user f.k.a. Cabeção escreveu:Pare de viver no passado, Samael. Hoje pululam exemplos de valores sem produção material agregada, ou onde ela representa uma parcela ínfima.
Por exemplo, todos os direitos de imagem, possuem valores sem ser um "produto" em si. Direitos de prestação de serviços também. Nem todos os valores se referem a bens em si. Até o próprio mercado de papéis da dívida pública mostra isso.
A internet é outro claro exemplo de que informação (que é imaterial), é comercializável e tem valor agregado.
As próprias flutuações de mercado, e o valor nominal das mercadorias, dependem muito da necessidade, pela lei básica da oferta e da procura. Necessidade pode ter muitas origens, seja o impulso consumista ou a fome, ambas são necessidades.
O valor que o trabalho agrega a um produto, no caso da produção industrial, é maior do que o valor daquele trabalho, e é nesse ponto que Marx erra grosseiramente, e que o conceito de mais-valia é equivocado.
Para Marx, o trabalho do empregado imputava mais valor as mercadorias do que o próprio empregado recebia, e isso é verdade, se não o empregador não teria lucro para ele. Mas, o conceito de mais-valia calca-se no fato de que o trabalhador receberia menos do que o seu trabalho realmente vale, e isso é mentiroso. Grande parte do valor que um trabalhador agrega a uma mercadoria depende da divisão do trabalho, ou seja, só é alto porque existe uma estrutura capitalista possibilitando-o ser. É por isso que os trabalhadores em países desenvolvidos alcançam maiores produtividades.
Voltando para Adam Smith, um artesão trabalhando várias horas por dia pode produzir 50 alfinetes mal acabados se for um novato e 200 se for experiente. Uma pequena manufatura, com 5 empregados responsáveis por uma parte no processo de produção pode produzir 20000 alfinetes dia, de boa qualidade, trabalhando menos horas por dia. A divisão do trabalho promovida pelo capital não aumenta proporcionalmente a produtividade, pois se fosse assim, seria melhor ser artesão do que operário, o que não é verdade. A capacidade produtiva do trabalhador portanto é multiplicada pelo fator capital, e por isso ele recebe mais que um artesão, trabalhando menos, e ainda gerando lucro para o capitalista.
Das diversas divisões do trabalho até que a uma matéria prima se torne mercadoria, seja vendida e de lucro, existem tarefas a serem executadas que podem aumentar em eficiência se praticadas por unidades isoladas, e nesse sentido, o trabalho dos comerciantes revendedores agrega valor sim, pois tira dos produtores a incumbência de ofertar para o consumidor final, o que consumiria recursos, além de exigir maiores estoques e estabelecimentos. Além disso, para o consumidor final, que terá o produto numa localidade próxima e em meio a outras ofertas, isso é um serviço prestado, e serviços tem o seu valor. A mercadoria, no final, é o produto fabril mais os serviços praticados em cima.
Informação é fruto de trabalho material. À exceção do mercado financeiro (que nada mais é que um castelo de cartas montado sob a base capitalista primária), todos os seus exemplos refletem trabalho, refletem "poiésis".
E eu não sei de onde é que você tirou que eu penso que a produção artesanal é superior à produção capitalista. A diferença básica está no domínio dos meios de produção. Que o fator capital aumenta a produção é um lugar comum extremamente simples, pois foi a partir do desenvolvimento capitalista que se gerou todo um sistema tecnológico em prol da produção.
E a sua informação com relação à mais-valia é completamente falsa. Primeiro, porque a divisão do trabalho existe graças a um trabalhador que poderia se organizar livremente, sem a necessidade de um capitalista que não produzisse, mas apenas expropriasse, por trás da produção (e tais organizações utópicas ocorreram várias vezes). Segundo, e isso já é entrar num debate economicista mais profundo e que, justo por não fazer economia, não domino, a mais-valia absoluta é essencial à taxa de lucro mínima do capitalista. Me informando um pouco mais entro nesse assunto.
user f.k.a. Cabeção escreveu:Acontece que cabe ao produtor decidir se trabalhar terceirizando a venda para o consumidor final ele terá lucro. Nesse caso, os pescadores teriam que montar uma infraestrutura de transporte e estoque de mercadorias, que talvez não viesse a justificar o investimento necessário e o trabalho extra exigido.
Não existe prática de "mais-valia" aqui, pois os pescadores não são funcionários desses revendedores. Se o comércio se dá dentro da legalidade, o preço praticado pelos pescadores é o que eles consideram mais justo, já que não existem terceiros querendo pagar mais caro. Você está confundindo o conceito de "mais-valia", que é o que Marx dizia ser a diferença entre o valor do trabalho e o salário recebido, e o conceito de lucro em transações. Como os preços variam de acordo com a localidade, é natural que mercadores que apenas transportem mercadorias de lugares baratos para caros saiam ganhando. Se os produtores se sentirem lesados, eles que realizem tal serviço.
O "preço justo" é aquele que os revendedores pagavam, sendo que eles estabeleciam entre eles um preço x para teto, sendo que nenhum passava desse preço. Era um preço absurdamente mais barato do que o revendido no atacado.
E os pescadores simplesmente não tinham condições de montar absolutamente nada, pela falta crônica de capital e de tempo livre. Quanto à mais-valia, faltou apenas a organização formal do trabalho.
user f.k.a. Cabeção escreveu:Sua crença está completamente errada Samael.
Quando um serviço se torna extremamente barato para uma unidade capitalista realizar sem precisar de terceiros, ela necessariamente o fará, e não existe nenhum sentido de manutenção de classe exploradora capaz de impedir isso, o que movimenta as pessoas é o lucro.
Um exemplo dado pelo Fernando Silva é o das gráficas, que detinham elevado poder até a popularização das impressoras.
O fato é que o serviço de venda para o consumidor final exige uma organização e infraestrutura diferente para o negócio, o que demanda mais pessoal, mais setores, mais alvarás e etc. E muitos dos negócios mais lucrativos são aqueles que se especializaram em fazer apenas uma coisa.
Se você é vendedor, apenas venda, não se preocupe em produzir. Se você é produtor, venda para os vendores, e não para o consumidor final. Acaba ficando mais barato (e lucrativo) para todo mundo, inclusive para o consumidor, que terá que se deslocar menos do que teria se tivesse que ir numa fábrica de manteiga para comprar manteiga, noutra de sabão para comprar sabão, ambos a preços inflados devido ao aparelhamento excessivo das suas unidades de produção.
Concentrar a produção num local, e distribuir entre revendedores espalhados é em muitos casos a estratégia que mais corta custos, pois, se não fosse, se manteria o velho esquema de você ter que ir num ferreiro toda vez que precisasse de um prego, e num curral toda vez que quisesse leite.
Errada está a sua crença. O exemplo dos pescadores acima, que tange novamente à tendência monopolista do capitalismo, exemplifica bem isso.
A não ser que haja uma organização formal e forte de produtores, não é "mais lucrativo para todo mundo", é extremamente mais lucrativo para os vendedores.
user f.k.a. Cabeção escreveu:Não me lembro de ter dito isso.
E não disse, você é inteligente demais pra isso. Já cansei de ouvir e ler por aí. Aqui no fórum, quem lançou a pérola foi o Liquid Snake.