Isso está virando off topic, vou só esclarecer uns pontos
user f.k.a. Cabeção escreveu:o anatema escreveu:Penso em coisas como design (de diversas áreas), ilustração, fotografia, além de programação. A tecnologia tem permitido a um número maior de pessoas entrar nesses mercados, sem saber bem o valor das coisas. Subvalorizam o trabalho, os seus clientes faturam desproporcionalmente em cima disso e etc. Mesmo que pagamentos mais justos fossem dar no fins das contas frações de centavos a mais no produto final (quem se beneficia do barateamento é alguém no meio, que embolsa isso sem ter feito nada, não o consumidor final... e uns ainda falam de distribuição de renda...). Quem trabalhava nisso antes acaba tendo que abaixar ao menos um pouco o preço pela oferta excessiva, de gente quase pagando para trabalhar.
Eu nao conheco as nuances desse mercado especifico, mas eu li um livro chamado O Mundo e Plano, em que esse assunto e tratado em algum momento.
O autor comenta sobre a firma de fotografia e edicao um amigo que passou por maus momentos justamente porque os softwares de fluxo de trabalho permitiam a individuos realizarem praticamente todo trabalho que eles faziam a custos bem baixos. A tecnologia tinha tornado aquela funcao trivial, e portanto exigiria da empresa uma mudanca de foco e uma adaptacao nao muito facil.
Mas o fato e que nao ha culpado nenhum nessa estoria. O freelancer com um laptop hoje presta o servico do cara munido de um software de edicao e uma maquina digital; e os custos para esse freelancer sao baixos, o que permite a ele competir em precos.
Bem, eu não entendi exatamente qual a função do fotógrafo, mas o ponto é que praticamente não importa (ou não deveria importar), no mercado de imagens, o custo da produção da imagem. Claro, que existem algumas exceções. O que conta é a utilização da imagem apenas.
Ou seja, não interessa se com uma canetinha hidrográfica e papel higiênico eu criar um personagem ou qualquer coisa que vá ser utilzada no Mc Donalds em território nacional ou talvez até internacional. O valor disso não é o preço de custo, mas tem a ver com a utilização.
Ao mesmo tempo, uma imagem qualquer para o cartão de visitas de um mecânico de lavadoras de roupas não vai ser nem um pouco mais cara do que essa imagem para o McDonalds, mesmo que eu tenha usado computador top de linha para fazer.
O problema é que muitos ignoram isso e fazem as negociações a preço de custo e outras bobagens, o que acaba deixando os clientes mal acostumados.
E importante compreender que ninguem subvalorizaria seu trabalho por simples ignorancia numa economia livre e com tantos acessos a informacao. As pessoas praticam precos baixos nesses tipos de servico porque eles realmente foram facilitados pela tecnologia, permitindo um crescimento vertiginoso da oferta, de modo que algo que antes valia muito hoje e trivial.
O ponto é que o valor duma imagem ou de um design ou qualquer outra coisa parecida com base no custo é praticamente indefensável, por menor que ele seja, já que com o uso dessa imagem vão faturar uma grana lascada, independentemente de quão baixo tenha sido o custo.
Imagine por exemplo, animação em computador. Uma vez tendo comprado o computador e adquirido o software, tendo feito os cursos e etc, então o valor do que se produzisse em animação teria, pela lógica do preço baseado em custo, simplesmente que ir gradualmente pagando todo esse investimento na formação e no equipamento, e nos upgrades dos dois. Mas vai ver se os caras que fizeram os efeitos especiais de titanic ou star wars cobraram só isso. E tecnicamente, não custa muito mais do que os mesmos efeitos especiais (ou similares) para algum comercial de guaraná Dolly ou de Assolan.
Não é que o custo não influencie absolutamente nada, mas de modo geral o correto é que influencie apenas para cima, conforme forem mais elevados, em vez de baratear (o que também ocorre em algum grau, de qualquer jeito).
E veja bem o seu raciocinio falacioso. Desconsidera que quando "alguem do meio" embolsa o dinheiro economizado em custos, ele estara gerando a longo prazo vantagens para o consumidor final. Isso porque ao embolsar esse dinheiro ele estaria aumentando seu lucro marginal, o que geraria incentivos para o capital investir nessa area, aumentando a oferta e fazendo os precos baixarem.
De modo geral eu não vejo isso acontecendo... imagine por exemplo, uma revista que custe algo menos que dez reais, uma tiragem de 50 mil exemplares. E as diferenças por unidade do produto para um pagamento de 200 reais ou 1200 reais para alguém que faça a capa. Isso vai dar encarecer o produto final centavos ou frações de centavos dependendo da tiragem e do restante do preço. Simplesmente não vejo em que essa economia - mesmo que se considerar não as frações de centavos, mas os 1000 reais - pode trazer em vantagem para o consumidor final, ainda mais considerando as cifras dos preços de anúncios em revistas desse porte, que geralmente não ficam por menos de mil reais, não o total dos anúncios, mas cada um, mais o preço de venda.
Com a sacanagem adicional de que por exemplo, a editora abril agora e há algum tempo tentava forçar contratos internos de cessão total de direitos autorais, ou seja, vende-se por mixaria, uma vez, e a editora pode usar tantas vezes quanto quiser, em quantas mídias quiser, lucrando o que lucrar, que o autor não veria um centavo a mais, e nem poderia negociar novamente a própria imagem.
(cessão total de direitos até é considerada legítima, mas só se estiver se falando de valores bem maiores).
o anatema escreveu:Ainda que em última instância poderia se supor que quem não valorizar o próprio produto acabe tendo que sair do mercado por não ser viável, isso parece não ser tão freqüente quanto poderia ser desejável... ainda mais nesse contexto onde há a falácia do "apelo ao amor pela arte"... aliada àquela de que "tudo que eu ganhei foi com muito esforço, ralei muito, não foi nada fácil", que glorifica a própria idiotice.
Acho que nao entendi bem essa observacao final...
É que tem gente que parece que prefere ganhar mixarias "por amor a arte" do que ser vendedor de cachorro quente e ganhar mais, por exemplo, e fazer "arte" como hobby. E isso tudo embasado em N discursos pseudo-ideológicos idiotas, muitas vezes com colaboração dos clientes mais espertalhões. Normalmente seria de se esperar que profissionais sem tato para o lado econômico da coisa fossem saindo do mercado e tentando outros meios de vida, mas nesses casos específicos tem esse ponto, agravado ainda por um tipo de "orgulho de dar duro", de reclamar do trabalho e das condições e etc e tal, desdenhando quem ganhe mais pelo mesmo trabalho como alguém de "vida fácil", que "só tem moleza", em vez de ver como exemplo profissional.