Por que razão o Brasil não combate a pobreza?

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Samael
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Mensagem por Samael »

Acauan escreveu:A expressão "Chicago Boys" é um clichê depreciativo esquerdista tão desgastado quanto chamar Roberto Campos de Bob Fields...


Que exagero! Eram chamados de Chicago Boys porque boa parte daquela turma de economistas de fato faziam suas pós e mestrados na Universidade de Chicago, onde imperava o ideário de Friedman.

Guy Sorman não pareceu incomodado em se referir à tal turma por Chicago Boys, e nem aquele cabeludo excêntrico, que foi o mais proeminente ministro da economia no governo Pinochet (que, pra variar, eu esqueci o nome!), teve problemas em se auto-intitular assim e brincar com a alcunha.

Já Bob Fields...

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Acauan
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Mensagem por Acauan »

Samael escreveu:Vale lembrar que a Rússia pré-revolução era uma nação feudal. A URSS se tornou uma das maiores potências mundiais em questão de décadas...


Pera lá, pera lá, pera lá...

Cheque nas fontes devidas, que você deve ter acesso fácil.

Esta visão da Rússia pré-revolução como um cu de mundo sem futuro é produto da propaganda pós-revolução.

A Rússia no fim do século XIX e princípio do XX apresentava uma das maiores taxas de crescimento econômico do mundo, guardadas as proporções algo parecido com a China de hoje. Passava por um amplo plano de modernização, que incluia um bem sucedido programa de alfabetização em massa e reformas políticas que tendiam para o parlamentarismo democrático.

Projetados os índices de crescimento, se não fosse a revolução a Rússia atingiria o padrão de vida da Europa Ocidental em poucas décadas.

E os soviéticos eram uma potência militar. De resto, merda.

Nós, Índios.

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Samael
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Mensagem por Samael »

Acauan escreveu:
Samael escreveu:Vale lembrar que a Rússia pré-revolução era uma nação feudal. A URSS se tornou uma das maiores potências mundiais em questão de décadas...


Pera lá, pera lá, pera lá...

Cheque nas fontes devidas, que você deve ter acesso fácil.

Esta visão da Rússia pré-revolução como um cu de mundo sem futuro é produto da propaganda pós-revolução.

A Rússia no fim do século XIX e princípio do XX apresentava uma das maiores taxas de crescimento econômico do mundo, guardadas as proporções algo parecido com a China de hoje. Passava por um amplo plano de modernização, que incluia um bem sucedido programa de alfabetização em massa e reformas políticas que tendiam para o parlamentarismo democrático.

Projetados os índices de crescimento, se não fosse a revolução a Rússia atingiria o padrão de vida da Europa Ocidental em poucas décadas.

E os soviéticos eram uma potência militar. De resto, merda.



Hum...

Eu REALMENTE nunca tive acesso a nada do gênero. Por puro descuido mesmo...nunca tive nenhuma leitura economicista da Rússia pré-revolucionária. Mas me espanta que um país arrasado por um conflito mundial e com uma insalubridade campesina tão grande, a ponto de ter feito eclodir na nação uma Revolução, possa ter índices desses. Deve ter sido até por esse motivo que dei a questão por auto-evidente.

Mas vou checar.

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Acauan
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Mensagem por Acauan »

Samael escreveu:Hum...

Eu REALMENTE nunca tive acesso a nada do gênero. Por puro descuido mesmo...nunca tive nenhuma leitura economicista da Rússia pré-revolucionária. Mas me espanta que um país arrasado por um conflito mundial e com uma insalubridade campesina tão grande, a ponto de ter feito eclodir na nação uma Revolução, possa ter índices desses. Deve ter sido até por esse motivo que dei a questão por auto-evidente.

Mas vou checar.


Você está falando da Primeira Guerra, no fim da qual e por conta do que os comunistas tomaram o poder.
Antes disto a Rússia ia muito bem, obrigado.

As pessoas em geral subestimam a capacidade das nações de se modernizar.
A idéia da Rússia com seus mujiques e senhores era até bem correta a certa altura do século XIX, tanto quanto o Brasil do Jeca Tatu era verdadeiro até certa altura do século XX.

Se nós, neste modesto canto do mundo, deixamos o Jeca Tatu para trás em apenas vinte anos de industrialização e urbanização, imagine o que podia fazer uma sociedade como a russa, com sua cultura que produziu alguns dos maiores romancistas, músicos, cientistas e políticos da História.
Editado pela última vez por Acauan em 23 Mai 2007, 23:22, em um total de 1 vez.
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emmmcri
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Mensagem por emmmcri »

Acauan escreveu:Projetados os índices de crescimento, se não fosse a revolução a Rússia atingiria o padrão de vida da Europa Ocidental em poucas décadas.


:emoticon132: :emoticon132: :emoticon132:

Pove.

Ao q parece vc está cometendo um equívoco.

http://www.culturabrasil.pro.br/revoluc ... omundo.htm


http://www.eduquenet.net/revolucaorussa.htm

http://www.portalbrasil.eti.br/historia ... orussa.htm
Editado pela última vez por emmmcri em 23 Mai 2007, 23:33, em um total de 2 vezes.
"Assombra-me o universo e eu crer procuro em vão, que haja um tal relógio e um relojoeiro não.
VOLTAIRE

Porque tanto se orgulhar de nossos conhecimentos se os instrumentos para alcançá-los e objetivá-los são limitados e parciais ?
A Guerra faz de heróis corajosos assassinos covardes e de assassinos covardes heróis corajosos .
No fim ela mostra o que somos , apenas medíocres humanos.



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Samael
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Acauan escreveu:
Samael escreveu:Hum...

Eu REALMENTE nunca tive acesso a nada do gênero. Por puro descuido mesmo...nunca tive nenhuma leitura economicista da Rússia pré-revolucionária. Mas me espanta que um país arrasado por um conflito mundial e com uma insalubridade campesina tão grande, a ponto de ter feito eclodir na nação uma Revolução, possa ter índices desses. Deve ter sido até por esse motivo que dei a questão por auto-evidente.

Mas vou checar.


Você está falando da Primeira Guerra, no fim da qual e por conta do que os comunistas tomaram o poder.
Antes disto a Rússia ia muito bem, obrigado.

As pessoas em geral subestimam a capacidade das nações de se modernizar.
A idéia da Rússia com seus mujiques e senhores era até bem correta a certa altura do século XIX, tanto quanto o Brasil do Jeca Tatu era verdadeiro até certa altura do século XX.

Se nós, neste modesto canto do mundo, deixamos o Jeca Tatu para trás em apenas vinte anos de industrialização e urbanização, imagine o que podia fazer uma sociedade como a russa, com sua cultura que produziu alguns dos maiores romancistas, músicos, cientistas e políticos da História.


Todo material que li até hoje dá vazão ao fato da Rússia ter entrado numa Guerra sem ter condições internas de sustentá-la. Ainda assim, exaltam os soldados mortos de fome, que fugiam das frentes de batalha desesperadamente.

Eu, realmente, gostaria de ler alguma fonte que te tenha feito chegar a esta conclusão, Acauan...você possui alguma em mãos agora?

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skipperj05
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Re.: Por que razão o Brasil não combate a pobreza?

Mensagem por skipperj05 »

"...Esta peste se chama neoliberalismo e não faz bem a ninguém. A curto prazo aos explorados e a longo prazo aos exploradores, que só terão mais a quem explorar se houver um deus -- e ele der alguma importância a esse nosso planeta risível..."

Fausto Wolff, in "No Éden com os olhos em Gaza" - JB, 13/05/07

(afalando sobre as perdas econômicas da Síria em virtude da invasão americana ao Iraque)
"o homem não aceita estar só. Por isso quer acreditar que alguém o olha, o observa, por ele se preocupa ou até mesmo ilumina seu caminho, e assim, usando a imaginação, criou a religião: uma ponte, um cordão umbilical que o une ao cosmos. Acreditando cegamente na "ponte" religiosa caminha boa parte da humanidade, aos trancos e barrancos, tropeçando em completa escuridão enquanto aguardam a luz prometida.”
Aleixo Belov

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Acauan
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Mensagem por Acauan »

emmmcri escreveu:
Acauan escreveu:Projetados os índices de crescimento, se não fosse a revolução a Rússia atingiria o padrão de vida da Europa Ocidental em poucas décadas.


:emoticon132: :emoticon132: :emoticon132:

Pove.

Ao q parece vc está cometendo um equívoco.

http://www.culturabrasil.pro.br/revoluc ... omundo.htm


Você me apresenta como fonte para este tema um site com foices e martelos de pano de fundo???
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Mensagem por emmmcri »

Acauan escreveu:
emmmcri escreveu:
Acauan escreveu:Projetados os índices de crescimento, se não fosse a revolução a Rússia atingiria o padrão de vida da Europa Ocidental em poucas décadas.


:emoticon132: :emoticon132: :emoticon132:

Pove.

Ao q parece vc está cometendo um equívoco.

http://www.culturabrasil.pro.br/revoluc ... omundo.htm


Você me apresenta como fonte para este tema um site com foices e martelos de pano de fundo???


E esses aqui?

http://www.eduquenet.net/revolucaorussa.htm

http://www.portalbrasil.eti.br/historia ... orussa.htm

Acauan eu me interessei e já li muito sobre este periodo da história e nunca, repito nunca, li nada q viesse a corroborar com o q vc está dizendo, por isso me assustei.
Editado pela última vez por emmmcri em 23 Mai 2007, 23:50, em um total de 1 vez.
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Acauan
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Mensagem por Acauan »

Samael escreveu:Eu, realmente, gostaria de ler alguma fonte que te tenha feito chegar a esta conclusão, Acauan...você possui alguma em mãos agora?


Puxei os dados de memória, não lembro as fontes, mas é certo que a industrialização da Rússia na segunda metade do século XIX foi acelerada e as reformas vinham mudando rapidamente a cara do czarismo.

Claro que muita coisa ainda era estranha e atrasada, se comparada ao paradigma europeu, mas é certo que as taxas de crescimento acumuladas russas no início do século XX eram as maiores da Europa, superando as da Alemanha e da Inglaterra.
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Mensagem por Acauan »

emmmcri escreveu:E esses aqui?

http://www.eduquenet.net/revolucaorussa.htm

http://www.portalbrasil.eti.br/historia ... orussa.htm

Acauam eu me interessei e já li muito sobre este periodo da história e nunca, repito nunca, li nada q viesse a corroborar com o q vc está dizendo, por isso me assustei.


Assim como sempre deve ter ouvido falar que o Paraguai antes da guerra era uma potência emergente que despertava ciúmes na poderosa Inglaterra.

O ensino de História no Brasil é cheio de erros grotescos, repetidos a exaustão por professores, livros didáticos e artigos.

Por isto se não dispomos da citação das fontes primárias ou das pesquisas feitas, é melhor sempre manter um pé na dúvida.
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Mensagem por Aranha »

Acauan escreveu:
Samael escreveu:Eu, realmente, gostaria de ler alguma fonte que te tenha feito chegar a esta conclusão, Acauan...você possui alguma em mãos agora?


Puxei os dados de memória, não lembro as fontes, mas é certo que a industrialização da Rússia na segunda metade do século XIX foi acelerada e as reformas vinham mudando rapidamente a cara do czarismo.

Claro que muita coisa ainda era estranha e atrasada, se comparada ao paradigma europeu, mas é certo que as taxas de crescimento acumuladas russas no início do século XX eram as maiores da Europa, superando as da Alemanha e da Inglaterra.


- Puxando de memória também, lembro que a Rússia é um dos países que embarcou na revolução industrial na primeira leva.

- Gostaria de participar mais deste tôpico, que está de excelente nível, mas estou com uma baita preguiça de escrever, meu lado baiano superando o lado paulista... :emoticon12:

Abraços,
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Mensagem por Acauan »

Samael escreveu:Acauan...você possui alguma em mãos agora?


Achei esta, tem referências ao crescimento e industrialização acelerada da Rússia na segunda metade do século XIX e começo do XX:

Economic Modernization in Imperial Russia: Purposes and Achievements
Herbert J. Ellison
The Journal of Economic History, Vol. 25, No. 4 (Dec., 1965), pp. 523-540
This article consists of 18 page(s).
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André
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Mensagem por André »

Abmael escreveu:
Acauan escreveu:
Samael escreveu:Eu, realmente, gostaria de ler alguma fonte que te tenha feito chegar a esta conclusão, Acauan...você possui alguma em mãos agora?


Puxei os dados de memória, não lembro as fontes, mas é certo que a industrialização da Rússia na segunda metade do século XIX foi acelerada e as reformas vinham mudando rapidamente a cara do czarismo.

Claro que muita coisa ainda era estranha e atrasada, se comparada ao paradigma europeu, mas é certo que as taxas de crescimento acumuladas russas no início do século XX eram as maiores da Europa, superando as da Alemanha e da Inglaterra.


- Puxando de memória também, lembro que a Rússia é um dos países que embarcou na revolução industrial na primeira leva.

- Gostaria de participar mais deste tôpico, que está de excelente nível, mas estou com uma baita preguiça de escrever, meu lado baiano superando o lado paulista... :emoticon12:

Abraços,


Abmael vc ta morando aonde? Se estiver em Salvador apareça no lançamento. Queria ver se parte do pessoal do RV aparece por lá.
Visite a pagina do meu primeiro livro "A Nova Máquina do Tempo." http://www.andreteixeirajacobina.com.br/

Ou na Saraiva. Disponivel para todo Brasil.

http://www.livrariasaraiva.com.br/produ ... 0C1C301196


O herói é um cientista cético, um pensador político. O livro debate filosofia, política, questões ambientais, sociais, bioética, cosmologia, e muito mais, no contexto de uma aventura de ficção científica.

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André escreveu:
Abmael escreveu:
Acauan escreveu:
Samael escreveu:Eu, realmente, gostaria de ler alguma fonte que te tenha feito chegar a esta conclusão, Acauan...você possui alguma em mãos agora?


Puxei os dados de memória, não lembro as fontes, mas é certo que a industrialização da Rússia na segunda metade do século XIX foi acelerada e as reformas vinham mudando rapidamente a cara do czarismo.

Claro que muita coisa ainda era estranha e atrasada, se comparada ao paradigma europeu, mas é certo que as taxas de crescimento acumuladas russas no início do século XX eram as maiores da Europa, superando as da Alemanha e da Inglaterra.


- Puxando de memória também, lembro que a Rússia é um dos países que embarcou na revolução industrial na primeira leva.

- Gostaria de participar mais deste tôpico, que está de excelente nível, mas estou com uma baita preguiça de escrever, meu lado baiano superando o lado paulista... :emoticon12:

Abraços,


Abmael vc ta morando aonde? Se estiver em Salvador apareça no lançamento. Queria ver se parte do pessoal do RV aparece por lá.


Caro André,

- Fico honrado com o convite, moro em Brasília, tenho parentes em Salvador, vou recomendar que compareçam.

Abraços,
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Huxley
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Re.: Por que razão o Brasil não combate a pobreza?

Mensagem por Huxley »

Acauan escreveu:
Huxley,,
Como é possível se ter um aumento do salário de mercado do trabalhador e da renda nacional sem crescimento econômico?


Pode haver aumento do salário de mercado do trabalhador e da renda nacional, mesmo SEM qualquer contribuição de outro fator além da melhor educação da mão-de-obra.Isso ocorre porque o incremento da qualidade da força de trabalho é um dos três componentes dos fatores de contribuição ao crescimento econômico.Anotando os três:a)contribuição do investimento em capital físico;b)incremento da quantidade e da qualidade da força-de-trabalho;c)aumento da produtividade (aumento da produção com a mesma quantidade de capital e trabalho, devido a melhora tecnológica e do desenho das regras institucionais).Alguns economistas se referem ao incremento na qualidade da mão-de-obra como melhora tecnológica (o nível de tecnologia, nesta definição, não se refere apenas a qualidade de fatores como bens de capital e equipamentos).Por exemplo, se o empresário do setor calçadista dispõe de trabalhadores com mais conhecimento técnico que os de um período anterior, cada trabalhador médio que produzia antes 200 sapatos/mês, poderá produzir agora 220 sapatos/mês.Essa nova visão não faz nenhuma diferença para a conclusão.Ou seja, que é possível que a contribuição do investimento em capital e o aumento da produtividade dos fatores não-humanos para o crescimento econômico seja ZERO e ainda assim, o crescimento econômico seja diferente de zero.E mais, e que é decisivo para entender o que eu falei, pode haver redução de pobreza se há aumento de salário de mercado do trabalhador devido sua maior produtividade, mesmo com uma contribuição negativa do investimento em capital físico ou contribuição negativa do conjunto "investimento em capital físico+ produtividade dos fatores não-humanos" (no caso da contribuição negativa vir APENAS da produtividade dos fatores não-humanos, aí o argumento já não funciona).

A pobreza diminui tão somente se a renda dos que estão abaixo da linha de pobreza se eleve.E isso pode ocorrer mesmo que o aumento da renda média da população seja ZERO.E não apenas a melhor educação pode contribuir para isso, mas também a melhora na redistribuição de renda feita pelas políticas sociais compensatórias.


Acauan escreveu:
A própria definição de renda nacional estabelece uma correlação intrínseca e necessária entre o crescimento desta e o crescimento econômico.

E quanto a dizer que uma melhora visível na redução da pobreza pode ocorrer em ambientes de estagnação econômica, isto só pode ser verdadeiro se as medições da redução da pobreza e da estagnação econômica se derem em abrangências diferentes, micro e regional na primeira e macro e nacional na segunda, por exemplo.

Como disse no post anterior, princípios econômicos têm simplicidade aritmética.


Deixa-me ver se eu entendi.A redução da pobreza com estagnação macroeconômica só ocorre se ela for regional?Eu concordo que princípios econômicos têm simplicidade aritmética.Justamente por isso eu não entendo porque não consegues entender que a pobreza reduziu no Brasil de forma visível, a despeito do crescimento da renda per capita ter sido inferior a 1% (crescimento médio no primeiro mandato de FHC foi de uns 2,2% e crescimento da população de uns 1,4%), como mostram os dados de Barros, Henriques e Mendoça (2000)*.Claro, houve algum crescimento da renda per capita, mas foi pequeno.Mas deve se considerar que o crescimento poderia ser zero, que ainda assim, a pobreza poderia se reduzir.Isso porque na política social brasileira, apenas ¼ dos recursos chegam aos efetivamente mais pobres.Por exemplo, apenas uma parcela dos recursos como Seguro-desemprego, Abono salarial e programa de alimentação do trabalhador atingem efetivamente os segmentos mais pobres da população (Barros, Forguel & Coersul,2000*).Levando em conta o montante de recursos gastos na área social, imagine se a política social brasileira fosse efetiva...Claro que teríamos redução da pobreza, mesmo com crescimento da renda per capita igual a zero.


Acauan escreveu:
Se houve redução visível na pobreza de uma população, então a renda per capita desta população aumentou.


Espera lá.Não é preciso a renda per capita aumentar para que a renda dos mais pobres aumente.Renda per capita é apenas quociente do PNB de um país num período medido em dólares pelo tamanho da população.A pobreza diminui tão somente se a renda dos que estão abaixo da linha de pobreza se eleve.Uma redistribuição de renda garante isso.No Brasil, o surpreendente que é na segunda metade da década de 90, o crescimento da renda per capita foi pífia, o nível de desigualdade se manteve estável, e apesar de tudo, o nível de pobreza se reduziu*.Isso se deveu porque ocorreu uma redistribuição de renda, com dois fatores principais afetando*: a) queda no preço dos alimentos (pobres gastam uma parcela de renda maior com este item que os mais ricos) ; b) expansão dos benefícios da Previdência e da assistência social;(claro, temos uma contribuição pífia do crescimento da renda per capita envolvida nisso).

No caso do último item, eu tenho um dado aqui que mostra que a soma das transferências constitucionais, benefícios previdenciários e dispêndio com servidores inativos passou de uma média de 21,9% do PIB em 1991-1994 para 33% do PIB em 1995-1997(Rezende,2001.Finanças Públicas, 2ª edição.São Paulo:ATLAS)

Acauan escreveu:
A renda per capita só aumenta em duas circunstâncias – aumento da geração de renda entre a população tomada ou transferência de renda de outra população para a população tomada.


Eu tenho a leve impressão que você quis dizer “renda per capita dos mais pobres”.Se esse for o caso, então vai um aviso.A redução da pobreza do Brasil na segunda metade da década de 90 nada tem haver com o item “incremento da quantidade e da qualidade da força-de-trabalho” (na verdade, a contribuição disso para o crescimento econômico de 1994-2000 foi negativa!*).Ela ocorreu essencialmente devido à redução no preço dos alimentos e o aumento das transferências de renda das políticas sociais.E devido a isso, o nível de pobreza foi reduzido no período mencionado.



Acauan escreveu:

Ora, a educação da força de trabalho tem a capacidade de aumentar a geração de renda por meio do aumento da produtividade desta mesma força, mas não há correlação necessária entre educação e transferência de renda entre populações, cujas tentativas provém geralmente de atos políticos e não da livre movimentação dos mercados.



O que a melhor educação dos trabalhadores pode fazer é uma redistribuição das proporções de salários e lucros na economia.

Para entender melhor isso, veja a equação da formação de preços no longo prazo para a ortodoxia econômica dominante:

P= [(1+M)x W]/a

P=nível geral de preços
M=margem de lucro média
W=salário nominal médio
a= produtividade média do trabalho (isso inclui fatores humanos e não-humanos)

Manipulando a equação anterior, temos a equação que determina o salário real:

W/P= a/(1+M)

Note a primeira equação.Aumentando "a" é possível, ceteris paribus, diminuir P. Diminuindo P, é possível ampliar o salário real, já que salário real é igual a W/P.Isso implica que o aumento de produtividade do trabalho é "apropriado" pelos salários.Considera-se na teoria macroeconômica que as empresas têm em mente uma margem de lucro “normal” quando irão formar seus preços, que está no limiar de induzir a entrada de novos concorrentes.O aumento da produtividade só poderia ser transferida para as margens dos lucros no curto prazo.No longo prazo, a margem de lucro média voltaria ao seu tamanho “normal”, do contrário estimularia a entrada de novos concorrentes no setor.

Agora, voltemos ao exemplo anterior.Digamos que os efeitos do incremento da qualidade da mão-de-obra sejam compensados de forma quantitivamente igual por contribuição negativa dos outros fatores que afetam o crescimento econômico, de modo a tornar o crescimento do PNB de um país num período igual a 0%.Veja que uma compensação negativa só contrabalança de forma integral o efeito positivo, se isto estivesse relacionado a um choque de oferta desfavorável, cujo único efeito fosse uma contribuição negativa da produtividade média dos fatores não-humanos (custo salarial unitário=W/a, se “a” diminui, então o preço aumenta, porque aumento de custo é repassado para os preços; e como salário real é W/P, então o salário real volta ao nível original).Se APENAS a contribuição do investimento em capital físico foi afetada negativamente (devido, por exemplo, a uma queda na margem de lucro causado por um aumento do grau de concorrência média), não há qualquer diminuição no aumento salarial causado pela melhor qualificação da mão-de-obra.Claro que nenhum dos dois casos extremos ocorre.Se é assim, isso por si só já suficiente para garantir que é possível reduzir a pobreza apenas com uma melhor educação, mesmo em ambiente de estagnação econômica.Não importa se esse impacto “educacional” seja muito menor que uma redistribuição de renda causado por uma melhora nas políticas sociais compensatórias.

*Fonte: http://www.econ.puc-rio.br/gfranco/Agenda%20Perdida.pdf
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”

Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)

"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."

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Re: Re.: Por que razão o Brasil não combate a pobreza?

Mensagem por Edson Jr »

Huxley escreveu:
Acauan escreveu:
Huxley,,
Como é possível se ter um aumento do salário de mercado do trabalhador e da renda nacional sem crescimento econômico?


Pode haver aumento do salário de mercado do trabalhador e da renda nacional, mesmo SEM qualquer contribuição de outro fator além da melhor educação da mão-de-obra.Isso ocorre porque o incremento da qualidade da força de trabalho é um dos três componentes dos fatores de contribuição ao crescimento econômico.Anotando os três:a)contribuição do investimento em capital físico;b)incremento da quantidade e da qualidade da força-de-trabalho;c)aumento da produtividade (aumento da produção com a mesma quantidade de capital e trabalho, devido a melhora tecnológica e do desenho das regras institucionais).Alguns economistas se referem ao incremento na qualidade da mão-de-obra como melhora tecnológica (o nível de tecnologia, nesta definição, não se refere apenas a qualidade de fatores como bens de capital e equipamentos).Por exemplo, se o empresário do setor calçadista dispõe de trabalhadores com mais conhecimento técnico que os de um período anterior, cada trabalhador médio que produzia antes 200 sapatos/mês, poderá produzir agora 220 sapatos/mês.Essa nova visão não faz nenhuma diferença para a conclusão.Ou seja, que é possível que a contribuição do investimento em capital e o aumento da produtividade dos fatores não-humanos para o crescimento econômico seja ZERO e ainda assim, o crescimento econômico seja diferente de zero.E mais, e que é decisivo para entender o que eu falei, pode haver redução de pobreza se há aumento de salário de mercado do trabalhador devido sua maior produtividade, mesmo com uma contribuição negativa do investimento em capital físico ou contribuição negativa do conjunto "investimento em capital físico+ produtividade dos fatores não-humanos" (no caso da contribuição negativa vir APENAS da produtividade dos fatores não-humanos, aí o argumento já não funciona).

A pobreza diminui tão somente se a renda dos que estão abaixo da linha de pobreza se eleve.E isso pode ocorrer mesmo que o aumento da renda média da população seja ZERO.E não apenas a melhor educação pode contribuir para isso, mas também a melhora na redistribuição de renda feita pelas políticas sociais compensatórias.


Acauan escreveu:
A própria definição de renda nacional estabelece uma correlação intrínseca e necessária entre o crescimento desta e o crescimento econômico.

E quanto a dizer que uma melhora visível na redução da pobreza pode ocorrer em ambientes de estagnação econômica, isto só pode ser verdadeiro se as medições da redução da pobreza e da estagnação econômica se derem em abrangências diferentes, micro e regional na primeira e macro e nacional na segunda, por exemplo.

Como disse no post anterior, princípios econômicos têm simplicidade aritmética.


Deixa-me ver se eu entendi.A redução da pobreza com estagnação macroeconômica só ocorre se ela for regional?Eu concordo que princípios econômicos têm simplicidade aritmética.Justamente por isso eu não entendo porque não consegues entender que a pobreza reduziu no Brasil de forma visível, a despeito do crescimento da renda per capita ter sido inferior a 1% (crescimento médio no primeiro mandato de FHC foi de uns 2,2% e crescimento da população de uns 1,4%), como mostram os dados de Barros, Henriques e Mendoça (2000)*.Claro, houve algum crescimento da renda per capita, mas foi pequeno.Mas deve se considerar que o crescimento poderia ser zero, que ainda assim, a pobreza poderia se reduzir.Isso porque na política social brasileira, apenas ¼ dos recursos chegam aos efetivamente mais pobres.Por exemplo, apenas uma parcela dos recursos como Seguro-desemprego, Abono salarial e programa de alimentação do trabalhador atingem efetivamente os segmentos mais pobres da população (Barros, Forguel & Coersul,2000*).Levando em conta o montante de recursos gastos na área social, imagine se a política social brasileira fosse efetiva...Claro que teríamos redução da pobreza, mesmo com crescimento da renda per capita igual a zero.


Acauan escreveu:
Se houve redução visível na pobreza de uma população, então a renda per capita desta população aumentou.


Espera lá.Não é preciso a renda per capita aumentar para que a renda dos mais pobres aumente.Renda per capita é apenas quociente do PNB de um país num período medido em dólares pelo tamanho da população.A pobreza diminui tão somente se a renda dos que estão abaixo da linha de pobreza se eleve.Uma redistribuição de renda garante isso.No Brasil, o surpreendente que é na segunda metade da década de 90, o crescimento da renda per capita foi pífia, o nível de desigualdade se manteve estável, e apesar de tudo, o nível de pobreza se reduziu*.Isso se deveu porque ocorreu uma redistribuição de renda, com dois fatores principais afetando*: a) queda no preço dos alimentos (pobres gastam uma parcela de renda maior com este item que os mais ricos) ; b) expansão dos benefícios da Previdência e da assistência social;(claro, temos uma contribuição pífia do crescimento da renda per capita envolvida nisso).

No caso do último item, eu tenho um dado aqui que mostra que a soma das transferências constitucionais, benefícios previdenciários e dispêndio com servidores inativos passou de uma média de 21,9% do PIB em 1991-1994 para 33% do PIB em 1995-1997(Rezende,2001.Finanças Públicas, 2ª edição.São Paulo:ATLAS)

Acauan escreveu:
A renda per capita só aumenta em duas circunstâncias – aumento da geração de renda entre a população tomada ou transferência de renda de outra população para a população tomada.


Eu tenho a leve impressão que você quis dizer “renda per capita dos mais pobres”.Se esse for o caso, então vai um aviso.A redução da pobreza do Brasil na segunda metade da década de 90 nada tem haver com o item “incremento da quantidade e da qualidade da força-de-trabalho” (na verdade, a contribuição disso para o crescimento econômico de 1994-2000 foi negativa!*).Ela ocorreu essencialmente devido à redução no preço dos alimentos e o aumento das transferências de renda das políticas sociais.E devido a isso, o nível de pobreza foi reduzido no período mencionado.



Acauan escreveu:

Ora, a educação da força de trabalho tem a capacidade de aumentar a geração de renda por meio do aumento da produtividade desta mesma força, mas não há correlação necessária entre educação e transferência de renda entre populações, cujas tentativas provém geralmente de atos políticos e não da livre movimentação dos mercados.



O que a melhor educação dos trabalhadores pode fazer é uma redistribuição das proporções de salários e lucros na economia.

Para entender melhor isso, veja a equação da formação de preços no longo prazo para a ortodoxia econômica dominante:

P= [(1+M)x W]/a

P=nível geral de preços
M=margem de lucro média
W=salário nominal médio
a= produtividade média do trabalho (isso inclui fatores humanos e não-humanos)

Manipulando a equação anterior, temos a equação que determina o salário real:

W/P= a/(1+M)

Note a primeira equação.Aumentando "a" é possível, ceteris paribus, diminuir P. Diminuindo P, é possível ampliar o salário real, já que salário real é igual a W/P.Isso implica que o aumento de produtividade do trabalho é "apropriado" pelos salários.Considera-se na teoria macroeconômica que as empresas têm em mente uma margem de lucro “normal” quando irão formar seus preços, que está no limiar de induzir a entrada de novos concorrentes.O aumento da produtividade só poderia ser transferida para as margens dos lucros no curto prazo.No longo prazo, a margem de lucro média voltaria ao seu tamanho “normal”, do contrário estimularia a entrada de novos concorrentes no setor.

Agora, voltemos ao exemplo anterior.Digamos que os efeitos do incremento da qualidade da mão-de-obra sejam compensados de forma quantitivamente igual por contribuição negativa dos outros fatores que afetam o crescimento econômico, de modo a tornar o crescimento do PNB de um país num período igual a 0%.Veja que uma compensação negativa só contrabalança de forma integral o efeito positivo, se isto estivesse relacionado a um choque de oferta desfavorável, cujo único efeito fosse uma contribuição negativa da produtividade média dos fatores não-humanos (custo salarial unitário=W/a, se “a” diminui, então o preço aumenta, porque aumento de custo é repassado para os preços; e como salário real é W/P, então o salário real volta ao nível original).Se APENAS a contribuição do investimento em capital físico foi afetada negativamente (devido, por exemplo, a uma queda na margem de lucro causado por um aumento do grau de concorrência média), não há qualquer diminuição no aumento salarial causado pela melhor qualificação da mão-de-obra.Claro que nenhum dos dois casos extremos ocorre.Se é assim, isso por si só já suficiente para garantir que é possível reduzir a pobreza apenas com uma melhor educação, mesmo em ambiente de estagnação econômica.Não importa se esse impacto “educacional” seja muito menor que uma redistribuição de renda causado por uma melhora nas políticas sociais compensatórias.

*Fonte: http://www.econ.puc-rio.br/gfranco/Agenda%20Perdida.pdf


Olha Huxley;

Estou muito curioso pela resposta do Acauan, pois considero sua mensagem muito coerente e convincente.

Vamos ver o que o índio guerreiro nos tem a dizer!

E agora Acauan? :emoticon16:

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Edson Jr
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Re: Re.: Por que razão o Brasil não combate a pobreza?

Mensagem por Edson Jr »

Acauan escreveu:
Edson Jr escreveu:E qual seria então, na sua opinião, o papel da educação no desenvolvimento econômico de um país?


Principalmente três:

1. Aumentar a produtividade da força de trabalho;
2. Estimular competências empreendedoras entre os jovens;
3. Desenvolver uma cultura cívica forte, que promova o respeito às instituições.


E isso não seria fundamental para o país crescer e acabar com a pobreza?

Não seria uma fórmula segura no combate à pobreza?

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Samael
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Mensagem por Samael »

Acauan escreveu:
Samael escreveu:Acauan...você possui alguma em mãos agora?


Achei esta, tem referências ao crescimento e industrialização acelerada da Rússia na segunda metade do século XIX e começo do XX:

Economic Modernization in Imperial Russia: Purposes and Achievements
Herbert J. Ellison
The Journal of Economic History, Vol. 25, No. 4 (Dec., 1965), pp. 523-540
This article consists of 18 page(s).


Obrigado, Acauan.

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Edson Jr
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Re.: Por que razão o Brasil não combate a pobreza?

Mensagem por Edson Jr »

Acauan, leia só este outro texto de Cristovam Buarque!

Chupa essa manga! :emoticon16:

17/10/2005 às 14:07
Libertação dos Ricos - O Globo - 15/10/2005


No final do século XIX, o Brasil aboliu o sistema escravocrata. Neste início de século XXI, é preciso libertar os ricos da prisão de ouro em que vivem. Para fazer esta nova abolição, é preciso completar a primeira.

A primeira abolição liberou os escravos da senzala, mas condenou os pobres às ruas e a favelas sem serviços urbanos, aprisionando os ricos em condomínios cercados. A abolição sem reforma agrária garantindo terra aos escravos levou-os a “invadir” os centros urbanos, e condenou os ricos à prisão de automóveis blindados, sinais de trânsito ameaçadores, seqüestros relâmpagos. A falta de escola para os filhos dos ex-escravos aprisionou os ricos na ineficiência social de um país sem educação. Essa abolição incompleta, sem escola, sem emprego e sem terra fez do Brasil do século XXI o campeão da concentração da renda, aprisionando os ricos na vergonha mundial de uma sociedade de muita riqueza para 10% da população, e de extrema miséria para quase 50%.

A primeira abolição foi incompleta para os pobres, e aprisionou os ricos em uma sociedade dividida, insegura e ineficiente, que nos envergonha hoje tanto quanto envergonhava a escravidão no século XIX.

O Brasil precisa libertar os ricos da prisão dos condomínios cercados, dos carros fechados, dos centros urbanos intransitáveis, do susto constante, da incerteza do futuro, da vergonha internacional, da proteção permanente, do altíssimo custo de se viver em segurança numa sociedade desigual. Para libertar os ricos do século XXI, devemos completar a abolição do século XIX.

É preciso antes libertar o pensamento brasileiro de três premissas que aprisionam as estratégias sociais: a idéia de que o crescimento econômico é suficiente para erradicar a pobreza; de que a riqueza de uma pessoa e de sua família depende apenas de sua própria renda; e de que pagar é perder.

O primeiro passo para completar a Lei Áurea é superar a lógica equivocada, que inspirou as estratégias sociais no século XX, de que o caminho para superar a pobreza e construir uma sociedade justa está no crescimento econômico. Os resultados da economia foram muito positivos para aumentar a riqueza, mas um fracasso para reduzir a desigualdade. Para chegar a uma completa abolição dos escravos que liberte os ricos, o Brasil precisa implementar políticas públicas que realmente enfrentem o problema da pobreza, sem a falsa ilusão de que o crescimento econômico realizará essa tarefa.

O Brasil tem uma renda nacional anual próxima dos R$ 2 trilhões, e recursos públicos de cerca de R$ 700 bilhões, suficientes para os investimentos necessários para completar a abolição. Sabe muito bem quais políticas nas áreas de educação, saúde, transporte público, habitação, saneamento, água, esgoto, coleta de lixo, segurança, cultura, atenção especial às crianças, jovens e velhos permitirão ao Brasil chegar, em poucos anos, à plena abolição da pobreza e à libertação dos seus ricos.

Essas políticas não são plenamente implementadas porque os ricos e suas corporações acreditam que sua qualidade de vida depende tão somente da situação de sua conta bancária. Como conseqüência desse egoísmo pouco inteligente, a parcela rica que controla a aplicação dos recursos públicos pensa que financiar programas para os pobres acarreta uma perda para os ricos. Acha que pagar é sinônimo de perder. Não vê que ao pagar pode-se receber em troca um benefício maior do que o preço pago.

Este acaba sendo o maior dos complicadores atuais: os ricos criaram um sistema político viciado no qual eles próprios não confiam. Consideram que desviar uma parte dos recursos para políticas públicas levará a perdas, corrupção e ineficiência. E não admitem substituir o egoísmo burro por um egoísmo inteligente, porque entre o pagamento e o resultado há um longo período de investimento. Desconfiados - com razão - das instituições do Executivo, Legislativo e Judiciário, e para não terem de esperar por sua libertação, os ricos preferem continuar pagando o custo da própria prisão.

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Edson Jr
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Re.: Por que razão o Brasil não combate a pobreza?

Mensagem por Edson Jr »

Outro texto complementar excelente de Cristovam Buarque!

Transbordamento ou Inclusão - Primeira Leitura - outubro de 2004

Antes de chegar às cabeças, os grandes debates começam nas ruas, transmitidos pela imprensa. É o que aconteceu com o Bolsa Família. A falta de controle da freqüência às aulas das crianças beneficiadas parece um descumprimento legal ou falta de gerenciamento eficiente, mas esconde duas estratégias distintas para combater a pobreza: o transbordamento da economia ou a inclusão social.

Uma quer resolver os problemas sociais por meio do crescimento econômico. Crescendo, a economia geraria emprego, pagaria salário e incorporaria os empregados ao mundo do bem-estar. Enquanto isso não ocorre, transfere-se uma pequena renda aos excluídos. Essa posição tem um século de idade. Ficou bastante fortalecida na metade do século XX, com o desenvolvimentismo. Foi resumida perfeitamente pelo ex-ministro Delfim Neto, que disse que é preciso primeiro fazer o bolo, para depois distribuí-lo.

Mas a história mostra que essa idéia não funciona. Pode até funcionar para distribuir renda, mas não acaba com a pobreza. Só ganha bolo quem for convidado para a festa e tiver um prato para levar seu pedaço. Desde os anos 80 do século passado, o crescimento cria poucos empregos, e só emprega quem tem um mínimo de qualificação profissional. Convida poucos para a festa e oferece pratos pequenos. Não inclui as massas excluídas.

Isto não quer dizer que os pobres estão condenados à pobreza. Apenas que a estratégia deve ser outra. Em primeiro lugar, é preciso redefinir o conceito de pobreza. A exclusão não decorre da baixa renda, mas do não acesso a bens e serviços essenciais. A linha da pobreza não é horizontal, separando os que recebem menos de um dólar por dia; mas vertical, separando os que não têm acesso a educação, serviços médicos, moradia com água potável, coleta de lixo e esgoto, uma renda capaz de comprar alimentação, transporte público e outros bens essenciais. Serviços que não são adquiridos pelo salário mínimo, por mais que ele aumente.

O sucesso do combate à pobreza não virá da renda que transbordará da economia, mas da inclusão social que decorrerá de políticas públicas. O crescimento econômico é necessário para aumentar a riqueza privada e assegurar a renda de que o setor público precisa para financiar políticas públicas que garantam a oferta de bens e serviços essenciais.

Com uma renda nacional de R$1,6 trilhões e uma renda do setor público de quase R$ 600 bilhões, o Brasil tem recursos suficientes para realizarmos um Choque Social capaz de incluir os pobres. Não o fazemos porque estamos prisioneiros da lógica do transbordamento. Uma lógica que une o PT mais aguerrido à Direita mais conservadora. E nos impede de debater a estratégia correta para abolir a pobreza, de vencer o vazio ideológico de um país que se viciou na idéia da riqueza, esquecendo o problema da pobreza.

Ainda está silencioso o debate ideológico entre o caminho do transbordamento da economia, com promessas futuras e esmolas presentes, e o caminho da inclusão social, com políticas sociais para mudar o Brasil e construir o futuro, como a educação permite e a esmola não.

Felizmente, esse choque de idéias, ainda caminhando nas ruas, começa a chegar às cabeças, com o debate entre Bolsa Família e Bolsa-Escola. O primeiro programa pertence à estratégia do transbordamento, com transferência de renda para manter os pobres vivos, enquanto se iludem com a falsa promessa de esperar o bolo crescer. O segundo pertence à estratégia da inclusão social, por meio da política social da universalização da educação básica.
"Três paixões, simples mas irresistivelmente fortes, governam minha vida: o desejo imenso de amar, a procura do conhecimento e a insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade." (Bertrand Russel)


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Acauan
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Mensagem por Acauan »

Huxley escreveu:
Acauan escreveu:
Huxley,,
Como é possível se ter um aumento do salário de mercado do trabalhador e da renda nacional sem crescimento econômico?


Pode haver aumento do salário de mercado do trabalhador e da renda nacional, mesmo SEM qualquer contribuição de outro fator além da melhor educação da mão-de-obra.Isso ocorre porque o incremento da qualidade da força de trabalho é um dos três componentes dos fatores de contribuição ao crescimento econômico.Anotando os três:a)contribuição do investimento em capital físico;b)incremento da quantidade e da qualidade da força-de-trabalho;c)aumento da produtividade (aumento da produção com a mesma quantidade de capital e trabalho, devido a melhora tecnológica e do desenho das regras institucionais).Alguns economistas se referem ao incremento na qualidade da mão-de-obra como melhora tecnológica (o nível de tecnologia, nesta definição, não se refere apenas a qualidade de fatores como bens de capital e equipamentos).Por exemplo, se o empresário do setor calçadista dispõe de trabalhadores com mais conhecimento técnico que os de um período anterior, cada trabalhador médio que produzia antes 200 sapatos/mês, poderá produzir agora 220 sapatos/mês.Essa nova visão não faz nenhuma diferença para a conclusão.Ou seja, que é possível que a contribuição do investimento em capital e o aumento da produtividade dos fatores não-humanos para o crescimento econômico seja ZERO e ainda assim, o crescimento econômico seja diferente de zero.E mais, e que é decisivo para entender o que eu falei, pode haver redução de pobreza se há aumento de salário de mercado do trabalhador devido sua maior produtividade, mesmo com uma contribuição negativa do investimento em capital físico ou contribuição negativa do conjunto "investimento em capital físico+ produtividade dos fatores não-humanos" (no caso da contribuição negativa vir APENAS da produtividade dos fatores não-humanos, aí o argumento já não funciona).

A pobreza diminui tão somente se a renda dos que estão abaixo da linha de pobreza se eleve.E isso pode ocorrer mesmo que o aumento da renda média da população seja ZERO.E não apenas a melhor educação pode contribuir para isso, mas também a melhora na redistribuição de renda feita pelas políticas sociais compensatórias.


Huxley,

Antecipando a conclusão final, na maioria dos pontos falamos a mesma coisa, apenas não ficou claro de quais definições partimos e de como as aplicamos.
Por exemplo, quando eu disse "se houve redução visível na pobreza de uma população, então a renda per capita desta população aumentou." e você respondeu
"a pobreza diminui tão somente se a renda dos que estão abaixo da linha de pobreza se eleve." apenas repetimos a mesma idéia com outras palavras, uma vez que "a renda per capita desta população" a que me referi é exatamente "a renda dos que estão abaixo da linha da pobreza" da qual você falou.

Além destas diferenças de interpretação temos que considerar um segundo ponto que requer cautela em discussões econômicas que é a fundamentação nos índices.

Considero um mito a tendência existente, tanto no estudo da economia quanto da gestão de empresas, a crença de que toda a realidade econômica ou administrativa possa ser integralmente traduzida em números.
Ora, a realidade econômica é sócio-cultural e seus números só fazem sentido quando analisados sob esta perspectiva.
Assim, os índices devem ser condizentes com a realidade sob análise.

Para a discussão em curso é relevante o que de fato diminui a pobreza material da população em análise.
Nestes termos, do ponto de vista exclusivamente econômico a educação é recurso, riqueza potencial, mas não riqueza efetiva.
Assim, a educação fornece meios para minorar a pobreza, mas não minora a pobreza por si só.

Quando você inclui a educação como componente do índice de crescimento econômico, deixa indefinido se este índice pondera o aumento de riqueza efetiva ou o aumento de riqueza potencial.

Nestes termos, a proposição de que é possível aumentar o salário do trabalhador e a renda nacional (veja bem, nacional) sem crescimento econômico é inconsistente.
Partindo de seu próprio exemplo, do operário fabricante de sapatos que se educa e aumenta sua produtividade em 10%. Se a fábrica não apresentar crescimento econômico ou seja, não aumentar sua produção e venda de sapatos, nenhuma riqueza adicional terá sido gerada.

Uma regra que todo gestor industrial conhece é que aumento de produtividade sem aumento de produção implica ou em aumento da ociosidade ou em redução do quadro de funcionários.

Neste ambiente, o ganho médio de renda e o aumento de salário é zero, pois o que porventura venha ganhar a mais o operário que se educou e se tornou produtivo será no fim cancelado pela demissão de algum funcionário devido ao aumento da ociosidade.

Note que é possível um aumento de salário e renda local, onde a produtividade, a produção e as vendas cresceram em fase, mas se o mercado de sapatos não cresceu, então o que foi ganho por uma determinada população terá sido, necessariamente, perdida por outra, resultando na soma zero.


Huxley escreveu:
Acauan escreveu:A própria definição de renda nacional estabelece uma correlação intrínseca e necessária entre o crescimento desta e o crescimento econômico.

E quanto a dizer que uma melhora visível na redução da pobreza pode ocorrer em ambientes de estagnação econômica, isto só pode ser verdadeiro se as medições da redução da pobreza e da estagnação econômica se derem em abrangências diferentes, micro e regional na primeira e macro e nacional na segunda, por exemplo.

Como disse no post anterior, princípios econômicos têm simplicidade aritmética.


Deixa-me ver se eu entendi.A redução da pobreza com estagnação macroeconômica só ocorre se ela for regional?Eu concordo que princípios econômicos têm simplicidade aritmética.Justamente por isso eu não entendo porque não consegues entender que a pobreza reduziu no Brasil de forma visível, a despeito do crescimento da renda per capita ter sido inferior a 1% (crescimento médio no primeiro mandato de FHC foi de uns 2,2% e crescimento da população de uns 1,4%), como mostram os dados de Barros, Henriques e Mendoça (2000)*.Claro, houve algum crescimento da renda per capita, mas foi pequeno.Mas deve se considerar que o crescimento poderia ser zero, que ainda assim, a pobreza poderia se reduzir.Isso porque na política social brasileira, apenas ¼ dos recursos chegam aos efetivamente mais pobres.Por exemplo, apenas uma parcela dos recursos como Seguro-desemprego, Abono salarial e programa de alimentação do trabalhador atingem efetivamente os segmentos mais pobres da população (Barros, Forguel & Coersul,2000*).Levando em conta o montante de recursos gastos na área social, imagine se a política social brasileira fosse efetiva...Claro que teríamos redução da pobreza, mesmo com crescimento da renda per capita igual a zero.


A maioria dos índices econômicos brasileiros não consideram a enorme economia informal ou a consideram apenas estimativamente. Assim, quando estes índices dizem que não houve crescimento econômico ou o crescimento foi baixo é preciso considerar que a economia informal cresce mais nestes períodos, quando atrai mão de obra rejeitada pelo mercado formal e por apresentar flexibilidade que lhe permite expansão mesmo em tempos de estagnação.
Além disto, os pobres em geral são mais afetados pelo desempenho da economia informal do que da formal.

Voltamos a questão da análise da realidade social dos índices.

Como observei anteriormente, falamos a mesma coisa com palavras diferentes quanto a correlação entre renda per capita e redução da pobreza.
Se a pobreza diminuiu em determinada população, a renda per capita daquela população pobre necessariamente aumentou.
O problema é que se não há crescimento econômico, então o aumento de renda daquela população foi obtida às custas da redução de renda de outras, na forma de aumento de impostos ou outro meio de transferência forçada de renda.

De novo, o ganho total de renda é zero.

A possibilidade de se pode minorar a pobreza nacional a partir deste tipo de transferência, sem crescimento econômico, depende do tamanho das classes média e alta em relação à quantidade de pobres. Nos países pobres esta relação é insuficiente, por isto este tipo de transferência de renda implica em redução no consumo da classe média, o que provoca recessão ou depressão econômica, o que no médio prazo faz com que a pobreza retorne aos níveis anteriores ou aumente.


Huxley escreveu:
Acauan escreveu: Se houve redução visível na pobreza de uma população, então a renda per capita desta população aumentou.


Espera lá.Não é preciso a renda per capita aumentar para que a renda dos mais pobres aumente.Renda per capita é apenas quociente do PNB de um país num período medido em dólares pelo tamanho da população.A pobreza diminui tão somente se a renda dos que estão abaixo da linha de pobreza se eleve.Uma redistribuição de renda garante isso.No Brasil, o surpreendente que é na segunda metade da década de 90, o crescimento da renda per capita foi pífia, o nível de desigualdade se manteve estável, e apesar de tudo, o nível de pobreza se reduziu*.Isso se deveu porque ocorreu uma redistribuição de renda, com dois fatores principais afetando*: a) queda no preço dos alimentos (pobres gastam uma parcela de renda maior com este item que os mais ricos) ; b) expansão dos benefícios da Previdência e da assistência social;(claro, temos uma contribuição pífia do crescimento da renda per capita envolvida nisso).

No caso do último item, eu tenho um dado aqui que mostra que a soma das transferências constitucionais, benefícios previdenciários e dispêndio com servidores inativos passou de uma média de 21,9% do PIB em 1991-1994 para 33% do PIB em 1995-1997(Rezende,2001.Finanças Públicas, 2ª edição.São Paulo:ATLAS)


Huxley, todos estes dados eram desnecessários porque você simplesmente não entendeu o que eu escrevi.
Se a pobreza de uma determinada população foi reduzida então a renda per capita desta mesma determinada população pobre necessariamente aumentou.
A regra foi posta dentro de uma população específica e restrita, daí meu comentário anterior sobre a diferença de abrangências, que foi justamente o erro que você cometeu em sua resposta.

Resumindo, se uma população fixa ficou menos pobre então aumentou sua renda, logo, por lógica aritmética e por definição, aumentou sua renda per capita necessariamente.
Foi o que quis dizer.


Huxley escreveu:
Acauan escreveu:A renda per capita só aumenta em duas circunstâncias – aumento da geração de renda entre a população tomada ou transferência de renda de outra população para a população tomada.


Eu tenho a leve impressão que você quis dizer “renda per capita dos mais pobres”.Se esse for o caso, então vai um aviso.A redução da pobreza do Brasil na segunda metade da década de 90 nada tem haver com o item “incremento da quantidade e da qualidade da força-de-trabalho” (na verdade, a contribuição disso para o crescimento econômico de 1994-2000 foi negativa!*).Ela ocorreu essencialmente devido à redução no preço dos alimentos e o aumento das transferências de renda das políticas sociais.E devido a isso, o nível de pobreza foi reduzido no período mencionado.


Se o poder de compra da moeda aumentou com relação à cesta de consumo da população analisada, então esta população teve ganho de renda.
Sobre as políticas assistenciais, já comentei.

E a regra sobre as circunstâncias em que a renda pode aumentar vale para qualquer população. Note que na época da hiperinflação no Brasil houve transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos, como conseqüência da indexação e do acesso diferenciado de cada classe aos investimentos protegidos por correção monetária diária.


Huxley escreveu:
Acauan escreveu: Ora, a educação da força de trabalho tem a capacidade de aumentar a geração de renda por meio do aumento da produtividade desta mesma força, mas não há correlação necessária entre educação e transferência de renda entre populações, cujas tentativas provém geralmente de atos políticos e não da livre movimentação dos mercados.


O que a melhor educação dos trabalhadores pode fazer é uma redistribuição das proporções de salários e lucros na economia.

Para entender melhor isso, veja a equação da formação de preços no longo prazo para a ortodoxia econômica dominante:

P= [(1+M)x W]/a

P=nível geral de preços
M=margem de lucro média
W=salário nominal médio
a= produtividade média do trabalho (isso inclui fatores humanos e não-humanos)

Manipulando a equação anterior, temos a equação que determina o salário real:

W/P= a/(1+M)

Note a primeira equação.Aumentando "a" é possível, ceteris paribus, diminuir P. Diminuindo P, é possível ampliar o salário real, já que salário real é igual a W/P.Isso implica que o aumento de produtividade do trabalho é "apropriado" pelos salários.Considera-se na teoria macroeconômica que as empresas têm em mente uma margem de lucro “normal” quando irão formar seus preços, que está no limiar de induzir a entrada de novos concorrentes.O aumento da produtividade só poderia ser transferida para as margens dos lucros no curto prazo.No longo prazo, a margem de lucro média voltaria ao seu tamanho “normal”, do contrário estimularia a entrada de novos concorrentes no setor.


A maioria destas equações se referem a uma realidade econômica pré-globalização.
Ela não faz o menor sentido para correlacionar, por exemplo, o preço de um software complexo com os demais fatores ponderados, além de não considerar que em mercados globais o conceito de margem de lucro média é uma abstração teórica apenas. Quem compete com os produtos chineses sabe muito bem disto.

Além do que, a equação só faz sentido se não houver capacidade instalada ociosa, o que segundo a Teoria das Restrições é praticamente impossível na realidade industrial.
Havendo capacidade ociosa sem aumento das vendas, os ganhos de produtividade implicam apenas em aumento da ociosidade.
Logo, a equação carece de um elemento que quantifique a decisão do mercado de comprar o produto resultante do ganho de produtividade, implicando em maior produção com o mesmo custo fixo.


Huxley escreveu: Agora, voltemos ao exemplo anterior.Digamos que os efeitos do incremento da qualidade da mão-de-obra sejam compensados de forma quantitivamente igual por contribuição negativa dos outros fatores que afetam o crescimento econômico, de modo a tornar o crescimento do PNB de um país num período igual a 0%.Veja que uma compensação negativa só contrabalança de forma integral o efeito positivo, se isto estivesse relacionado a um choque de oferta desfavorável, cujo único efeito fosse uma contribuição negativa da produtividade média dos fatores não-humanos (custo salarial unitário=W/a, se “a” diminui, então o preço aumenta, porque aumento de custo é repassado para os preços; e como salário real é W/P, então o salário real volta ao nível original).Se APENAS a contribuição do investimento em capital físico foi afetada negativamente (devido, por exemplo, a uma queda na margem de lucro causado por um aumento do grau de concorrência média), não há qualquer diminuição no aumento salarial causado pela melhor qualificação da mão-de-obra.Claro que nenhum dos dois casos extremos ocorre.Se é assim, isso por si só já suficiente para garantir que é possível reduzir a pobreza apenas com uma melhor educação, mesmo em ambiente de estagnação econômica.Não importa se esse impacto “educacional” seja muito menor que uma redistribuição de renda causado por uma melhora nas políticas sociais compensatórias.

*Fonte: http://www.econ.puc-rio.br/gfranco/Agenda%20Perdida.pdf


Huxley, você é capaz de demonstrar esta equação e as conclusões tiradas dela substituindo as incógnitas literais por números reais da economia, provando assim que as contas batem tanto na teoria quanto na prática?
Nós, Índios.

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Mensagem por emmmcri »

Acauan escreveu:
Samael escreveu:Acauan...você possui alguma em mãos agora?


Achei esta, tem referências ao crescimento e industrialização acelerada da Rússia na segunda metade do século XIX e começo do XX:

Economic Modernization in Imperial Russia: Purposes and Achievements
Herbert J. Ellison
The Journal of Economic History, Vol. 25, No. 4 (Dec., 1965), pp. 523-540
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Acauan me explique qual o motivo de você dar créditos a estas fontes e não a outras tantas que não corroboram com essas (baseado no q vc falou).

Abraços
"Assombra-me o universo e eu crer procuro em vão, que haja um tal relógio e um relojoeiro não.
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Porque tanto se orgulhar de nossos conhecimentos se os instrumentos para alcançá-los e objetivá-los são limitados e parciais ?
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Mensagem por Acauan »

emmmcri escreveu:Acauan me explique qual o motivo de você dar créditos a estas fontes e não a outras tantas que não corroboram com essas (baseado no q vc falou).


Existem alguns critérios simples:

1. Checar as notas e verificar quais as fontes primárias utilizadas pelo autor;

2. Comparar estas fontes com as fontes dos que defendem teses diferentes;

3. Verificar a imparcialidade do autor com relação ao tema;

4. Verificar as credenciais acadêmicas do autor e da instituição a qual está vinculado;

5. Checar a crítica especializada a respeito.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

Trancado