" Jesus uma das suas fontes de inspiração). Não existem equivalentes ateístas dos templos religiosos, não há programas de televisão ou de rádio defendendo o ateísmo, nunca ouvi falar de ateus abordando pessoas na rua como fazem as Testemunhas de Jeová e ainda não tive a oportunidade de ver nas horrendas propagandas eleitorais algum candidato com plataforma ateísta. De qualquer forma, mesmo que ateus tivessem tanto espaço na mídia e fizessem tanto proselitismo quanto os R. R. Soares e similares que pipocam aqui e acolá, a relação entre um eventual sucesso do proselitismo ateísta e o "fim da civilização ocidental" é apenas um declive escorregadio, ao menos para qualquer um que não veja uma relação necessária entre religiosidade e moralidade.

7) Por que se associa tanto o ateísmo ao comunismo?

Porque o pai do comunismo, Karl Marx, infelizmente (para os ateus), era ateu. Se fosse católico, como o Frei Betto, e ao invés de chamar a religião de "ópio do povo" se pusesse a reinterpretar a Bíblia para, por meio dela, justificar o comunismo (como faz o dito frei), estaríamos nos perguntando hoje por que se associa tanto o catolicismo ao comunismo...

Fonte

"Porque o pai do comunismo, Karl Marx, infelizmente (para os ateus), era ateu."

Infelizmente para ele.O que Marx produziu tem seus equívocos, mas ele foi responsável por grande contribuição a estudos nas ciências humanas e até hoje muitos trabalhos são produzidos com base, mesmo que apenas parcialmente, em sua contribuição.

Fazer uma associação mecânica entre Marx e, por exemplo, o Socialismo real na União Soviética mostra desconhecimento do que Marx defendia.Marx defendia o que chamou de socialismo cientifico, que guarda semelhanças e diferenças para com regimes socialistas.Mais do que isso sua contribuição se estende em diversos trabalhos, mesmo aqueles que veementemente discordam dele, podem perceber a qualidade de seus textos, e as reflexões que podem levar.

[Apáte]

Marx seria uma vergonha para qualquer credo religioso a qual pertencesse, a não ser para a doutrina que fundou, onde ele é o deus.

[Storydor]

Gostei do texto!

[André]

Marx seria uma vergonha para qualquer credo religioso a qual pertencesse, a não ser para a doutrina que fundou, onde ele é o deus.

Marx rejeitou isso em vida.Em cartas disse: "se isso é Marxismo eu não sou marxista".Rejeitou glorificação pessoal, e a transformação de qualquer conceitos trabalhados por ele em dogmas.

Mas Marx como qualquer outro pensador, não tem controle sobre o que outros fazem, ou como reclamam seu legado.

[DIG]

Marx seria uma vergonha para qualquer credo religioso a qual pertencesse, a não ser para a doutrina que fundou, onde ele é o deus.

Apoiado.